Suco. Nós não tínhamos mais Avox. Mas algumas pessoas que eram dos distritos e foram tentar a vida na Capital encontraram nesses empregos uma maneira de sobreviver na ainda magnífica Capital. Então, nós tínhamos uma cozinheira. Os sucos eram terríveis, confesso. Mas o café compensava.

Gale estava em meus braços enquanto eu gritava por ajuda. Ele já estava desacordado quando Plutarch chegou correndo. Mais uma ambulância. Dessa vez me deixaram ir junto.

- O que está acontecendo? – as lágrimas que escorriam pelo meu rosto quase me afogavam. O meu Gale estava desacordado, numa maca, suas mãos geladas não eram mais firmes.

- Envenenamento – Uma enfermeira me informou.

Eu ainda não conseguia respirar e minha vontade era tirar Gale dali e tomar seu lugar.

Quando chegamos ao hospital me prenderam a sala de espera enquanto levavam Gale para uma sala branca, gelada e assustadora. Escorreguei no chão do hospital e chorei por horas, enquanto ninguém chegava pra me dar colo. Erick entrou correndo pelo corredor e me colocou em seus braços.

- Respira – ele dizia – respira antes que nós tenhamos que levar você para aquela sala.

- Erick – eu dizia aos prantos – ele...

- Tudo bem – ele disse enquanto me deixava deitar em seu ombro – Não precisa falar. Eu estou aqui.

Fiquei ali por incontáveis horas. Tentei me levantar algumas vezes e entrar na sala em que Gale estava mas ninguém me deixava passar. Plutarch entrou no hospital e corri para seus braços.

- Está tudo bem Jo – ele disse enquanto seus braços gorduchos me ninavam – estamos aqui. Ele vai ficar bem.

Respirei fundo e vi o chão sumir. Escuro, escuro. Não conseguia respirar, não conseguia pedir socorro. Senti meus pulmões falharem enquanto tudo perdia o sentido...

- Johanna, Johanna – a mão de Erick estava molhada e ele jogava um pouco de água em meu rosto – graças a Deus você acordou.

- O que? – ainda sentia meus pulmões, minha voz, minha vida falhar – O que houve?

- Você está há muito tempo sem comer – Plutarch disse enquanto me colocava sentada – mas eu tenho uma boa notícia. Eles salvaram... Seu Gale.

Erick fixou seus olhos no chão, talvez porque meu sorriso era gigantesco demais e eu não conseguia conter aquilo. Não queria partir seu coração. Não mesmo. Mas era meu Gale. E ele estava bem.

- O que está acontecendo Plutarch?

- Johanna, vou ser bem sincero – ele colocou suas mãos quentes nas minhas e me olhou nos olhos – meu medo é que estejam atingindo as pessoas que você ama. Erick, Gale.

- Mas e o tributo? Eu nem o conhecia.

- Talvez uma distração. Alguém tentando te avisar que vai...

- Annie – me levantei num salto e o chão voltou a se mexer – Um telefone, preciso de telefone.

- Vá comer primeiro – Erick ordenou.

- Só depois que eu fizer essa ligação.

Cheguei até o telefone do hospital e disquei o número de Annie.

- Alô?

- Johanna? – A voz de Annie era serena e inocente, como sempre.

- Sim, você está bem?

- Por que não estaria?

- Coisas estranhas estão acontecendo Annie. Não sei até onde elas podem chegar.

- Como assim? – Ouvi o choro de Mike.

- Cadê o bebê?

- Está com a minha mãe. É manha. Ele faz isso agora. – Annie riu e fui obrigada a sorrir.

- Fique com ela. Estou mandando alguns guardas para proteger você. Nada de recusar isso. Eles vão cuidar de você até eu voltar, o que não vai demorar a acontecer.

Annie não respondeu.

- Annie? – perguntei tentando manter a calma – Annie, fale comigo.

Uma voz rouca entrou na linha, uma voz asquerosa que me lembrava uma cobra. Eu conhecia aquela voz.

- Eu ainda não cheguei nela, não se preocupe... Ainda – a voz balbuciou cantante – vou acabar com tudo que você ama aqui. Então quando você estiver devastada o suficiente, Annie e Mike se vão, como Finnick, seus pais, David, Sophia e Jason. Todos eles morreram por você. E todo o resto morrerá por culpa sua. Nem Katniss vai corrigir seu erro. Ninguém vai salvar Panem da maior ameaça. Da estrela que eles cultivaram. Você, Johanna Mason.

A linha ficou muda. Minhas mãos suavam, minha cabeça rodava e todos os meus medos vinham em minha direção, no fim do corredor. Eu conhecia aquela voz. Era Snow.