Capitulo 3 - Um mentor desesperado

O trem se movia de forma veloz. Mas, as pessoas que estavam no vagão restaurante estavam completamente mudas e caladas. 3 pessoas sentadas olhando-se como se o mundo tivesse saído de debaixo de seus pés e a ordem era não falar e não se mexer.

– Quais são nossas chances? - Questionou um rapaz de 14 anos, com cerca de 1,58 de altura, com sardas, cabelos castanhos em forma de tigela e usando um óculos fundo de garrafa.

Aquele era Alex Sander, tributo sorteado na colheita do distrito 5. Ele estava aterrorizado. As chances sempre foram pequenas já que ele não precisava por seu nome mais de uma vez por ano na cesta do sorteio. O distrito 5 não tinha voluntários, mas havia um ou outro, que algumas vezes aumentava o número de chances de ser sorteado em busca de uma regalia a mais por algum motivo especial. Ele segurou firme o choro durante o sorteio, mas não no encontro com sua família no Palácio da Justiça do 5.

Pensou que passaria a viagem toda chorando, em especial pela tributa feminina de seu distrito ser Amabile Silver, filha de um dos mentores do distrito. Um pai favoreceria a sua filha. Era evidente que Alex estaria por conta própria sem nenhum patrocinador. Mas, ao entrar no trem Clark Silver, um dos mentores do cinco, é quem estava chorando.

Ambos tributos sentaram diante dele e deixaram que ele chorasse por mais de uma hora, sem que ninguém dissesse nada. Até mesmo a acompanhante, representante da capital, Amber, desistiu de ficar naquele vagão e escondeu-se no seu para ninguém presencia-se o seu choro. Aquilo era uma das piores coisas que poderiam acontecer.

– Nossas chances são as melhores possíveis se soubermos dançar a música que está tocando para nós. - Uma voz feminina adentrou o vagão.

Apenas os tributos lhe deram atenção, Clark continuou com as mãos no rosto como se ele próprio tivesse sido sorteado para adentrar a arena.

– Selina Sega! - Disse Amabile.

A mulher tinha um corpo voluptuoso. Estava com uma calça jeans e uma blusa branca, mas ambos eram escondidos por um sobre tudo de couro vermelho sangue. Seus cabelos negros e olhos igualmente escuros pareciam cintilar. Ela ainda carregava consigo uma pasta de plastico vermelha com muitos papeis dentro dela.

A mulher olhou o jovem Alex. Ele não chamava atenção com sua aparência, nem no quesito beleza e nem no quesito aptidão física. Mas, ele era inteligente e tinha bom raciocínio. Inteligência mantinha pessoas vivas dentro da arena por pelo menos dois quarto dos jogos.

– Crianças, porque não vão descansar, já que nitidamente não estão com fome no momento. - Disse Selina sorrindo. - Venham para o jantar as 19:00 que começaremos a nos preparar para fazer história. -

Os dois tributos se olharam e olharam para o outro mentor que parecia ignorar até mesmo que estava dentro do trem em direção a Capital. Logo levantaram-se saindo do vagão, não antes que Amabile desse um beijo nas mãos do pai.

Assim que porta fechou atras de Selena, Clark pegou uma faca na mesa e colocou no próprio pescoço.

– Se incomodaria de ser acusada de assassinato? - Questionou Clark. - Me deixaria sair dessa situação tenebrosa? - Questionou o mentor em frangalhos. Seus olhos estavam completamente vermelhos, assim como sua face. Era nítido o desespero que havia tomado conta do homem que um dia vencera os Jogos Vorazes.

– Sua filha é muito linda para levar consigo a ideia de que o pai se matou ao invés de salvá-la na arena. - Diz Selena sentando-se e pegando a faca de Clark sem nenhuma cerimônia. - Mas, temos câmeras por aqui. Para que eu levasse a culpa pela sua morte eu teria realmente que cortar esse seu pescoço. E por mais que eu tenha vontade... -

Clark suspirou começando a chorar novamente.

