Procurei alguma peça de roupa que fosse boa o suficiente. Mas, esse era o problema: Eu não tinha uma roupa bonita o suficiente. Sabe, eu realmente não ligo pro que vão pensar quando me verem com uma roupa surrada e um all star sujo, mas eu ligo pro que vão pensar de Justin se me virem assim com ele.

Não, espera... O que eu acabei de pensar?

- Merda! – bufei colocando a mão na cabeça – eu não quero, eu não vou me importar com ele, eu não me importo – sussurrei pra mim mesma – isso, você não se importa – respirei fundo e sorri, tentando fingir o que já se tornou óbvio pra mim.

Peguei minha mochila e sai, não sei por que a tinha a levado, mas se precisasse... Na verdade, eu precisaria.

Andei em direção ao shopping, não demoraria muito pra chegar, mas o caminho parecia longo e eu estava cansada de tanto andar. Não precisava usar mais faixa em minha cabeça e meu pé também não doía, mas aquele caminho sem fim era de frustrar qualquer um!

            Por fim, cheguei ao shopping... Olhei em meu relógio de pulso e ainda eram três horas da tarde, isso era ótimo, quanto mais tempo, mais estratégias.

            Adentrei dentro de uma loja e tentei procurar o vestido mais decente possível. Percorri meus olhos por sobre todas as roupas, até que fui interrompida por uma atendente.

- A senhora está procurando por algo?

- Sim, mas já achei – sorri pra ela tentando soar simpática, peguei o primeiro vestido que achei e levei para o provador. Ainda estava com minha mochila, o que facilitaria todo o processo. Entrei dentro do provador esperando tempo o bastante pra fingir que o vesti. Esperei em torno de três minutos e fui até a moça que se encontrava na banca do provador.

- você se importa de eu ir pegar outro vestido com um tamanho menor? – perguntei a fazendo olhar pra mim – aquele realmente ficou muito grande e você sabe...

- tudo bem – ela interrompeu, sorrindo e apontando pra saída.

Otária.   

Fui ao lugar onde peguei o vestido novamente e peguei um terceiro o escondendo por dentro do outro vestido. Voltei ao provador passando pela mulher e mostrando de longe os vestidos a ela. Ela assentiu me dando passagem e eu fui até o meu provador. Escolhi um daqueles três vestidos iguais, tirei a etiqueta e o sensor, jogando-os longe e guardei um deles na minha mochila. Enquanto os outros dois coloquei no ombro e fui até a mulher novamente.

- Nenhum dos dois ficou como imaginei – sorri levemente tentando soar aflita.

- É uma pena, por que não escolhe outro? Aposto que há um que caiba perfeitamente em você, se você quiser, eu posso te ajudar.

- Ah, não – sorri – obrigada, de verdade, mas não precisa, tenho que ir ao trabalho e não posso chegar atrasada – continuei sorrindo e quando ia saindo do provador, ela me parou.

Merda.

- Entendo, boa sorte – ela acenou e eu respirei fundo, saindo, finalmente daquela loja cheia de idiotas. Andei normalmente até a saída do Shopping, mas assim que sai, não agüentei e tive que me apoiar na parede. Respirava tão ofegante que mal consegui raciocinar. Passei alguns minutos me recompondo e logo depois voltei a minha posição normal, indo assim, pra casa.

xx

Cheguei em frente ao apartamento, olhando meu relógio, eram 4h35min, ainda tinha tempo de sobra!

- Ai, olha por onde anda! – esbarrei em alguém alto, mas muito magro, levantei meu olhar e eu já conhecia aquele rosto, era Dylan – ah, oi Dylan, o que faz aqui? – tentei parecer feliz com sua visita, mas acho que falhei.

- Que animação – ele falou com a voz rouca – vim te visitar – ele sorriu colocando a mão no meu braço. Me esquivei ainda o olhando.

- Dylan – o adverti.

- Tudo bem – ele se recompôs fazendo pose de “durão” – por que não vai mais me visitar? Tenho sentido sua falta.

- eu não vou mais lá, nunca mais – balancei a cabeça lembrando da promessa de Justin, mas minha mente dizia uma coisa e meus atos provavam outra.

- como assim? – ele pareceu descontrolado – você vai parar? Você não pode! – ele gritou e as pessoas nos olharam, segurei seu braço.

- vem – falei o puxando pra dentro do edifício, indo até meu apartamento – entre – abri a porta pra ele e ele continuava com a mesma expressão apavorada de antes.

- O que aconteceu? Por que você fez isso? Por que você não quer mais? – Dylan sentou no sofá, colocando a mão nas cabeças.

- Dylan, calma – fui até ele – eu fiz uma promessa que iria parar...

- A quem? – ele levantou seu rosto avermelhado.

- Não importa, mas não posso quebrar isso...

Foda-se se eu já tinha a quebrado no mesmo dia, mas depois do dia da piscina, de ter contado tudo a Justin, de ter falado dos meus pais e dos meus medos a uma pessoa que eu mal conhecia e o ver prometer que não me julgaria e muito menos se importaria se o abracei ou pedi pra ele cantar...

