Colecionadores De Segredos. escrita por Lioness


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Heeey gente!
Mais de um mês sem postar hein! Desculpem a demora, sinceramente. Não estava conseguindo escrever direito, tudo saía horrível, recomecei um monte de vezes, mas enfim, em compensação, trago este capítulo enorme só pra vocês, meus leitores lindos!
Ah, e sei que ando reclamando de mais e tal, mas poxa, só tive três comentários capítulo passado, e sei que tem muito mais leitores. É broxante, então gente, por favor né, não custa comentar, isso me ajuda muito!
Enfim, taí o capítulo fresquinho pra vocês!
Boa leitura :3



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Capítulo 18

A música calma e suave ecoava um tanto quanto abafada de seus headphones envolvidos em seu pescoço e parcialmente cobertos pelo longo cabelo violeta. Uma melodia gostosa, que se espalhava facilmente pelo ambiente devido ao silêncio monótono.

O Sol já irradiava vagarosamente quando ela começou a abrir os olhos, lentamente. A boca entreaberta criava leves vincos enquanto ela recobrava a situação, onde estava e que dia era. Piscou algumas sequencias de vezes devagar, até se acostumar com a iluminação e bocejou, espreguiçando-se. Ergueu a coluna de modo a ficar sentada e olhou ao redor, estava sozinha. Estranhou tudo aquilo. A cama de Ino estava impecável, enquanto a de sua amiga rosada estava em completo caos. Olhou para o lado e viu seu Ipod e seu celular sobre o criado mudo. Afastou os cabelos amassados dos olhos e pegou ambos. Um ela desligou, o outro ela percebeu que vibrava. Uma mensagem. Uma nova interrogação surgiu em sua face. Coçou os olhos com o punho cerrado a fim de limpar as remelas e enxergar melhor para então ler o texto. Era de Sakura. Ela explicava porque não se encontrava e pedia desculpas pela confusão, depois conversaria tudo que devia com ela. Despedia-se com vários abraços e um “se cuida” que ela pode perceber que era sincero. Sorriu de leve, Sakura sempre preocupava com ela e ela gostava disso, mesmo quando coisas malucas aconteciam misteriosamente em que a amiga estava envolvida. Ino e Sakura... Riu timidamente. Aquelas duas eram confusão na certa, mas eram como duas irmãs maiores.

Levantou-se preguiçosamente, procurando com os pés suas pantufas debaixo da cama. Alongou-se obtendo um estralo em suas costas e caminhou calmamente até o frigobar. Coçou novamente os olhos e abaixou-se para tirar uma garrafa de água. Bocejou e voltou a andar para sua cama, bebendo a leves goladas. Olhava pela janela e admirava a manhã. Estava um pouco nublado, mas com Sol, o que significava que a tarde seria de um dia de céu azul e ensolarado, do tipo que ela mais gostava. Riu consigo mesma, acordara feliz.

Entretanto, estava tão distraída que mal percebeu a mesinha de centro a sua frente. Resultado: uma topada forte em seu pé – que se caso não estivesse de pantufas seu dedinho estaria roxo – e meia garrafa de água derramada no chão. Soltou um “Ai!” abafado e abaixou-se para massagear o pé dolente, deixando o objeto que tinha nas mãos ao seu lado. Praguejou um pouco e levantou os olhos para o empecilho culpado do estrago. “O que isso está fazendo aí?!” perguntou-se mentalmente. Contudo, algo lhe chamara a atenção. Sua bolsa abarrotada de livros e cadernos estava lá, em cima da mesa. Isso lhe lembrou do dia anterior, com “O tal Uchiha...”. Sorriu tímida. Quem sabe ele ainda estivesse no colégio...? Ainda não haviam escolhido o dia para os estudos. Iria procura-lo e talvez estudassem até mesmo naquela tarde.

–------------- xx --------------

–-Aah... – arquejou cansada, jogando-se no sofá e massageando a perna ferida – Tudo bem, eu desisto, você ganhou.

–-Sakura-chan, eu sempre ganho. – sorriu um sorriso largo, maroto e cheio de dentes.

–-Hey, Hikaru, deixa de ser metido! Só ganhou porque tirou vantagem que estou machucada. – afirmava entre risos enquanto ele ajeitava-se perto dela.

