E Eu Vos Declaro... escrita por mulleriana, Nina Guglielmelli


Capítulo 22
O novo morador




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BPOV

– Acho que pegamos tudo, não é? – Edward sorriu para mim calmamente ao fechar minha bolsa, estranhamente mais cheia do que antes.

Eu assenti enquanto andava até ele, arrumando minha blusa um pouco colada demais. Eu arrumei minha mala com a ideia estúpida de que conseguiria minha barriga lisa de volta assim que meu bebê nascesse, mas não foi exatamente assim. Edward estava certo sobre a quantidade de comida que eu vinha ingerindo nos últimos meses. Pelo jeito as roupas do começo da minha gravidez continuariam a ser usadas por algum tempo.

Anthony dormia tranquilamente no bercinho ao lado da cama, enrolado em seu cobertor de dinossauros. Edward queria um com cobras, mas eu avisei que a brincadeira estava indo longe demais. Eu gastei alguns bons minutos cantarolando para nosso filho sobre ir para casa, já que no terceiro dia internada eu não aguentava mais aquele lugar. Mais uma das inúmeras vantagens do parto normal era que eu já estava voltando para casa, com pouquíssimas restrições.

Mesmo assim, eu fui levada até o carro numa cadeira de rodas, como qualquer paciente que saía do hospital. E como qualquer bebê que ia para casa pela primeira vez, Anthony foi no banco de trás, estreando sua cadeirinha.

– Eu sei que você quer colo, e nós adoraríamos dar isso a você, mas aí é mais seguro. – Edward disse para nosso filho quando o colocamos ali. Eu descobri que ele podia gastar horas conversando com ele, mesmo sem obter nenhuma resposta. – Não fica triste, logo nós vamos chegar em casa e eu te tiro desse negócio desconfortável.

– Isso, dê muito colo a ele, mime o garoto o máximo que puder... – Eu disse com um suspiro, divertida, já sentada no banco do passageiro.

Edward fechou a porta de trás e entrou no carro com uma risada. – Você sabe que vou. – Disse e piscou pra mim.

Apesar de não dizer, eu estava tão ansiosa quanto ele para chegar em casa e acomodar nosso bebê. Seu quarto já estava pronto havia muito tempo, esperando por ele. Nós fizemos o rápido caminho até nosso apartamento e eu me encarreguei de levar Anthony até lá, enquanto Edward carregava minha bolsa. Nós pegamos o elevador e eu parei na porta, esperando que ele a abrisse.

– Ei! Aqui estamos! – Eu apertei Anthony mais perto de mim e ele apenas suspirou, aconchegado. – Essa será sua casa por... Bom, por muito tempo, eu espero. Eu gosto daqui. Eu ia te apresentar tudo, mas acho que você só quer saber de uma coisa, não é? Certo, vamos até lá.

Eu vi o sorriso de Edward enquanto eu levava Anthony para seu quarto. Ele não nos seguiu. Eu abri a porta e suspirei ao ver tudo perfeitamente arrumado; a parede azul clara, as roupinhas dentro das gavetas, alguns pacotes de fraldas perto da cômoda branca. As prateleiras estavam cheias de bichos de pelúcia, mas a cobra de brinquedo estava no berço, especialmente.

– É lindo, não é? Eu também queria um quarto assim! – Eu ri baixinho, sentando na poltrona colocada ali especialmente para mim. – Papai acertou dessa vez...

Minha voz foi abaixando cada vez mais com a frase enquanto eu olhava em volta, pensando no assunto. Acho que a maior prova de que Edward havia amadurecido e entrado de cabeça nessa nova vida era o trabalho que teve com aquele quarto. Isso, ou a forma como manteve a calma durante o meu trabalho de parto. E como cuidou de mim nos primeiros dias com Anthony. Ele realmente conseguiu me amolecer e deixá-lo entrar na minha vida... Ou talvez fossem os hormônios.

– Eu sei, eu sempre te falei que enfrentaríamos tudo sozinhos. Mas ele merece outra chance, não é? – Eu disse baixinho para Anthony, balançando-o um pouco no meu colo. – Não, não como meu marido! Mas ele pode ficar por perto... Nenhum de nós dois quer que ele vá embora. Não é? – Repeti, franzindo a testa para o bebê, que apenas resmungou sem nem mesmo me olhar.

Como se tivesse ouvido a resposta mais clara do mundo, eu assenti, entortando os lábios. Anthony soltou mais alguns resmungos, e eu pensei que fosse começar a chorar, até que se acalmou com um suspiro. Ele rapidamente adormeceu outra vez, me fazendo sorrir ao olhar para ele. Eu encontrei uma posição confortável para meu braço e relaxei na poltrona, mal percebendo o sono que aos poucos tomava conta de mim. Eu não tive as melhores noites na cama do hospital – certamente aquele lugar não seria muito melhor, mas meu corpo cansado estava se contentando com qualquer coisa. E pelo visto era só o começo.

