Fernando estava definitivamente cansado, as oito horas que havia dormido não haviam sido o suficiente para fazê-lo se sentir animado para o resto do dia. Estava considerando não ir pra escola hoje, mas simplesmente não dava mais pra faltar nesse bimestre. Então quando chegou em casa do serviço, tomou um banho rápido e não perdeu muito tempo escolhendo roupa. Ele, Rick e Tônia foram juntos, com ela fazendo suposições do que poderia ocorrer na festa. 

   Ele esperava que Rick não fosse querer ir, mas pra sua surpresa ele quis, alegando que já fazia algum tempo que não ia à festa alguma. Ao chegar à escola, conversou com os mesmo amigos, e com suas idiotices, eles tinham a fina arte de fazer humor de Fernando melhorar. 

  Ele encontrou com Rafael pelos corredores, e foi algo normal. Rafael o comprimento naturalmente e Fernando fez o mesmo. Depois ele lhe disse que o esperava em sua festa, e então ambos seguiram seu caminho.

  Com Taio foi um pouco diferente. Ela parecia menos espontânea, com um sorriso sem graça. Não trocaram muitas palavras e ao longo da semana ela só o cumprimentava de longe. Acenos, e alguns meio sorrisos. Não se falavam muito e Fernando não sabia o que pensar disso. 

  A semana foi sufocante no ponto de vista de Fernando. Provas, exigências no emprego, e seus esforços sobre o corpo e mente estavam o deixando estressado e cansado. Sendo assim, quando chegou ao sábado, Tônia teve trabalho para convencê-lo a ir.  

   - Pode deixar que eu escolho uma roupa pra você. – disse ela dando uma olhada no guarda-roupa. – Você comprou algum presente?

   - Presente? – perguntou Fernando deitado na sua cama. – Tem que comprar isso?

   - Claro que tem. – respondeu ela. 

   - Não comprei nada. – respondeu ele numa voz arrastada, era muito cedo e ele estava muito cansado. – Não quero parecer de mãos vazias, então... – soltou um bocejo, virando-se pro lado e puxando o cobertor – Eu não vou.

  - Vamos, levanta daí, ainda da tempo de você comprar alguma coisa pra ele.

   - Aff, Rick, como você aguenta? – perguntou ao amigo que estava sentado na cadeira giratória.

   - Eu sou bem recompensado quando estamos na intimidade. – respondeu simplesmente.

  - Pronto,escolhi uma roupa pra você ir no shopping.

  - O que eu vou fazer no shopping? 

  - Ué, comprar um presente. – respondeu ela pegando uma camisa branca e uma bermuda. – Agora vai lá tomar um banho, vai. – e puxou ele da cama que apesar de ter resmungado e a xingado muito, foi pro banheiro.


  Quando andavam pelas lojas do shopping, ele só queria ir embora. Mas Tônia estava animada, sugerindo-lhe várias coisas pra dar de presente a Rafael. Ele até havia procurado alguma ajuda em Rick, mas esse parecia se divertir com seu sofrimento, então só coube a ele aceitar e tentar achar algo bom o mais rápido possível.

   Estava traçando uma plano mentalmente. È óbvio que comprando um presente, eles teriam que ir a festa. Tentaria ficar lá o menos possível, arranjar alguma desculpa e cair fora.

   - Desse jeito fica difícil! – reclamou Tônia quando Fernando respondeu um " Pode ser" a mais uma de suas sugestões para presente. – O que você sabe dele? Do que ele gosta?

   - Ele disse que gosta da banda The Hot Chili Pepers. – respondeu com tédio .

- Que tal um CD deles? – sugeriu Rick – Se bem que hoje em dia, é mais fácil abaixar na internet e fazer um personalizado.

    - Você pode dar uma camisa deles. – sugeriu Tônia – Acho que por aqui tem uma loja de CD’s. 

    E eles andaram mais um pouco até acharem a loja. Fernando não pensou duas vezes, comprou o CD e a camiseta, mandou embrulhar e assim, sentiu-se livre pra ir embora. Mas foi sozinho, já que Rick e Tônia decidiram aproveitar que ainda era cedo pra dar mais uma volta pelo shopping. Como ele não via a hora de voltar pra casa e cair na cama, não reclamou por voltar sozinho, somente tomou caminho para o ponto de ônibus mais próximo após se despedir.

    De volta ao condomínio, ele contava os segundos para cair na cama e dormir. Pareci que nem se dormisse por toda a eternidade o faria sentir-se descansado. Pensou que poderia estar ficando doente, embora não soubesse que tipo de doença poderia ser. Ao entrar no apartamento, se jogou no sofá mesmo, não tinha vontade de andar até a cama. E ali, deitado de qualquer jeito, com as sacolas das compras jogadas no chão, ele dormiu.