–-Sakura-chan, deixe de ser uma má perdedora e admita que sou melhor que você! Olha, não tem problema – colocou sua mão no ombro dela e sorriu em um cinismo plausível – eu ainda vou ser seu amigo, então pode deixar o orgulho de lado e aproveite este privilégio sem comparação.

–-Oh, privilégio é?! – arqueou a sobrancelha direita – Então que você – pigarreou – ou melhor, o magnânimo Hikaru-sama, tome sorvete sozinho, vá passear no parque sozinho, coma cachorro quente do Hayato-san sozinho e passe à tarde sem a minha ilustre companhia, que esse privilégio eu dispenso – fez menção de se levantar, com um sorriso vitorioso interno quando sentiu ele a puxar de volta.

–-Mas é claro, sempre há exceções na minha agenda. – sorriu sapeca, ela riu gostoso, trazendo-o para mais perto de si – O que te aconteceu? – ela suspirou profundo girando a cabeça de leve para o lado, já estava farta daquela mesma pergunta.

–-Eu machuquei.

–-Poxa, sério?! Isso nem passou pela minha cabeça! – debochou e a rosada arquejou novamente – Pode abrir o bico. Se alguém te machucou eu juro que...

–-Ei, não é nada disso. Eu só escorreguei e cai.

–-Sakura-chan, eu sei muito bem quando está mentindo.

–-Não estou mentindo!

–-Ou omitindo.

–-Escorreguei no jardim, estava chovendo, a grama molhada e tinha alguns galhos.

–-Sakura-chan, porque tenho a impressão que está faltando algo...? – questionou com uma de suas sobrancelhas arqueadas.

–-Por não tem mais nada, é só impressão. – deu de ombros.

–-Está doendo?

–-Não. Além do mais, tomei alguns analgésicos.

–-Então, não vai se importar se...? – olhou de soslaio para ela, com aquela expressão de lábios juntos em um biquinho de bebê, sobrancelhas arqueadas e a fajuta cara de anjo que fazia para as estagiarias que não conheciam seu hábil costume de fingir quando queria algo. Sakura riu.

–-Vamos. – prepararam-se – Um... Dois... – deram as mãos – Três!!! – com toda a força bateram as costas contra o sofá, derrubando-o no gramado de costas, sem conseguir controlar as risadas compulsivas. Na visão horizontal, apenas viam as solas de seus sapatos em seus pés, balançando.

–-Fazia um tempão que não fazíamos isso. – disse o menino esticando os braços, querendo alcançar o céu.

–-Ah... – soltou frustrada – pena que hoje o tempo está fechado.

–-Mas tem um pouco de Sol aparecendo entre as nuvens. Olha como sou especial, Sakura-chan, foi só eu aparecer no jardim que já começou a iluminar.

–-Eu já falei pra deixar de ser convencido! – deu um soco “leve” no braço do garoto, que por sua vez gemeu entredentes afagando o lugar do impacto, com uma carranca rabugenta.

–-E eu já falei pra parar de ser uma monstrenga insensível, cruel e sem coração. – resmungou baixinho, mas ela escutou – Assim seria uma garota normal, mas quem disse que me escuta?!

–-Hi... ka... ru. – uma áurea negra crescia entorno da rosada, enquanto ela estremecia – Do que, você – bruscamente, se virou para o loiro e puxou e apertou suas bochechas como se fossem borracha – me chamou...?

–-Isso mesmo que escutou! – esforçava-se para falar (mas falava vociferando) já que toda sua gengiva estava à mostra de tanto que Sakura puxava, cada vez mais forte – Se fosse normal já teria namorado! E olha só pra você, mais solteirona que a tia gorda que faz o almoço! E olha que ela tem sete gatos! – começou a se atracar com a rosada, usando a mesma tática.

–-Moleque, eu vou te ensinar a ter respeito! – puxou-o para baixo pela orelha.

–-Olha só quem tá falando, a garota que escorregou na grama! – começou a puxar-lhe os cabelos.

–-Saiba que gramas são muito escorregadias quando molhadas! – esbravejou, começando a puxa-lo pelos braços.