Não sei por quanto tempo cochilei ali, até que meu filho me acordou com um choro baixo. Eu precisei de alguns segundos para entender o que acontecia, e então levantei com ele no colo, já percebendo Edward aparecer na porta.

– Ele está com fome? – Perguntou calmamente.

– Não, não é isso. – Eu resmunguei, sonolenta, levando Anthony até o trocador em cima da cômoda.

– Deixa comigo. – Ele sorriu assim que eu deitei o bebê, me empurrando delicadamente para o lado ao tocar meu ombro.

Eu não sei se ele estava fazendo isso por perceber meu estado, por carinho ou para me impressionar. Acho que fico com a segunda opção. Eu voltei a sentar (ou praticamente cair na poltrona), observando Edward trocar a fralda do nosso filho cuidadosamente. Ele nunca havia feito isso sozinho, e acho que só me viu uma vez, mas já parecia saber o suficiente. Eu também ainda não era nenhuma expert, então não podia julgar.

Ele falou com Anthony o tempo todo, enquanto tirava sua roupinha, limpava sua pele cuidadosamente e então colocava uma fralda nova, depois de deixá-lo devidamente protegido contra assaduras. Eu sorri involuntariamente enquanto observava a cena. Edward terminou de vesti-lo outra vez e o ergueu de volta até seus braços, só então olhando para mim com um sorriso. O bebê parecia um brinquedo no colo do pai, pequeno como era.

– Estou terminando de arrumar minhas coisas. – Ele disse ao me entregar Anthony, sem que eu precisasse levantar. – Já volto.

Eu demorei demais para processar a frase. Quando compreendi o que ouvira, ele já estava fora do quarto. Eu coloquei o bebê cuidadosamente no berço e saí atrás dele, deixando a porta do quarto entreaberta.

Eu avancei pelo corredor e encontrei a sala bem diferente de quando cheguei. Meus olhos foram direto para as duas malas pretas perto do sofá, e eu realmente não entendi o que estava acontecendo. Edward saiu da cozinha e entrou no meu campo de visão, erguendo as sobrancelhas em resposta ao meu rosto confuso.

– Você vai... – Eu franzi a testa. – Quer dizer... O que você está fazendo?

– Eu pensei que esse fosse o combinado. – Ele respondeu, ainda mais confuso do que eu. – Assim que o bebê nascesse, não era?

Eu pisquei algumas vezes, entendendo, e ele continuou. – Vocês vão ficar bem, certo? – Perguntou, preocupado.

É claro que eu ficaria bem. Era meu próprio filho. Mesmo que eu estivesse completamente perdida, nunca assumiria. Mesmo assim, ele precisava ir tão cedo? Nós nunca cumpríamos nenhum trato direito! Talvez eu pudesse simplesmente dizer isso a ele, não é? Dizer que eu o queria por perto e que meus dias se tornariam um caos cuidando de um bebê sozinha. Mas, se eu usasse essas palavras, acho que não estaria sendo sincera. O problema não era Anthony. Com ou sem um bebê pra cuidar, eu só o queria comigo.

No segundo em que me dei conta disso, foi como um soco no estômago. Eu não conseguia falar.

– Bella? – Ele insistiu.

– Claro. – Eu consegui murmurar. – E nós vamos... Nos ver sempre...

– Sim! – Ele disse quase por cima de mim. – Eu provavelmente vou ficar com Emmett, então é só gritar na janela. – Ele riu e eu o acompanhei. – E quando eu arrumar um lugar só meu, prometo que será perto.

Eu apenas assenti, desconfortável. Havia muitas coisas que eu gostaria de dizer, mas não tive coragem, e também não sabia se era o momento certo. Aquele definitivamente não era o Edward com quem eu me casei mas, apesar dele ter mudado, eu não sabia se era suficiente para... Qualquer coisa além da nossa mentira.

Eu estava ocupada demais tentando fazer uma rápida análise do que sentia e mal percebi ele passar por mim, até nosso quarto. Calmamente, Edward trouxe mais uma mala até a sala e voltou, entrando no quarto de Anthony. Dessa vez eu o segui, encostando no batente da porta enquanto ele falava com o bebê.

– Eu juro que eu volto rapidinho. E eu vou continuar por perto, você vai ver. – Ele arrumou o cobertor por cima dele ao falar. – Você precisa ficar com a mamãe agora, mas amanhã mesmo eu venho te ver.

