"Antes de começar a parte das coisas que mais amo. Devo deixar uma nota para mim mesma: Você é estúpida. Completamente estúpida."

Scorpius disse em voz alta, evitando rir.

–A primeira coisa que mais gosto nele, é o seu sorriso. Não aquele cínico, frio e irônico dele de quando está com os amigos. Mas...Aquele sorriso de verdade, sabe? Como quando nós encontramos Atena, sua coruja, na floresta depois de uma noite inteira de procura. Eu nunca tinha visto aquele sorriso, e acho que ninguém jamais o viu. Era tão tranquilo, verdadeiro, como se fosse um garotinho feliz, sem preocupações, sem crueldade, sem nervosismo. Só a calma, como a brisa do vento no outono.

"A segunda, o seu abraço. Por mais que brigássemos, todos os dias, todas as horas, sempre que precisei seu abraço estava ali me esperando, pronto pra me envolver e para ele sussurrar que vai ficar tudo bem nas piores horas. Como eu disse, esse cara é bipolar, tão insensível quanto amigável.

Terceira? Sua calça Levi's. Sempre com a mesma calça velha. Bem, não exatamente a mesma, mas é sempre uma Levi's surrada. Em todos os momentos, desde o dia em que o vi, quando éramos pequenininhos...Estava lá, aquela calça maldita, que prendeu em minha saia milhares de vezes, que eu joguei no Lago Negro para você pegar, que eu pendurei na torre mais alta pra todo mundo ver. Que estava com você, quando...Bom, você sabe.

Engraçado, estou escrevendo como se fosse Scorpius a ler. Que estúpida eu, isso é impossível."

–Porra, Weasley. -Scorpius sussurrou para o papel. Um sorriso agora estranho até para si estava plantado em teu rosto, de modo que parecia tão preso que nunca mais sairia dali.

"Quarta, as suas caretas. Sei todas, uma para cada coisa, uma para cada humor. É tão fofo, quando alguém vai até ele -principalmente sua tia- e começa a dizer o quanto está grande, e diz que logo vai arranjar uma mulher que terá orgulho em carregar o sobrenome Malfoy. Scorpius cora como um tomate, fazendo uma careta de no way, e se afasta o máximo possível da pessoa. Minha careta favorita, sem dúvidas, é essa.

A quinta coisa são seus olhos. Cinzas, e sempre me fitando, como se eu fosse uma caixinha de surpresas, com uma aberração dentro. Ás vezes, poucos minutos antes de eu voltar á realidade e te bater...Ficamos nos encarando, já percebeu isso? Como se nos xingássemos, discutíssemos, sorríssemos. Como se conversássemos com os olhos.

A sexta coisa são seus gostos. Gastronômico, literário. Seus gostos para roupa, seu gosto. Menta. Desde o segundo ano, por conta de um desafio bobo, reconheço seu gosto, seu cheiro. Você me lembra chá gelado de menta."

–Rose.-Ele fechou os olhos, e deixou a lista ali, correndo pelo corredor. Aonde raios ela estava? Queria implorar para que o batesse e o chamasse de estúpido, fuinha. Desde que eram pequenos se conheciam, desde pequeno ele a admirava fodidamente. Como sapatos de Merlin nunca percebera isso? Mas isso não era importante. Scorpius queria saber a última coisa. A sétima coisa, que não tinha mais coragem de ler.

–Rose, Rose, onde você está? Porra, Rose? -Ele gritava, pelos corredores, quando deparou-se com uma menina de cabelos ruivos sentada no chão, olhando para o teto.

– Fala logo, Malfoy.

–Não me chame de Malfoy. -Ele pediu, ríspido.

–Queria que eu te chamasse do que? Potter? - Rose ironizou e abaixou a cabeça, revelando sua face vermelha de choro: -Some daqui e vai procurar sua namorada, antes que ela sinta falta e vá pedir consolo para seus amiguinhos.

–Você é insuportável. -Scorpius sussurrou, sentando-se ao lado dela.

–Ah, jura? Eu sou estúpida, insuportável, chata. E você é enxerido. Pode sair agora.

–Rose, deixa de drama por um minuto. Olhe para mim. -Ele pediu, tocando no queixo dela. -Qual a última coisa?

–Sério isso?

–Me diga qual a última coisa da lista. -Ele pediu mais uma vez, mordendo os lábios, quase perfurando-os.

–Você não l..

–WEASLEY. -Scorpius gritou, assustando-a. O garoto respirou fundo.- Por favor.

–A sétima, mais óbvia, e não menos importante é apenas que eu o amo. Não tem explicação, nem motivos, nem coisas. Eu só o amo. Não só essas coisas que escrevi que gosto nele. Gosto dele por inteiro. -Ela hesitou, e continuou a falar, palavra por palavra, o que se lembrava de ter escrito.- Malfoy não é perfeito. Eu tinha quatro anos quando o conheci. Era uma sexta feira e minha mãe trabalhava com a mãe dele. Nós dois, fomos brincar pelo Ministério. Prometemos que sempre amaríamos um ao outro. Sinto por isso não ter acontecido realmente. Sinto por ter o odiado esses anos todos de Hogwarts e você me odiado, como nos obrigaram. Sinto por não ter tido outra chance. Tido outra chance de chegar perto dele, e dizer.." -Ela parou de falar, abaixando a cabeça.

–Eu te amo. -Scorpius completara, sorrindo radiante.

–Satisfeito? -Rose sussurrou, magoada.

–Não imagina o quanto.- Ele apoiou sua cabeça na parede, rindo de si mesmo. -Rose, olha pra mim, nos meus olhos.

–Diga logo o que quer.- Ela disse. Seus olhos verdes e os olhos dele, cinzas, se fitavam. Pareciam conectados. - Vai me chantagear agora?

–Não.- Respondeu, divertido. E então a beijou.

–Você está bem?-Rose perguntou, com uma cara preocupada.

–E ainda reclama de ser chamada de lerda. -Ele sorria, e entrelaçou as mãos dos dois. - Porra, eu te amo. Não esqueça disso. Nunca. Por favor.

–Que seja. -O sussurro dela era tímido. - Você sabe que é recíproco.

Aquilo era real? Claro.

Mas, quanto tempo duraria? Um dia? Dois? Um ano? Uma década? Uma vida? Só Merlin sabe.