O sol do meio dia brilhava fortemente quando os Weasley saíram de casa aquela manha. Hermione tinha preparado uma cesta de piquenique cheia de coisas gostosas, e levavam uma grande toalha xadrez para forrar o chão, ou a mesa, caso tivesse uma no lugar.

Hermione tinha prometido levar os filhos ao parque de diversões, mas não pode recusar o convite mudo que a natureza lhe fez para aproveitar o dia ao ar livre, em uma sombra à árvore.

Rony não interferiu na escolha da mulher, queria lhe dar o poder de tomar as decisões, mostrar às crianças que ela podia mandar e desmandar. Não tinha contado a ela que Hugo estava muito encrencado, digo, de castigo. Faria isso muito depois, não era hora, queria apenas aproveitar o dia ao lado das pessoas que amava.

Escolheram uma árvore perto ao lago, com uma vista privilegiada, onde viam o horizonte sem fim definido. O lugar lhes era familiar. Uma vez, pouco depois de Rony descobrir ser pai, ele e Hermione estiveram por ali com Rose, que correu tentando imitar os pássaros, de braços abertos prontos para voar.

- Eu me lembro bem daquele dia! - comentou Hermione, após terem estendido a toalha ao chão. - Conservo cada boa lembrança como única.

- Mãe, você lembra do dia em que eu nasci?

- Claro querida, foi o dia em que me senti mais feliz. Você era tão pequena e indefesa.

- E do dia que ele nasceu? - apontou o irmão, mesmo não falando com o garoto. Rony tinha pedido que ela agisse naturalmente, para Hermione não suspeitar de muita coisa.

- Bom, infelizmente não... - Rose lançou um sorriso malvado à Hugo. - Não lembro porque não estava acordada. - acrescentou rapidamente percebendo o gesto de Rose. - Porque se eu estivesse com plena consciência teria lembrado de cada mísero detalhe, assim como com você. - essa foi a vez de Hugo lançar um olhar divertido à irmã.

- Ahn, Rose, vai querer algo especifico para presente de aniversário?

A menina prendeu a respiração.

- Meu aniversário? É mesmo, semana que vem! Tinha esquecido completamente. - resmungou indignada. - Na verdade, eu não quero nada especial, sabem, agora que mamãe está de volta, acho que um dia inteiro com ela tá bom.

Hermione a olhou com ternura. Uma cópia fiel aos pais. Tinha traços marcantes de Rony, como o cabelo, sardas, os lábios, que parecia ter roubado dele, quando davam um sorriso de lado ficavam da mesma forma, mas também os traços marcantes de Hermione, como o jeito do cabelo, cheios, crespos encaracolados, a inteligência, desde pequena sempre fora muito inteligente e um jeito de mandona, voz firme.

Traços que eram mais difíceis de serem encontrados em Hugo. Ele, já muito diferente, tinha cabelos claros, uma cor próxima ao castanho, como os de Hermione, a não ser isso, se o colocassem ao lado de Rony seria negada a afiliação. E isso intrigava Hermione, ele não parecia ser seu filho. Será que no dia do acidente algo tinha dado errado e o menino mudou geneticamente?

- Mione? - chamou Rony. Estava encarando Hugo com uma ruga na testa. Respirou fundo e lançou um sorriso ao homem.

- O que foi?

- É que você não estava neste planeta. Agora não é hora de devanear.

- Certo, certo. Quem quer bolo? - falou trazendo a cesta para si e tirando um prato fechado com bolo.

Comeram o bolo deixando apenas farelo, se tivesse deixado Hugo lamberia o prato para tirar o farelo. Comeram frutas, bolo, sanduiche e beberam suco. Ao final da tarde, quando ai tinha um pouco do sol a aproveitar, Rose deu a "brilhante" ideia de entrarem no lago, mas correndo, de mãos dadas e de roupas.

Então, os quatro deram as mãos, não ligando para quem passava ou olhava achando aquilo estranho. Correram em direção à água e pularam. Voltando a ser crianças, Rony e Hermione brincaram de atirar água um no outro, até ficar tarde para aproveitar e irem embora.

Durante o percurso de volta a casa, Rony reclamou de molharem o carro, mas disse que valeu a pena ou no caso, a galinha toda.

- Hey! - Hermione exclamou lembrando de algo. - Estou sentindo a falta de alguém... Nós tínhamos um cachorro. O que houve com Pichi? - perguntou olhando diretamente para Rose.

A ruiva encarou as mãos entre as pernas. Pareciam bastante interessantes naquele momento.

Rony pigarreou antes de falar:

- Euoatropeleisemquerer. - falou rápido demais.

- Oi?

- Eu disse que o atropelei sem querer.

- Rony... - ela levou a mão a boca.

- Foi um acidente ora bolas. Ele era tão pequenino e estava na garagem, eu não sabia.

- Que morte horrível. - ouviu Rose fungar no banco de trás. - Você quer um cachorro novo?

Ela balançou a cabeça negativamente secando os olhos.

- Desculpa, deve ter sido muito triste. - Rose afirmou.

Seguiram o resto do caminho em silêncio. Uma vez ou outra Hugo espirrou por consequência do banho, já que não tinha trago toalha.