Eu sorri ao ouvir sua promessa, cruzando os braços. Ele acariciou a testa de Anthony e ergueu o rosto outra vez, mas desviou rápido demais para que eu entendesse sua expressão. Eu saí primeiro e pude sentir ele me seguindo. Eu não sabia o que dizer. Se eu tivesse tido algum tempo para pensar claramente, talvez tivesse implorado para ele ficar. Mas sua saída repentina estava fazendo minha cabeça latejar, cheia de dúvidas.

– Você tem certeza que vão ficar bem, não é? – Ele insistiu.

– Eu sempre soube me cuidar, não foi? – Apoiei as mãos na cintura, rindo nervosamente. – Eu é que devia me preocupar. Sem o meu controle você vai... Se entupir de besteira. Ainda mais com Emmett!

Ele riu, percebendo o que eu estava tentando fazer. Se ele notou o que eu realmente queria dizer, não falou nada. Apenas se aproximou e deu um longo beijo na minha testa, segurando minhas mãos ao se afastar e me olhar. Eu percebi que hesitou, pensando bem nas palavras. – Muito obrigado por tudo.

– Eu sei. – Eu sorri, sabendo que era principalmente nosso filho que se passava em sua mente ao agradecer. – Obrigada por me tirar da casa dos meus pais e... Por ficar bêbado e dar em cima de mim bem quando eu esqueci minha pílula.

Ele riu alto, apenas assentindo. Contra a minha vontade, soltou minhas mãos e se aproximou de suas malas, colocando uma nas costas e puxando as outras duas pelas rodinhas. Eu passei por ele e abri a porta com um suspiro. – Me ligue, qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo. – Ele disse.

– Até amanhã. – Eu respondi, me divertindo com toda a sua preocupação.

Ele abriu um enorme sorriso antes de repetir. – Até.

Eu esperei ele pegar o elevador para fechar a porta, encostando as costas nela com um gemido. Eu olhei para o viveiro de Mimosa do outro lado da sala, mordendo meu lábio inferior. Eu a encarei como se ela pudesse retribuir meu olhar e me dar a bronca que minha própria consciência estava dando. – O que foi? Eu não podia simplesmente pular no colo dele, né? - Eu andei pela sala, olhando de canto para ela. – Olha, o que é que você entende disso, afinal? Eu não estou sentindo nada diferente. São só os meus hormônios estúpidos. Daqui a pouco eu vou acordar e ele vai voltar a ser o mesmo imbecil de antes. Ele não tem nada demais.

Eu bufei e andei até a cozinha, abrindo a geladeira sem saber o que procurava. Quando vi a pequena embalagem no canto, precisei me aproximar um pouco para ler o que dizia o bilhete colado na tampa.

Comprei o camarão que você adora. Da próxima vez dividimos, ok? E.

Dobrei os joelhos e revirei os olhos com um grunhido, fechando a geladeira com força.

(...)

– Tudo bem, onde está meu afilhado lindo? – Alice mal se deu ao trabalho de bater na porta antes de entrar, carregando uma bolsa grande demais para ela.

– Eu ainda existo. – Respondi, cerrando os olhos para ela antes que entrasse direto no corredor.

Ela se aproximou da bancada, perto de onde eu estava sentada, e eu não me dei ao trabalho de levantar. – Mas você não é tão fofa. Ele está com Edward? – Perguntou.

– Edward foi embora. – Eu apoiei o rosto em uma mão, bufando ao ser lembrada. Ela mudou completamente seu semblante alegre, puxando outro banquinho e sentando do meu lado. Antes que perguntasse, eu completei. – Ele pegou todas as coisas e saiu.

– O que? Por que? Vocês brigaram? – Ela perguntou, confusa.

– Não! Esse era o trato, tá legal? – Eu explodi, batendo as mãos na bancada. – Eu disse que ele era um filho da puta mentiroso e que eu queria ele fora daqui assim que o bebê nascesse!

– Ele precisava ser tão... Pontual? – Ela rebateu, um pouco irritada. – Você acabou de ter um filho, não pode ficar sozinha!

– O que? – Eu franzi a testa, sem acreditar. – É claro que eu posso! Meu filho está dormindo devidamente alimentado e limpo. A babá eletrônica dele está aqui comigo e eu posso ouvir qualquer som que ele faça. O que mais eu preciso fazer?

O que mais? – Ela soltou um som parecido com um riso. – Bella, e se ele ficar doente? E se você precisar sair? E quando ele crescer e começar a...

– Alice. – Eu fechei os olhos, cortando o que ela dizia imediatamente. – Pare de agir como se eu estivesse me divorciando, porque eu nunca fui casada, tá legal? Isso acabou. Eu sempre estive sozinha nisso e vou continuar assim.

