E Eu Vos Declaro... escrita por mulleriana, Nina Guglielmelli


Capítulo 6
O chá de cozinha




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BPOV

Eu estaria mentindo se dissesse que nunca cogitei me casar. Mas quando pensava no assunto, imaginava algo como uma cerimônia particular na praia, ou um cara misterioso e odiado pela minha família fugindo comigo para outro país. E aquilo era a última coisa que estaria em meus planos.

O jardim da minha futura ex-casa estava infestado com mulheres que eu simplesmente não conhecia. Numa mesa à esquerda, havia uma pilha de presentes tão caros e desnecessários que eu poderia vender e comprar meu próprio carro. Espalhadas pela grama, estavam várias mesas redondas, protegidas por enormes guarda-sóis igualmente brancos, e “minhas” convidadas ocupavam as cadeiras e entoavam conversas animadas. Eu me joguei em uma mesa vazia e permaneci ali, em silêncio. Minha mãe brigara comigo incontáveis vezes por não estar cumprimentando as visitas, mas eu tinha minhas dúvidas se alguém ali sabia quem era a noiva.

Para tentar me redimir por meu péssimo humor, deixei Rosalie fazer uma trança em meu cabelo como menininhas em uma festa do pijama. Meu vestido vermelho não combinava com as roupas delicadas que a maioria das mulheres usava, junto com seus chapéus dignos da moda dos anos 20. E nada no mundo combinava com o anel de noivado e seu diamante maior do que a minha mão.

A única coisa que me dava um pouco mais de conforto era que eu não veria Edward naquele dia. E, melhor ainda, faltava apenas uma semana – exatamente uma maldita semana – até o casamento. E então eu teria que me resolver diretamente com ele, e não com sua família insuportável com quem eu precisava ser educada o tempo todo. E digo realmente todo, porque era difícil encontrar uma hora do meu dia em que minha futura sogra não estava colada em mim. Talvez na semana passada, quando eu bati em uma prostituta semi-nua até a vadia quase desmaiar. Mas acho que isso não conta. E foi ela quem começou.

– Esse chá está uma delícia! – Alice, minha melhor e incrivelmente animada amiga, veio praticamente saltitando até mim, e então sentou a minha frente. – Você já experimentou?

– Não, e não pretendo. – Rebati, cruzando uma perna sob a outra. – Não sei o que se passa na cabeça de Renée. Eu queria comida de verdade, e não chá com biscoitos. – Tentei imitar sua voz, zombando. – Ela ainda não percebeu que não nasceu na Inglaterra.

– Bom, eu ainda acho que você deveria ter feito um chá de lingerie. – Ela respondeu, bebericando mais um pouco. – Eu teria presentes ótimos!

– Eu não preciso de lingeries, porque não vou usá-las. – Grunhi.

– Não vai porque é orgulhosa demais. – Rebateu, pegando um biscoito de uma delicada vasilha entre nós. – Vocês vão estar casados, não vejo nada de errado em aproveitar um pouco. Quer dizer, tudo bem, ele é um idiota, mas você precisa concordar que... Wow! O que pode acontecer de ruim?

– Tudo bem, Allie. – Eu respondi, tentando acabar com aquele assunto. – E então, que presente você me trouxe?

– Eu não vou dizer! Essa é a brincadeira! – Ela franziu a testa, ofendida.

– Sim, essa é a brincadeira que eu não estou nem um pouco a fim de fazer, então você poderia me poupar de alguns minutos de tortura!

– Nem pensar! Apesar de não estar gostando, essa pode ser a sua única chance como uma noiva, e eu quero que aproveite tudo! – Ela ficou em pé e estendeu a mão para mim, sorrindo como uma criança animada. – Venha, vai ser divertido! Depois você pode usar as facas que ganhar contra Edward!

Ela praticamente me arrastou pela grama até o meio do jardim, anunciando que eu abriria os presentes. Todas as mulheres se mexeram no mesmo segundo, algumas trazendo cadeiras para perto de mim, outras trazendo os presentes da mesa. Eu me sentei completamente sem jeito, até que Alice, a última garota em pé, se juntasse a elas. Dei uma olhada rápida por todos os embrulhos a minha frente, mas então a vi pulando em seu lugar e apontando para uma caixinha específica. Eu a peguei a desembrulhei com facilidade.

