“Eles estão juntos! Juntos” Leo repetia mentalmente. Seus pensamentos maquinavam nervosamente. Ele sentia raiva. De Jason, de Piper, de Afrodite, dos deuses e do mundo. Seu sangue ferveu e fumaça começou a sair das partes abertas de suas roupas. Felizmente ou não, Jason estava tão longe e tão concentrado no beijo que nem percebeu a “chamuscação” de Leo. A cada vez que Jason puxava a filha de Afrodite mais para perto, Leo sentia o corpo se tornar fogo. A ponta de sua camiseta chamuscou. Uma chama começou a dançar sobre seu casaco.

Ele tentou contar até 10. “Um.” A camisa se incendiou. “Dois.” O casaco já estava completamente queimado. “Três.” O tênis abria buracos e soltava fumaça. “Quatro.” A calça estava em chamas. “Cinco.” Leo nunca havia ficado assim. A raiva e a tristeza consumiam seu corpo. Nesse momento, toda a grama num raio de 2 metros pegava fogo. “Seis.” O fogo atingiu uma árvore. Uma dríade gritava desesperada e tentava inutilmente apagar o fogo com um xale. Pólux escutou os gritos e correu para o chalé 9.

-Nyssa! Jake! O Leo! Ele está descontrolado! – Gritava em pânico o filho do deus do vinho.

“Sete.” Nesse momento o fogo havia se alastrado, tão longe que até mesmo Jason e Piper perceberam. Ambos gritavam para Leo parar. “Oito.” Ele se lembrou do sonho. Um grande amor para outro perderá. “Nove.” Leo se deu conta do que fez. “Pare!!” ele ordenou a si mesmo. Já não contava mentalmente. “Pare!” Ele disse mais alto, com a voz assumindo o tom de desespero. Leo já parecia o Tocha Humana do Quarteto Fantástico.

Labaredas consumiam-no, dançando sincronizadas e exibindo seu impávido vermelho vivo. Leo nunca estivera com tanto medo de si mesmo. A última vez que ficara assim, completamente em chamas, foi no dia da morte de Esperanza Valdez. A lembrança trouxe consigo o medo de perder alguém que ama. De novo. O garoto não conseguia controlar o fogo. Tinha medo de morrer, ou até mesmo matar alguém. Ouvia gritos desesperados e se sentia impotente por não poder fazer nada. Sentiu algo gelado caindo deliberadamente sobre seu corpo. Água. O líquido frio fez seu corpo cair de exaustão. O filho de Hefesto sentia-se esgotado, suas forças esvaindo-se com as gotas d’agua. Desmaiou. Uma multidão reuniu-se a sua volta e ele captava relances. Quíron aplicando algo em sua pele. Os curandeiros de Apolo entoando palavras ininteligíveis. Piper chorando. E Jason consolando-a. “Sempre ele.”, pensava Leo. Mas ele sabia que não adiantava relutar. Se Piper estava feliz com ele, Leo tentaria ficar bem, por sua Rainha da Beleza.

“So if love me let me go

And run away before I know.

My heart is just too dark to care

I can’t destroy what isn’t there”

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Leo acordou em um lugar todo branco. Sentia a garganta seca e arranhada. Sua pele estava normal, tirando apenas pelo fato de estar um pouco avermelhada. Pessoas à sua volta andavam inquietantemente de um lado para o outro. Ele estava desnorteado, não entendia o que havia acontecido.

Ao seu lado, estava sentada uma bela garota, com a pele morena e cabelos repicados. Seus belos olhos, antes verdes, azuis e castanhos, encontravam-se vermelhos e inchados, devido á horas de choro. E abraçado à garota, estava Jason.

– O que aconteceu? Onde e-eu estou? Eu morri? – Ele balbuciou.

Piper desvencilhou-se de Jason e deu um sorriso capaz de iluminar o mundo e abraçou Leo, com força suficiente para matar um uso de asfixia. Leo se sentia feliz ao ter novamente os braços delicados de Piper envolvendo seu corpo. O perfume inebriante da pele da filha de Afrodite fazia-o lembrar dos momentos mais felizes de sua vida.

– Piper! – Ele pigarreou. – Sem Ar!

– Oh Leo! Desculpe! É só que eu... Fiquei muito preocupada! Você não faz ideia de quanto eu chorei! – Ela disse, apontando para os olhos vermelhos.

Ao que parecia, ninguém sabia o motivo da “chamuscação”, fato que deixou Leo aliviado.

– Pipes, acredite, você não vai se livrar de mim tão cedo! – Leo respondeu, arrancando risadas de sua Rainha da Beleza.

O clima de tensão parecia se dissipar, quando Annabeth entrou apressada pela porta da Casa Grande.

– Piper, Jason! Recebi uma M.I do Percy, estão nos esperando e... – Ela fez uma pausa ao ver Leo. – Deuses Leo! O que houve com você? – A filha de Atena parecia realmente preocupada ao vê-lo de cama, com a boca rachada e a pele vemelha.

– O-oi Annie! Não foi nada. Eu apenas peguei fogo e...

– Apenas pegou fogo? – Interrompeu Nyssa. – Com a sua temperatura corporal naquela hora, o chalé 9 seria capaz de derreter facilmente todo o bronze celestial do Acampamento!

– Mas por quê? Por quê você ficou assim? – Questionou Will Solace, de Apolo.

– Eu não sei. Sinceramente não faço a menor ideia. Eu só consigo me lembrar da sensação de cansaço quando a Nyssa jogou água em mim.

Leo falou isso com a maior veracidade que podia, que foi suficiente para convencer a todos, exceto a sagaz filha de Atena. Annabeth se manteve calada, para evitar mais constrangimentos ao garoto.

