Hoje era dia de teste musical, admito que estava nervosa demais, talvez ansiosa para ter o meu primeiro contato com a música. O fato de ouvir Ed tocar seu violão todo dia, me deixava mais apaixonada por música. Queria saber cantar, mas isso Deus deixou para o Ed.

Lori era do time de Hóquei e eu não sabia. Ela me encontrou nos corredores da escola e estava com uma lista na mão.

“Você se inscreveu para o time?” – Ela disse apontando para a lista.

“Se você é inteligente o suficiente, não precisava me perguntar vendo o meu nome ai!” – eu disse. –“E não quero entrar para esse time, ainda mais agora!”

“Tem medo de mim?” – Ela disse sorrindo.

“Muito pelo contrário, nunca senti isso ao olhar pra você. Talvez, o que eu sinto é repulsa...” –Eu disse.

“Olha como você fala comigo, garota!” – Ela disse.

“Aposto que não sabe o que é repulsa...” – Eu disse ironicamente.

Ela me olhou com raiva, se virou e saiu. Não consegui prestar atenção em nenhuma aula, eu só pensava no violino, sabia que não passaria, aliás, acho que nem farei o teste. Falarei diretamente com o professor. Ed também faria o teste para o grupo musical, mas para uma área diferente, obviamente. Samiya se inscreveu para futebol e atletismo. Ela já ganhou medalha de ouro por ter ganho uma corrida na escola anterior. Hoje era apenas grupo musical, a cada dia uma atividade diferente.

Acabadas as aulas, eu teria que esperar duas horas para o teste, assim como o dia anterior. Ed e eu ficamos sentados no pátio externo, como sempre. Ele cantou todas as músicas que colocara no cd, que só ficará pronto mês que vem. Eu já conseguia imaginar seu próximo álbum e queria que o mundo inteiro conhecesse ele, conhecesse a sua voz pura e suas canções sinceras.

Na hora do teste, Ed seguiu para uma sala e eu para outra. Quando entrei, pude notar um garoto tocando violino.

“Você é talentoso!” – Eu disse.

Ele parou de tocar e me olhou. Ele tinha os olhos tão azuis quanto ao céu em um dia ensolarado. Seus cabelos negros realçavam mais ainda seus belos olhos. Seu sorriso era tão branco quanto sua pele.

“Muito obrigado! Você é muito gentil” – Ele disse.

Fiquei com vergonha de ter perguntado e me sentei atrás dele. O professor chegou cinco minutos depois. Haviam dez alunos na sala. Ele decidiu avaliar de cinco em cinco. Decidi ficar no último grupo. Assisti três alunos tocarem muito bem e outros dois fracassarem. O menino dos olhos lindos, fora avaliado no meu grupo. Os violinos ficavam apoiados ao lado da cadeira. Todos se sentaram e já posicionaram o violino corretamente. Eu permaneci em pé e fui falar com o professor.

“Eu não sei tocar violino...” – Eu sussurrei.

“Então por que se inscreveu?” – Ele perguntou falando baixo.

“Porque eu quero muito aprender!” – Eu disse.

“Eu estarei ocupado com o grupo. Faça um curso e volte ano que vem.” – Ele disse.

“Mas pensei que aprenderia aqui...” – Eu falei.

O professor ficou me olhando sem saber o que dizer.

“Mas só entra nesse grupo musical quem tem uma boa base.” – Ele comentou.

“Eu ensino a ela.” – Disse um garoto.

Quando olhei, era o menino dos olhos bonitos. Novamente, o professor não sabia o que responder.

“De onde eu vim não tem violino nas escolas, aliás, não tem música...” – Eu disse.

“Eu te ensino.” – Ele disse. – “Meu nome é Ethan.”

“Sou Yolanda.” Falei.

O professor pediu para eu me retirar e esperar o Ethan lá fora. Me sentei em um banco e quinze minutos depois, Ed saiu de uma sala, com um papel na mão.

“Passei para o grupo!” – Ele disse se sentando ao meu lado.

O abracei e contei tudo o que acontecera no teste. Ele conhecia Ethan, porém nunca o viu ensinar violino a alguém e ficou feliz por mim, por eu finalmente ter conseguido uma aula de violino. Não demorou muito e Ethan saiu da sala. Ele cumprimentou Ed e ambos conversaram por poucos minutos.

“Quando você pode ter aulas?” – Ele me perguntou.

“Tenho todas as tardes livres.” – Eu disse.

“Bom, eu tenho o grupo musical por três dias na semana.” – Ele falou.

Ed me observava nossa conversa e nada dizia. Peguei meu caderno, arranquei uma folha e anotei meu nome e telefone e entreguei para Ethan. Ele pegou o papel e guardou em sua agenda.

“Anota seu telefone.” – Eu disse dando meu caderno para ele.

Ele escreveu e me devolveu o caderno. Ele de despediu da gente e o observei ir embora.

“Gostou dele?” – Ed me perguntou.

“Parece um garoto legal.” – Eu disse.

“Foi muito gentil contigo.” – Disse Ed.

Olhei para ele e preferi não acreditar que ele estava com ciúmes, que aquilo era apenas uma observação. Ed e eu fomos andando para casa e dessa vez, ele recusou a janta da minha mãe, porque a dele já havia preparado tudo. E agora é aguardar pelas aulas de violino.