Katniss ficou com o primeiro turno de vigília. De noite, a insígnia da Capital apareceu e mostrou um único morto: Mercur, do 3. Imaginei quem tinha matado o garoto e conclui que provavelmente Cato ou Clove. Fora o nosso grupo e eles dois, havia somente mais um garoto, o do 11 e a garota do 5. Rue havia nos contado que o nome dele era Trash e Katniss disse que ele havia sido chamado para participar do grupo de carreiristas, mas rejeitou. A garota do cinco era esperta, isso todos haviam percebido.

                        Quando dormi, sonhos de que eu havia voltado para Annabeth me invadiram. Senti seu beijo, seu perfume e ouvi sua risada. Assim que Glimmer me acordou, dizendo que era meu turno, senti vontade de voltar a dormir e ver Annabeth novamente. Fiquei de vigília, mas nada aconteceu.

                        O sol nasceu e as três acordaram. Eu havia passado a noite pensando em algo e era o momento de contar:

- Eu vou até a cornucópia hoje.

                        Glimmer riu, mas Katniss ficou séria e Rue me olhou como se eu fosse doido, mas mesmo assim prossegui:

- Não temos água, não tenho uma maldita blusa e não acho que a perna de Glimmer esteja tendo algum progresso. Afinal, onde você achou aquela mochila, Kat?

- Em cima de uma possa de sangue. Acho que o tributo do 3 foi encontrado por alguém. – ela falou, dando de ombros.

- Eu vou hoje. Kat, você vai ficar aqui com as duas e as proteger. Se Cato, Clove ou qualquer outra pessoa estiver lá, prometo que volto. – falei.

                        Katniss me olhou desconfiada. A perna e Glimmer não tinha tido nenhum avanço, mas estava estável. O fato era: eu precisava de uma camisa e Glimmer precisava conseguir lutar. Logo a Capital ficaria entediada e precisaríamos lutar. E eu queria acabar logo com isso.

- Eu vou com ele.  – Rue falou. Katniss abriu a boca para protestar, mas a garota continuou falando, sem dar tempo para que Katniss se pronunciar. – Eu sou pequena, sou difícil de pegar. Posso ir por cima, enquanto Percy vai por baixo. Estou acostumada com as árvores. Fora isso, não sinto mais dor.

- Acho uma boa ideia. – Glimmer falou. – Percy precisa mesmo de uma camisa, apesar de ter uma bela camisa. – as feições de Katniss ficaram duras assim que ouviu o comentário de Glimmer e eu senti minhas bochechas ficarem quentes.

                        Katniss estava em desvantagem. Eram três contra um. Para falar a verdade, não achava que Rue deveria ir, mas eu não saberia me localizar na floresta. Ela era realmente ágil. Finalmente, Katniss concordou. Ela caminhou até a mochila e tirou duas das três garrafas de água, botando as do lado de Glimmer. Depois disso, tirou os fósforos, o álcool e a pomada e colocou junto das garrafas. A faca ela colocou na mão de Rue, que guardou sua faquinha no cinto:

- Use isso, certo? Se você encontrar alguém, eu quero que você corra para longe e deixe Percy cuidar das coisas.  – depois se virou para mim e me entregou a mochila com a garrafa: - Coloque tudo que achar útil aqui dentro, ok? – depois acrescentou, de forma que só nós pudéssemos ouvir: - Fuja se vir alguém. Eu te amo, ok?

- Não fale comigo como se fosse a última vez que vai me ver. – falei.

                        Ela sorriu e me abraçou. Não era um abraço amoroso, sim um abraço amigável e preocupado. Depois, ela abraçou Rue com força e a incentivou a ser forte. Dei um abraço rápido em Glimmer, e Rue e eu entramos na floresta. Rue não perdeu tempo e subiu nas árvores. Olhei para cima espantado, a vendo pular de uma árvore para outra. Havia merecido sua nota sete.

