A manhã de sábado estava ensolarada, porém extremamente fria. Do céu caia neve, porém o Sol continuava persistente com seus raios refletindo nas janelas da biblioteca.

Rose estava ali a noite inteira, escrevendo poemas, listas, fazendo desenhos e se afogando em chocolate, como em qualquer história clichê de quando uma menina está magoada e coisas chatas assim. Mas ela até que tinha leve razão para esse drama, o que havia acontecido no dia anterior fora surreal para ela durante uma parte, e cruel na outra. Ela tinha se esquecido que o maldito era um Malfoy. E que Malfoys mentem. Enganam. Que Malfoys são desprezíveis, completamente desprezíveis.

O pior de tudo, é que ela descobrira ser apaixonada por ele. Sim, o retardado que durante a "vida toda" odiou. E Scorpius nunca imaginaria isso, sem dúvidas. Depois de tantos xingamentos, azarações, discussões e socos no menino...A última coisa que ele pensaria é nisso.

Logo ela pegou um pergaminho e suspirou, enquanto uma lágrima rolava por sua face. Queria conversar, mas Lily lhe mataria se a acordasse . Rose queria dizer o quanto o odiava, mas cada minuto ignorando o garoto era como um milênio. Restou á ela pagar de psicóloga para si mesma, botando as coisas para fora com palavras. Que coisa mais de livros de drama.

–Sete coisas que odeio, sete coisas que amo. É, parece justo. -A ruiva sussurrou para si, observando o pergaminho todo escrito. Só faltava uma coisinha e já poderia pensar no qual raios seria o sentido do que estava fazendo.

Rose terminou de colocar o título ridículo -daria um bom nome de filme trouxa meloso, pensou- "Sete coisas que amo e odeio no Malfoy", quando ouviu um barulho na biblioteca. Pulou de susto e se escondeu debaixo de uma mesa qualquer. A menina olhou para o chão e notou um all-star preto seguido de uma calça Levis velha.

Sem dúvida, era Scorpius.

"Droga."

–Hn, o que temos aqui? Uma lista sobre mim? - Ela ouviu sua voz divertida e curiosa, e se arrepiou, fechando os olhos com força. Estava ferrada. -Sete coisas que odeio e amo no Malfoy. - "Quando pensei no título não lembrei do óbvio. Merda."

Ele começou a ler em voz alta:

"A primeira coisa que odeio, sem dúvida, é a vaidade dele. Um típico sonserino. Ele só pensa em si mesmo. Um narcisista, e muito convencido também. Só porque todas as garotas de Hogwarts babam por ele. Um idiota. Sempre arrumado no seu jeito rebelde filho de papai e absolutamente perfumado com aquele cheiro de baunilha. Como eu disse, um idiota.

A segunda? Seus jogos. Brinca com as pessoas, as machuca e depois ri vendo o replay, como se fosse um divertido reality show. E é cruel. Muito cruel. Principalmente com as crianças do primeiro ano. Ele tem um humor negro doentio. Quem consegue achar engraçado um primeirista de ponta cabeça quase vomitando sangue? Malfoy tem problemas.

Deixe-me ver a terceira...O jeito que me odeia, e o jeito que gosta dela. Dominique é uma cabeça-de-vento, como alguém poderia se atrair por aquilo? E, bem, eu não fico lá essas coisas com ele me odiando. Não me lembro mais nem a razão do porque ele me odeia. O que não é importante pra mim, sério, ele tem o amor que merece. Amor de corno por sinal, já que a Dominique é uma garota estilo pizza."

–Uma dá para oito. -Riu, achando graça, logo percebendo o que significava. Analisou mais uma vez em silêncio o que lera e suas pernas o levaram até a cadeira mais próxima, em choque. - Rose? - Sussurrou, olhando pro papel, então jogou-o na mesa e respirou fundo.

"Rose, que Rose? Não, eu não escrevi isso, agora saia, por favor." A menina pensou, fazendo uma careta e evitando encostar em Scorpius. Então a voz dele voltou a preencher o silêncio.

