Jogos- A Minha Batalha Começa escrita por Fran Marques


Capítulo 23
Verdade




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Eu estava enrolada na neve como a segundos atrás, agora sozinha, escutando o silêncio. Nada se movia ao meu redor, apenas a floresta que respirava vagarosamente enquanto seus insetos zuniam e pássaros voavam de árvore em árvore. Deveria ser umas seis horas da tarde, mas eu não pensava nisso.

“Ele te machucou depois de tudo que você fez, você salvou ele milhares de vezes, você poderia ter morrido. Você o ama.” A voz repetida em minha cabeça implicava inconscientemente com meu coração. Eu queria rasgar a pele de Adam por raiva, matá-lo ou o torturar.

Soluços que não conseguiam ser contidos escapavam de minha boca. Minhas mãos raspavam no chão, o alisando. Meu sangue estava espalhado em minha volta, mas minha tontura já tinha passado e um pano (antes parte de minha blusa) estava enrolado para estancar o sangue. Eu chorava por todo o arrependimento, culpa e raiva, na realidade eu era uma garota apenas feita disso. Eu não era feia, e não sabia como uma pessoa com o rosto tão invisível como o meu poderia guardar tanto rancor, tristeza e amar tanto algo que nunca lhe daria a vida. Tudo que eu tocava, fazia ou amava dava errado.

Eu sabia que meu sangue iria chamar algum lobo naquele lugar frio e depois de um tempo pensando na vida que eu nunca tinha vivido resolvi levantar e achar um lugar para descansar.

Caminhei por até chegar a um campo aberto coberto de neve. No meio dele estava uma pequena casa, muito simples, mas que poderia me aquecer durante aquela noite até eu achar Kahinan. Corri até lá e passei a mão pelo pescoço. Doía os lugares aonde Adam tinha pressionado. Cheguei na casa, era muito simples. Quatro paredes sustentavam a casa com um teto sem nenhum buraco. No canto da sala que formava toda a casa se encontrava uma lareira larga o suficiente para passar uma pessoa. Uma janela enferrujada de vidros quebrados deixava penetrar uma fina brisa fria naquele casebre. Me virei para observar uma das quatro paredes da casa e encarei uma pessoa, mais parecida com um animal, de cabelos bagunçados com pequenas flores amarelas enfeitando sua trança, olhos castanhos grandes e sérios, um pescoço marcado por dedos e uma vestimenta sangrando. “Damen deve estar enlouquecendo por causa de minha aparência.” Eu sorri para aquela imagem “Enlouquecendo por apenas a aparência?” pensei novamente. Passei a mão pelas marcas que Adam tinha deixado em meu pescoço com a tentativa de me sufocar. Outras marcas. Escorri meus dedos magrelos pelo espelho vendo meu novo rosto. Prometi a mim mesma que se eu saísse dali viva nunca deixaria meus irmãos fossem parar aqui. Isso é uma promessa.

Eu sempre faço tudo errado. Caminhei até a janela e observei pelos vidros quebrados o campo de gelo. Observei aquilo até que a porta bateu.


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Um vento forte soprou bem quando os três lobos entraram. Primeiramente apenas escutei os passos leves de suas patas até que me virei e vi os grandes dentes. Eles eram todos brancos com imensos olhos azuis. Lobos sobrenaturalmente grandes, apenas poderiam ser bestantes, do tamanho de um urso médio.

Minha primeira idéia foi empurrar a janela, eu a pressionei com o braço mas ela apenas rangeu enquanto eu quebrava seus vidros com minha soqueira, mas aquilo iria demorar um século. Corri para um canto próximo a lareira enquanto os lobos chegavam mais perto de seu objetivo. Meu cérebro trabalhava para fazer algum ato, mas nada me vinha a cabeça, até que pensei na lareira.

Joguei meu corpo para dentro daquele buraco sujo e escuro feito de tijolos enquanto via a luz da liberdade. Minhas costas raspavam na parede fria e minhas mãos se esforçavam para chegar na saída. Escutei os lobos arranhando a lareira com suas garras e latindo para mim, mas aquilo seria inútil. Dentes afiados puxaram o meu pé e escorreguei pelo túnel íngreme, corri os dedos para a zarabatana e atirei.


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