Finalmente sábado. Um sábado trovejante, escuro e chuvoso, mas isso não mudava o fato de não haver aula. Yui acordou sorridente, com um mau hálito destrutível. Abraçou seus pais que logo a ordenara que fosse imediatamente dar um trato naquela boca. Subiu em seu quarto e antes de cumprir as ordens ligou para sua amiga:
- Yuri?
- A-alô...
- Sou eu, Yui!
- Que você quer às oito horas da manhã, menina?
- Contar o que aconteceu ontem!
- Ham?! O que, o que?!
- Hinata me convidou para ir ao cinema!
- Ham?!
- Pare de ser retardada! Você ouviu bem!
- Isso é cientificamente impossível!
- Para você ver como o impossível é só questão de opinião.
- Discordo.
- É, eu também. Não entendi nada! Será que ele...
- Ohh... Quem sabe!
- Ham?!
- Que lerda minha gente... Está óbvio! E se rolar um beijo minha tese está comprovada!
- B-beijo?!
- O que que há?
- Eu... Não sei beijar!
- Ninguém nasce sabendo minha cara.
- M-as e se ele me odiar por isso?!
- Aí concluímos que ele é um canalha.
- Fácil assim?
- Ow yeah!
- Você viu Otonashi?
- Não vi não. Será que ele tem uma namorada e não nos contou?
- Yuri, vem me ajudar a me arrumar? A gente conversa pessoalmente!
- Ok, beijos, até daqui a pouco!

Desligaram os telefones. Yui estava afobada com tudo. Não conseguia tirar o sorriso de sua carinha infantil. Escovou os dentes e, em seguida, pegou três vestidos de seu armário, do qual ela não usara há três anos. Esticou-os em sua cama e esperou sua amiga chegar para lhe dar uma opinião sobre eles.

Finalmente a campainha tocou e Yuri entrou em sua casa com os pés nus como de costume. Abraçou os pais de Yui e subiu as pressas para o quarto da amiga. As duas se abraçaram e pularam juntas até perderem o equilíbrio e desabarem rumo ao chão. Começaram a rir:
- Não dá para acreditar, amiga!
- Não é mesmo?!
- Vamos logo com isso! Estou muito ansiosa!
- Não é... MUITO cedo?
- Sim, há há nem é hora do almoço, mas já vamos preparando! Eu vou almoçar aqui, tudo bem?
- Sem problemas, depois a gente tira limpo aquela partida que te devo no Xbox.
- Perfeito!

Yui apontou os vestidos para a amiga e pediu para que ela escolhesse o que ela achasse melhor. Yuri se apaixonou pelo do meio. Era um vestidinho preto da altura dos joelhos de Yui, que era envolvido na área da cintura por um laço cinza. Era rodado. Um belo tomara-que-caia. Yurippe ainda vasculhou o guarda roupas da amiga para encontrar a sapatilha cinza de Yui. E, novamente, surtou. Ainda achou um laço preto na bagunça daquele guarda roupas. Deixou tudo separado para quando chegasse a tão esperada noite. E, deixando a ansiedade um pouco de lado, foram fazer outras coisas.

Na casa de Hinata, a afobação era do mesmo nível. Também ligou para Otonashi contando sobre o que aconteceu e, enquanto conversava com ele, escolhia suas vestimentas. Hinata não tinha muita noção do que usar em um primeiro encontro. Pensou que, por se tratar de um cinema, usaria a camiseta do Metallica, já que ele era extremamente fã e Yui tinha conhecimento dessa paixão que o garoto tinha pela banda. Pegou uma calça jeans em bom estado e a separou. Enquanto isso, Otonashi narrava o tão almejado contato que teve com a garota anjo, assim como ela fora apelidada pelos garotos.

Passaram-se rapidamente as horas. Quando Yui resolveu olhar para o relógio, notou que já eram seis horas, e o encontro era as sete:
- YUUURI!
- Ham?!
- Seis horas!
- O QUÊ?

Saíram em disparada para ajeitar a garota para o encontro. Vestiu-a, ajeito o laço em seu cabelo, passou a maquiagem em sua face e pintou as unhas dela, que viviam descoloridas. Era, sem dúvidas, Yui naquele traje. Mas ainda mais bonita. Estava impecável. Yurippe apenas olhou maravilhada para a figura de Yui, tão ela mesma, mas, ao mesmo tempo, tão transformada. Girou-a boque aberta e postou suas mãos em seus lábios:
- Você está perfeita amiga!
- E-estou?

Yuri apenas olhou torto para a amiga. Não era possível que ela não soubesse o quão linda estava. Faltavam apenas dez minutos para dar sete horas. O coração de Yui estava a mil e Yuri enxergou algumas gotículas de suor escorrendo do rosto da garota:
- Não desmanche a maquiagem! Demorou a concluí-la, sua boba!
- E eu tenho culpa?