     - Não acredito que você dormiu mesmo! – disse uma voz risonha e ele limitou-se a manter os olhos fechados. Talvez, se fingisse que ainda estivesse dormindo, Tônia esquecia tudo aquilo sobre festa. – Vamos, Fernando, tá quase na hora.

     Doce ilusão.

    - Me deixa, - murmurou ele. Mas ela se agachou pra perto do rosto dele, e começou a dar tapinhas em suas costas pra que acordasse – Para Tônia.- pediu com voz arrastada.

   - Vamos, eu quero que você vá na minha festa.

   - Que sua festa? – perguntou se encolhendo um pouco no sofá – A festa é do Rafael.

   - Então, minha festa.

  Fernando abriu os olhos, e virou-se dando de cara com Rafael. 

    - O-o que você está fazendo aqui?

    - Tônia me disse que você não estava muito a fim de ir, então vim te convencer. – ele disse com um meio sorriso – E também pra te dizer outra coisa.

     Fernando ia perguntar o que, mas Rafael se aproximou, fazendo um calafrio correr por todo o seu corpo quando percebeu o que ia acontecer. Ele ia beijá-lo, e não estava fazendo nada para impedir, estava paralisado pelo ato. 

    Ele estava tão próximo que qualquer gesto brusco faria seus lábios se tocarem de vez, mas ele não queria isso, e se viu forçado a acordar.

   Sim, ele estava sonhando. Agora, sentado no sofá, se perguntava que raio de sonho fora aquele. Levantou-se se sentindo suado, foi para o banheiro e tomou um longo banho para relaxar.

   Deve ser o cansaço. Pensou. Isso mesmo, o cansaço e todas as coisas que aconteceram nos últimos dias, não é nada demais. 

   Saiu do banheiro com uma toalha enrolada na cintura e foi para o quarto, onde sobre a sua cama, estava a roupa que lhe fora escolhida para ir a festa. Ao lado tinha um bilhete de Tônia.

   "As nove Rick e eu vamos passar ai pra irmos juntos, então esteja pronto.
                                                                          Beijus, Tônia.

                                                OBS: Passe um pouco de perfume. Capriche hein!"


   Fernando ficou olhando por alguns segundos para o bilhete, pensando se deveria ou não se arrumar. Por fim acabou dando de ombros amassou o papel e o jogou na sesta de lixo perto de sua escrivaninha. O que iria perder com isso?

       Vestiu a calça jeans de cor escura e camisa de cor azul marinho com os dizeres " Don’t Stop Music!" em letras brancas. Calçou as meias e o sapatênis preto. Na frente do espelho passou as mãos pelos cabelos, tentando deixar os fios mais arrepiados, se é que era possível. Numa gaveta do guarda-roupa pegou sua colônia Kaiak, e deu uma borrifadas no pescoço. Da mesma gaveta pegou seu relógio, colocando-o no pulso direito.

    - Melhor, impossível. – disse pro seu reflexo no espelho. Andou de volta pra sala e esperou após verificar que faltavam quinze minutos para as nove.

  - Chegamos! – disse Tônia adentrando o apartamento com Rick logo atrás – Está pronto pra festa? 

    - Estou. – respondeu Fernando monótono.

    - Hm. – murmurou ela analítica – Sim, é, eu tenho bom gosto, você está lindo.

   - Valeu. – disse ele com ironia.

    - Eu to bem? – perguntou dando uma voltinha. Ela usava um vestido tomara que caia preto, de salto alto. O cabelo estava solto em ondas sobre o ombro e havia feito maquiagem pra noite.

    - Tá, tá bem.

   - E eu? – perguntou Rick pondo as mãos na cintura – Eu to um bofe escândalo? – e piscou pra ele. Rick usava blusa preta com uma jaqueta por cima, calça jeans e bota coturno preto.

   - Aff, nem vou responder. 

   - Liga não mona, você tá linda. – disse Tônia dando um selinho em Rick.

   - Cadê o presente?

    - Tá ali. – Fernando apontou para a mesinha de centro, onde o embrulho se encontrava.

    - Então, bora, véi! – disse Rick animado, batendo palma pra que Fernando levantasse mais rápido do sofá. 

     - Calma, que pressa! – resmungou o outro pegando o presente e indo em direção da porta. 