Por mais que fosse estranho confiar em Justin, era o que eu estava fazendo.

Eu não ia quebrar essa promessa novamente. Mas, queria.

- A quem você fez essa promessa, Sky? – ele pareceu mais nervoso ainda.

- Dylan, porra! – gritei – presta atenção, eu não vou...

- É um cara? É isso? Você tem um namorado agora e ele não quer que você fume? – ele me interromepu, alterado.

- Você não tem nada a ver com a minha vida – me levantei, afastando dele.

- Ah não, agora eu não tenho, né? – ele riu descontroladamente – E nos dias que você não tinha dinheiro pra pagar a droga, nesses dias, Sky – continuou – eu tinha a ver com a sua vida, né?

- Eu agradeço pelo que você fez, mas isso não significa que você tem direito de mandar em mim.

- Sky! – ele gritou – fica comigo, por favor – ele veio em minha direção na tentativa de um abraço, mas corri até a porta.

- Acho melhor você ir agora – pedi e ele negou com a cabeça.

- Eu não vou, você não pode me deixar sozinho nessa, por favor, sky – ele suplicou vindo mais uma vez em minha direção.

- Não me faça brigar com você, Dylan – o olhei sério e ele se encolheu, logo menos, passando pro lado de fora.

- Você não vai sair assim dessa – pausou – você sabe que é difícil... Seu vicio é maior que sua promessa – ele deu um sorriso vitorioso e partiu.

Dylan havia mexido com meu ponto fraco, eu sabia que essa promessa não duraria muito tempo, mas também sei que não queria acreditar.

Xx

Passei horas pensando no que havia acontecido, aonde eu tinha chegado e como tudo aconteceu. Eu sou uma otária mesmo, ri de mim. Como eu vou largar um vicio que... é meu? Tão rápido? Não há coerência. É um vicio, pelo qual sou apegada a 2 meses. Justin não me seguraria, ninguém faria isso.

Tomei um banho tentando com que ele lavasse também minha alma.

O que fiz hoje? O que fiz da minha vida?

Me arrumei vestindo o vestido azul e mesmo que eu estivesse me sentindo totalmente culpada, eu não havia feito isso pra nada. Terminei e sentei na minha cama, eu estava frustrada comigo mesma, mas não ia deixar de sair com Justin por causa da minha maldita vida.

Estranho. Bastante.

Ouvi um barulho na porta e já podia imaginar quem era. Percorri a sala indo até a porta a abrindo. Eu estava desanimada, mas Justin parecia que havia se acendido ao me ver. Não no mal sentido, por favor. Seu olhar tedioso e incógnito virou um olhar brilhante e totalmente vivo.

- Pronta? – ele falou, estralando os dedos.

- Sim – assenti fechando a porta e percebi seu olhar ainda em mim – da pra parar de me olhar? Isso irrita, caralho – tranquei a porta andando até a saída do edifício, ele permaneceu calado.

Entramos dentro de seu carro e ele parecia sem saber o que fazer.

- Pra onde vamos? – olhei pro seu rosto e mais uma vez me admirei com tamanha beleza vindo de apenas um retardado. Um retardado bonito. Bonito? Piada, lindo. Justin era lindo e eu odeio ter que admitir isso pra mim mesma.

- Restaurante de comida chinesa – ele falou dando a partida no carro e soltando um riso provocador.

- Mas, eu...

- Relaxa – ele olhou pra mim por uns instantes e voltou sua atenção ao volante – o mínimo de vergonha que você pode passar é não saber como usar os talheres, mas tudo bem – ele continuou rindo.

- Você faz isso de propósito, Justin! – me irritei olhando pra janela.

- O que? Você acha que eu fiz isso só pra te fazer pagar mico?

- Acho – voltei a olhar.

- Achou certo – seu riso mudou de provocador pra forçado.

- Nem sei por que aceito sair com você.

- Por que você me ama.

- Credo – fingi quase vomitar – me dá nojo só de pensar em amar você, imagina o fazer.

- então você tem nojo de você, por que é exatamente isso que você faz.

- Você é tão hilário, Justin – ri colocando a mão em seu braço – Você sabe, não sabe? – ele olhou pra minha mão em seu ombro e logo depois olhou pra mim.

Constrangedor. Totalmente. Era assim o que estava se passando.

Tirei minha mão rapidamente de seu ombro, ficando séria. Desviei meu olhar voltando a olhar a janela. As pessoas passavam fingindo ter uma vida satisfatória.

Senti o carro pausar e logo sai com Justin. Fui até seu lado adentrando dentro do restaurante enorme. Estava cheio, pra sorte de Justin e pro meu azar. O carinha veio com uma roupa estranha até nós.

- Que honra ter o senhor aqui novamente!

- novamente? – sussurei baixo pra Justin, ele me encarou pedindo silêncio e logo após, sorrindo e olhando pra o senhor.