– Eu só pensei que, depois de nove meses convivendo juntos, vocês...

– Não. – Eu me apoiei na bancada para ficar em pé. – Não tem nada. Nós tivemos aquela noite, graças a Deus nós tivemos aquela noite e eu tenho Anthony agora, mas foi só isso. Tá, nós transamos algumas outras vezes na lua de mel. E talvez alguns beijos e... Teve aquela vez que a gente dormiu abraçado... Mas não! – Eu quase gritei, arregalando os olhos para ela.

Alice mal se mexeu, mas sua expressão mudou completamente. Ela apenas cruzou os braços, sorrindo para mim. – Você está tão a fim dele...

– Bom, se eu estiver, e somente se... – Eu respondi calmamente. – A culpa é completamente dos meus hormônios.

– É claro. – Ela sorriu ainda mais.

– Essas coisas como cuidar do Anthony, me ajudar no hospital e deixar bilhetes fofos na geladeira só parecem incríveis agora porque eu estou num momento sensível e... Alice! – Eu gritei quando a percebi assentindo ironicamente, claramente segurando a risada.

– Bella... – Ela suspirou, e eu caí sentada de volta. – Um dia você vai ter que deixar o amor entrar nesse seu coraçãozinho. De verdade! – Ela enfatizou quando eu tentei rebater. – Um dia você vai perceber que estar com um cara não é simplesmente transar com o seu saco de pancadas.

– Anthony é minha prioridade agora. - Eu passei o dedo pela bancada distraidamente, evitando seu olhar. - Eu não estou procurando um cara.

– Não. Mas está morrendo de medo porque o encontrou.

Quando ergui o olhar, vi o mesmo sorriso irônico no rosto de Alice. Ela me olhava orgulhosa como se estivesse olhando sua própria filha crescendo e contando sobre o primeiro namorado. Eu bufei, e ela compreendeu que o som dizia que estava certa.

– Eu não estou apaixonada. – Respondi.

– Não, você ainda não sabe direito o que é isso. – Ela deu os ombros. – E, bom, muito menos o Edward. Apesar de evitar o amor, você é emocionalmente mais madura do que ele, é claro. - Ela começou a tagarelar olhando para as próprias unhas. – E é terrível porque Anthony é sua prioridade, mas também é a dele. Vocês vão estar sempre juntos. Não é como se cada um estivesse seguindo a própria vida. E vocês ainda tem uma mentira que, mesmo virando realidade, vai atormentar a sua mente até você ficar bem velhinha. E você não pode contar para a sua família, ou para Carlisle, porque essa é a coisa mais terrível que alguém podia fazer por dinheiro e, no mínimo, tentarão tirar seu filho de você por ser uma vadia maluca e mercenária.

– Você sempre sabe o que dizer. – Eu fechei os olhos e apertei a ponte do nariz.

– É só deixar rolar. – Ela continuou, começando a se animar. – Quando você estava prestes a se casar, eu disse para aproveitar o bofe, não foi? E olha só a coisinha linda que nasceu disso!

Eu sorri ao ouvi-la, abrindo os olhos outra vez. Alice estava certa (e eu não queria dizer “como sempre”) porque, afinal de contas, todo aquele plano e todas as mentiras resultaram na maior benção que eu já tive na minha vida. Sozinha ou não, eu não podia imaginar tudo o que me esperava com aquele novo morador no meu apartamento, tão frágil e tão dependente de mim. Mais do que nunca, meu futuro era incerto diante dos meus próprios olhos. E, como Edward mesmo disse, isso era incrível.


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Notas finais do capítulo

Ok, esse capítulo foi pequeno e eu preciso admitir que não foi lá muito divertido de escrever. PORÉM é óbvio que a partir daqui algumas mudanças começam, né? Tchururu, Bellinha tá finalmente percebendo que o Edward não é tão ruim assim (o que o bofe em questão já percebeu sobre ela antes). Confusões e mal entendidos à parte, o próximo capítulo é tão importante, mas TÃO importante que eu nem vou colocar o clímax no teaser. Juro, quero vocês de boca aberta na frente do computador. Enquanto não libero a surpresa, vai um trechinho do Edward só pra não perder o costume de deixar todo mundo ansiosa:
"Nenhum de nós dois tinha a menor pressa para acelerar a separação, ocupados demais com nosso bebê cada vez mais ativo. Aos três meses de vida, ele tinha grandes olhos atentos procurando por tudo o que fizesse barulho e mãozinhas firmes tentando agarrar seus brinquedos assim que os oferecíamos a ele."
Até semana que vem!