     No caminho para o prédio de Taio e Rafael, Fernando teve que ficar ouvindo Tônia falar de como eram as coisas nos mangás yaoi, e que se ele quisesse, ela passava alguns da sua enorme lista. Ele tentou ignorar, mas era quase impossível. E Rick não ajudava muito dizendo coisas como:

      - Não há problema algum em você se tornar gay. Isso só significa que vai sobrar mais mulher pra mim. 

   - Muito engraçadinho você. – retrucou Fernando não achando nem um pouco de graça.

    - È, mamãe também dizia isso.

   Os três chegaram ao prédio e antes que Fernando apertasse a companhia, Tônia o impediu.

    - O que foi agora?

    - Fica no meio. – disse ela – Assim, quando ele abrir a porta, vai ter aquele "Tcham!".

  Fernando revirou os olhos e apertou a campainha sem fazer o que ela disse. Por conta da musica que vinha de dentro, teve que apertar mais algumas vezes antes de ser atendido. E quem abriu a porta nem foi Rafael. E nem a Taio.

    - Oi, vieram pra festa? Entrem. – disse o cara dando passagem. Os três entraram depois de cumprimenta-lo. – Sou o Vitor. – e virou-se pra trás gritando – RAFAEL CHEGOU MAIS GENTE!!

    As coisas estavam bem agitadas, havia vários adolescentes bebendo e dançando. Alguns Fernando reconheceu e outros não. Rafael surgiu vindo da cozinha com um copo na mão. Estava com uma camisa cinza com estampa de manchas em tons de branco, e uma calça jeans com rasgos no joelho e chinelos. Estava bem simples na verdade. Abaixou um pouco o som do rádio antes de ir até eles.

   - Oi, - disse com um sorriso cumprimentando primeiro Tônia com um beijo no rosto, depois Rick, com um trocar de apertos de mão e por último Fernando – Que bom que você veio. 

  - Seu presente. – disse Fernando estendendo o embrulho.

  -  Ah, não precisava ter comprado. – ele riu pedindo a ele que segurasse o copo. Depois de rasgar o embrulho sorriu vendo o CD e a camisa – Obrigado. – disse pegando o copo de volta – Fique a vontade – disse aos três – A casa é de vocês. – e retirou-se pro quarto com os presentes em mãos.

    - Então. - disse Rick animado – Bora beber! – e saiu atrás de algo.

    - Vai lá falar com ele. – disse Tônia ao pé do ouvido de Fernando

    - Falar o que? 

    - Dar feliz aniversário direito. – disse ela com um sorriso malicioso antes de ir atrás de Rick.

     No primeiro instante Fernando suspirou. Estavam o tratando como se ele tivesse dito que gostasse de Rafael, o que não era verdade. Bem, ele gostava dele, como amigo. Nada mais. Sentindo-se meio sozinho limitou-se a ficar parado, olhando as outras pessoas, que conversavam e dançavam umas com as outras. Elas riam alto e enchiam os copos de bebida. 

     Decidiu sair da sala quando o som voltou a ficar alto. Foi para a cozinha e lá encontrou Taio que parecia soquear alguns morangos em uma coqueteleira.

     - Oi Taio. – ele disse.

     - Oi. - ela respondeu simplesmente.

      Fernando ficou olhando-a preparar a bebida, até que ela parou o que estava fazendo e se aproximou dele.

      - Olha, eu queria te pedir desculpas...

      - De novo? – ele perguntou sorrindo. Saiu meio sem querer, mas dessa vez ouvi-la pedir desculpas novamente lhe soou engraçado. – Acho que você já pediu desculpas demais pra mim, não é?

       - È, acho que sim. – concordou levando uma mecha dos cabelos pra trás da orelha, um pouco corada. 

       - Hoje é dia de festa, vamos deixar esses assuntos chatos pra depois. – disse se surpreendendo com suas próprias palavras. – Quer dizer, eu não te culpo por nada, e apesar de não ser comigo, eu quero que você seja feliz.

       E dito isso ele recebeu um abraço forte por parte dela. No primeiro momento ele ficou surpreso, mas retribuiu o abraço.

        - Você tem razão! – ela disse com um sorriso ao se separar dela, foi o sorriso mais espontâneo que Fernando tinha visto nesta semana. – Poderia me ajudar aqui?

        - Claro. – ele disse. – No que quer que eu te ajude?

    Taio estava fazendo algumas caipirinhas de morango, então precisou da ajuda dele para cortar os morangos Depois ele só ficou olhando-a terminar as bebidas em silêncio. Não era exatamente um silêncio incomodo, mas Fernando sentiu vontade de dizer algo.

