Cartas de Fogo e Água escrita por José Vinícius


Capítulo 7
Um Desencontro.


Notas iniciais do capítulo

Voltei! Depois de muita demora. Vamos, pois à leitura.
P.S.: Atentem-se aos comentários finais.



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A reunião havia acabado fazia alguns minutos.

Por todo o tempo, Katara permaneceu calada, falando apenas quando fosse conveniente. Na grande mesa retangular, o Senhor do Fogo regia o encontro político, e do seu lado, estava nada mais nada menos que o avatar. Ministros e o Rei da Terra posicionavam-se no lado esquerdo, e Katara e outros representantes das tribos da água sentaram-se no lado direito. Havia alguns representantes da República das Nações, sentados na outra ponta.

Aang permaneceu firme e focado na reunião o tempo todo. Zuko não perdera a pose de excelência e imponência, falando quase o tempo todo, a não ser quando Aang ou outra pessoa dirigia a palavra. Mas todos puderam notar – ou, pelo menos, aqueles que percebiam – que os olhos dele brilhavam faiscantes quando Katara falava. Sua voz era como uma cascata brilhante aos ouvidos do Senhor do Fogo, e ela era tão cristalina quanto um diamante lapidado.

De qualquer modo, Katara andava pelos corredores do recinto quando Aang apareceu por trás, chamado seu nome. Usava a roupa de mestre do ar, e o medalhão contendo o símbolo dos nômades parecia ter luz própria durante aquela manhã. Katara reconheceu a voz dele, e hesitou em virar. Porém, ela não obedeceu ao desejo e virou-se, com um sorriso triste nos lábios. Aang notou a tristeza e tentou tocar em seu rosto, mas Katara deu um passo para trás, firme e forte.

– Katara, você está bem? – perguntou com ingenuidade. Ela nada disse. Cogitava dentro de si mesma alguma resposta, mas tinha que ser amigável e amistosa.

– Eu estou, Aang. – ela respondeu, com muito esforço. – Como está a Cidade da República? – precisava alongar um pouco a conversa, ou daria a impressão que era mal educada.

– Está tudo bem. Deixei ela sob o comando de uma junta de conselheiros, um método mais justo e democrático – disse. – E o polo sul?

– Frio - disse, num tom de voz frio. – Frio, muito frio. “Como o que sinto por você”, ela quis completar, mas não disse por falta de coragem. Talvez não era a hora, talvez não era o momento. Quando seria, então?

Aguardou alguns momentos. Não demorou, para que ele abaixasse os olhos.

– Katara, eu queria muito te dizer uma coisa.

– Diga, então – ela ordenou. – O que é?

– Sinto... A sua... – ele gaguejava, como sempre fez. Aang sempre foi meio infantil e bobo quanto a esse assunto. Um amor muito simplório e sem finalidade. Algo que alguns poderiam considerar insuficiente, e outros, desprezível, mas garanto-lhes que nada disso era real. Era algo imaturo e sem fundamento, movido apenas pela impressão e por ideias pré-concebidas. Katara sabia que algo pequeno, mas valioso, era o que ele sentia. Só que sentia pela pessoa errada.

– Falta? – ela completou, mirando-o nos olhos.

– É. – estava claramente envergonhado.

– Aang, eu não queria tocar nesse assunto. Não por agora.

– Mas faz tanto tempo! Katara, por favor, preciso de mais explicações. Preciso muito saber o que realmente está acontecendo, e eu preciso saber logo. – seu tom era de preocupação. Naquele momento, porém, nenhuma demonstração de afeto dobraria Katara e suas decisões.

– Aang, eu não sei como explicar, mas... Só preciso me afastar. Manter-me longe. Se soubesse o quanto é complicado para eu dizer tudo isso! Se soubesse o quanto doloroso é quando você diz que me ama...

– E isso dói, Katara? Mas sempre pensei que você... – Aang parecia um pouco incrédulo com toda a coisa. Quanta inocência! Um jovem coração conhecendo um velho sentimento.

– Dói sim. Não parece, mas é muito mais complicado e complexo do que posso explicar. Aang, por favor, vá embora. Não posso mais ficar por aqui, e não posso mais confrontar você, nem ao menos ter uma pequena conversa. Por que... Aang! Se eu pudesse dizer... – e deixava lágrimas alheias saírem de seus olhos. Ela sentia uma dor dupla: era capaz de ser dentro de Aang, a aflição que ela lhe causara sendo tão fria e tão gélida com o avatar desde que descobrira – ou redescobrira - aquilo dentro de si. Não sabia como reagir nem como se livrar, por que sua mente queria incessantemente o primeiro sentimento, a primeira sensação. Queria fazer Aang feliz, mas era incapaz de retribuir algo que nunca sentira.

Aang sentira-se muito mal. Tentou tocá-la, mas ela o evitou. – Deixe as coisas melhorarem entre nós. – ela ordenou.

– Você está sendo injusta comigo, Katara. Muito, por que até agora não compreendo a verdadeira causa de tudo isso. Você está me negando isso o tempo todo, e cada vez mais eu preciso saber, por que eu já estou sofrendo com isso! Resolve se afastar de mim do nada, e não me dá ao menos uma adeus sincero. Sim, você foi fria comigo quando disse que ia voltar, mas veja só! Encontramo-nos aqui, e descubro que na verdade você queria ficar longe de mim! Katara, por favor, me explique! O que houve com nós?

