Fogos. Novamente me acordando pela manhã. Anunciando que algo especial aconteceria durante o dia. Ou nem sempre. Me levantei e fui até a janela. Pude ver o homem soltar um fogos. Ele estava cercado por quatro crianças, que pareciam empolgadas com o “brinquedo”. Estava nublado e tudo indicava que durante o dia iria chover muito. Durante todo o mês de dezembro, se pode ouvir moradores reclamando do réveillon em Copacabana, que enche demais o bairro. Eu, sinceramente, acho isso ótimo. Um lugar famoso em todo o mundo. Eu estava adorando o fato de o maior réveillon do mundo estar passando pela minha janela.

Já estava no início da noite quando decidimos nos  arrumar. Pablo foi para a casa dos pais e estava com outra garota nova. Nunca ouvi histórias sobre Pablo estar namorando de fato. A última talvez tenha sido aquela a qual usamos as roupas. Essa nova, eu não sabia o nome. Acho que Pablo não lembrava, na verdade. Pedro se arrumou antes que eu pudesse dizer a palavra “réveillon”. Ficou reclamando que demorávamos muito. Não era nem oito horas da noite e ele já estava preocupado, sendo que a praia era a dez minutos do apartamento.

Camilla vestia uma regata dourada com paetê e uma saia colada ao corpo, da cor branca. Coloquei o vestido que ganhei de Pedro no meu aniversário. Era realmente muito lindo. Ao contrário da saia da Camilla, ele era solto no corpo. Pedro colocou uma blusa social e uma bermuda com uma dobra na altura do joelho. Trancamos tudo.

“Até ano que vem.”

Camilla se despediu de tudo o que gostava no apartamento usando esta frase. A rua estava completamente lotada. Todos saindo do metrô. Engarrafamento. Buzinas. Mais buzinas. Pessoas cantando alto. Pareciam felizes. Decidi entrar no clima e Camilla e eu começamos a cantar Xuxa com as pessoas. Pedro apenas fingia que não nos conhecia. Chegamos na atlântica. O palco principal brilhava no meio da multidão. Olhei ao redor e pude ver o Copacabana Palace. Lindo. Fomos caminhando em direção ao Leme, porque é mais vazio. Eu estava de mãos dadas com Pedro e Camilla também. Não nos desgrudávamos dele. Quando encontramos Pablo, fiquei mais aliviada. Ele estava com mais outros dois amigos e suas respectivas namoradas. João e sua namorada Marcela. Igor e sua namorada Stefany. Não perguntei, mas eles pareciam irmãos ou parentes. Marcela havia levado uma canga, e me sentei nela, ao lado dela. Camilla ficou fazendo buracos na areia. Pedro começou a beber com os meninos. Estava chuviscando, mas nada alarmante. Marcela perguntou onde eu comprei meu vestido e pedi para ela ver a etiqueta, porque eu não sabia o nome da loja. “Amo”. Foi o que ela respondeu ao ler. Sua roupa era um pouco parecida com a da Camilla, mas sua blusa era branca, juntamente com a saia. Tomei um pouco de caipirinha. Estava muito forte e parei de beber.

Me peguei pensando em Framlingham, em Teddy, em tudo pelo o que eu passei quando era feliz. 2009 estava começando e tudo o que eu deseja era que meu destino esbarrasse no Teddy de novo. Eu não queria mexer na minha vida agora. Estava tudo indo tão bem. Talvez pudesse ficar assim pra sempre, mas essa não seria a minha vida. Teddy deveria estar com Alice em Londres, ou outra garota. Eu não era mais importante.

Dez. Gritou o DJ que estava em um palco próximo a gente. Pedro me ajudou a levantar. Cinco. Abracei Pedro. Dois. Camilla nos abraçou. Feliz ano novo. Fogos começaram a sair de balsas espalhadas pelo mar. Nós fomos iluminados pelo verde. Amarelo. Agora foi azul. Todas as balsas possuíam os mesmos fogos. Todos explodiam simultaneamente. Era lindo. Camilla só sabia gritar. As outras meninas acabaram gritando junto com Camilla. Cinco minutos depois, distribuímos abraços. Abracei Pablo, que cheirava a cerveja, porque haviam derramado nele. Abracei as meninas e depois seus namorados. Tiramos até fotos. Os fogos continuavam a explodir. Incrível. Palavras faltavam para descrever. Esperei desde o réveillon de 2006 para isso.

Macios. Apaixonante. Era o que eu estava pensando enquanto Pedro encostava seus lábios nos meus. Foi tão rápido. Eu ainda podia ouvir o barulho dos fogos de artifício explodirem no céu. Era delicado. Romântico. O carinho na nuca, por baixo do meu cabelo, era a cereja que faltava no bolo. Os fogos pararam e junto com eles, o beijo. Fiquei olhando nos olhos de Pedro e depois olhei para seu sorriso. Selinho. Foi a única coisa que eu pensei em fazer ao olhar para sua boca. Nos abraçamos e Camilla rodava a nossa volta cantando “tá namorando”. Talvez estivéssemos mesmo.

Eram três da manhã quando Pedro teve a ideia de pular sete ondas. Fomos de mãos dadas até a beira do mar. Minhas sandálias estavam na minha mão direita. Camilla estava do meu lado. Bebendo seu refrigerante de cola.

“Saúde.”

Pulamos a primeira onda. A água estava imensamente gelada. Eu já estava molhada até a altura do joelho.

“Proteção.”

Segunda onda. A bermuda de Pedro começava a ficar molhada.

“Paz.”

Terceira onda. Camilla derrubou sua latinha e rapidamente a pegou, antes que a onda a levasse.

“Conquista.”

Pulamos a quarta onda. Pedro quem dizia os pedidos e nós apenas repetíamos.

“Dinheiro.”

Camilla disse ao pularmos a quinta onda. Meu vestido estava molhado agora.

“Sonhos realizados.”

Pulamos a sexta onda.

“Alguém sugere um pedido?” –Pedro perguntou.

Negamos com a cabeça e a sétima onda se aproximava.

“Que a Yolanda namore comigo.”

Camilla e eu olhamos para Pedro após pularmos a onda. Seria ótimo começar 2009 assim. Talvez fosse o certo a se fazer. Ou talvez, eu devesse parar de dizer “talvez” para as coisas e ter uma certeza. Pedro ficava me olhando e o mar continuava a tocar nossos pés.

“Vamos riscar da lista os pedidos realizados. Risquem o último.” –Eu disse.

Pedro me olhou desconfiado e acho que demorou a entender. Ele sorriu e me abraçou pela cintura. Camilla voltou a cantar. Pedro me deu quatro selinhos e me abraçou de novo. Comecei 2009 com um namorado. Dias melhores. Pra sempre.