7-100: Memórias De Sangue escrita por Jena_Swan


Capítulo 1
Capítulo 1




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  - Eu poderia lhes mostrar o teste, para quem estiver interessado - disse o professor. Ele estava falando a meia hora, o velho. 

  Insuportável.

  Reparei que a cada cinco palavras ele olhava para mim, queria saber se eu estava acompanhando e ele sabia que estava. Claro. Sou seu melhor aluno. De longe o mais inteligente. Sei que o estagio em seu hospital psiquiátrico já é meu, nem sei porque me preocupar.

  Aliás, não me preocupo.

  Ele escreveu PCL-R bem grande na lousa. Rolei os olhos. Sério mesmo? Iríamos entrar nesse assunto? Tãaao entediante... Mas, tudo bem.

  Anotei. 

  - Elijah! - Arrá! Eu sabia que ele ia me chamar. A cada cinco teorias o velho me chama. Parece até que eu sou o professor. Vi meus colegas de classe (esses inúteis) me olharem com inveja e um pouco de irritação. Sabiam que eu iria acertar a resposta.

  Claro que eu iria.

  - Pois não, professor? - respondi com minha voz calma e mansa. As pessoas gostam de outras pessoas quando não se sentem ameaçadas por elas. Logo, tenho de ser bonzinho e não me mostrar ameaçador e então irão gostar de mim. Não que me importe, mas, os lobos se dão melhor vivendo em grupos.

  A frase do lobo em pele de cordeiro é bem real, sabem? 

  Eu sou o lobo.

  Eles, os cordeiros. Bobinhos.

  - Será que você sabe nos dizer sobre o que estamos falando? - e apontou para o PCL-R escrito na lousa.

  Rolei os olhos mentalmente.

  - Está falando sobre o Psychopathy Checklist, Revised, o teste do psicopata, criado por Robert Hare.

  A cartilha numero um de minha existência.

  - E saberia dizer seus fatores?

  Suspirei.

  - Egoísmo, indiferença e ausência de remorso, medido pelos itens: Loquacidade e Charme Superficial; Superestima; Mentira patológica; Manipulação; Ausência de remorso ou culpa; Insensibilidade afetivo emocional; Indiferença e Falta de empatia eIncapacidade em aceitar responsabilidade pelos próprios atos.

  Falando assim faz com que me pareça um monstro.

  Mas, sou tudo isso, é verdade.

  Bom, talvez você não queira acreditar em mim não é? Afinal, está escrito logo ali em cima que tenho habito, patológico, de mentir.

- Devo citar o fator 2?- perguntei inocentemente.

  - Ah, não obrigado. Muito bem - ele arqueou as sobrancelhas. Peguei você nessa né, velho? Aposto que não sabia que eu estava a sua frente nessa matéria.

  Claro que não.

  Afinal, esse sou eu e não você.

  - Bem, acho que podemos começar o assunto novo, sobre psicopatia, como já adiantou nosso colega Elijah, assim que lhes passar suas notas.

  Alguns alunos concordaram. Algumas meninas tremeram diante do novo tema. Em que será que pensavam? Hannibal? (cara, adoro ele), Dexter? Jason? Jack, o estripador? Preciso de pôsteres desses caras em minha parede.

  Também seria legal conseguir um do Zodíaco*.

  Eu apenas cruzei os braços e observei. Alguns garotos comemoraram o tema. Hum eles gostavam de psicopatas, é? Seria interessante saber disso.

  Esperei o professor Brody me chamar. Minha nota era a mais alta. Brody estava surpreso, encantado na verdade. Fiz meu ar de menino encabulado. 

  - É verdade Elijah! Você tem talento! - ele colocou as mãos nos meus ombros para enfatizar.

  - Não sei professor... Não acho que esteja me dando bem no curso - Menti. Psicologia reversa. Ele agora iria me convidar para trabalhar com ele como incentivo e prova de sua crença em mim.

  Manipulação.

  Está na listinha de coisas que sei fazer com maestria, segundo o PCL-R.

  - Olhe... Porque você não vem comigo para o hospital? Pode fazer o estagio em psiquiatria comigo! Sim, assim será feito! A vaga é sua, que me diz?

  - Não sei professor... Não irá lhe dar problemas? - Dane-se se desse problemas, pensei. Não me importava a mínima.

  Ausência de remorso, culpa e indiferença. Sou bom nisso também.

  Vê como meu currículo é recheado?

  - Não, claro que não Elijah! 

  - Nesse caso... - sorri timidamente. Isso, muito bom Elijah. Nota 10 no quesito “demonstração de sentimentos”. Estou melhorando nisso. Ficando realmente bom - Eu aceito.

  Meu Deus, estou quase acreditando que realmente estou comovido pelo gesto do professor!

  Cara, sou muito bom!

  Ah, um conselho meu... Não dê bola aos meus pensamentos. Sabe como é, sou um egocêntrico de carteirinha, faz parte de meu ser. Se você me suportar, garanto que suportará a tudo depois disso. Não resisto a elogiar minha genialidade.

  Eu com certeza estava merecendo um Oscar porque o professor me deu um forte abraço de comemoração.

  - A psiquiatria jamais será a mesma com você trabalhando nela! - ele disse emocionado. Realmente, ele me via como um gênio.

  Não que eu não seja.

  Quanto drama. Tudo por uma vaga num hospital decrépito de loucos.

  Ops, é melhor eu maneirar. Tem bastante gente como eu nesse "lugar decrépito". Vou maneirar.

  Eu tento pelo menos.

  Desde os 15 anos, quando uma psicóloga disse para minha mãe que eu tinha "Transtorno de Conduta e Personalidade Anti-Social".

  Puxa vida eu me pergunto por que ela não virou logo e disse:" Ei, parabéns, você tem um psicopatinha na família!" Aquela grande piranha...

  Eu viria a aprender o que sou depois, com mais calma, aqui na Seasons mesmo. Eu tenho a teoria do que sou. Um psicopata. Não estou escondendo de ninguém, hein.

  Só ocultando dos curiosos.

  Mas, o mais importante é que, avaliando as coisas como fiz, acho que sei onde os babacas estão errando. Sei quais são os pontos chave que entregam os psicopatas, por isso são presos.

  Sei como reverter isso. 

  Sei e posso.

  Deixe pra mim.

  A história da psicopatia jamais será a mesma. 


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Notas finais do capítulo

* Famoso serial killer dos EUA, dos anos 60 cujo caso foi oficialmente encerrado em 2004.