Jogos- A Minha Batalha Começa escrita por Fran Marques


Capítulo 22
Morte acompanha, como sempre.


Notas iniciais do capítulo

Provavelmente vocês vão acabar esse capítulo se fazendo uma porção de perguntas, mas não se preocupem porque elas vão ser respondidas ao longo da história.



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Quis matar Kahinan quando ele me acordou. Sabe, não é muito agradável quando um garoto te sacode e você está em cima de uma árvore amarrada por uma corda fina. Após recolher toda a minha tralha, que modestamente era composta de minhas armas ainda presas na bainha e Kahinan, nós dois saímos para caçar. Passamos por várias árvores várias vezes.

-Estamos andando em círculos!!

-É verdade. – concordou Kahinan – Vamos voltar.

Ele e eu começamos a refazer o caminho indefinido pelas árvores e arbustos esqueléticos.

 Após um bom tempo tentando voltar os arbustos se mexeram, mas não era nenhum animal.

Um garoto loiro, alto e musculoso apareceu de trás dos pinheiros. O garoto do 1.

–Ora, ora. Quem diria?? A garotinha das florzinhas e o garoto dos cachinhos dourados??

Consegui escutar a respiração de Kahinan ficando mais pesada e presumi que ele não fosse o homem que aceitaria facilmente ser xingado, eu queria virar para ele e mandar relaxar, não era o momento de matá-los. Ainda não. Mas apesar disso não retirei os olhos sobre vigia de um dos carreiristas. O garoto caminhou até ficar poucos passos de meu corpo, abrindo caminho para Anne, o garoto alto de cabelos negros do Distrito 2, a garota do 2 .... Meu coração começava a badalar em meu peito e meus pequenos paços que se aproximavam de meu aliado que estava pouco atrás de mim eram percebidos por todos. Não corri a mão para a zarabatana ou minha soqueira, todos poderiam perceber que eu tinha armas ali, agora o arco de Kahinan era inevitável de esconder. Baixei a mão até os bolsos quando vi Adam sair de trás dos galhos nevados. O último carreirista.

 Um sorriso psicótico escorria por seu rosto e seus olhos me pareciam doentios. "O que eles fizeram com você?" me perguntei, apesar de saber que a culpa não era de nenhum daqueles carreiristas, mas sim do próprio garoto que eu tanto amava. Nós escolhemos o que vamos ser. Ele segurava uma lança prateada na mão enquanto eu o examinava com os olhos.

–Ótimo. Finalmente vou poder matá-la. - Falou Anne. Olhei para Adam esperando algum sentimento em seus olhos, mas não vi nada.

–Vamos acabar com isso. - falou o garoto de olhos verdes do 2 enquanto avançava em minha direção.

Corri minha mão pelo braço de Kahinan e o puxei para correr, quase o fazendo cair.

Atravessei os arbustos que estavam atrás da gente e corri com meus pés afagando a neve fofa. Escutava os passos do Kahinan atrás de mim, mas não cheguei a virar meu rosto para bisbilhotar.

Corremos até chegar a uma parede de pedra alta. Teríamos que escalar.

–CORRA!! - ordenou Kahinan, enquanto a minha mente trabalhava a milhão para entender seu plano. -

–Sonha que eu vou te deixar. - berrei de volta -

–AGORA!! - seus olhos verdes estavam em pânico e suas mãos passeavam por uma específica flecha em sua aljava e preparava seu arco. -VAI!!

Corri entre ás árvores quando escutei uma explosão. "Não, ele não pode ter morrido." primeiramente achei que estava com medo da morte de Kahinan, mas depois percebi que eu temia por Adam, o que era estúpido.

Voltei correndo com os meus pulmões querendo explodir. Galhos e espinhos raspavam em meu rosto e resto do corpo deixando cortes e puxando minhas vestes, como mãos me puxando para me impedir de chegar em um determinado destino. Mas eu fui.

Uma árvore tinha caído bem na frente de Kahinan.

–EU MANDEI CORRER!!

Assim que as palavras saíram de sua boca ele correu para o lado oposto ao que eu estava. Entendi. Iríamos espalhá-los.

Os carreiristas demoraram alguns minutos para entender o que estávamos fazendo, mas Anne foi a primeira a raciocinar tudo.

–Floyd e Adam, venham comigo. Lender e Leia, atrás dele. – Anne berrou para os outros -

O garoto de cabelos loiros, que chamavam de Floyd, Anne e Adam me perseguiram enquanto eu fugia inutilmente procurando me salvar daquilo. Kahinan estava nesse exato momento sendo perseguido por Lender, o garoto de olhos azuis e cabelos negros e Leia, a garota de sobrancelhas juntas. Anne estava muito perto de mim, assim que tirei a soqueira do cinto.

Me virei e com meu reflexo rápido desviei da ponta de sua adaga. Ela tentou acertar minhas constelas mas eu desviei e revidei, cortando sua testa e fazendo ela agonizar. Ela não lutava com o braço que tinha sido machucado por Renata, ou seja, aquele não era o braço que ela estava acostumada a usar a arma.

Eu tinha que terminar com ela ali e agora e fugir antes que os dois garotos chegassem. Ela me nocauteou com o cotovelo abaixo da cintura e quando quis me contorcer de dor, me abaixei, girei na neve e escorri a lâmina pela coxa da garota. Corte profundo e comprido.

