- Tá, então vamos lá. – disse Rafael levantando-se do banco, Fernando olhou pra ele com ar interrogativo.

    - Ué, você vai também? – ele perguntou.

    - Ué, ela está em casa, e eu moro lá, lembra? 

    - Aé. – concordou e os dois começaram a andar.

   Enquanto eles andavam rumo ao condomínio, Rafael ligou para Taio, pedindo para que não saísse antes dele chegar. 

  - Não quer passar em nenhuma floricultora? – perguntou Rafael depois de desligar o celular.

  Era pra ter sido um comentário engraçado, mas Fernando realmente considerou essa possibilidade. Dando um tapinha no ombro dele, Rafael pediu pra que andasse mais rápido. Minutos depois de caminhada silenciosa, eles chegaram ao condomínio, e uma vez a frente da porta do apartamento, Rafael pretendia entrar o quanto antes. Porém Fernando não o deixou abri-la.

    - O que foi?

    - Eu to bem? – perguntou. Rafael olhou-o de cima a baixo e de baixo a cima.

    - Tá, tá bom. – e abriu a porta – Taio, cheguei!  - varreu o olhar pela sala mas ela ela surgiu da cozinha, de avental.

    - Adivinha! – disse  - Acabei de fazer um bolo!

    - Oi Taio. – disse Fernando tentando soar casual.

    - Oi Fernando. – ela disse com um sorriso meio apagado – Vai ficar pra jantar?

    - Ele vai. – respondeu Rafael por ele – Taio, faz sala pra ele, que eu vou tomar um banho rapidão e a gente janta. – e caminhou-se para o banheiro deixando-o a sós.

    Taio forçou um sorriso enquanto pediu a Fernando que se sentasse no sofá. Tirou o  avental e o embolou na mão quando se sentou também.

   - Então...- Fernando começou – Taio preciso te dizer uma coisa muito importante.

   - Ahn... Pode falar. – disse ela hesitante.

    Ele respirou fundo e disse: - Naquele dia, que eu me declarei pro seu irmão, não, quer dizer, eu não me declarei, apesar de vocês terem achado isso... – e começou a coçar a nuca – Era pra ser pra você! – disse vendo-a arregalar os olhos – foi um engano, eu me preciptei e fui falando “ Eu te amo” sem ver quem tinha aberto a porta. Eu tinha certeza que era você que iria abri-la, mas ai, quando eu vi era seu irmão que estava lá. Então você apareceu e ele disse aquelas coisas e quando vi estava naquela confusão toda.

   E agora ele havia se levantado e ido até a frente dela, sentando-se ao seu lado e tomado de suas mãos o avental, pondo-o em cima da mesa e segurando suas mãos.

    - Mas agora eu quero esclarecer isso pra que não ter mais confusão nenhuma. – e suspirou fundo sentindo o rosto vermelho – Eu te amo Taio. 

      Taio ficou vermelhinha,  boa parte por vergonha, lembrando-se de tudo que fez e disse a ele. Recolheu suas próprias mãos, juntando-as na altura do peito. 

    - Eu não sei o que te dizer. – murmurou de cabeça baixa. – Depois de tudo o que eu fiz e do que te disse ouvir isso, eu... Me desculpa. – então ela se levantou, pegou o avental e iria voltar pra cozinha.

     - Espera, Taio! – ele disse no calor do momento. Não queria deixar as coisas em um clima ruim, mas assim como ela, não sabia o que fazer agora. Ela parou e esperou que ele continuasse. – Eu... Posso te pedir uma coisa?

     - O que é? – ela perguntou com certo nervosismo, queria estar em qualquer lugar, menos ali.

     - Me dá um abraço? – e foi o melhor que conseguiu pensar naquela
situação.

       Taio hesitou, mas Fernando tomou a iniciativa de abraçá-la. Como ela não se afastou ele colocou seu braços ao seu redor. Não parecia  um abraço.  Era como se não se vissem a muito tempo quando existia uma velha amizade entre eles, mas depois de todo um tempo sem se ver, não sabiam se a mesma camaradagem existia. Mas novamente tomando uma iniciativa, ele a abraçou com mais vontade, e Taio fez o mesmo o abraçando e volta. Ela ainda murmurou alguns “ me desculpa” antes deles se separarem e dessa vez ela foi pra cozinha.

   Sozinho na sala, Fernando sentou-se novamente no sofá. Ele se sentia mais leve, mas não o suficiente para ficar e jantar com eles. Estava considerando inventar uma desculpa pra ir embora quando Rafael apareceu só de  calça moletom na sala.

    - Me dá um abraço?  - ele disse com um meio sorriso, e Fernando se
espantou com aquilo – Sério? Foi isso mesmo que você pediu? 

      - Ah. – fez Fernando  envergonhado pelos pensamentos errados – Eu estava nervoso. O que você queria que eu pedisse? Um beijo?

     - Era o de se esperar. – ele disse sentando-se no sofá depois de pegar o controle que estava na mesinha de centro.

     - E você ia querer que eu beijasse sua irmã na sua casa?
  
     -  Então você queria beijar ele em outro lugar? Olha só, com essa carinha de santinho é um tremendo taradão.  – provocou ligando a TV.

     - Não é nada disso. – exclamou – No outro dia você parecia um irmão protetor e agora está me incentivando a ficar com ela? 

