Olá, sou eu de novo.

Eu lembro-me que da última vez que falámos eu fiz um sermão sobre escolhas e como até a mais insignificante delas podia mudar a nossa vida de maneira brusca. E se estão aqui a falar comigo, significa que decidiram ver a desgraça em que ficou a minha depois de ter decidido faltar a uma aula, deduzo.

Mas eu não vos quero ocupar muito tempo, então neste nosso encontro eu vou tentar ensinar-vos uma outra lição, para além de “escolhas fazem a tua vida”. Hoje eu quero ensinar-vos como resolver a merda que a sua escolha fez.

Digo-vos, as consequências não foram assim tão graves. Pensava eu.

Acontece que a falta que eu tive foi a gota de água nos limites de faltas que um estudante pode ter a uma certa disciplina. O que é mau, porque quando isso acontece estudantes baldas têm que fazer um teste com a matéria dessa disciplina. No meu caso, essa disciplina é Física e Química, e eu estou no nível abaixo de zero nessa disciplina.

Nunca me preocupei muito, pois com uma ajudinha de batota nos testes conseguia chegar quase à positiva.

Mas para este exame isso não chegava, e meus professores que se preocupam imenso comigo e com as minhas notas – sentiram a ironia? – decidiram que seria bom para mim ter aulas com um tutor particular para conseguir passar com uma positiva no teste que teria de fazer em duas semanas.

Por isso, aqui estou eu, fechada numa sala de aula com o tutor de cabelos enormes que segundo me disseram, ia curar minha ignorância, porque era o génio que salvava a escola no rank negativo.

E digo, ele tem mesmo o perfil de um génio. Tem os cabelos mais cuidados que os meus, a coluna extremamente direita e juro que tinha olhado para a mim com pena. Ele deve ser um herdeiro rico, mega inteligente e que está nomeado para o futuro homem mais BEM e BOM do mundo.

Ele até pode ser isso tudo, mas se todos os explicadores que tive desistiram de me ensinar, não seria aquele ser arranjado e de aura convencida que me iria manter quieta numa sala durante uma hora. Caramba, o dia está lindo e o meu grupo de amigo de personalidades duvidosas estava à minha espera no salão de jogos.

“Vamos rever o acerto das reações químicas” Ele dizia e escrevia magia negra no quadro enquanto eu preparava a minha primeira bolinha de papel e a punha na caneta. Normalmente eles desistiam à terceira bolinha.

Mirei e acertei na orelha daquele ser de cabelos longos.

Agora, ele ignoraria o meu acto, e quando eu atirasse a segunda bolinha ele ignoraria outra vez, e à terceira explodiria de raiva, atiraria o livro ao ar, e iria dizer um palavrão feio e iria queixar-se aos meus professores que eu era um animal impossível de ensinar.

E eu iria voltar à minha vida normal, e quando o dia do teste chegasse, eu já teria pensado numa forma pouco exemplar de passar.

E, meus seguidores, é assim que remediamos as consequências das escolhas.

 “Tenten” ele virou-se, e pela primeira vez eu toda a minha vida de tutorias e explicações, a cara dele tinha um sorriso e não uma careta feia de fúria e indignação. E confesso, se eu acreditasse, iria rezar a todos os anjinhos e pedir perdão a deus por todos os meus pecados e erros, pois ia jurar que o diabo está ali sorrindo na minha frente e estava prestes a comer-me. “Eu não queria que fosse assim mas… se não estiver atenta eu vou dizer à diretora que tu e o teu grupo de amigos roubaram o teste de português, e tenho a certeza que isso chegará para que metade dos teus amigos seja expulso desta escola, tendo em conta as manchas que já têm nas suas fichas de aluno.”

…

Petrifiquei.

E em segundos, a situação ficou impossível de eu controlar.

Queridos fieis, dêem-me alhos, ou talvez sal, o que quer que seja o condimento que faça os demónios derreter, porque está um na minha frente que precisa de desaparecer.

O teste de português tinha sido roubado pelo meu grupo de amigos, num plano onde todos participaram e fora executado de maneira tão perfeita que ninguém, ninguém reparara. Então, como este ser convencido e que eu nunca tinha visto na minha vida sabe disto?

Fiquei calada, que nem um ratinho na presença de um gato, e atirei ao chão todas as mil e uma bolinhas que eu tinha preparado só para o caso de a terceira não fosse suficiente.

E, talvez agora esteja na altura de eu vos ensinar algo para além de remendar erros feitos por escolhas. Hoje, agora, eu ensino-vos o significado de lealdade e amizade. Porque quando um demónio está a ameaçar os teus amigos, tu não o deixas nem chegar perto deles.

Assim, pela primeira vez na minha vida, abri o livro em sinal de resposta à ameaça dele e levantei as mãos em sinal de rendição. “Tu é que mandas” disse com um sorriso amigável.

Ele sorriu, e voltou a escrever magia negra no quadro.

Ah, como eu queria que acabasse por aqui.

Mal ele se virou para o quadro, o meu telemóvel tocou. Peguei nele com o objectivo de o pôr em silêncio, e quando olhei para a frente de novo, ele estava com a mão estendida.

“O que é?” Perguntei.

“Dá-me o teu telemóvel” Ele disse. Não, ele mandou. “Eu não gosto de distrações. Eu vou ficar com o telemóvel até receberes a nota do teste, e só te volto a dar se tirares uma positiva alta.”

Ele arrancou-me o telemóvel das mãos.

Aviso, que se eu não estivesse sob uma ameaça, ele nunca sairia vivo depois de tocar no meu telemóvel. Mas… vidas estavam em jogo! Então eu vou calar-me, suspirar, e bater em Kiba mais tarde para expulsar a minha raiva contida.

Acrescentei comprar um telemóvel novo à minha lista de coisas para fazer, porque eu nunca conseguiria tirar uma positiva naquele teste, quando mais uma positiva alta.

Ele voltou-se de novo para o quadro com o MEU telemóvel guardado no bolso.

“Vem ao quadro resolver o exercício” disse e apontou para a magia negra que tinha acabado de escrever.

“Han?” Olhei para a magia negra com cara de retardada.

“Reações! Vem acertar as reações químicas”

Queridos seguidores, repararam o tão depressa aquele ser à minha frente virou a situação a favor dele? CREDO, ele conseguiu ter-me na mão dele que nem um brinquedo em segundos! Nunca imaginaria que ele sofreria tanto com apenas uma pergunta da minha parte que revelava a minha ignorância no assunto que ele me estava a tentar ensinar.

“O que é uma reação química?”