– Isso... – Eu retirei o objeto e o girei, sem entender.

– É um descaroçador de azeitonas! – Alice explicou com um imenso sorriso.

Eu ergui as sobrancelhas, ainda segurando a peça. – Uau, Allie, isso é tão... Útil.

– Ah, eu sei, eu também não suporto caroços de azeitona. – Rosalie reclamou, fazendo outras mulheres entrarem na discussão.

– Muito bem... – Eu cortei, rindo nervosamente enquanto guardava o presente aberto meus pés. – Próximo!

Eu não sabia quem era o idiota que havia inventado essa história de chá de cozinha, mas eu ia descobrir. Foi a hora mais torturante da minha vida. E eu não podia simplesmente abrir, como num aniversário; eu precisava participar da brincadeira insuportável de adivinhar quem me dera o objeto. Felizmente, elas se entregavam com o olhar rapidamente. Eram pacotes infinitos com pratos, copos, panelas, vasilhas e todos os tipos de coisas necessárias e outras inúteis que você podia ter na sua casa; coisas com as quais não se presenteava alguém, pelo amor de Deus!

Tudo bem, talvez eu estivesse sendo ingrata. Aquilo me poupou de um longo trabalho enchendo as prateleiras da minha nova casa. Mas o que me irritava era o fato de estar ali enquanto meu noivo se divertia com seu amigo e contratava prostitutas como se não tivéssemos nenhuma preocupação. Eu também preferia estar com uma stripper do que estar ali. Deveria ter sugerido isso a ele.

O último presente que sobrou no chão era provavelmente o maior de todos. Com certo esforço, puxei a caixa para o meu colo. Elas riram sem motivo algum enquanto eu rasgava o embrulho, revelando um conjunto enorme de talheres. Totalmente prático. E caro.

– Hm... Esme? – Eu forcei um sorriso, encolhendo os ombros.

A mulher se levantou e veio até mim, enquanto todas aplaudiam e gritavam, animadas. Ela me abraçou, e eu retribuí, prendendo a respiração.

– Estou tão feliz por você, querida! E quer saber um segredo? – Ela me soltou e abaixou um pouco, olhando em meus olhos. – Eu fui com Edward ao apartamento que ele escolheu. Você vai amar! É perfeito! – Ela quase chorava outra vez.

– Edward... O quê? Como? – Eu arregalei os olhos. – Edward fez o quê?

– O apartamento de vocês. – Ela sussurrou. - Ele mesmo comprou, queria lhe fazer uma surpresa. E acho que ele conhece bem os seus gostos, porque é lindo. Ah, você está fazendo tão bem a ele, Bella!

Por pouco a caixa pesada não foi ao chão, em cima dos meus pés. Edward comprou um apartamento. Sem me consultar. Como diabos Edward comprara um apartamento, se aquele puto não tinha um tostão no bolso? Merda! Eu já podia imaginar um lugar completamente sujo, com uma mesa de sinuca no meio da sala e um sofá cama listrado.

– Eu... Com licença. – Pedi ao me levantar, quase em um sussurro.

Eu disparei pela grama até dentro da casa, ouvindo algumas mulheres comentando sobre o quão emocionada eu estava. Subi as escadas até meu quarto e agarrei meu celular, ofegante, discando para Edward.

“Olá, minha noivinha!” Ele atendeu com aquela voz irritante. “Está se divertindo?”

– Que porra é essa de apartamento, Edward? – Gritei.

“O que? Ah... Esme já deu com a língua nos dentes, não foi? E ela deve ter chorado também.”


– Como você pode fazer isso comigo, seu merda? Essa briguinha já tá passando dos limites! – Eu rebati.

“Bom, se Esme falou com você, ela também deve ter dito que adorou o lugar. Relaxa, linda! Eu prometo que não vou te fazer morar num puteiro nem nada do tipo.” Ele riu, irônico. “A não ser que você queira o emprego...”

– Se o lugar é decente, deve ter alguma razão pra você ter escolhido. – Cerrei os olhos, mesmo que ele não pudesse ver. - Anda, pode falar, o que tem lá? É perto do Emmett? Perto de algum bar que você curte?

“Ambos!” Ele gargalhou.