–-Uma desculpa pra não te chamar de energúmena desajeitada! Tá vendo?! To falando que não vai arranjar um namorado desse jeito! – atacou-a de mesma maneira, ficando face a face com ela, ambos se bloqueando.

–-Pelo menos, os meninos não fogem de mim como as meninas fazem com você!

–-Mentira! Testa de marquise!

–-Cabeça de macarrão!

Estavam lá, os dois, de joelhos no encosto do sofá derrubado no meio do jardim. De fato, era realmente estranho um sofá marrom café ali, bem ali, onde com total certeza ele não se encaixava. Mas havia uma boa história por de trás daquele monte de estofado forrado pelo tecido escuro, surrado, macio, fino e semidestruído devido tanta chuva e tanto Sol, por mais que protegessem. Aquele sofá não podia guardar melhores memórias. Para as duas crianças, onde quando sentados ali, permaneciam crianças, se sentiam crianças, se sentiam bem, independentes de suas idades e acreditavam que seria assim até o fim. Ali era sua Neverland, onde Peter Pan era a mancha clara no lado esquerdo e Tinker Bell era a pequena folha de oliveira presa no lado direito. Era ali onde mais gostavam de ficar.

Fitavam-se, um penetrando os olhos do outro, um tentando fazer uma carranca mais séria que o outro, quando as esmeraldas e os méis apertaram-se, as bochechas encheram-se de ar e os lábios forçavam manter a pose, mas não continham as risadas que insistiam em escapar através de lufadas de ar por entre os dentes. Até quando desistiram e caíram em uma gargalhada sonora, gostosa. As enfermeiras os observavam com um sorriso sincero no olhar, da visão horizontal, onde apenas viam os pés se debatendo freneticamente.

–-Você tinha que ver sua cara! – exclamou a rosada entre risos, caindo de costas junto com o loiro, afagando a barriga com a mão.

–-E você poderia assustar uma criança! – disse inocente, rindo, mas parou quando recebeu um soco forte no braço.

–-Hey! – ela o fitou brava por alguns segundos, mas voltaram a rir, embora mais suavemente.

–-Sakura-chan – aconchegou sua cabeça no encaixe do pescoço dela, sentindo seu perfume misto de um leve adocicado e um toque amadeirado sutil – não me provoque mais, senão, será pior. – zombou.

–-Sim, não discordo, será bem pior pra você. – sorriu de canto, fazendo um gostoso cafuné no amigo.

–-Já disse que amo seu cafuné? – meio que ronronou.

–-Acho que percebi.

–-Hey – virou com dificuldade a cabeça a fim de olha-la nos olhos – porque não mandou notícias? Fiquei preocupado. Aconteceu alguma coisa? – ela engoliu em seco. Havia ocorrido muita coisa, com certeza. “Naruto...” sorriu internamente. Estranhamente, uma boba alegria borbulhou dentro de si ao lembrar-se do rapaz, trazendo-lhe um pouco de serenidade, ocupando lugar suficiente para esquecer-se de seus problemas.

–-Eu conheci algumas pessoas legais, estive ocupada com afazeres. Desculpe. – beijou o topo de sua cabeça sorriu bobamente.

–-Tudo bem. E teu pai...?

–-A propósito, não poderei almoçar com você, mas passarei aqui à tarde pra te buscar, mas não poderei ficar muito tempo, desculpe Hikaru.

–-Sakura-chan...

–-Ele está bem.

–-Ah... – ele sabia que ela havia entendido seu objetivo em sua pergunta, provavelmente não estavam tão bem, mas não insistiria. Aquele não era o momento. – Ah! Olha só! – apontou para o céu, o vento salpicava ambos os cabelos para todos os lados – aquela nuvem parece nosso sofá!

–-Não... Está mais para uma cabeça gigante de orelhas pequenas.

–-Não seja chata, Sakura-chan.

–-Aquela parece um dragão enorme!

–-Ho! Ho! Essa eu concordo.

–------------- xx --------------

–-Urg, Teme, por que não me ajudou?! – resmungou alto enquanto esfregava a toalha em seu cabelo, espalhando gotículas de água para todos os lados, inclusive dentro da boca do velho semi desmaiado na cama.

–-Simples, por que eu não quis. – o loiro o fuzilou com os olhos, jogando a toalha de lado e vestindo-se.