– Sua filha é a garota mais bonita, de 15 anos, que existe no distrito 5. Uma beleza natural e imaculada. Cabelos lisos, longos e dourados. Uma pele rosada. Uma altura de 1,58 assim como o nosso caro Alex. Um corpo bem desenvolvido para a idade dela, cheio de curvas, mas nada que alguém possa acusá-la de gorda ou falsa magra. Dentes perfeitos e um sorriso estonteante. - Selena sorriu. - Sabe, eu diria que ela é um anjo... - Selena foi interrompida.

– Um anjo que Deus condenou ao inferno. - Gritou Clark. - Minha filha é delicada e inocente demais. Ela não consegue sequer assistir aos jogos por mais de cinco minutos sem chorar. Ela sequer manuseia a merda da faca de refeições. Se ela ao menos tivesse um inteligencia acima da média, mas ela é mediana nisso também. Ela não tem nada! -

– Alex realmente é acima da media na inteligencia. - Diz Selena. - Mas, sua filha tem a beleza. -

Clark parou por alguns instantes, pegou um pouco de água e colocou açúcar bebendo rapidamente. Ele pensou em começar a tomar um porre, mas sabia que isso seria pior para seu pesadelo atual.

O distrito 5 tinha o costume de mandar apenas dois mentores por jogo, deixando os demais descansarem daquela guerra. Clark Silver e Selena Sega eram os escolhidos para o ano. Ainda foram interceptados pelos outros mentores que se apiedavam de Clark e sua família, afinal, Amabile era como a filha de todos os vitoriosos. Mas, Clark simplesmente entrou no trem. Ele não poderia deixar que sua filha morresse sem que ele tentasse mantê-la viva, sempre pensaria que ele poderia ter feito mais do que qualquer outro.

– E essa pasta? Contém esses dados que está falando? - Questionou Clark tentando conter os soluços e refazer-se, apesar de saber que assim que estivesse com sua filha novamente, iria debulhar-se em lagrimas novamente.

– Eu faço o dever de casa. - Sorriu Selena. - Passei rapidamente na escola peguei notas e conversei com professores e alguns pacificadores. -

– Então... Temos algo promissor? - Perguntou Clark.

– Temos... Muitos pontos a nosso favor que pelo que Amber acompanhou na televisão, os outros distritos não possuem. - Disse Selena.

– Como por exemplo? - Questionou Clark tentando entender o porquê a companheira na terrível batalha estava tão animada.

– Nenhum outro distrito possui um mentor na sua situação. - Sorriu Selena.

Clark começou a rir. Era uma boa piada. Ver a fraqueza como força. Mas, ele percebia no final que aquilo era realmente uma vantagem. Poderia adquirir patrocinadores que ficassem sentidos com a situação. Mas, isso significava que as chances de Amabile cresceriam em detrimento ao fracasso de Alex.

– Diga o seu plano... - Suspirou Clark. - … Antes que eu comece a chorar novamente e ache que o fio dessa faca é melhor do que lutar. -

– Eu começo perguntando o que teremos que fazer todos em Panem perguntarem-se. - Selena aproximou sua cadeira da cadeira de Clark e encarou-o nos olhos. - O que você faria para salvar sua filha? -

As palavras ressoaram de uma forma doentia na mente de Clark. O que ele faria? O que ele faria? O que ele faria? A pergunta parecia despertá-lo e deixá-lo com várias opções, mas nenhuma realmente parecia garantir a vitoria da filha.

– Pergunta que você deverá fazer a Amabile quando ela voltar para o jantar. - Selena colocou os lábios na orelha esquerda de Clark e balbuciou algo que o fez levantar-se alarmado.

– Nunca! - Clark havia passado de um melancólico desesperado para um colérico combatente em poucos instantes. - Isso jamais vai acontecer! - Gritava Clark que saia do vagão.

– Bom... Dados dos tributos, confere! Identificação de melhor estratégia conforme potencial dos dados, confere! Revitalizar as forças de Clark, confere! - Selena Sorriu. - Próximos passos, convencer Clark do plano... - Selena fez um pequeno bico de dúvida. - Confere! - A moça sorriu olhando o relógio. - Droga! Convencer os tributos do plano é apenas na hora do jantar... Vai demorar um pouco para as minhas tarefas do dia terminar... O que será que posso fazer até lá? -