- Eu que digo – seu sorriso era incrível e o entusiasmo em sua voz não eram de Justin, aquilo não era ele, não era o Justin verdadeiro. O senhor sorriu acreditando naquela farsa e nos dirigiu até uma mesa. Tinha que sentar em cima de umas almofadas – também estranhas – no chão e ainda tive que tirar minha sandália. Tirar! Minha! Sandália! Justin iria me pagar, ah, se iria. Sentei e Justin fez o mesmo sentando a minha frente. Olhei pra ele interrogativa e ele ignorou fazendo o pedido por nós dois. Assim que o garçom – se é que pode chamar isso, porque... ele é estranho – saiu, o olhei séria.

- Mas, eu nem escolhi.

- Grande coisa – ele rolou os olhos – eu escolhi por você, quem vai pagar sou eu.

- Um dia eu vou ser muito r... – pausei – tá, não – parei no meio da frase o que fez Justin gargalhar.

- você nunca vai ser rica.

- nunca diga nunca, esqueceu? – arqueei uma sobrancelha.

- nunca diga nunca pra coisas impossíveis e não pra milagres – ele justificou.

- escroto – respirei fundo, olhando pras pessoas que se encontravam em outra mesa.

- esteja pronta pra que seu rosto apareça em todos os jornais e programas possíveis amanhã – ele soou normal.

- que? – engoli a seco – eu não quero isso.

- também não, sair com uma favelada não é uma das ótimas formas de se aparecer no jornal.

- não acredito – apoiei meus braços em cima da mesa colocando a cabeça no meio delas.

- Sky, você tá estranha – ele falou rápido – aconteceu algo?

- não – falei com a cabeça ainda dentro de meus braços – nada que te interesse – continuei.

- fala logo – ele parecia estar perdendo a paciência.

- o Dylan foi no meu apartamento hoje...

- que Dylan? E porque no seu apartamento?

- Dylan era o cara que me vendia drogas, Justin – pausei - ele é apaixonado por mim, por isso quase sempre me dava droga de graça, e ele falou umas coisas... Porra – voltei a cabeça aos meus braços.

- Ele te levou droga? – Justin perguntou com a voz rouca.

- Não! – falei irritada – ele só foi conversar.

- Bom, não quebre sua promessa – levantei meu rosto o olhando – eu não quebrei a sua.

- Eu sei, mas ele falou algo que concordo.

- O que?

- Meu vicio é bem maior que qualquer promessa.

- Pronto – o “atendente” nos trouxe nossa comida e credo... Eu que não iria tocar naquilo. Ele se foi e fuzilei Justin com os olhos.

- Você acha mesmo que eu vou comer isso?

- Acho e vai – ele sorriu sarcástico e pegou os dois hashis com experiência, tentei fazer o mesmo e por mais que fosse bizarro... Eu consegui.

- Acho que você não vai ter motivos pra me zoar hoje – ri de sua expressão deixando meus dedos frouxos o bastante pra a porcaria daqueles palitos caírem no molho.

Agora Justin que ria.

- Viado – sussurrei tirando os hashis daquele molho que parecia ter o gosto tão ruim quanto aparentava. Os retirei daquele molho e tentei os limpar, mas isso fez Justin rir mais ainda – para com isso, retardado mental.

- Eu sabia que isso ia ser hilário – ele falou se recompondo.

- Então é por isso que você pede pra sair comigo? – falei, séria – pra me zoar?

- Também – continou – eu já te falei porque gosto de sair com você e eu não vou repetir de novo.

- Que seja – falei sacudindo os ombros e tentando me acostumar com aquela comida, peguei os hashis novamente pegando um pedaço do que mais parecia ser um projeto de comida e o levei até a boca. Justin me fitava.

- Isso é bom – falei enquanto mastigava e ele sorriu, o sorriso mais sincero que já vi Justin dar.

Xx

Saímos do restaurante e realmente estava frio, Justin percebeu me oferecendo seu casaco e antes que você possa pensar que ele foi cavalheiro, tentei questionar seu ato e ele disse “to sobrecarregado de roupas, eu não vou sentir frio, e nem preciso, tenho milhares no carro, em casa, em todo o lugar, eu sou o Justin Bieber, esqueceu?” com o seu sorriso frio e amarelo no rosto. Entramos no carro em silêncio, algo me dizia que ser o senhor “Justin Bieber” era o que mais machucava Justin.

- Sky – ele falou antes de dar a partida.

- Sim – o olhei.

- Esse vestido parece ser caro...

- O que você quer dizer com isso?

- Você não tem dinheiro pra comprar vestidos caros – continuou olhando pra mim.

- Você tá querendo dizer que eu o roubei?

Fiquei irritada, confesso que havia feito isso mesmo, mas eu não sei por que, mas aquilo me indignou completamente. Eu era de pouca paciência, ainda mais com Justin.

- Sky... – ele falou, tentando entender meu olhar frustrado.

- Que porra, eu não posso ter um vestido sem você achar que eu roubei? – me alterei.

- Eu não disse isso porra, eu só...

- Vai se fuder! – gritei, abrindo a porta do carro e saindo. Eu não sei o porque aquilo havia me irritado tanto, se o que Justin sugeriu foi exatamente o que eu fiz.

Só queria ir pra longe, longe dele, longe de qualquer pessoa, longe de qualquer lugar.

xx