    - Ah, é que se você ficar com ela eu não vou ter concorrência. – disse mudando os canais – È brincadeira!  - disse ao ver a cara de espanto de Fernando – Eu não faria uma coisa assim por esses motivos. 

    - Certo. – concordou Fernando – Bom, eu já vou indo.

    - Não vai ficar pra jantar? – perguntou Rafael

     - Não, vou embora. – ele disse já indo em direção a porta.

    - Tem certeza?

    - Tenho. – disse já pondo a mão na maçaneta.

    - Pera aí então, que eu te acompanho ate a entrada do prédio.

      Fernando ia dizer que não precisava, mas Rafael já havia se levantado e ido até o quarto, da onde voltou  vestindo uma camiseta minutos depois. 

    - Taio, to saindo com o Fernando. – avisou antes de sair – Daqui a pouco eu volto pro jantar.

    Ele não esperou por uma resposta. Os dois saíram e como Rafael não estava afim de uma caminhada silenciosa, tratou de perguntar:  - E agora, o que você vai fazer?

     Fernando pensou um pouco, ele não sabia o que fazer quanto a isso.
Pensando sobre essa questão ele levantou o olhar para o céu escuro, esperando que as estrelas lhe dessem alguma dica do que fazer.

    - Se não tiver o que fazer no sábado – falou Rafael cruzando os braços, parando na frente da entrada do prédio de Fernando – Aparece lá em casa. Vai ter uma festa só para os amigos para comemorar meu aniversário. 

   - Tá bem. – disse Fernando, estava considerando não ir, não sabia se sentiria muito bem indo lá.

   - Se quiser, pode levar o seu amigo que mora com você e a namorada dele.

   - Não era uma festa para os amigos? – perguntou cruzando os braços, estava um pouco frio.

    - Bom – disse rolando os olhos – Eles são seus amigos, não vai deixar de ser uma festa par aos amigos, certo?

    - Certo. – concordou rindo -  Vou falar com eles.

      - Beleza, então. – disse Rafael em tom de despedida, porém ele não se mexeu, esperando que Fernando entrasse.  E Fernando não entrou, esperando Rafael  começar o caminho de volta. Ou seja, os dois ficaram parados olhando um pra cara do outro.

    -Er... – começou Fernando – Você não
vai ir embora?

    - Estava esperando você entrar.  – respondeu.

    - Ah, - e deu um passo na direção de Rafael – Então, falou. – e estendeu a mão.

   Depois de um rápido toque de mãos, Fernando deu as costas a Rafael enfim entrando no prédio. Rafael ficou olhando-o por alguns segundos, antes de rodar nos calcanhares e começar o caminho pra sua casa.

     - Então. – disse Tônia com um sorriso malicioso – Acabou a historia shoujo dando lugar a um inicio de yaoi ?

     - Para de falar besteira, e afinal, o que você está fazendo aqui sozinha?

     -  Não sei porque você ainda se surpreende com a minha presença aqui. – disse ela deitada no sofá – Já sou da casa.

    Fernando riu irônico com a resposta dela, mas simplesmente não dava pra discordar. Nem sabia por que tinha contado a ela tudo aquilo, quer dizer sabia sim, ela o havia tentado com um belo pranto de macarrão.  Bem, ele ama macarrão e parece que alguém acabou abrindo a boca pra que ela soubesse disso. 

    - Cadê o Rick? – perguntou levando o prato que estava em cima da mesinha de centro para a pia. Depois que passou a morar sozinho, desenvolveu um hábito de organização. 
  
    - Foi comprar pizza. 

    - Qual é o sentido de você cozinhar e ele ir comprar pizza? – perguntou com uma sobrancelha arqueada.

    - Ah. Nós comemos o macarrão e depois quisemos pizza, só isso.  – respondeu – Mas e então, já tá rolando um clima entre vocês dois?  

    - Vocês dois quem? – perguntou sentando-se novamente no sofá.

    - Não se faça de besta - e o sorriso malicioso voltou – Entre você e o Rafa.

     - Não, não está rolando clima nenhum. – respondeu.

     - Que pena. – Fez um muxoxo – Pensei que presenciaria um amor yaoi ao vivo. 

     - Há, - riu ele – Nunca se sabe, vai que o Rick vira gay. – seu olhar era provocativo, mais Tônia pareceu não se importar.

    - Acho que você tem cara de uke.  – comentou com a mão no queixo.

    - Eu nem sei o que isso significa, mas pela sua cara...  Não vou querer saber.

    - Uke é passivo. – informou-lhe contra a vontade. – definitivamente, temos que ir nessa festa.

    - È, mais talvez eu não vá. – disse vendo o sorriso dela desmanchar.

    - Quê? Porque não?

    -  Não to com muita vontade. – respondeu.

    - A festa é só no sábado e você já esta dizendo que não esta com vontade?

    - Não vou me sentir a vontade lá.

    - E você acha que ele deixou você chamar a gente pra quê? – ela perguntou sentando-se no sofá.

  Fernando pensou um pouquinho e pra ele aquilo fez sentido.

    - Tá, mas eu não vou de qualquer jeito. – respondeu irredutível.

    - Vai sim, - disse Tônia – não vou deixar você furar.

    - Aff. – e  levantou-se da sofá, pronto pra ir pro quarto. Amanha acordaria cedo pra ir trabalhar.

     - Eu to falando sério! – disse Tônia antes dele fechar a porta.