Não existe mais “nós”, Aang – ela disse, recuperando-se do choro. – Não existe. Nunca existiu.

Aang sofrera um terrível abalo. Como assim não existia mais o “nós”? Que história era aquela? Que argumentos eram aqueles? Ele era a vítima naquilo tudo, sim?

Mas Katara sabia disso. Sabia que tais palavras estavam sendo sufocadas dentro de si, e que deveriam sair mais cedo ou mais tarde. Admitir uma parte da verdade era a única coisa que poderia ter feito corretamente - mas isso não significa que admitir a outra parte seria a coisa mais certa de fazer. Tinha lá seus remorsos.

– Katara... O que você quer dizer com... Não existe?

– Nunca existiu, na verdade – ela ficou de costas. Encará-lo nos olhos após dizer coisas tão duras e tão frias, as quais soaram de tal maneira nos ouvidos do Espírito do Mundo, deixando-o atordoado, que ela simplesmente não queria ver o pânico expresso nos olhos de Aang. – Nunca, e eu vim me dar conta disso agora. Se eu fiz você pensar isso, foi porque eu estive enganada. Eu me enganei, eu forjei algo falso, e quando dei conta que aquilo não era real, ou verdadeiro, ou que eu seria infeliz se continuasse com aquilo no peito, eu precisei rever muita coisa. E precisei criar coragem. Sabe como é enganar um amigo muito querido? Perder a confiança dele no momento que ele descobre que muitas das coisas alegres e bonitas que eles viveram juntos não passavam de enganação e sacrifício? E que talvez nunca recobrem a amizade sólida que construíram por um erro de um deles?

Aang ficou calado.

– É assim que eu me sinto. Nunca houve nós, e se em algum momento, dei a entender que sim, me perdoe. Eu me iludi com você e comigo mesma. Você não é quem eu preciso. Não do modo como você precisa de mim, ou pensa precisar. Precisamos um do outro como amigos, e não como...

Aang olhou para o chão, desolado. – Katara, você... Foi muito fria e verdadeira. Eu nunca ouvi coisas são sinceras de ninguém na minha vida. Mas você não tem ideia de como me sinto agora. Não tem ideia como é ver sua vida feliz ao lado de quem você ama desmoronar feito um castelo de areia na beira praia. Você não sabe como é depositar toda a sua confiança naquela pessoa, acreditar do fundo sua alma que você seria verdadeiramente feliz com ela, e de repente, ela chega e diz que nunca te amou, quando você se doava por inteiro quando estavam juntos! Quando você estava sempre pronto e à disposição dela! Quando você colocava a felicidade da pessoa acima da sua! Quando você seria capaz de se sacrificar por ela! Katara, você não tem a menor ideia do que eu estou falando!

Katara calou-se.

– Aang, sinto dizer, mas eu sei de alguém que já se sacrificou por mim. E sei que ele o faria de novo e de novo, se fosse preciso. Por que ele...

– Seja lá quem for, Katara, ele nunca te amaria como eu te amei. – estava gelado e maldoso, o olhar apático.

– É, nisso você tem razão. Por que na realidade, você não me ama. Acha que ama, mas não ama de verdade. Ele se doou por mim, Aang! Não compreende isso? Alguém que te ama de verdade faz muito mais que te apoiar e ajudar, saciar sua vontade incontrolável de vingança, tentar remediar como amigo... Não! Ele me provou que ele é muito mais do que posso esperar; é capaz de morrer por mim, por que fez isso uma vez e não tem medo de fazer de novo! – dessa vez, ela estava frente a frente com o dobrador de ar. Seus solhos safirados esboçavam um brilho estranho ao falar dele.

Aang virou-se.

– Então acabou tudo ente nós?

– Desde a hora que admiti que não havia mais nós. Que o s nunca existiu.

Aang deu alguns passos, e deixou Katara com os pensamentos no vácuo.

Katara seguiu seu caminho assim que Aang a perdeu de vista. Por dentro, porém, ela estava quebrada. Ela havia feito uma loucura! Mas uma loucura necessária. Precisava admitir aquilo, e mais cedo ou mais tarde ela teria que fazê-lo. Mas admitir parte da verdade seria admitir a verdade toda? Não, por que havia algo que ela escondia. E ela não pretendia libertar tudo de uma vez. Precisava refletir sobre o que tinha feito e sobre o que tinha acontecido.

Andou mais um pouco, e logo, seus olhos encontraram um jovem altivo com um robe imperial majestoso. Os olhos safirados debateram se com uma visão aterradora: o motivo de seus sonhos brilhantes e fluidos estava ali na sua frente.

Sim, era Zuko. E ele estava um pouco preocupado, por que vira os olhos azuis de Katara regados por lágrimas cristalinas.


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Notas finais do capítulo

Este, decididamente, foi um capítulo difícil.
Aang sempre foi um tema delicado na minha fic, e eu sabia que teria alguma dificuldade em introduzi-lo e dar forma aos seus sentimentos. Por isso, desculpem-me se coloquei interpretações confusas e/ou erradas a respeito de Aang e seus sentimentos, por que não trabalhei muito com eles.
Até.



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