Mal puseram os pés em casa e Hermione mandou todos irem tomar banho, inclusive Rony, que a "convidou" à tomarem banho juntos, mas ela recusou dizendo que ia preparam algo para comerem.

Estava quase chegando a cozinha quando o telefone tocou e teve que dar meia volta para a sala.

- Alô?

- Oi?

- Ahn... Rony está?

- Sim, mas ele não pode falar, está tomando banho. Quer deixar recado?

- Não obrigada, depois eu ligo.

- Tá bem então!

- Tchau.

- Tchau.

Hermione desligou o telefone com uma sensação estranha. Aquela voz era familiar, mas não lembrava de quem... Deu de ombro desistindo de tentar lembrar e voltou se rumo a cozinha.

Rony foi o primeiro a terminar o banho, seguido de Rose e Hugo que desceram as escadas trocando farpas. Hermione fez o jantar, macarronada, que parecia ser um prato adorado por eles.

-     Papai tentou fazer uma vez – disse Rose – Mas não deu muito certo. – fez uma careta. – Preferimos ele comendo do que cozinhando. Nossa, mãe você tinha que ver! Foi muito engraçado!

A ruiva contou a experiência do pai na cozinha arrancando risadas de todos, até do próprio pai.

Após terminarem foram para a sala, onde Hugo sugeriu que jogassem tapete Twister, para testar suas habilidades de elasticidade e força, já que precisava de muito equilíbrio para não cair.

Rony ficou de girar o ponteiro que apontava a cor e a parte do corpo onde deveria colocar.

-     Primeiro eu! – disse Hugo. Rony girou o ponteiro.

-     Mão direita no verde.

Depois Hermione e Rose se uniram ao caçula. O jogo se transformou em uma grande confusão de membros por todos os lados, o que foi divertido e doloroso. Era a vez de Rose quando a campainha tocou.

- Deixa que eu atendo! - o ruivo anunciou e foi até a porta.

- Ronald! - mal abriu a porta e foi recebido por um dedo indicador quase furando seus olhos.

- Ah, Gina, sempre tão delicada! - ironizou.

- Não estou brincando. Eu não acredito que você fez isso com meus "filhos". Cadê a sirigaita?

- O que?

- Eu liguei há algumas horas e uma mulher atendeu. Não creio que você pôs uma mulher na "minha" casa!

- Sua? Ah... Ela, não, não, você entendeu tudo errado... - mas Gina não se deu ao luxo de escutá-lo, entrou na casa feito um furacão

- Tia! - Rose e Hugo gritaram ao vê-la.

- Gina! - Hermione estava em uma posição bastante desconfortável, quando viu a amiga acabou caindo e por consequência os meninos foram junto.

- Hermione! - gritou. - O que você está fazendo aqui? Quer dizer, meu Deus! Hermione! Você acordou, nem acredito!

Quando Hermione se recompôs da pequena queda, correu a abraçar a amiga.

- Que saudades! Que bom, nossa, fiquei feliz agora. Então quer dizer que foi você quem atendeu o telefone hoje?

- Era você? Bem que eu sabia que era uma voz familiar.

As duas horas seguintes foram de conversa para recuperar o tempo perdido. Gina tinha mudado bastante desde a última vez que Hermione a viu. Sua maturidade tinha aumentado. Não que ela não tivesse maturidade, mas em certas vezes agia como uma adolescente inconsequente, esquecendo que tinha um marido e filhos para cuidar.

Rose e Hugo faziam um lanche na cozinha. Rony acompanhava a conversa das duas.

- Foi tão estranho ficar sem você. Nossa, o Rony precisou de psiquiatra...

- Não, eu fui a psicóloga.

- É a mesma coisa, só vai pessoas que tem problemas lá.

- Tem diferença, no psi...

- Eu não quero saber! Está ficando tarde e infelizmente eu tenho que ir.

- A não!

- Desculpe, eu volto outro dia e trago meus tesouros. Você vai amar conhecer Lily, ela é igual a mim.

- Você está brincando comigo? Lily não parece nem um pouco com você, ela é meiga e você é meio selvagem.

- Ora Ronald. - se fez de ofendida. - Isso me deixa profundamente desgostosa.

- Só a mamãe pode dizer isso.

- Ai Ronald, só a Mione e seu filhos pra te aguentarem! Enfim, eu tenho que ir! Até mais, e foi maravilhoso revê-la. - Hermione a acompanhou até a porta, despediram-se e Gina partiu.

Hermione se sentiu um pouco solitária com a ida da amiga. Era para ela que contava seus segredos e temores, mas não pode o fazer, não queria que Rony ouvisse. Devia partilhar de tudo para ter uma relação saudável, mas algumas coisas gostava de guardar só para si ou dividir com Gina. Algo a atormentava nessas últimas horas, além do fato de não ter visto os filhos crescendo. Não sabia o que, mas ela achava Hugo diferente demais. O observou nesse meio tempo, ele até se saiu bem no parque, e em casa, mas ainda sim tinha algo diferente nele... Mas não sabia o que. Dizem que mãe tem sentido pra tudo, então por que seus sentidos estavam a deixando na mão nesse momento?

Poderia demorar muito tempo, mas ela descobriria o que tinha de errado com ele, se é que tinha...