Gale e Delly. Tudo bem, só queria ser capaz de entender o porque de eu me sentir... Traída.

Traída?! Deus, o que estou pensando? Não fui eu mesma quem distanciou Gale? Não fui eu quem decidi ignora-lo sem importar o fato de que ele havia voltado? Quem ainda nem sequer deu a ele uma resposta ao pedido de perdão e recomeço....

Sim, essas foram eu e minhas atitudes. Eu ainda estou os observando na janela da casa de Haymitch, mesmo sem compreender o porque.

Gale Finalmente põe Delly no chão, enquanto ela parece reclamar, como a maioria das garotas fazem, do quando ele a deixou desarrumada. Consigo ver um sorriso disfarçado no rosto de Gale e imagino se ele não está lembrando quanto isso é comum entre garotas, e o fato de isso nunca ter acontecido comigo....

Eles ainda estão conversando, e tenho um pequeno impulso de me aproximar mais e poder ouvi-los, mas Haymitch quebra um prato na hora exata em que eu precisava acordar de meus pensamentos. Ele resmunga alto e abaixa- se para recolher os cacos.

– Precisa de ajuda? - eu ofereço -

– Não. Apenas preciso que me diga o que fez você ficar tão presa na janela?

Tento pensar em uma resposta rápida, mas não tenho sucesso. Decido ignora-lo.

– Err.. eu tenho que ir. Quero preparar o jantar para Peeta. - minha voz falha, é claro -

Haymitch me encara com surpresa, choque e o que entendo como preocupação.

– Tudo bem, mas tenha cuidado para não matar o estomâgo feito de pães do seu noivo.

– Ei! Eu não sou tão ruim assim... - tento protestar -

– Docinho, me desculpe, mas sua comida é azeda.

Reviro os olhos impacientemente e caminho até a porta.

– Haymitch, promete que quando o dia do casamento chegar e eu precisar do vestido, ele não vai estar estragado pelo seu vômito?

Haymitch faz um sinal de juramento com os dedos e eu sorrio em agradecimento.

Saio pela rua e não consigo evitar uma rápida olhada para onde Gale e Delly estavam, mas não vejo nenhum dos dois por lá agora. Sacudo minha cabeça tentando apagar qualquer pensamento que contenha o nome ' Gale '.

Chego em pouquissímos minutos a minha casa e já seleciono as panelas que irei precisar para cozinhar, mas logo sou interrompida pela campainha, tocada apenas uma vez. Peeta teria decidido voltar mais cedo? Sigo até a porta e a abro com curiosidade.

Não, Peeta não está de volta. São outros fios louros que estão em minha frente agora.

– Oi Katniss! - o sorriso que sempre tenta demonstrar intimidade de Delly Cartweight está focado em mim agora.

– Ah! Oi... Delly. - tento responder ainda em surpresa -

– O Peeta está aí?

Peeta? Ela estava nos braços de Gale a poucos minutos e vem procurar pelo meu noivo?

– Não. - eu a respondo com frieza -

– Ainda bem!

Ela faz um gesto de licença com a cabeça e entra. Seus olhos mostram ansiedade e fico intrigada.

– Está tudo bem? - começo com timidez -

– Claro! E eu tenho algo para você.

Pela primeira vez, vejo que Delly carregava consigo uma pequena cesta decorada com flores, que me lembrou as de pequenique, que eram o sonho de ... De Prim.

Delly põe sua cesta na mesa de jantar e me olha com empolgação.

– Eu encontrei sua mãe na cidade, acho que uns 2 dias atrás. Contei a ela que eu estava trabalhando com doces, e ela me pediu para que trouxesse alguns para você ver. Para o casamento!

Delly, como todos aqueles que nos parabenizaram, parece feliz ao ver que Peeta e eu teremos um final justo, um final juntos.

– Nossa, err... Obrigada.

– E eu.. eu achei que precisava ser especial. Há um pequeno detalhe nele.