–-Bastardo filho da mãe. Pensei que fosse meu amigo.

–-Ser seu amigo não envolve em eu me sujar por uma burrice sua. – ajeitava a jaqueta ao corpo, puxando a gola.

–-Lógico que inclui!

–-Não quando o caso é vômito ou envolve Jiraya-sama.

–-Ingrato. Quando precisar, não espere nada de mim.

–-Seu coração mole não resistiria em me ajudar e eu não me envolveria em uma cena estúpida e patética como essa. – o olhou de soslaio e riu pelo nariz, com um leve sorriso de canto. Naruto estava com a habitual carranca ofendida.

–-O que fazemos com ele? – apontou com a cabeça para o velho deitado.

–-Uma hora ele acorda.

–-Mas e se ele quebrar tudo?

–-Não vai. Ele já vai estar sóbrio quando levantar.

–-Isto que eu tenho medo. Não se esqueça de que ele vai estar em uma ressaca horrível!

–-Por isto deixei a garrafa de café ali, ao lado. – apontou com o dedo – Não se preocupe, se ele quebrar algo, você conserta.

–-Heey! – esbravejou escandaloso como sempre – Por que eu sempre faço as coisas?!

–-Por que sim.

–-Teme! – bufou rangendo os dentes.

–-Baka, estou saindo. – avisou já deixando o quarto.

–-Ei, espera, estou indo junto! – dizia terminando de calçar os sapatos todo atrapalhado e apressado enquanto andava – tentava – ao rumo de Sasuke, não sem antes buscar o agasalho que já esquecia. Bateu a porta ao sair – E a permissão do Ero-sennin?

–-Não tá vendo que ele não vai assinar tão cedo?

–-Desculpe, ó senhor esperteza! – balançou as mãos pra cima debochadamente – Vamos assinar o nome dele?

–-Exato. Se ele está assim, imagino que os outros não estejam tão diferentes.

–-Ele vai levar uma bronca... – parou por um segundo e pensou. Riu maldosamente ao pensar no velho de cabelos brancos levando advertências. Não seria como a vingança que queria, mas dava pro gasto. Sasuke, mais uma vez, sorriu de canto.

Caminharam na maioria do tempo em silêncio, com exceção de rápidas conversas. Passaram em silêncio absoluto pelo hall e assinaram a permissão de saída na mesa da secretária que continuava em seu cochilo – Sasuke sabia muito bem como imitar a letra de seu superior. Não havia se passado tanto tempo desde que Sakura sairia.

Ambos, loiro e moreno, pegaram um taxi juntos e mal postos os pés na calçada, seguiram rumos contrários. No fundo de cada um de si, algo pinicava em seus peitos, uma inquietação irritante, meio que ansiedade. Ver a cidade, como apenas o que ela era, era algo novo. Algo que borbulhava dentro dos dois, um sentimento distinto.

–------------- xx --------------

–-Hi... – hesitou por um momento, não sabia se faria bem em comentar com o garoto quando nem ao menos tinha certeza do que achava que tinha – Hikaru – prosseguiu baixo – eu conheci alguém essa semana... É um garoto. Ele é estranho, tem marcas esquisitas na bochecha, um cabelo dourado e olhos bem intensos, azuis. Sabe, ele é meio idiota, lerdo, mas... Não sei... Ele parece meio diferente... Ele me trata bem. Ou melhor, ele me trata muito bem. Na verdade, ele fez umas coisas que ninguém nunca fez. Sei lá, ele é bom, está sempre sorrindo, fazendo os outros sorrirem. Burro como uma porta, inocente, não enxerga um palmo em sua frente. Hinata treme perto dele e acho que ele nem percebe. Mesmo assim, eu... Eu gosto de estar perto dele. Não nos conhecemos nem há uma semana completa, mas ele já me considera sua amiga, mas amiga de verdade mesmo. Ele... – riu bobamente – ele me protegeu. Literalmente. E quando eu perguntei o porquê, ele me disse que, como poderia ser meu amigo, sem nem ao menos se preocupa comigo?! Parece o tipo de coisa que você diria, hein Hikaru?! – apertou o garoto que estava encostado em si, escutando tudo em silêncio. No exato momento que espremeu seus ombros, escutou um sonoro e gostoso ronco. Virou o rosto do garoto e constatou que ele dormia – Hikaru? – balançou-o de leve – Hikaru!! – agora o fez com mais força, praticamente sacudindo-o, nervosa.