                        Passei a ter que correr para acompanhar seu ritmo. Minha espada estava na mão, pronta para qualquer coisa. Passamos pelo rio e continuamos avançando. Chegamos a pouco menos de cem metros da cornucópia e eu me escondi atrás de alguns arbustos. Olhei para Rue e fiz sinal para que ela continuasse lá.

                        A cornucópia não estava vazia. Clove estava deitada no chão, encolhida e com aparência péssima. Obviamente as minas estavam mais uma vez desligadas. Eu estava me preparando para ir embora quando percebi Cato. Ele estava atrás da pilha de mantimentos, pegando alguma coisa. Ele pegou um cobertor e andou até Clove. Com cuidado, levantou a cabeça dela e colocou em cima do travesseiro.

                        Cato parecia realmente preocupado com ela. Havia deixado o facão de lado e dedicava seu tempo a Clove. Eu nunca havia visto ela parecer tão vulnerável como naquele momento. Eu estava escondido, assim como Rue. Eu conseguiria vencer Cato em uma luta. Ele estava distraído e parecia cansado.

                        Segurei a espada com força e me preparei para atacar, mas ouvi um sussurro atrás de mim:

- Não acho uma boa ideia.

                        Olhei para trás, preparado para atacar. Era apenas Rue. Ela havia descido da árvore tão silenciosa que não ouvi. Se agachou ao meu lado e observou a cena.

- Acho que conseguiria pegar algumas coisas, posso? – ela perguntou.

- Se você me deixar atacar para distraí-los.

                        Rue pareceu vacilar por um momento, mas então fez que sim com a cabeça. Ela apontou para o outro lado da Cornucópia e então, por cima das arvores, começou a ir até lá. Senti que era minha deixa. Sai de trás do arbusto e andei, segurando minha espada, até perto o suficiente de Cato para falar, sem precisar gritar:

- Sentiu saudades?

                        O garoto foi mais rápido que eu imaginei possível. Ficou em pé e sacou um machado do cinto. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, tacou o machado com força contra mim. Por possuir o poder de Aquiles, o machado foi desviado, passando a milímetros da minha cabeça. Cato pareceu confuso por um instante, mas depois tirou sua espada do cinto e correu em minha direção.

                        Vi que Rue estava recolhendo tudo que conseguia e colocando na mochila, Clove observava atônita enquanto Cato corria até mim. Pulei antes que ele pudesse me atacar. Usei os ombros de Cato como apoio e “pousei” atrás dele. Ele se virou e tentou fincar sua espada em meu peito, mas desviei sua lâmina com a minha. Foi a minha vez de atacar. Tentei acertar sua barriga, mas ele rolou para o lado e enfiou uma adaga, que tirou de algum lugar, em minha coxa.

                        Senti a pele se rasgando, mas ignorei a dor. Rue já havia voltado para as arvores. Empurrei Cato com toda a força que tinha, mas ele não se moveu. ME deu um soco com força no rosto e eu dei dois passos para trás. Aproveitando minha distração, passou uma rasteira em mim e me fez cair no chão. Colocou o pé em cima de meu peito, impedindo que me levantasse.

                        De dentro do bolso de sua calça tirou uma amora. Espremeu a amora na ponta da lâmina de sua espada e sorriu ao ver o liquido se espalhando por toda a extensão da lâmina. Cato pressionou a ponta da espada conta meu pescoço e sussurrou:

- Um bom motivo para que eu não te mate. Um único motivo.

                        Todo o resto aconteceu rápido demais. Rue saiu do meio da floresta segurando a faca que Katniss havia lhe dado. Cato apenas percebeu sua presença quando a lâmina perfurou sua barriga e Clove e ele gritaram ao mesmo tempo. Rue não parou de pressionar a espada contra a barriga do garoto até eu ficar em pé.

                        Apesar de ter uma faca cravada em sua barriga, Cato era forte. Ele se virou e empurrou Rue, que voou para longe antes de cair no chão com um barulho forte. Ela gritou de dor. Peguei minha espada e investi contra Cato, mas ele desviava todos os meus golpes com uma força descomunal.