      - Pelo que você disse, - ele tentou soar casual – eu pensei que seu irmão e Vitor não se falavam mais.

     - Ah, - fez ela com um sorriso meio envergonhado. – È o que eu também achava. Parece que eles continuavam conversando por celular e MSN, mas ele não tinha muito tempo pra sair, com faculdade e emprego.

     - Hm. – disse ele desencostando-se do balcão – Quer ajuda pra levar a bandeja?

     - Não, pode deixar. Eu consigo.

      E ele lhe deu passagem, seguindo-a pra sala. Seus amigos, que hipoteticamente eram pra estar ali para fazê-lo se sentir mais a vontade, conversavam animados com os demais convidados. Rick ria alto com um copo na mão, enquanto Tônia conversava animada com duas meninas.

          Sentou-se no sofá e ficou olhando. Volta e meia ficava batucando os pés e as mãos na perna no ritmo de algumas musicam eletrônicas. Acabou se deixando contagiar e quando percebeu já estava mais tranquilo e relaxado. Quando sentiu cede ele aceitou uma das caipirinhas de Taio. Não se arriscou a dançar, mas estava se divertindo do mesmo jeito.

          - Não vai dançar, não? – perguntou Rafael pra ele quando uma musica começou. Ele balançou a cabeça negativamente. – Vamos, eu te ensino como que se dança essa música.

          E sem ter a chance de responder, Fernando foi forçado a se levantar e começou a seguir os passos de Rafael.

          - Oppan gangnam style ! - cantava Rafael dançando. Os passos não eram tão difíceis, mas Fernando simplesmente não tinha muito molejo na cintura. – Ehh Sex Lady!

          E Fernando não aguentou e disparou numa gargalhada ao ver Rafael e Rick mexendo a cintura daquele jeito. E depois fazendo a pose com a mão no queixo. E apesar de ter rido muito deles, acabou se desinibindo e tentando dançar. Passara-se um bom tempo, até ele terem que abaixar o som por causa do horário e das regras do condomínio, mas a festa não parou ai. Eles desligaram o som, mas continuaram conversando e bebendo. 

          - Que tal a gente jogar o joguin da verdade? – sugeriu Rick, nesse ponto ele já estava bêbado. Disse isso com um sorriso malicioso e levantar de sobrancelha. Maiorias dos que ainda se encontravam na festa, estavam bêbados e alguns até já haviam apagado.

          - Vamos. – disse alguém e segundos depois uma garrafa apareceu no meio da roda. 

        - Quem vai girar? – perguntou Tônia, que era uma das poucas ali em melhor estado de raciocínio. Como ninguém se pronunciou, ela mesma girou. Parou em Rick pergunta para Rafael.

        - Oh! – fez Rick quando viu que ele que teria de perguntar. Porém isso demorou um pouco, já que não estava na melhor das situações para formular uma pergunta. – Er... Rafa... O que... Hã... Quê?... – e começou a rir do nada – Tá, tá... O que você achou da declaração do Fernando?

        - Declaração? – Rafael repetiu parecendo pensativo. Depois que ficou bêbado ele parecia uma pessoa séria. – Eu... Achei fofo. 

       - Fofo? – perguntou Tônia – Só isso?

       - È – respondeu ele com uma sobrancelha arqueada. Não entendendo a cara de decepção que ela fez depois.

       - Esperava mais de você, Rafa. – ela disse balançando a cabeça desolada. – Em falar nisso... Cadê ele? – perguntou olhando ao redor da sala e encontrou Fernando dormindo no sofá. – Acho que é melhor a gente ir... Rick?

      - EU!!! – gritou ele levantando os dois braços.

      - Levanta, a gente vai embora. – e olhou pro Rafael – Nos já vamos indo.

     Rafael balançou a cabeça positivamente, e ele até se levantaria para leva-los ate a porta se não tivesse certeza de que cairia no chão.

     - Tchau Rafa, obrigado por nos convidar. Divertimos-nos muito. – agradeceu Tônia servindo de apoio para Rick – Tudo bem se Fernando ficar aqui? 

     - Aham. – disse ele – Tchau. – acenou pros dois que saíram porta a fora.

     - Acho que alguém vai querer me matar amanhã. – riu ela pra si mesmo do lado de fora do apartamento – Ninguém mandou dormir no sofá.

     

             Lá dentro, algumas pessoas também começaram a ir embora. Já eram duas da manhã e no apartamento não cabia tanta gente assim. Ele ficou ainda mais alguns segundos sentado no chão, despedindo-se com acenos. Quando a sala estava quase vazia, pois os que tinham apagado não tinham como ir embora naquele momento. Rafael tomou coragem para levantar e andou ate o banheiro. Ele abriu o registro e sentou-se no chão deixando a água ensopar suas roupas.