–-O q... – despertou assustado – Sakura-chan?

–-Você estava dormindo?! – vociferou.

–-Claro ué, suas conversas são muito chatas. – deu de ombros, mas foi imediatamente sacudido de novo.

–-Moleque, eu aqui, desabafando, contando o que aconteceu, e você dormindo?!! – esbravejava.

–-Dá pra parar de sacudir? Coisa chata! – ela o soltou de uma vez, deixando-o cair para o lado massageando a cabeça. Seu cérebro ainda balançava.

–-Tudo bem. – virou emburrada.

–-Sakura-chan... – aproximou-se de mansinho, percebendo que ela realmente ficou chateada – Desculpa, mas é que eu acordei cedo e a gente já tá aqui há um tempo né... – ela continuou de costas, de braços cruzados e com bico – O que estava falando?

–-Não falo mais.

–-Era importante?

–-Não sei... – disse sarcasticamente, dando de ombros.

–-Sakura...

–-Deixa, não era nada mesmo. – virou-se, mais calma. Às vezes teria sido melhor ele não escutar – O que quer fazer hoje?

–-Que tal um cinema? Depois passamos no parque. – disse empolgado.

–-Que filme?

–-Qualquer um que não seja aqueles romances nojentos e antigos!

–-Tudo bem, vamos ver.

–-Sakura-san – a voz cansada e apressada ecoou de uma enfermeira ainda longe chamando a atenção dos dois enquanto se aproximava – seu motorista, – pausou para tomar ar – ele chegou.

–-Já? – disseram ambos em uníssono.

–-Quantas horas? – a rosada perguntou.

–-Onze e cinquenta.

–-Freddo, sempre adiantado... – murmurou – Assim que almoçar, eu venho ok Hikaru? – proferia enquanto se levantava junto ao loiro – Meu pai quer conversar comigo.

–-Okay, Sakura-chan. Boa sorte, viu?

–-Fica bonitinho, tá? – afagou os cabelos dele, bagunçando-os.

–-Digo o mesmo, quem sabe arranja alguém. – sorriu falsamente e acabou com o carinho com um soco de leve em sua cabeça. O menino não deixou de resmungar.

Sorriu contente, deixando o garoto loiro para trás e acompanhou a enfermeira em silêncio. Estava certa, visita-lo realmente melhorou seu humor. Uma pena que este, muito provavelmente, seria arrasado por seu pai. Ela sabia – e muito bem – que quando ele a visitava no colégio e dizia que queria conversar, muito possivelmente era sobre uma conversa que causaria uma discussão desgastante que, no final, ela acabaria cedendo, obrigada, independente do que possa ser. Só queria saber o tema desta vez.

Ao sair pela grande porta do orfanato, despedindo-se da enfermeira, deu de cara com o chofer em pé, ao lado da porta do carro aberta. Sorriu gentilmente.

–-Freddo, está adiantado! – exclamava entrando no veículo.

–-Não podemos atrasar, sabe como seu pai é. – advertiu fechando a porta e entrando no lado do motorista.

–-Onde vamos almoçar? – questionou quando ele já dava a partida.

–-Parece-me que em sua própria casa.

–-Em casa?! – estava realmente surpresa – O que deu nele hoje?

–-Não sei. O humor parece ser o de sempre, mas quem sabe ele esteja apenas tentando te agradar? – ela bufou.

–-Acho difícil.

–-Sakura-sama, seja positiva!

–-Freddo, estou sendo realista. Como... Como ele pode mudar tanto, hein Freddo? – perguntou sincera, com o cenho franzido – Ele... Não era assim... Ele até me mandou pra ...

–-Você estava muito mal Sakura, precisava de ajuda. A perda da sua mãe te afetou muito.