"A quarta coisa, obviamente, é do jeito que ele fica quando está com os amigos, Alvo e os dois Zabini. Scorpius simplesmente se transforma. Fica muito pior do que já é. Fica insuportável. Fica mais cruel, mais arrogante, como se fosse o melhor de todos entre os alunos. Fica mais irracional, mais ridículo com seus comentários maldosos. Prefiro quando ele está sozinho ou somente com Alvo. Até porque o moreno tem um pouco de consciência. Um pouco.

Agora...A quinta. Sinceramente, odeio como ele me faz mal. Me xinga, me diz que sou uma inútil traidora de sangue, me humilha, me magoa. Mas sempre que precisei, ele estava comigo, me ajudando e me acolhendo. Esse cara é bipolar.

E a sexta, é a mais fácil e, bom, mais fútil, mas não tem como deixar de fora. Suas manias, de como anda, como se comporta tão educadamente, e de como fica mexendo no cabelo. É sexy, bonito, deixa qualquer garota babando. Mas ele faz isso toda hora, todo minuto, todo segundo. E é ridículo ver aqueles grupinhos de garotas babando em cima dele, sério. Não que seja ciúmes. Não, definitivamente não é ciúmes. Nem perto disso, ou não acharia essa atitude tão idiota.

A sétima.

Ok, a sétima.

Vamos lá. Eu fiquei pensando por um bom tempo, até entender o que eu mesma queria dizer com isso: Odeio como ele me faz amá-lo.

Não é uma coisa totalmente brega de filmes trouxas. Não é aquela coisa de "eu amo, choro, odeio, sou uma menininha que ama um menininho". Apenas é que não fui eu quem escolhi simplesmente um dia olhá-lo nos olhos e imaginar como ele deve ser por dentro, como ele poderia ser se não me odiasse. Muitos pensamentos não vêm exatamente do modo que queremos ou desejamos, e eu não queria pensar nele desse jeito, juro para os sete ventos. Mas é o que acontece. Malfoy deveria ser repugnante para mim, entretanto não é, e eu odeio isso."

Abrindo a boca num "O" perfeito, o rapaz levantou-se bruscamente da cadeira, pisando no pé da menina escondida. Rose gritou.

–Weasley? Me espionando?

–Claro, o que mais eu faria dentro da biblioteca durante a madrugada, fuinha? - Irônica, saiu de baixo da mesa, apertando sua mão machucada e sorrindo friamente.

–Muitas coisas, vai por mim. Sabia que achei uma lista sobre mim aqui na mesa? -Scorpius tinha uma crueldade em seu sorriso sedutor. - E a letra dessa menina me parece muito com a sua, interessante, não?

–Muito, e mais interessante ainda é que conhece minha letra. Colando de mim, Malfoy?

–Não preciso disso, sabe que sou mais inteligente que você. -O mesmo continuava fitando-a desafiadoramente. - O que fazia ali então, Rose Weasley?

–Dormindo. E você não deve me chamar assim.

–Preferia que eu te chamasse de Dominique? Óbvio que sim, porque ela é a minha namorada, e não você. Sua sangue-ruim.

–Tenho pena dela, não seja estúpido. Acha mesmo que um dia eu gostaria de você? Acorde, Malfoy, isso não é um dos seus sonhos.- Ela revirou os olhos e saiu andando da biblioteca, ainda com ar de desprezo, mas que simplesmente não combinava com seu olhar ligeiramente magoado.

Aguardou até o primeiro corredor e chorou em silêncio. Filho da puta.

Scorpius estava surpreso. Ela não havia batido nele. Tinha apenas dado uma resposta boa e ido embora. Coisa estranha.

–Bom, vamos continuar a ler.. -Ele disse á si mesmo, suspirando. Talvez não fosse Weasley a autora. Merda.

Digo, quem mais ele iria odiar, não?