As gotas pesadas de chuva caiam e avisavam que uma tempestade logo desabaria sobre a cabeça de Hanah e Mary. A menina choramingava assustada se agarrando as roupas de Hanah e se escondendo por entre os vastos cabelos cor de fogo. O coração dela fraquejou. Sentiu vontade de chorar agarrada a mãe, queria um colo e alguem que passasse a mão em sua cabeça e dissesse que está tudo bem.
Uma buzina repentina cortou o ar como um hino de salvação que encheu os corações das duas de esperança. Um comboio vinha na estrada e aquela seria uma chance unica. Mary e Hanah gritaram e sacudiram os braços para chamar atenção.
- Estamos salvas! - Hanah pensou quase eufórica.
Os zumbis batiam desesperados no portão de metal. a pedra ficava um pouco distante do muro, e um pulo ali poderia ser suicidio. Um homem desceu de uma moto e um outro com roupa de sherife.
- Pegue uma corda! - ele gritou e um asiático logo apareceu e entregou uma corda ao sherife - Passe por cima daquelas ferragens e use como um cipó! - o homem disse as duas.
Assim foi feito. Uma pedra pequena foi amarrada a ponta da corda para criar algum peso e ela foi arremessada por cima de ferragens de algum brinquedo.
- Daryl! - Mary gritou com a voz estridente e abriu um sorriso enorme.
- Anda logo! -
Hanah a apressou. A garotinha se agarrou firme a corda e pulou. Se balonçou ate o muro e lá o cherife a segurou. Parecia como se Mary fosse um presunto sendo balançado sob leões magros e famintos.
- Mande mochila pra cá! - o homem da moto gritou e os zumbis forçavam cada vez mais o portão velho.
Ela amarrou com cuidado e deu impulso.
- São armas! - Mary disse animada.
O homem da moto sorriu ao abrir a mochila e não devolveu a corda. Fez menção de tirá-la, mas o sherife não deixou.
- Por que levar ela? Vai ser menos comida pra todos!
- SEU DESGRAÇADO! - ela gritou possuída por uma fúria visível - VOCÊS NÃO VÃO ME LARGAR AQUI!
- O cherife ia dizer qualquer coisa, mas demorou demais. Hanah deu alguns passos para trás e correu. Pulou com a esperança de que conseguiria de alguma forma atravessar o pequeno vale de zumbis abaixo de seu corpo. As cenas passavam lentas por seus olhos. Ela conseguiu se agarrar no muro mas suas pernas pendiam como um banquete pendurado para os zumbis. Um agarrou sua canela, mas levou uma pisada que afundou o crânio já podre. Não bastasse o cheiro ruim, o cérebro apodrecido conseguia ter um odor ainda mais fétido. Com esforço apoiou os pés no muro e num único impulso se jogou para fora.
- Deus! - Hanah ouviu um grito de uma voz feminina, mas tudo ficava escuro ao seu redor - Ela está bem?
Está bem.... bem... bem... bem...
Tantos zumbis rodeavam a pobre e pequena Hanah. Tão pequena. Ela parecia uma criança de sete anos. Tinha duas longas tranças ruivas que quase tocavam o chão. e no chão estava sua mãe, seu pai e seu irmão. Todos mortos, esticados ali enquanto os zumbis subiam vagarosamente aquela colina.
De repente sua mãe se levantou. Estava viva.
- Junte-se a nós, meu anjo! - e Hanah se jogou nos braços quentes dela. Mas os braços quentes e macios se tornaram umidos frios e duros e Hanah percebeu que estava nos braços feitos de osso e carne podre.
- Junte-se... ahhhh... nóoooooss.... - a voz de sua mãe saia como um gemido e Hanah Gritou pulando e escapando de uma dentada certa.
- A nós! - seu pai e seu irmão agora estavam comno 5todos os outros zumbis e sua mãe.
- A nós! - todos eles gritavam em meio aos gemidos.
- Não! - ela gritou, mas estava cercada e eles mergulharam sobre ela como uma gigante onda feita de morte - NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOO!!!!!!!!!! - em seu ultimo grito, morreu.

