Cartas de Fogo e Água escrita por José Vinícius


Capítulo 3
Carta 1- Água.


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap.
Meus profundos agradecimentos a VicLilyh. Seu review me deu vigor para esta fic!
Apenas um aviso: o prólogo que ambos os personagens fizeram representa uma previsão do futuro. Daqui pra frente, cada sentimento, ação e momento que eles citaram vagamente lá será detalhado em cada carta e sua resposta. Não serão cartas consecutivas; poderão haver capítulos em que elas não são mais escritas e a realidade é narrada a fio por mim.
Ao capítulo!



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Zuko,

Escrevo esta carta por que de agora em diante, não poderei te visitar mais. A tribo da água do sul precisa de mim agora, precisa de meu auxílio para reerguer-se. Muita gente da tribo da água do norte está vindo para cá, o que é ótimo, ajuda a reconstruir uma antiga tribo próspera.

Por isso, nossas conversas encerraram-se – por enquanto. Mas isso não quer dizer que esta carta não seja uma conversa, não é?

Pois bem. Eu tinha que escrevê-la, pelo fato que ultimamente muita coisa anda me incomodando. Muita coisa vírgula, por que meus afazeres aqui resumem-se em tarefas diárias de cuidados com a tribo, construção de moradias e claro, o sustento de todos. Muita gente me procura para que eu cure suas doenças e feridas – muitos são soldados da Nação do Fogo e do Reino da Terra – por que eles acreditam que eu sou uma grande dobradora e poderei resolver seus problemas.

Mas o que realmente me incomoda são os sonhos que ando tendo ultimamente. Ando sonhando com você, Zuko. Mais precisamente, com sua cicatriz.

Eu mal sei o motivo. É sempre o mesmo sonho: eu te vejo como você era na época em que éramos aliados. O seu cabelo negro parecia leve com o vento, e você estava mais atraente e sedutor... Que palavras que uso! Não, estava apenas mais bonito, confesso.

Inclusive, ela também. A sua cicatriz.

É, eu sonhei com ela. Ela era muito nítida, e me parecia horripilante. Me veio um medo muito estranho quando a vi. Era algo que eu nem sei explicar aqui, mas vê-la me fazia chorar. Nessa hora, eu me aproximava de ti e você segurava minhas mãos. Sorria, e dizia que não era nada, que estava tudo bem, era apenas uma marca que não deveria ser apagada.

Mas eu queria curá-la.

Eu tocava nela com um carinho e uma dor muito familiares. Eu a tocava com pena e delicadeza. Ela era sensível, e sempre que eu a tocava, eu sentia uma dor no peito. No coração. Eu tocava de novo, para vê-la mais de perto, e você fechava os olhos (como você é bonito de olhos fechados!).

Passava meus dedos por ela, e logo pegava um pouco de água de algum lugar. Perguntei-lhe, então, se eu poderia curá-la. Você dizia que confiava em mim e que sabia que o que eu decidisse era o melhor e mais certo para nós.

Esta parte me deixou confusa. Muito confusa.

Mais certo para nós? O que isso quer dizer?

Eu não consigo pensar em algo razoavelmente aceitável para isso. Não mesmo.

Mas isso me incomoda, Zuko. Por que sempre que penso no que você disse no sonho – eu sei, era só um sonho, mas foi tão real! – eu sinto algo aqui dentro. É quente e velho, mas um pouco doloroso e simples. Eu sinto muitas coisas, também, mas eu sinto uma vontade grande de te abraçar.

É, sinto sim. Sinto uma vontade de ir até ai, poder ao menos te ver, ver a cicatriz, e curá-la.

Mas nem isso eu sei se fiz no sonho. Quando eu vou curá-la, acordo com o coração a mil e cama molhada de suor. Respiro ofegante, sem saber o que deu em mim e vou tentar dormir de novo. Mas ele volta, de novo e de novo.

Isso está me atormentando, Zuko!

Aang não está aqui para me ajudar a superar isso. Só que... Nem sinto a ausência dele. Eu sinto a tua falta.

Não vejo mais graça em conversar amistosamente com Aang. Agora, eu o vejo como um amigo. Eu tento vê-lo como ele me vê, mas eu não consigo. Seria pura falsidade fazer isso, mas é melhor que ele fique distante de mim por um tempo, Zuko. Quando ele está perto, eu sinto um mal estar terrível. Talvez seja pela confusão de sentimentos que me assola, ou pelo fato que já não quero mais sua presença aqui. Acho que ele ia complicar mais as coisas para mim.

Como eu posso estar agindo assim perante Aang? E como eu posso ter tamanha intimidade contigo?

Sei que compartilhamos dores semelhantes. E sei que você me vê de uma forma muito próxima. Não como irmã ou amiga. Mas é como se fosse algo maior, só que escondida.

Eu não sou cega, mas eu sinto e percebo coisas, Zuko. Como o fato de que você prefere cancelar uma reunião importantíssima sobre a Nação do Fogo somente para termos um tempo para conversar – ainda me sinto meio culpada por isso, mas eu gostei tanto daquele dia... E naquele dia eu me senti tão bem do seu lado, revivendo sensações antigas de companheirismo – seria isso mesmo, companheirismo? Não, era grande e forte demais.

Bem, Zuko, era isso que eu queria lhe contar, sobre sua cicatriz. Ela ainda está firme na minha mente, em textura e forma. Todas as vezes que ponho as mãos na água, eu sinto uma vontade de levá-las ao seu rosto e curar sua cicatriz.

Por que estou com esse desejo obsessivo? Por que eu estou me afligindo com esses pensamentos? E por que esse desejo é tão antigo?

É antigo por que daquela vez em que estávamos nas cavernas de Ba-Sing-Se, eu tive o impulso de curá-la, mas não o fiz. Você sabe bem o que aconteceu lá, e eu me sinto péssima relembrando aquilo.

Muito péssima. Nem gosto de trocar uma só palavra sobre, por que, por algum motivo, eu sinto como se uma arte de mim tivesse sido enganada completamente, como se fosse uma ilusão. E por que eu teria tais ilusões, se não havia nada entre nós?

Mas agora há, Zuko. Eu sei que há.

Meu sonho diz que há.



Katara.


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Notas finais do capítulo

Nota final:
Devo confessar a vocês que escrever este capítulo foi difícil. Muito, pelo fato que eu estou reconstruindo a redescoberta dos sentimentos de ambos. No outro capítulo, sintetizá-los foi muito fácil, mas mostrar de onde eles se originam e levá-los adiante está me dando trabalho.
Por isso, a opinião de vocês é importante.
Até o próximo capítulo!
O/