Delly abre sua cesta e retira um pequeno doce, embrulhado em um lindo papel laranja suave...

– Laranja e suave.. a cor favorita de Peeta.

Delly me olha com surpresa.

– Uma coincidência...

– Achei que você soubesse, bem, você era a melhor amiga dele.

– Katniss... - ela respira e coloca seu olhar sobre mim - Peeta tinha muitos amigos, inclusive muitas eram meninas, que eram loucas de amor por ele. Mas ele nunca falava muito sobre si mesmo, sobre seu sonhos, desejos e tudo mais... A única coisa que todos nós sabiamos com certeza absoluta sobre Peeta era o amor dele por você.

Como pude ignorar aquele garoto com o pão, aquele garoto que salvou minha vida antes dos jogos? E depois também... Sacrificando- se sempre, e por mim, enquanto tantas garotas o desejavam....

– Você quer ver? - Delly chama minha atenção - O detalhe?

– Claro.

Delly estenda o pequeno doce e o coloca em minha mão. Ele é branco e decorado com um glacê de um tom pouco mais escuro em suas bordas. E em seu topo, o nosso simbolo : A peróla.

– Eu a moldei com um glacê especial. - ela explica - Eu o assisti te entregando na arena, e vi você sempre a mantendo por perto.

– Delly, isto será perfeito. Obrigada.

Eu me esforço para mostrar um sorriso, e ela me olha com seriedade, como se estivesee lendo meu rosto.

– Eu não sei... parece que, não sei ao certo, mas há algo prendendo, ou... machucando você?

Sinto meu pulso acelerar e lágrimas quererem surgir. Deveria eu falar a Delly o que sinto agora, a confusão que insiste em permanecer em minha mente?

– Gale - eu não controlo as palavras - Eu estava bem em saber que ele estava distante, porque assim eu teria a certeza de que ele não interferiria em nada, e que eu não machucaria os sentimentos de mais ninguém.

Sento- me no sofá me sentindo tonta e cubro meu rosto com as mãos. Ouço Delly sentar ao meu lado.

– Eu estava com Gale hoje... quando ele perguntou o que havia em minha cesta, e eu disse que era para seu casamento, ele definitivamente me supreendeu. Ele apenas explicou o quanto sabe que você escolheu certo, que sabe que você sempre amou Peeta. Ele só demonstrou tristeza quando falou o quanto sente falta da sua amizade....

As palavras de Delly me deixam também surpresa. Gale estava de volta sim, para seu trabalho, e de maneira alguma para me afetar. Ele somente desejava minha amizade de volta... Eu desejava a dele?

Levanto-me rapidamente e Delly também, eu a abraço e ela me encara com surpresa.

– Obrigada por isso.

– Não precisa agradecer.. Isto é o que...- ela pausa um segundo sem saber se continua - Isto é o que amigas fazem.

Eu sorrio e lembro-me de Delly e Gale e todas as rizadas que eu vi na janela...

– Você gosta dele? - eu pergunto tão diretamente, que fico envergonhada.

O branco rosto de Delly, agora possui um forte rubor.

– Não... err... não.. porque você... não! Eu o vi de novo apenas hoje e....

– E você parecia feliz....

Ela sorri ainda timída e em um segundo, volta a ser alerta.

– Vá encontrar Gale, vocês sempre foram amigos. Essa confusão toda não vai se desmanchar até você....

Delly nem termina a frase, e eu já estou correndo pelo distrito 12 em busca dele. Procuro em lojas, com amigos, em quase todos lugares, e não obtenho nada. Mas há apenas mais um lugar. É claro que ele está lá.

Corro com mais pressa e em alguns minutos estou caminhando entre a floresta. Procuro por qualquer sinal, mas eu sou a achada.

– Visitando? - Gale aparece em minha frente e sorri -

– Err... na verdade, não. Apenas procurando um certo caçador....

Gale leva um pequeno choque, e seu sorriso belo se abre com alegria.

– Katniss...