A campainha finalmente havia tocado. A mãe de Yui atendera o rapaz que estava vestido normalmente:
- Hinata! Mas que prazer vê-lo aqui!
- Olá! Vim buscar Yui para irmos.
- V-você, err... Espere um segundo, irei chamá-la.
Ela saiu fumegante para buscar a filha:
- Filha, por que não contou que Hinata...

Não conseguiu concluir. Sua filha estava maravilhosa a sua frente. Apenas arregalou os olhos:
- Mas... Ele está tão simplório...
- O-o que? Mãe desculpe-me não ter lhe dito. Vou voltar dez horas, ok?
- Certo. Cuide-se garota! Seu pai não vai gostar nada disso! Explique-se depois, ok? – e deu uma piscadela.

Yui sorriu para a mãe, abraçou-a e assim fez também com sua amiga. Saiu correndo, ao encontro de Hinata.

Chegou a porta e olhou envergonhada. “Eu deveria, sem dúvidas, ter vindo mais simples...” E o mesmo se passava na cabeça do garoto, só que às avessas:
- Yui, você está... Linda.
- O-obrigada.
- Desculpe-me hahaha! – riu Hinata apontando para a bicicleta
- A gente vai de bicicleta?!?!
- Eu não sabia que você estaria de vestido e sapatilhas, há há há!
- Não creio...
- Pare de ser boba, vamos logo! Antes que percamos o horário!

E saíram as pressas. Hinata pegou as sapatilhas de Yui e as colocou na cestinha de sua bicicleta. Como Yui vestia uma saia como uniforme, já se acostumara a andar com a bicicleta sem que suas vestes íntimas fossem expostas.

Hinata se posicionou e começou a pedalar. Yui segurava com vergonha em sua cintura. “Mas que modo original de se buscar uma garota para um encontro... Isso é um encontro?” ficou se perguntando. Hinata não conseguia parar de rir. Estava feliz em ver a garota voltar ao seu estado normal de agressividade.

Após concluírem a meta, Hinata pegou as sapatilhas de Yui e as colocou no chão delicadamente:
- Sinto muito Yui. Meu pai ia para uma reunião hoje e teve de usar o carro. Tive de usar a bicicleta. Achei até mais ecológico, há há há.
- De boa!

Hinata insistiu para que Yui desse a bolsa dela para que ele segurasse. Ela acabou cedendo. Depois se ajeitou na pose de um verdadeiro cavalheiro. Um cavalheiro que vestia a camiseta do Metallica. Yui, corada, olhou para o chão e deu-lhe o braço para que ele a levasse até a portaria do cinema. Ela suava e sentia que sua axila encharcava o braço do rapaz. Ele realmente estava molhado, mas não se importava. Sabia que ela estava nervosa. Apenas o que fez foi beijar a cabeça da garota e pedir para que ela ficasse tranqüila:
- Eu não vou te morder Yui, há há há!
- Pare de ser idiota!

Entraram ainda de braços entrelaçados. As pessoas que apenas viam o casal comentavam por trás. “Um garoto de cabelo roxo e uma garota de cabelo rosa? Estes se merecem sem dúvidas...”

Não pegaram a pipoca, pois a fila era gigante. Resolveram economizar daquela vez. Apenas entraram e sentaram-se nos bancos que já estava reservado para os dois:
- Espero que Yurippe esteja errada sobre o filme! – disse Hinata
- Ela sempre está a errar sobre suas opiniões antecipadas. –disse sorridente
- Pois é. Bem Yurippe. Só não erra quando está a frente de uma prova.
- Sim, que sorte...

E então começou o filme. E o coração de Yui começou a palpitar em uma velocidade incrível. “E agora? O que vai ser?”.

Não fora tão difícil como a garota esperou sua vida inteira. No decorrer do filme, por mais que não fosse nem um pouco romântico, Hinata segurou as mãos de Yui que tremiam e suavam. Ele deu uma leve risada o que provocou um tapa no seu braço dado pela garota:
- Por que fez isso? Quer me ver vermelha? Sabe que fico vermelha com QUALQUER UM que pegue minha mão!
As pessoas que assistiam ao filme reclamaram do tom alto expresso por Yui e eles se aquietaram:
- Não é isso Yui, há há, faz um tempo que estou sentindo o que você sente agora por mim – disse com uma cara meio atordoada ao perceber o que acabara de falar
- V-você...

E aconteceu. Tão normalmente que ela nem reparou o coração acelerado que gostaria de explodir com aquela situação. Os lábios de Hinata se cravaram com os dela tão rapidamente e tão delicadamente ao mesmo tempo em que ela mal pôde disfarçar os sentimentos que sentia. Apenas o puxou para perto de si pela nuca do rapaz. Os cabelos macios dele causavam-lhe leves arrepios. Após alguns segundos, viram na situação que se meteram e logo separaram seus lábios:
- M-mas o que...?! – gritou Yui
- Err...

As pessoas novamente se estressaram com os gritos de Yui e pediram para que um segurança os retirasse do cinema. “Mas que povo sem paciência” pensou Yui. Após atravessarem a porta de entrada, começaram a soltar gargalhadas:
- Viu Yui, eu não passaria por isso com mais ninguém, se não você.