– Edward, como diabos você comprou um apartamento? – Eu mudei um pouco de assunto, colocando a mão livre na cintura.

“Carlisle me emprestou uma grana, e eu prometi pagar quando ele liberasse a herança. Bom, pois é, ele ainda tá segurando. Mas eu vou realmente pagar! E relaxa que só faz parte da minha metade, você vai ter grana suficiente pra comprar um lugar pra você.” Ele explicou.

– Ótimo. – Suspirei.

“Era com isso que estava preocupada, não é, sua cobra?” Ele riu alto. “Cobra! Mas que ótimo apelido pra você! Então, já fez muitas solteironas chorarem hoje?”

– Não tenta mudar de assunto! – Rebati. – Como é a droga do apartamento?

“Eu posso responder depois? Sei que você está adorando falar comigo, Bella, mas eu estou realmente ocupado agora. Preciso terminar o que você atrapalhou aquele dia, não foi? Mas eu prometo que vou pensar em você o tempo todo!”

– Nojento! – Eu gritei enquanto ele gargalhava.

Sem ouvir uma resposta, desliguei na cara dele. Com uma bufada, abri a porta do quarto, mas antes que pudesse sair dei de cara com Alice, que entrou sem cerimônias.

– Então, qual é o babado da vez? – Ela retirou os saltos e se jogou na minha cama.

– Ele comprou um apartamento, Alice! Ele comprou uma porra de um apartamento! – Joguei as mãos para cima ao gritar. – Você cosegue imaginar que tipo de nojeira o lugar deve ser?

– Bom, Esme estava muito animada falando sobre isso. – Ela deu os ombros. – Ele quer mentir para os tios que mudou, então com certeza vai procurar o melhor em tudo. E, apesar de ser um porco, ele curte algumas mordomias, você sabe. Acho que não precisa se preocupar.

Eu soltei um longo suspiro, olhando em volta do quarto. Quando localizei o viveiro de Mimosa, me aproximei e abri a tampa, deixando que ela se enrolasse em meu braço para sair. Acariciei suas manchas laranjas enquanto olhava para minha amiga outra vez. Antes que eu pudesse falar, ela mudou de assunto.

– Bella, eu sei que já perguntei isso, mas por que diabos você não vende essas coisas? – Ela apontou para os quadros nos cavaletes e alguns desenhos nas paredes. – São muito bons!

– Alice, ninguém compra quadros assim. Eu não sou famosa. – Expliquei.

– E como faz pra ser famoso? – Ela rebateu, um pouco irônica.

– Eu não sei, faz uma exposição ou algo do tipo. – Suspirei. – Eu sempre tento, mas meu pai dá um jeito de atrapalhar todas as vezes. Já foi um sacrifício ele me deixar estudar, você lembra...

Ela pressionou os lábios um no outro com compaixão, sem saber o que dizer. – Você não merece isso. Você é muito boa no que faz.

– Obrigada, Allie. – Eu sorri.

– Agora, você vai ver! Esse casamento pode parecer o fim do mundo, mas vai te ajudar muito. – Ela sorriu de volta, se remexendo na beirada da cama. – Você não é nenhuma boba e vai aproveitar o máximo disso. O Edward vai sair correndo quando você domar ele! Que nem da primeira vez. – Ela riu, mas mudou seu semblante de repente. – Ai, meu Deus! Você vai se casar!

Eu pensei durante alguns segundos em suas palavras, e então abri um sorriso perverso para ela. – Alice... Eu vou me casar.


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Notas finais do capítulo

Eu avisei no twitter que tivemos alguns problemas com o capítulo hoje, e ele finalmente saiu! Relaxem que pode ser meia noite, mas toda quarta vai ter SIM! Peço desculpas porque esse é pequeno também, coisa que algumas pessoas reclamaram na review do anterior. O próximo compensa, juro! Aliás, aqui está o teaser, e vocês vão sacar rapidinho do que se trata:
"Não demorei para ver Bella se aproximar lentamente, de braço dado com Charlie. Estava claro como ele tentava segurar o choro. A garota, por sua vez, sorria e acenava como se fosse a rainha da Inglaterra. Ela carregava um buquê igual aos das damas de honra, porém maior. Eu podia ouvir os murmúrios de algumas mulheres sobre como estava bonita."
Até semana que vem!