         Quando saiu do banheiro, depois de ter tirado suas roupas com um pouco de dificuldades, ele foi ao seu quarto só de toalha, e lá colocou uma roupa decente para dormir. Ainda sentia o álcool no corpo quando foi beber água na cozinha. Não pode deixar de olhar para Fernando quando voltou de lá. Pegou um coberto no seu quarto e o cobriu. O observou por alguns segundos antes de ir para a cama.


     

         Dor de cabeça devia ser o apelido para o que Fernando sentiu ao acordar horas depois. Sua cara estava um pouco amassada por ter dormido no sofá. Zonzo e sentindo a cabeça a latejar ele se lembrou porque normalmente não bebia. Olhou ao redor, não reconhecendo seu apartamento. Quando percebeu que aquele não era seu apartamento e sim de Rafael, acabou dando um tapa na própria testa, arrependendo-se depois quando aquilo desencadeou uma dor. Sentou-se, procurando por seus amigos, acreditava que eles estariam ali, que não tivessem ido embora sem ele.

       - Belos amigos, você são. – resmungou pra si mesmo quando viu que eles não estavam na sala. Na verdade, na sala só estava ele.


       - Bom dia. – ele se virou pro dono da voz. Rafael apareceu com uma xícara de café e estendeu pra ele – Quer café?

       - Bom dia. Quero sim. – respondeu pegando a xícara. – Que horas são?

       - Uma da tarde. – respondeu.

       - Jura? – perguntou surpreso. Rafael balançou a cabeça que sim.

       - Quer tomar café da manhã, eu comprei pão. – ofereceu, fazendo Fernando sentir fome.

        - Eu quero. – disse se levantando.

          Na cozinha, os dois cortaram pães para si mesmo e passaram manteiga. De volta a sala. Rafael ligou a TV, mas deixou o volume baixo, nenhum dos dois aguentava som alto e agudo.

     - E a Taio? Tá dormindo ainda? – perguntou.

     - Não. – respondeu ele dando um gole no café - Ela saiu com Vitor.

   - Aé? – disse surpeso.

    - É , parece que ontem eles ficaram conversando. – contou dando uma mordida no seu pão – Ai eles ficaram, e agora estão namorando.

      - Tá brincando? – perguntou Fernando com um sorriso trêmulo.

      - Não, é verdade. – respondeu sério.

     Fernando não disse mais nada pensativo.Por fim respirou fundo e soltou o ar de vagar. Bom, ele já tinha meio que se conformado, mas ainda era surpresa pra ele como isso aconteceu tão rápido.

      - E agora, o que você vai fazer? – ele sentiu a necessidade de perguntar.

     - Sobre o quê? – perguntou Rafael.

    - Ué, - fez Fernando – Você não gosta dele?

    - Minha irmã esta namorando com ele, não vou fazer nada que não seja aceitá-lo como meu cunhado. – respondeu indiferente. 

     - Ah. – murmurou Fernando. Ele terminou seu café, e levou a xícara pra pia. Quando voltou reparou que Rafael estava de cabeça baixa. 

       Ele ficou parado não sabendo o que fazer. Se o deixava sozinho ou se ia lá e dizia alguma coisa. Na duvida continuou parado. Foi quando ele passou a mão nos olhos que ele decidiu ir até lá. Sentou-se ao seu lado sem dizer nada, e Rafael pareceu não se importar que estivesse ali.

        - Ahn... Você está bem? – perguntou pra logo em seguida se recriminar, é claro que não estava.

       - Vou ficar. – ele respondeu com a voz baixa.

    Ficaram mais alguns minutos em silencio. 

     - Eu sei como se sente. – começou Fernando mais não sabia como continuar. Nem o que dizer exatamente para fazê-lo se sentir melhor. Ele queria fazer alguma coisa, mas não sabia o quê. – Er... Anh... – e segurou uma das mãos dele. Por um segundo pensou que segurar a mão era algo muito estranho para um homem fazer, mas tratou logo de afastar esse pensamento. – Bom pelo menos alguém vai sair feliz dessa história. 

    - É. - Concordou Rafael , sua voz parecia um pouco roca agora. 

    - Acho que já vou indo. – disse Fernando soltando a mão dele Quando ia levantar Rafael o abraçou. Fernando relutou internamente em retribuir o abraço, mas acabou cedendo. 

    E ficaram assim por alguns segundos até se separarem e ele dizer: - Eu precisava de um abraço amigo.