A tensão inicial voltou à tona, com força total. Ele percebeu infeliz, que não convenceria tão fácil a garota dos olhos cinzentos. “Ela é mais inteligente do que eu imaginava...”, pensava Leo.

Annabeth olhou para ele, confirmando suas suspeitas: Piper. A cleptomaníaca filha da deusa do amor roubara o coração de Leo Valdez.

Quíron notou que eles precisavam conversar, e assim, recolheu os campistas.

– Bom, eu acho que Leo precisa descansar, afinal, o ArgoII deve partir ainda hoje. Vamos?

Quíron e Annabeth trocaram olhares, assentindo algo que Leo com certeza não iria querer saber, já que a expressão de ambos não parecia nada alegre.

Annabeth fez a menção de falar, mas o filho de Hefesto cortou-a antes de começar.

– Eu sei – ele disse irônico. – Precisamos conversar.

Annabeth assentiu.

– Eu sinto muito pela Piper. – Ela disse.

O garoto franziu o cenho.

– Não sinta Annabeth. Eu não quero ser o pobre Valdez apaixonado por que as pessoas têm pena. Eu nunca fui assim. Minha vida sempre foi difícil, mas eu nunca desisti. Sempre superei todos os obstáculos. – Ele fez uma pausa e suspirou. – Agora é diferente. Eu simplesmente não tenho motivos para lutar. Para levantar dessa cama e partir, sendo o garoto feliz que as pessoas esperam que eu seja. Eu sempre brincava e apoiava Piper a ficar com Jason. Primeiro, porque eu a amo, e vê-la feliz me torna feliz. Mas agora, diante de uma situação como essas, uma batalha mortal se aproximando, eu tenho que ter algo a me ancorar. A Piper é, ou pelo menos era, a razão da minha vida. Eu não tenho motivos para continuar a lutar. Perdi tudo. Minha mãe, Festus, e agora, Piper. Não sou como você e Percy, que lutam um pelo outro, que têm motivos para quererem ficar vivos. Não tenho uma família para voltar e nem uma namorada que me faça querer ficar bem. Não importa que digam: Lute pelos seus amigos! Não é assim! É difícil saber não vai fazer falta se morrer. Quer dizer, eu sou só um filho de Hefesto. Não sou filho de um dos 3 grandes assim como Jason e Percy. Ninguém sente minha falta.

Annabeth assentiu cabisbaixa. Ela pôde perceber que por trás do garoto alegre e risonho, havia um sentimento de carência reprimido.

– Mas Leo, Piper se importa com você. Ela não parou de chorar enquanto você não abriu os olhos.

– Eu sei, mas eu só tenho á ela. A melhor parte de mim.

“ I am lost, I am vain

I will never be the same

Without you.

(…)

I can’t rest, I can’t fight

All I needs you and I

Without you.

Without you.

Annabeth, principalmente, sabia o quanto era difícil lutar sem Percy. O quanto era frustrante encontrar uma aranha no chalé 6 e saber que o SEU Cabeça de Alga não vai estar lá para mata-la. Ela sabia como era perder sua melhor parte. Lágrimas ameaçavam descer de seus tempestuosos olhos cinzentos.

Ele sorriu para ela, que retribuiu. O filho de Hefesto percebeu que a conversa rendera más lembranças a Annabeth.

– Ei Annie. – Ele chamou.

Annabeth notou em Leo um olhar cúmplice. Leo percebeu o quanto a garota sentia falta de Percy. Ao contrário de si mesmo, ela não fazia ideia de como estava Percy, o que fez Leo imaginar como seria viver por tanto tempo sem ao menos ver Piper. Ele chegou mais perto, enquanto via os olhos brilhantes de Annabeth esvaindo-se em lágrimas nostálgicas. Leo abraçou a chorosa filha de Atena, que ameaçava desmoronar a qualquer minuto. Percebeu um tanto surpreso o quão forte ela já tinha sido. Aguentou tempos sem chorar em frente aos outros campistas. Nem Zeus sabia quantas vezes ela já tinha chorado escondida, sentindo que uma parte dela tinha ido embora junto à Percy. Naquele momento, Leo percebeu que não podia abandonar a missão. Percebeu o quão difícil para Annie foi ficar até agora sem Percy. E percebeu que o mais queria era voltar a ver o sorriso um tantinho arrogante da filha da sabedoria. Abraço-a mais forte, e só a soltou quando percebeu que ela já havia parado de chorar. Algumas lágrimas furtivas rolaram de seus próprios olhos. Pouco tempo depois, a respiração de Annabeth pareceu calma e ele a soltou delicadamente. Ela sentia-se aliviada. Sua saudade deu lugar á uma determinação nunca vista. Leo não podia fugir. Annabeth tinha que ver Percy.

– Vamos Sabidinha! Limpe essas lágrimas! Temos um Cabeça de Algas à encontrar!

Ela deu um meio sorriso e murmurou um “Obrigada” tímido. Ela o abraçou de novo, mas dessa vez não chorava.

Leo ajudou-a a secar as lágrimas e ajeitar o cabelo, e, em pouco tempo, a cara de choro deu lugar a um sorriso de gratidão. Ele sorriu de volta e tentou se levantar, mas ainda estava fraco.

– Mais ambrosia? – sugeriu.

– Leo, melhor não, você pode...

– Sim, eu sei. Pegar fogo. Mas quem liga? Eu sou Leo Valdez, o garoto em Chamas!

– Aham. Vamos logo Marshmallow Torrado. – Ela disse entendendo-lhe um pedaço de ambrosia.

– Ei! – Ele fez uma expressão ofendida e piscou.

Assim, saíram da Casa Grande, felizes por poderem contar um com o outro.