Mais alguns dias se passaram. Lara ainda estava se recuperando do baque de ter visto Júlio com outra. Ville teve que dormir alguns dias lá, para prevenir maiores desgraças. Mas nada de muito ruim aconteceu, então, Lara resolveu o liberar para alguns dias de folga. Ville não confiou muito, mas ela assegurou que se qualquer coisa acontecesse, ligaria, ou até faria uma visita, já que sua mãe tinha o endereço dele.

A terceira quarta-feira em que estariam juntos foi diferente. Ville acordou bem tarde. Já fazia três semanas que ele não dormia mais com tanta paz e sem uma mulher desconhecida do outro lado da cama. Precisava mudar isso. À noite ele mudaria isso.

O dia dele foi muito normal. Chegava a ser monótono. Não tinha nada na TV, nada na internet, nada pela janela. Queria visitar Lara, mas deixou a vontade passar. Devia mostrar confiança a ela e esse tédio passaria à noite. Mas ainda assim queria saber como sua querida estava, precisava saber.

O tempo passava devagar. Demorou a anoitecer. Mas Ville foi paciente, a noite prometia poucas e boas! Então, quando deu 20h, ele saiu à caça de mais uma mulher indefesa para a sua lista.

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Lara não estava mais acostumada a ficar sozinha. Queria seu Ville, precisava dele. Por mais que ele não fosse ficar com ela no fim, estava apegada, o queria perto, cuidando, ajudando, conversando. Era bom, fazia bem. Mas resolveu não ligar, quis mostrar que era forte e estava se recuperando, mas a vontade era grande.

Passou a manhã e a tarde inteira assistindo coisas aleatórias na TV. Quando anoiteceu, cansou-se. Resolveu fazer uma coisa nova: sair pela noite, ir a algum bar, conhecer gente nova, ouvir música boa. Que mal poderia a acontecer se seu Ville estava a uma ligação de distância? Então se arrumou. Colocou um belo vestido preto, o All Star e a maquiagem de sempre e prendeu o cabelo em rabo-de-cavalo, ainda deixando sua franja sobre o rosto.

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Ville não sabia para onde ir, mas sabia que queria sair. Lembrou-se de Lara. Então foi a um clube no bairro dela, pelo qual sempre passava em frente a caminho de sua casa. Nada iria dar errado. Se ela precisasse, ele já estaria perto.

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Aquela era a primeira vez que saia assim, sozinha, em toda sua vida. Todas as vezes que fez programas parecidos, foi ao lado de Júlio, e esses programas nunca eram divertidos. Quem sabe agora ela não se curasse de vez? Mas ela não tinha a menor noção de onde ir. Só se lembrava de um clube a uns 10 minutos de sua casa. Era o único que conhecia, então resolveu ir lá. O que poderia dar errado?

Ao chegar, foi direto para o bar. Sentou-se ao balcão e pediu uma taça de vinho. Era a única bebida alcoólica que bebia.

A música em volta era boa, mas não prestava muita atenção. Estava concentrada no brilho escarlate do vinho ao reflexo das luzes da pista de dança. Aquilo parecia mais interessante do que qualquer coisa ali. Pelo menos estava fora de casa, e sozinha.

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Ville chegou ao clube e foi observando as mulheres que tinha ali. Todas muito belas. Mas tinha que procurar pela certa, aquela que iria para a lista dele. Aquela que o tiraria o stress do trabalho e o acalmaria.

Não foi muito difícil a encontrar. Ela estava no balcão do bar, com uma taça de vinho. Usava um vestido negro e cabelos lisos em um rabo-de-cavalo. Seria ela! Mas como um bom conquistador, sabia que não deveria ir primeiro na sua vítima fatal. Precisava de uns aperitivos antes, até porque, aquela moça parecia refinada e inteligente, não cairia em nenhuma cantada barata. Então teria que testar sua lábia antes, já que tinha um considerável tempo que não a usava.

Conversou com uma, duas, três... Muitas mulheres. Bonitas, lindas, divinas, perfeitas, mas nenhuma se igualava àquela do balcão, que estava com sua segunda taça de vinho, que tomava demoradamente e agora virada para a pista de dança.

Depois que ele terminou de conversar com mais uma, percebeu os olhos da sua vítima sobre ele. E adorou isso. Ele sentou-se em um canto pouco iluminado da pista de dança. Teria que fazer um pouco de mistério antes de se revelar e a conquistar. Depois de muitas piscadelas e risadinhas, ela havia terminado a taça de vinho. Era aquele o momento. Saiu do breu e foi lentamente se aproximando, assim, também a viu melhor. E a cada passo, aquela silhueta, aquele rosto foi se tornando mais e mais reconhecível. Não podia ser. Impossível ser. Era ela: Lara. Seu segredo estava acabado.

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Toda aquela gente, aquelas luzes, aquela música, o vinho, tudo a mantinha distraída. Mas um momento ou outro ela lembrava-se de Ville. Queria-o ali, do seu lado. Mas resolveu ser forte. Ela estava lá para se divertir.

Demorou muito para terminar a primeira taça. E quando pediu a segunda, resolveu virar-se para a pista de dança. Como ela iria conhecer alguém mantendo uma conversa mental com uma taça de vinho? Rapidamente, seus olhos encontraram um cara que lhe chamou a atenção. Talvez porque a lembrasse do Ville. Mas do que importava? Era alguém novo.

Eles mantiveram contato visual por um bom tempo. Ele piscava, fazia gracinha. Ora ou outra os dois riam. Estava muito divertido. Mas ela queria vê-lo. Sua taça de vinho acabou e essa foi a sua deixa. Ele saiu do breu e foi lentamente se aproximando, assim, permitindo-a vê-lo melhor. E a cada passo, aquela silhueta, aquele rosto foi se tornando mais e mais reconhecível. Não podia ser. Impossível ser. Era ele: Ville. Ele precisaria se explicar.