–-Precisava me internar?! Freddo, não sabe o que passei! Não sabe o que eles faziam com a gente, a pressão, os dias de terapia. Não era só uma escola e clínica, era praticamente um reformatório para... Para pessoas... – bufou – O único lado bom foi que conheci Gaara. Ele estava pior do que eu, e ainda ficou ... Minha mãe... – estremeceu. Sua voz fraquejou e ela recolheu apertando o punho cerrado contra as coxas – Não iria querer me ver . – seu tom de voz era baixinho e melancólico – Ele não precisava me ajudar assim.

–-Do jeito torto dele, eu tenho certeza que te ama. – consolou-a, odiava ter de vê-la triste. Um aperto incomum misturado com um pouco de culpa fazia seus olhos balançarem e marejarem.

–-Às vezes, eu me pego perguntando se o que disse é verdade mesmo. – o chofer a olhou pelo retrovisor com um olhar de pena. Ela fungou um pouco e esfregou as costas de suas mãos contra os olhos, enxugando quaisquer resquícios do que poderiam ser lágrimas – Mas, vamos levando, certo? Tenho que honrar mamãe, fazer valer a pena. – forçou um sorriso.

–-Eu te admiro, Sakura-sama. – ela olhou para ele com uma interrogação no rosto – Você é a garota mais forte que eu já vi. E olha que as italianas são osso duro de roer! – ela riu.

–-Obrigada Freddo, você é meu melhor amigo, meu pai também. Mas não acho que possa peitar suas conterrâneas. – ele riu.

–-Acredite, teriam grande chance de empatarem! Mas não problema, te ensino como ser uma! Seria uma bela italiana, com esses cabelos rosados... Dá até gosto de imaginar! – exclamou expressivo. Sakura ria, não muito, mas os sorrisos pequenos e singelos eram suficientes para acalmar seu coração.

–------------- xx --------------

O vento melódico e fino intercalava por entre as mechas negras de seu cabelo, que assim como si, untavam-se às sombras macabras e escuras que se formavam. A expressão soturna e indecifrável dava-lhe um ar misterioso. Em real fato, mal poderia ser visto e quase desmoronava de tédio.

Uma de suas pernas estava caída sobre a parede enquanto a outra servia de apoio para seu braço. O muro em que estava era consideravelmente alto e uma largura que mal o suportava. Uma queda, com certeza, faria um estrago notável. Entretanto, não para ele.

O sangue frio corria euforicamente pelas veias de suas mãos até as pontas dos de seus dedos alvos, estes sedentos de algo que ele sabia muito bem o que era, afinal, ele também estava em mesmo estado. Morte. Sim, estava sedento pela morte. Desde sua missão com o insuportável e patético Noruma, não havia se movimentado mais, não havia ferido mais, não havia matado ninguém.

Riu internamente. Era um sádico. Sempre houvera de ser. Havia sido criado para isso. Ver sangue escorrer por suas mãos, assassinar, presenciar sofrimentos e agir indiferente a tudo, sem misericórdia, frio, tornou-se até suavemente prazeroso com o passar do tempo. Sua vida inteira matou por simples ordens. Se não fosse pela influencia de seu amigo Naruto, seria pior, e muito possivelmente nem ao menos deixaria seu chefe. Ainda assim, admitia, sentia falta de ver alguém agonizar em suas mãos. Era divertido, por mais que levasse a sério e fosse estritamente profissional em seus trabalhos. E agora suas mãos clamavam por sangue.

Contudo, já não era mais uma omitida escória da sociedade. Era alguém. Um cidadão. E como tal, arcaria com as consequências de seus atos. No momento, o mais racional que poderia fazer é restringir-se de certos prazeres e reprimir o que sentia.

–------------- xx --------------

–-Pai... – quebrou o silêncio desconfortável entre os dois soltando o garfo e faca ao lado do prato, já cansada de esperar pela atitude do homem – Não vai me dizer o motivo da convocação?

–-Sakura, não seja descortês. – repreendeu sem tirar os olhos do prato – Sabe muito bem que é falta de educação comentar sobre assuntos a parte durante uma refeição.

–-Pai, me poupe, estamos apenas nós dois.

–-Não interessa. Como se comporta aqui refletirá em como se comporta em um almoço importante. Além do mais, está não é maneira de conversar comigo – ergueu o olhar e limpou a boca com o guardanapo minuciosamente. O timbre distante de sua voz nunca mudava – Entretanto, se insiste tanto em saber, eu quero notifica-la que assim que se formar, irá para o curso preparatório na Suíça. Temos que trabalhar seu potencial, ainda está muito bruta.