Ela enfiou a faca em meu ombro e eu caí no chão e vi sua boca soltar uma risada. As mãos ágeis de Anne correram por seu sinto de facas quando Floyd chegou. Seus olhos sérios correram para ele. A espada de Floyd acertou perto de minha cintura quando eu pulei em seu peito e enfiei a lâmina da soqueira em seu peito musculoso. Sangue molhou meus dedos finos, sujando minhas unhas e molhando toda a minha roupa, minha trança e meu rosto magrelo.

Seus olhos exibiam desespero. Medo. Medo da morte, medo de não ver mais quem amava, nunca mais voltar para casa... ele não iria fazer nada disso novamente. Por segundos tive vontade de retirar a lâmina do coração do pobre garoto, mas ele faria o mesmo comigo, então aprofundei até ele perder a vida em seus olhos. Um canhão ecoou. Anne me encarava apavorada sem conseguir fazer nenhum gesto para salvar Floyd, mas quando percebeu que eu não estava mais sobre o corpo do garoto que agora jazia morto no chão, seus olhos recobraram a energia e uma faca rasgou minha lateral esquerda da cabeça, enquanto eu via ela tentando mancar. Um raspão em minha cabeça. Sangue quente escorreu pela minha pele branquíssima novamente, agora meu. Joguei o corpo da garota contra a árvore contra e escutei suas costas estalarem, mas seu peito continuava a funcionar. Adam chegou. Me virei para trás e corri. Descobri que uma das minhas maiores armas era inútil perto daquele menino. Ele era mais rápido que eu. Seus paços chegavam cada vez mais perto de meu corpo quando ele me empurrou e eu rolei no chão. Ele me levantou, puxando pelo braço e me jogou contra a árvore. Minhas costas estralaram e eu me encolhi. As mãos fortes de Adam tocaram meu pescoço e fiquei encarando seus olhos verde-castanhos. Ele não expressava emoção. Não tinha sede de sangue em seu rosto, a esperança que me restava voltou.

Ele sorriu, mas eu não retribuí.

–Deixe de ser fraca, Flo!! - ele brincou - Vamos, levante e me mostre o que pode fazer com isso além de matar Floyd. – ele apontava para minha arma-

Meu corpo estava enrolado no chão frio. Meu sangue ainda escorria e meu coração pesava. Minhas mãos estavam enroladas em minhas pernas, eu parecia um tatu tentando se enrolar na sua casca. Ele chutou minha barriga. Lágrimas brotaram de meus olhos. "Esse é o Adam que você ama, Florence. Aonde está o amor que ele sente por você?" Eu queria chorar e perguntar para ele o porque de me torturar daquele jeito. Eu olhei o rosto dele. O mesmo rosto meio quadrado, com a pele moreno-clara e os cabelos castanhos do mesmo jeito. O que tinha acontecido dentro daquela criatura para fazer tudo o que fez?

Me levantei com minhas pernas mal conseguindo me sustentar. Meu corpo todo tremia, meu nariz sangrava com provavelmente algum vasinho estourado pelos impactos que eu recebi, o corte que Anne tinha feito não parava de escorrer sangue e eu sentia como se meu corpo fosse desmoronar, como eu exatamente estava me sentindo por dentro.

Ele largou a lança no chão e levantou as mãos como um ladrão faz ao se render.

–Sem arma. Ok?

Eu não respondi. Eu N-U-N-C-A venceria Adam em uma luta corpo a corpo. Corri a mão pela zarabatana e a segurei entre os dedos. Ele se aproximou e eu coloquei a zarabatana tocando em meus lábios. Soprei. Um dardo entrou em seu ombro, mas pareceu indiferente. Recebi um soco na boca do estômago e caí no chão novamente. Ele se ajoelhou ao meu lado e pressionou meu pescoço. "Ar, ar, ar era tudo o que..." não consegui mais pensar, estava a ponto de fechar os olhos quando ele soltou minha pele.

–Sabe, você não vai morrer assim. - ele falou sorrindo. Era o gato e o rato. – Que tal usarmos a lança? Acho um jeito mais nobre de perder a vida.

Ele pegou a lança que descansava no chão e deixou a centímetros acima de aonde estava meu coração. Seus olhos me torturavam, me encarando sem pena ou um pingo de amor. Eu queria morrer logo, queria lutar, mas não tinha mais força para isso.

–Você tem um olhar tão dócil e bonito, Flo, mas sabe mais que qualquer um que eu não caio nele.

Meus olhos lacrimejavam totalmente banhados de culpa, pena e medo. O mesmo medo encontrado nos olhos de Floyd e que provavelmente ficariam como os dele depois da morte. Sem alma.

Uma idéia me ocorreu assim que a lança quase tocou minha roupa, ela estava prestes a me atravessar quando eu a peguei com a mão e torci, acabando por torcer o braço de Adam também. Ele berrou de dor, mas eu me desvencilhei de sua arma e me levantei. Corri como nunca tinha corrido, meu corpo estalava e latejava de dor, eu queria me sentar e chorar pelo resto dos tempos por toda aquela dor. Meu medo estava confirmado. Adam não tinha nenhum plano em quesito de me salvar quando entrou para os carreiristas, como Peeta. Ele estava ali para ganhar.



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