Camilla me acordou com um carinho na cabeça. Seu sorriso foi a primeira coisa que vi no dia. O lado esquerdo da cama ainda estava vazio. Pedro estava morando com Pablo, mas nossa relação estava melhorando. Conseguíamos nos olhar nos olhos e conversar normalmente. Era meu aniversário. Vinte e dois anos. Era pra eu estar me preparando para meu próprio casamento. Sara decidiu que a festa agora era em comemoração ao meu aniversário. Ela insistiu em manter a festa.

“Comprei um lindo vestido pra você.” –Disse Camilla, servindo o café.

Ela disse pra eu ir até o quarto dela e lá eu o encontraria. Abri a porta e o quarto todo estava iluminado por pontos de luz. O vestido estava sobre a cama e ele era verde. O que me fez lembrar do vestido do baile. Mas com ele nada parecia. Era todo enfeitado com paetê, decote nas costas em V. Justo. Terminava na metade da coxa. Não era o tipo de vestido que eu compraria para mim, mas era realmente muito bonito. Fui surpreendida por Camilla, me pedindo para experimentar. Ficou perfeito. Eu me sentia bonita, mesmo com o cabelo preso em um bagunçado rabo de cavalo. A festa estava marcada para as dez horas da noite, mas Camilla começou a me arrumar as cinco da tarde. Ela fez meu cabelo. Fez cachos nas pontas. Fez uma maquiagem regada a glitter, levei um susto ao me olhar no espelho. Sara amou a maquiagem e pediu que Camilla fizesse a mesma. Tentei tirar um pouco do excesso do glitter com papel higiênico, mas só fiz piorar, agora o glitter estava por todo o meu rosto.

“Prontas, meninas?” –Sara perguntou, parecendo empolgada.

Ela estava vestindo um preto básico, com brilho no decote, que não era em V, assim como o meu. Atrás, seu vestido era uma renda transparente. Nossos sapatos eram iguais, só mudavam a cor, pois ela quem comprou. Eu não estava acostumada a andar com um salto dez. Fui até o elevador de braços dados com Camilla, que estava do mesmo tamanho que eu. Seu perfume cheirava a morango, pois ela estava com enjoo do seu antigo perfume de baunilha. Ela usava um vestido azul Royal que marcava sua barriga. Ela disse que estava orgulhosa por ser mãe e a fase vergonha já havia passado. Não era um vestido justo, mas era notória a sua barriga de sete meses.

De fora conseguíamos ouvir a música que lá dentro tocava. Pessoas desconhecidas sendo barradas na porta, pois achavam que teria balada normal. Não aconteceram tumultos. Através de um caminho formado por oito seguranças, conseguimos entrar na festa. Não estava tão escura como costumava estar. Para minha surpresa, Pedro estava no bar, preparando umas bebidas. Ele ria e conversava com as meninas sentadas no balcão. Me aproximei e seu sorriso sumiu do rosto, ele continuou agitando a bebida e serviu para a menina de cabelo curto sentada a esquerda.

“Vai querer o que?” –Ele perguntou.

“Algo sem álcool.”

“Água?”

Sorri e antes que eu respondesse, Pedro estava me servindo um refrigerante de cola, com dois pedaços de limão e cubos de gelo.

“Feliz aniversário.” –Ele disse.

Levantei o copo, agradecendo como se eu estivesse brindando a algo. Ele pediu licença e deu lugar a outro rapaz. Pedro foi para a pista. Enquanto eu estava sentada, mais pessoas desconhecidas apareciam e elas vinham me desejar parabéns. Decidi ir dançar e quando percebi, estava dançando com um homem de óculos escuros, bem vestido. Não me importei por não conhecê-lo e continuei com ele. Quando me virei, esbarrei em uma mulher e me desculpei. Ela se virou sorrindo e quando tirou seu cabelo do rosto, me esforcei para enxergar perfeitamente o seu rosto. Uma luz azul a iluminou e pude ver. Martina. Ela continuou rindo e me deu um beijo no rosto. Disse estar amando a festa e voltou a dançar de costas pra mim.

“Quem a convidou?” –Perguntei, a virando.

“Pedro. Quem mais?” –Ela respondeu.

A soltei e Martina se afastou. Ela carregava um copo em sua mão direita e o levantou, para passar no meio das pessoas e não derrubar a sua bebida. Pablo estava sentado no palco, bebendo vodka direto da garrafa. Sara tentava tirar da mão dele, mas não conseguia. Meu corpo era empurrado e levado pelo movimento das pessoas dançando. Eu não estava me sentindo bem e sai da pista. Me sentei em um pequeno sofá no canto da boate e finalmente encontrei o ar condicionado. Eu podia sentir o vento gelado e eu estava calma novamente.

“Posso me sentar aqui?” –Perguntou um jovem rapaz.

Afirmei com a cabeça. Ele ficou olhando as pessoas dançando e balançava a cabeça conforme a música. Ele olhava para mim as vezes, mas rapidamente desviava o olhar.

“Você é a aniversariante?” –Ele perguntou.

Novamente, afirmei com a cabeça. Ele ficou em silêncio e voltou a se prender a danças dos outros presentes.

“Conhece toda essa gente?” –Ele perguntou.

Neguei com a cabeça.

“Se eu conheço dez, é muito.” –Respondi.

Ele riu.

“Sou Fabrício.” –Ele disse, estendendo a mão para mim.

“Yolanda.” –Eu disse, apertando sua mão.

“Feliz aniversário!” –Ele disse, ao soltar minha mão.

Agradeci e me levantei. Pelo canto do olho, notei que Fabrício havia se levantado também. A música parou. Os holofotes se voltaram para o palco. As conversas das pessoas se misturavam, causando um alto falatório. Um som de violão calou as pessoas, que passaram a prestar atenção na melodia. Vi Sara se aproximando, com um largo sorriso em seu rosto. Ela começou a me puxar pelo braço, olhei para trás e Fabrício acenava. As pessoas começaram a gritar. Olhei para frente e vi alguém ir para o centro do palco. Começou a tocar “Give me love”. Eu estava na frente do palco, pouco antes de ele chegar ao refrão.

“Feliz aniversário.” –Disse Teddy, no meio da música.

Algumas pessoas sabiam acompanhar a música, outras apenas se deixavam levar pelo doce som da melodia. Teddy terminou a música sobre longos aplausos. Ele se apresentou e agradeceu a todos. O Dj colocou uma música, enquanto Teddy saia do palco. Fiquei no mesmo lugar que eu estava. Vi Teddy desviar de algumas pessoas e vi em minha direção. Foi tudo tão rápido. Nossos rostos estavam próximos demais. Suas mãos estavam quentes e seguravam meu rosto. Estávamos nos beijando. As pessoas esbarravam na gente, mas nada atrapalhava. Eu estava em um outro mundo agora. Os olhos deles se abriram, dando fim ao beijo. Meus olhos estavam presos aos dele e a sua boca, que se abria para dizer algo.