–-Me notificar? – cuspiu as palavras, incrédula – Você quer realmente me notificar? Então quer dizer que já tomou a decisão?!

–-Sakura, por favor, estamos em pleno almoço, não seja imatura.

–-Você não pode decidir por mim! Você sabe que eu quero ir para a faculdade de medicina, superar meu trauma. – bateu a mão contra a mesa.

–-Embora seja um bom curso, não será uma médica a cuidar dos meus negócios que deixarei em suas mãos. Inadmissível. Já está decido. A propósito, em poucos dias terá um evento de grande importância ao qual quero que vá e se integre à pessoas importantes. Talvez encontre seu amigo. Talvez consiga chegar até o pai do garoto, ele é uma pessoa bastante influente. Precisará de aliados formados por você mesma. Mas, não quero ter de vê-la acompanhada de mais pelo Sabaku, alguém que acabou de sair de uma clínica... – disse com desdém.

–-Pai, eu não... Eu não acredito! Olhe o que está falando! – exaltou-se – Eu sou alguém, um ser vivo que sente, que gosta de tomar suas próprias decisões! Não vou para Suíça! Não vou me isolar mais uma vez, deixar meus amigos... E como você fala de Gaara – ele a fitava sem expressão, frio – mas não para pra se lembrar que eu saí do mesmo lugar que ele estava! A escola psiquiátrica para a qual você me mandou! Eu sofri naquele lugar. Sofri – segurava as lagrimas que já marejavam seus olhos – Mas você nem uma vez se que se manifestou ou lembrou-se de me mandar algo. Só sabia que ainda existia porque todo mês eu continuava lá, sinal de que alguém ainda a pagava. Gaara... Ele foi meu amigo. Foi meu escape e minha segurança para não pirar de vez!

–-Acabou? – ergueu novamente o olhar para a rosada que continuava pasma com a falta de sentimento vinda de seu pai – Pare de agir como uma criança e aceite as coisas como uma adulta. Além disso, já lhe disse para não tocar naquele assunto.

–-Como você pode ser tão indiferente...? – ergueu-se – Noruma! Noruma morreu a não menos que uma semana, seu amigo de longa data, grande amigo eu pensava, e você se sentiu aliviado por isto?! E quando eu estava mal, a solução que achou foi me internar quando o que eu precisava era justamente de você!

–-Basta! – exaltou-se, erguendo-se da cadeira também – Não admitirei que fale nesse tom comigo! Você estava péssima, o internato foi a melhor solução! Não sabe o trabalho que me deu para abafar que iria para aquele lugar!

–-Os pesadelos? Eu os tenho até hoje! As mesmas dores, tudo! Ainda vejo mamãe morrendo, bem a minha frente, quase toda noite! Ainda tenho fobia de cadáveres e sangue! Os surtos? Nunca passaram. Sabe por que eu estou mancando? Tive de levar pontos, por aquela mesma razão! Se eu era extremamente deprimida, a culpa também era sua! Você não sabe como é doloroso só me lembrar da minha mãe, na maioria das vezes, morta, escorrendo em seu próprio sangue pela parede e morrendo, manchando-se em escarlate, pouco ao pouco, em sua própria poça de sangue! As palavras dela, nunca me saem da cabeça, assim como o som estrondoso de tiros contra ela. Não sabe como foi difícil crescer com isso na minha mente! Sei que nunca saiu, que nunca vai sair. Mas você, pai, não parou para reparar nisto antes de se agravar, não parou para olhar para sua própria filha. Não parou para, ao menos, vê-la uma vez no dia. Não a criou. Não sabe como é difícil suportar toda esta pressão que joga sobre mim. Não sabe como é sórdido acordar em choque e ter de se arrastar ao banheiro e se cortar para acordar, ter de ver seu próprio sangue escorrer por você mesma e fazer isto com certa frequência... Eu não tive um pai, mesmo que eu tenha me esforçado para chamar sua atenção. Quando eu era criança, eu sentia doer, doer muito, bem no fundo do meu coração quando eu apertava contra o peito aquele bigode que você usava, sentada em canto da sala, no qual você sempre passava, mas não me notava. Doía me sentir sozinha, ver meu mundo se virar de ponta cabeça sem ajuda de ninguém, era agonizante, lacerante, me sentir esquecida, ainda uma criança... E naquele maldito lugar onde me enfiou, eles nos tratavam mal, oprimiam, ditavam regras, puniam severamente e nos tratavam como bastardos loucos e ricos, mas você não se importava, nem ao menos respondia a minhas cartas. Eu costumava, e ainda costumo criar realidades malucas e ilusões, imaginar olhando para o céu, como a mamãe me ensinou, para tentar ver algo feliz, alegre e bom em alguma parte da minha mente, para não me sentir tão sozinha, para afugentar os pensamentos macabros que sempre rondavam minha cabeça. – bufou debochadamente – Se a mamãe...