                        Finalmente, consegui desarmá-lo. Sua espada caiu no chão e rolou para longe, mas ele tirou um facão do cinto e tentou me atacar. Todos os seus golpes foram desviados pelo poder de Aquiles, mas um chegou realmente perto do ponto em que minha fraqueza estava. Todo o meu corpo se encolheu de dor e eu cai no chão, mas dessa vez Cato foi comigo.

                        Aparentemente, a faca havia tido efeito. O corpo de Cato desabou ao lado do meu e Clove gritou, chamando por ele. Eu não conseguia prestar atenção em nada ao meu redor. A dor era enorme e eu sentia como se todo o meu corpo estivesse sendo picado por abelhas de tamanho descomunal. Eu tentei levantar, mas não suportei meu próprio peso e desmaiei.

                        Quando acordei, não estava mais na cornucópia. Katniss estava inclinada sobre mim, me observando. Estávamos em algum lugar no meio da floresta, apenas eu e ela. Onde Rue e Glimmer estavam, não sabia. Kat sorriu ao me ver acordado e seus olhos se encheram de lágrimas. Ela me abraçou com força.

- Eu pensei que você tivesse me deixado. – ela sussurrou, ainda me abraçando. – Por favor, não faz isso nunca mais.

                        Tentei falar, mas minha boca parecia ter sido usada como ninho de escorpião. Me limitei a ficar abraçado com a garota. Quando ela se afastou, seu rosto estava vulnerável. Onde estávamos? Onde as garotas estavam? Por quanto tempo eu havia dormido? Kat pareceu ter entendido minhas duvidas, porque falou:

- Elas estão bem. – olhei ao redor. – Estamos na floresta, o mais longe da cornucópia que consegui te deixar. – cosegui sussurrar algo parecido com Cato. – Está bastante mal, mas na cornucópia. – bati o dedo levemente no pulso, como se estivesse perguntando as horas. – Está desacordado faz três dias. Temos colocado comida na sua boca e te forçado a engolir, o mesmo com a água. Seu corte nas costas já está bem. Para falar a verdade, não sei por que desmaiou. Era feio, mas não tanto.

                        Katniss me ajudou a sentar. Estávamos no meio das arvores e a luz passava por entre as folhas. Cato não era normal, definitivamente. Ela pegou uma garrafa de água dentro de uma mochila e me entregou. Disse que eu podia beber tudo e eu o fiz. Me senti melhor no mesmo momento, já conseguindo falar:

- Precisamos sair daqui.

                        Ela fez que sim com a cabeça. Seu cabelo estava preso em uma trança nova e ele parecia mais limpo que antes. Kat vestia uma blusa nova e uma jaqueta de couro, assim como eu. Me ajudou a ficar em pé e depois me entregou minha espada, que estava no chão. Olhei para a garota e falei:

- Você está linda.

- O que? – ela perguntou, quase rindo.

- Eu disse que você está uma merda. – falei, ficando corado na hora. – Vamos?

                        Katniss começou a rir e caminhamos juntos, enquanto ela nos guiava pelas árvores. Em dez minutos estávamos na clareira que antes estávamos alojados. Rue estava deitada com a cabeça apoiada na perna de Glimmer, que mexia nos cabelos cacheados da garota. A perna de Glimmer não estava mais enfaixada, mas uma cicatriz rosada cobria a pele.

                        As duas sorriram ao nos ver. Rue parecia pálida e seu braço esquerdo estava envolto por algumas gazes. Glimmer exclamou:

- Finalmente, Bela Adormecida.

                        Rue riu com a piada de Glimmer, mas Katniss se estressou:

- Bela Adormecida? Ele parecia um cadáver. Com o rosto pálido esquelético e eu não conseguia achar seus malditos batimentos cardíacos. A única coisa que indicava que ele estava vivo era sua respiração fraca.