O suor escorria pelo rosto. Hanah acordou dentro de uma casa. Do seu lado o sherife estava branco como papel.
- Que bom que acordou. Meu nome é Rick.
- Hanah. - a voz saiu tremida.
- Dormiu bastante, uns dois dias.
- Você tá bem?
- Não. Tive que fazer muitas transfusões. Meu filho levou um tiro. - o homem parecia que ia cair aos prantos - Não sei o que fazer.
Um outro homem apareceu.
- Ela acordou. Sou Shane. Hershel disse que quer o respirador e Otis vai me levar a escola pra pegar. Já esta decidido e não vamos mais discutir isso.
Hanah se levantou enquanto os dois homens conversavam.
- Foi você que me trouxe não é? - ela perguntou a Rick.
- Sim.
- Pelo outro eu teria ficado lá.
- Não. Daryl não ia fazer isso. Ele ficou muito preocupado com você. Se arrependeu de ter falado aquilo. ele está muito feliz por que você achou a irmã dele e a manteve a salvo durante todo esse tempo.
- Vocês nos salvaram. A mim e a minha filha Mary. Eu meio que a adotei. O minimo que posso fazer é retribuir ajudando seu filho. Posso sobreviver as custas de outros, mas não sou ingrata.
- Sabe atirar? - Shane a encarou.
- É obvio.

Então Hanah foi apresentada a Otis. Pelo caminho contaram que ela tinha apagado e que foi carregada por Maggie em seu cavalo para a fazenda do senhor Hershel por que não acordava. Ela sorriu tímida, em agradecimento pelos cuidados. Otis tinha tido o cuidado de lhe dar um grosso pedaço de pão de milho antes de saírem de lá.
Na escola as coisas não pareciam boas. Estava entupida de zumbis. Por sorte haviam alguns sinalizadores ali e eles foram usados para chamar a atenção daquelas "coisas". Entrar foi a parte fácil. Na saída, eles foram perseguidos por zumbis, até que acabaram encurralados no ginásio.
- Otis, vamos sair por aquela janela.
- Cara, eu não vou passar lá. - Hanah tinha que concordar. Ele era gordo demais para conseguir essa proeza - Vou sair pelo vestiário. Lá tem janelas enormes!.
- Ok. Vou atirar em três zumbis, depois, você vai! Hanah, aquela janela é alta pra você pular, vai pelos corredores e sai na frente da escola.
Shane atirou e lá tinha ido Otis ao encontro do vestiário, enquanto ela saiu em disparada pelo corredor do colégio. Haviam alguns corpos jogados no chão. O único problema foi quando alguns deles começaram a se movimentar e perseguir Hanah. Ela estava perdida e não sabia para onde ir.
Shane havia torcido o tornozelo quando pulou da janela e depois de alguns problemas esta de volta aos carro. Hanah já estava lá, quieta e escondida no banco de trás, com todos os vidros fechados. Quando viu Shane ficou apreensiva, mas depois sua expressão mudou para alívio. Logo eles estavam na estrada de volta para a casa de Hershelo com todo o equipamento, mas faltava um homem.
Chegando lá, ela foi recebida por Mary com um sorriso que ia de orelha a orelha.
- Eu, queria me desculpar... Não devia ter assuatado você lá no parque. Achei que nunca mais ia acordar. Então... você acordou. - ele falou um pouco contrariádo.
Aquele caria quase tinha a matado, mas algo a impediu de falar qualquer coisa ofensiva. Aquele jeito grosseiro e retraido de pedir desculpas lembrava seu pai, que era caipira mas um homem de bom coração. Algo naquele homem a deixou estranha.
- Esse é o Daryl, o meu irmão! - Mary disse com muita convicção, o que fez Hanah rir.
- Vá lá pra dentro.
- Certo mãe!
Agora estava apenas ela e Daryl.
- Não precisa ficar estranho desse jeito. Não estou com raiva. - ela suspirou - Lutou pra sobreviver e proteger Mary independente do que custasse. Fez o necessário. Vou deixar isso no passado. Mas se fizer isso de novo, reze pra eu morrer, por que eu vou matar você.
Ele riu, mas Hanah não tinha falado aquilo a toa. Não havia um pingo de brincadeira em sua frase.

Aquela noite foi difícil, mas as coisas seguiam indo pra um rumo melhor.
Hanah foi obrigada a dormir na barraca de Daryl que ficava muito afastada da casa. Aquilo a deixava preocupada. As buscas pela pequena Sofia eram incessantes e Daryl parecia decidido a achá-la. Hanah entendia que era de certa forma, algo relacionado com sua própria irmã. Ele costumava ser razoavelmente educado om ela e parecia sempre se sentir culpado, mas Hanah não ligava.
Se sentia segura e quase feliz.