–-Chega! – vociferou com extrema fúria, socando a mesa, calando a garota que se sobressaltou – Não ouse mais falar sobre sua mãe, nunca mais! Não me interessa saber o que você pensa ou o que sente! Apenas me obedeça e cale-se! – ela engoliu o choro em seco.

–-Às vezes eu gostaria de saber se você realmente se importa comigo, se me ama ou se me considera sua filha ao invés de um simples fardo que você carrega e ruma que mais tarde será útil para guiar sua empresa que mam...

–-Este assunto está encerrado Sakura! Não me atormente mais! – voltou ao tom seco e indiferente costumeiro, voltando-se a se sentar e comer. Ela o fitou por alguns segundos e saiu a passadas pesadas e rápidas, batendo a porta ao sair.

“No final, mamãe acabou morrendo por você.” Murmurava enquanto corria até o carro estacionado do lado de fora, ignorando os chamados preocupados de Akemi e as perguntas de Freddo, somente dando-lhe as direções que deveriam ser tomadas e estas logo foram obedecidas.

Lutava arduamente contra as lágrimas que insistiam em saltar-lhe pelos olhos. Nunca havia enfrentado seu pai de tal maneira, e a cada dia, a distância e frieza dele a surpreendiam cada vez mais. Não sabia por que ainda estava magoada, afinal era uma reação esperada, mas estava. Aquilo abriu novamente a constantemente atacada cicatriz sobre seu passado, e doía de verdade, um mártir agonizante.

Queria qualquer reação, um tapa que seja, mas algo que não fosse o petrificante olhar gélido que ele mantinha sobre si. O pulsar de seu coração falseteou e ela arfou e tossiu por um pouco. A asma mostrava-se não estar curada, o contrário do que pensava. Ainda assim, o amava, mesmo que minimamente, mas era seu pai, e ela tolamente o amava. Esforçava-se para ver, pelo menos nele, a pessoa que um dia fora. Não costumava ser assim, mas com Hisashi era diferente.

Apanhou Hikaru no orfanato e logo foram para o cinema. Ele questionava-a o porquê de sua expressão aparentar ser tão soturna, porém ela sempre achava um jeito de desconversar, mesmo assim, ele parecia estar triste por ela. Tudo o que precisava, naquele momento, era meramente a companhia do garoto.

E enquanto todos soltavam gostosas gargalhadas durante o filme, ela chorava e sangrava por dentro, com um singelo sorriso tremulo emaranhado de todos os sentimentos que a flagelavam. Não conseguia chorar realmente. A frágil, fraca e inútil garota de cabelos rosados.

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Notas finais do capítulo

Então, um capítulo recheado de diálogos e embora não tenha muita ação, foi muito importante, a maioria das coisas que foram citadas não foi em vão. Mostrou um monte de coisas, não só em relação ao pai de Sakura. Me digam o que notaram e aguentem, que já vai vir capítulos mais animados!
Qualquer erro que encontrarem, me avisem por favor, e não deixem de dizer o que estão achando, quero muito saber a opinião de vocês, as dicas, as análises e suposições!
Ah! Eu estava lendo os capítulos anteriores, e poxa... Consigo ver que melhorei um pouco... Foi no ano passado hein! Vamos completar um ano de fanfic em agosto!
Só mais um detalhe, encontrei erros nos capítulos passados como noção de dias que não irei mudar, okay?
Beijocas, boa noite e ja ne (: