Após percorrerem a escola inteira, acabaram levando uma bronca da diretora. Pediram desculpas e saíram às pressas do ambiente escolar:
- Não conte isso a minha mãe! – suplicou Hinata
- Bem que eu deveria... Você merecia bem mais que os sermões da diretora chata.
- Por favor! Guarde sigilo sobre o lance da diretora...
- Tá... Só por que você implorou.
- Obrigado Yui.

Yui e Hinata continuaram caminhando em silêncio. Um silêncio desconfortante para ambos que fora quebrado com uma pequena risadinha. Uma risadinha corada de Yui. Lembrou de Hinata correndo desesperado e sendo parado pela diretora que gritava com brutalidade para a dupla:
- O que foi?
- Nada! Só estou me lembrando da cara da diretora.
- Ela é feia, não é mesmo? – disse Hinata rindo
- Sim! Essa deve ser a sexta vez no ano que ela nos dá aqueles sermões.
- Também estou cansado da cara dela!
- Nem me fale... – disse a garota aos risos

Permaneceram um momento em silêncio até a voz de Hinata proclamar as palavras:
- Nós formamos uma boa dupla não é mesmo?

Aquelas palavras fizeram o coração de Yui palpitar mais forte. “O que ele insinuava com aqueles dizeres? Será... Será? Não pode...”. Ficou pensativa, com o rosto visivelmente vermelho demonstrando o molesto que sentira
- Sim...
- Quer que eu te deixe em sua casa?
- Você está com sua bicicleta?
- Sim. O tempo não está lá dos melhores, é melhor corrermos. Deixe-me levá-la.
- Aceito.

Aquela não era a primeira vez que a garota andava na garupa da bicicleta de Hinata. Mas era a primeira vez que sentia aquilo. Não era como das outras vezes. Não era normal. Era algo inovador. Hinata sentia o coração descontrolado de Yui em suas costas o que provocou o mesmo com o seu. Ela tentava fazer aquela bomba de sangue ficar calma, mas não conseguia, o que a deixou irritada consigo mesma. Segurava com as mãos encharcadas de suor na cintura de seu amado o que deixou seus nervos ainda mais impulsivos. Enquanto isso, Hinata passava por coisas parecidas. Suas mãos escorregavam no guidão e sua face poderia ser facilmente confundida com um tomate rechonchudo. “Mas que diabos é isso?!” pensavam os dois em sincronia.

Chegando à casa da pequena, Hinata olhou com seriedade para ela. Notou que ela estava nervosa e frágil. Não parecia aquela garota tão energética que antes teria agradecido pela carona e fechado a porta na cara dele. Ela permaneceu parada com os olhos voltados ao chão:
- O-obrigada! – esboçou um sorriso forçado em sua face
- Não a de que! Quando precisar só falar...
- Certo. Estou indo... Te vejo amanhã!
- Sem dúvidas... Er... Olha... Otonashi não poderá ir amanhã ao cinema comigo. Ele tem um compromisso de noite. Ele só me avisou após eu ter comprado os ingressos dele.  Será que você não gostaria de preencher a vaga dele?
- O-ok! Vou sim! Que filme vocês iam ver?

Hinata olhou para o céu buscando o nome de algum filme que estivesse em cartaz:
- O X-Men First Class!
- Ah! Que legal! Queria mesmo ver este, estava pensando em ir com Yurippe, mas ela me disse que não parecia ser tão bom.
- Que nada! Tem cara de ser um bom filme!
- Falei a mesma coisa para ela...

Alguns respingos de chuva começaram a surgir. Hinata voltou a olhar para o céu e arregalou os olhos:
- Cara! Não posso pegar chuva! Como o tempo voa há há há! Vou correr Yui, falou!
- Vai lá.

O garoto saiu em disparada. A casa de Yui não ficava próxima da sua, o que lhe traria grandes prejuízos caso percorresse por uma tempestade turbulenta. Ao menos era isso que a previsão do tempo havia previsto.

Yui ficou observando Hinata até ele parecer um pontinho de tinta na paisagem. Postou suas mãos em seu coração e deu um sorriso alegre ao senti-lo palpitar:
- Você vai ter que se acostumar... Do contrário você acabara explodindo!

Ajeitou sua mochila, bateu na porta que logo fora aberta por sua mãe:
- Estava preocupada! Onde foi que se meteu?
- Vim correndo.
- Achei que tinha ouvido a voz do Hinata lá fora...
- Não! A senhora se enganou! – disse nervosa
- Acalme-se! Pode ser que eu tenha confundido!
- Sim, foi isso.

Ela não entendeu ao certo o porquê de haver mentido para sua mãe. Não era raro Hinata oferecer caronas para Yui. Mas sentiu que deveria ocultar esse fator. Não sentiu a vontade de contar a verdade.

Entrou no seu quarto, tirou as meias, pegou seu notebook e começou a pesquisar sobre o filme que iriam ver. Chegou a ver até mesmo o preço da pipoca. Queria pagar tudo. Mas decidiu que se ele se oferecesse para pagar ela aceitaria sem hesitar.
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Enquanto Hinata levava Yui, Otonashi estava a ponto de concluir seu “compromisso”:
- Sempre vejo você pegando o metrô. Também o pego para vir à escola.
- Eu sei, já vi você algumas vezes lá.
- É sério? Bem... Da próxima vez que a ver irei cumprimentá-la! Desculpe-me não ter feito isso antes. Apesar de não parecer, sou bem tímido, hehe.
- Eu... Também.
- Bom, já temos duas coisas em comum!
- S-sim.
- Então... Prometo que irei cumprimentá-la! Eu sei, sou bem chato, há há há.
- Não! – disse ela virando-se com brutalidade para ele
- H-hãm?
- Não o acho chato... Pode vir falar comigo quando quiser.
- Hm! Se for assim, virei todos os dias Tachibana-chan! Também não a acho chata.
- Não...?
- Não. Bem, vamos à estação? Parece-me que o Sol está querendo dar um espaço para as nuvens carregadas atuarem.
- Vamos.

Saíram correndo para a estação de metrô onde pegaram seus tickets e sentaram-se um ao lado do outro. Ficaram um instante em silêncio até sentirem o bater dos pingos de chuva no teto do enorme automóvel que os levaria para a casa:
- A mulher do tempo quase nunca erra.
- É.
- Ouvi dizer que no dia da corrida haverá muito sol!
- Corrida?
- Sim, um evento que vai acontecer na escola na próxima semana. Meu amigo e eu estamos inscritos. Todo ano participamos, mas nunca conquistamos uma medalha de ouro. Este ano estamos determinados a consegui-la!
- Espero que consigam.
- Sim, se quiser ficar na arquibancada torcendo por mim será um prazer, hehe.
- E-estarei.
- Ótimo! Então darei a medalha para você caso eu a conquiste.
- Sério?
- Uhum! É só marcar presença.
- Ok... Obrigada...

Chegaram ao ponto onde se despediram. Otonashi voltava sorridente para a casa. Não podia imaginar que chegou ao ponto de sentar ao lado daquela tão bela garota! Sorria cada vez mais alto quando pensava nos olhos de Tachibana tão inocentes a ponto de esquecer o sentido da palavra maldade. Era um anjo, não tinha outra explicação. Um anjo na forma de uma garotinha.