– Escuta. - eu o interrompo - Peço desculpas por não ter dado a chance de você realmente se explicar, de pedir perdão. De criar uma imagem ruim de você... uma imagem que pensei que fosse me ameçar até....

Em vez de continuar, eu apenas o abraço e ele retribui.

– Senti sua falta... Katn...

– Eu estou aceitando Catnip de volta....

Nós dois rimos e ele parece curioso...

– Quem te convenceu a me procurar? Você parecia que não mudaria de idéia....

– Uma certa loura que você estava rodopiando hoje...

Gale ganha um rubor no rosto, e se esforça para disfarçar.

– Você gosta dela!

– Não... A Delly é uma amiga.... Catnip, você pensou que... err... não...

– Vou fingir que estou convencida....

Vejo a noite começar a cair e lembro-me do jantar.

– Eu tenho que ir...

– Promete que te vejo de qualquer jeito amanhã? - ele pergunta com um certo tom de súplica -

– Prometo.

Sorrio mais uma vez e faço meu caminho de volta para casa tranquila. Convencida de que sim, preciso de Gale, como um amigo, um irmão.

E absolutamente com certeza de que sou apenas de Peeta, assim como ele é apenas meus, para sempre, como prometeremos na igreja em breve. De que apenas ele pode ser capaz de me entregar amor, apenas amor e a alegria de estar com alguém. De que apenas ele sempre foi e sempre será a minha esperança.

Chego em casa e tento ser rápida. Consigo preparar ainda um ganso que Haymitch deixou para mim, junto com saladas de ervas que sei que ele aprecia. Ponho a mesa com cuidado e organização e acendo velas. Por último, ponho o vinho.

Subo para meu quarto e tomo um banho quente e com perfumes doces, como ele sempre elogia. Escolho um vestido de um laranja, suave e delicado, tomara-que-caia que me valoriza. Penteio meus cabelos e os deixo soltos, para finalizar, ponho um batom de um leve tom de rosa e calço minha sapatilha branca com um pequeno detalhe em laços.

Desço novamente, e bem a tempo, pois a campainha é tocada.

Peeta entra e rio com seu rosto estampado com a surpresa.

– Você está incrível, nem sei como descrever o quanto...

Ele me envolve em seus braços e eu deito meu rosto em seu peito.

Nos separamos e caminho até a mesa, pegando as duas taças já com o vinho.

– Você está me surpreendendo futura sr. Mellark.

– E está é a razão para isso.

Entrego a taça a Peeta e faço um gesto para ele esperar um pouco.

– Eu tentei preparar algo especial para nós, porque " nós " é o especial de minha vida. - eu sigo - Eu quero agradeçer você por... por me escolher. Você sempre foi tão desejado por todas e ...

– O quê? - Peeta está em confusão -

– Eu só... eu quero dizer a você o quanto eu as vezes não acredito que você é meu. Eu não mereço você e jamais merecerei... Mas você continua aqui.

Peeta coloca a taça novamente na mesa e segura meu rosto entre suas mãos.

– Katniss... Eu sempre fui seu...Haviam outras, mas ela sempre foram apenas outras. Você... você é a razão de eu me sentir ainda vivo, você sempre foi.... E tudo que é de especial em minha vida é o fato de você ter dito sim, e eu posso ter a certeza de que nós estaremos juntos...

Nossos lábios se encontram e eu me sinto bem, segura e feliz por estar nos braços dele, que são os únicos braços que eu desejo ter em volta de mim por toda a vida.

Após um longo tempo, nos separamos para respirar, mas apenas por isso, porque o fogo ainda me consome.

Peeta pega novamente a taça e a ergue no ar.

– A nós, a nós dois. Juntos. Sempre juntos.

– Sempre....

Nós completamos o brinde com um sorriso e a esperança de momentos como esse serem eternos. E eu, principalmente com a felicidade de minhas certezas e meus perdões e recomeços, pois apenas assim me sinto viva, renascida.