Colecionadores De Segredos. escrita por Lioness


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Yo minna!
Então, aparentemente eu demorei um pouquinho, mas isso já é normal! Me desculpem, ando muito ocupada com o colégio. Toneladas e mais toneladas de dever, e quem fala que física é fácil é porque já sabe de tudo! E, como sou uma avó solteira - minha filhinha canina teve filhotes - tenho uma jornada dupla, fora minhas aulas extracurriculares e a criatividade que passa longe da minha casa! Enfim, cá está o capítulo!
Boa leitura (:



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Capítulo 16

Ainda era calmo, mas como não poderia ser? O firmamento era um lindo tom resplandecente de azul cobalto forte. As estrelas pareciam brilhar mais do que nunca. A Lua nunca havia parecido tão clara e perfeita. A brisa continuava fina e carinhosa, enchendo os corredores com um pequenino toque de inverno. As cigarras cantavam suavemente aquela noite e formavam uma orquestra juntamente com o cricrilar dos grilos, regidos pela natureza. O ar estava límpido e as súplicas por um tempo de paz pareciam terem sido atendidas. Tudo estava perfeitamente bem.

Aparentemente.

Os batucares estavam descompassados, mas ainda sim palpitavam em sincronia. O movimento acelerado daquele músculo em especial era o único som que se fazia presente e, apesar de tudo, não incomodava. Nem mesmo a quem lhe era de origem. Ambos arquejavam disfarçadamente, mas não podiam esconder a surpresa e mistura de tudo que possam sentir espelhados em seus doces olhos.

Ela tentava manter-se firme, mas seus lábios não a obedeciam, criando leves vincos. Esta a diferença entre os dois, a qual ela sempre quis dominar: ele havia total domínio sobre seus músculos faciais. Bom, até agora.

As pessoas de fora não entendiam absolutamente nada, imaginavam, mas simplesmente não entendiam, afinal, como poderiam se nem ao menos eles compreendiam o que se passava? Mas de qualquer maneira, não conseguiam evitar a expressão pasma e confusa. A tímida garota não fazia ideia do que fazer, mas aquela senhora sim. Sorriu pequenamente de canto para a garota ao seu lado e deu meia volta, retirando-se do local. Ela podia não saber quem era aquele rapaz e o que ele estava fazendo em um local inapropriado como o dormitório das garotas ou entender o que estava acontecendo, mas entendeu muito bem que aquela não era uma situação na qual deveria interferir. Sakura ficaria bem, ela sabia. Aquilo não era como antes, e sua companheira de quarto estava ali para ampara-la. Quanto ao garoto... Honestamente, ela não queria saber. Apenas queria pegar sua garrafa de sake que havia deixado na sala de remédios e ir embora. Deixaria a noite de sexta com Tsunade e o amigo em comum de ambos – o querido sake – para outra semana. “Tsunade-hime não irá se importar.” pensou.

Sakura notou quando Chyo foi embora e, sinceramente, a agradeceu mentalmente por isso. Naquele momento, o que menos precisava era de alguém por ali. Agradeceu novamente por ter sido a velha que estava com ela, sabia que não iria contar a ninguém o que estava acontecendo ali. Embora, isso fosse o que de menos importasse.

Sentia seu corpo completamente descompassado. Sua mente desorganizada. Incapaz de juntar algumas poucas sílabas. Sentia-se impotente. Seus olhos não conseguiam sair do verde mar, assim como este não se quer vacilava um milímetro da vastidão esmeralda. Perguntava-se milhões de vezes, seguidamente, o que ele fazia ali, mas não conseguia encontrar uma resposta satisfatória ou convincente. Se quer conseguia pensar direito em uma. A sua volta estavam paredes, portas e outras coisas, mas tudo que ela conseguia ver disto eram leves borrões. Um tanto tonta, mas nada que se leve em consideração. Seus olhos estavam um pouco marejados, mas não sabia se de tristeza ou alegria, apenas... Sentia. O rosto confuso de sua amiga ao lado do rapaz lhe atordoava um pouco. Não queria lhe preocupar, mas era tarde de mais pra isso.

Ainda em meio aos seus suaves devaneios, o rapaz pôs-se a caminhar. Levava pé ante pé, calmamente, até a garota à frente. Seu rosto, já não mais fechado, expressava leves emoções, e seus lábios não paravam de formar pequenos vincos, quase imperceptíveis. Quando menos percebeu, ele já estava posto rente ao seu corpo.

Queria, tentava, lutava por isto, mas não era capaz de desviar seus olhos dos dele. Ficaram assim por um curto período, mas naquele momento, o tempo não parecia correr mais devagar, como uma eternidade, como se estivessem em algum lugar do espaço. E parte de ambos queriam que continuasse assim, mas ele não pode evitar.

O leve movimento que ele fez com a mão a despertou do transe. Ele a ergueu até a altura de seu rosto e a parou no ar, um tanto hesitante. Sakura não deixava de fita-lo, esperando por seu próximo movimento, mas para sua surpresa, foi contrário que ela imaginou.

–-Sakura... – engoliu em seco, seus lábios tremiam formando um pequeno e sutil sorriso.

Moveu sua mão até o rosto ferido da garota e o alisou carinhosamente com as pontas dos dedos. Ela aceitou o carinho com um profundo suspiro interno, cerrando os olhos e novamente fitando o garoto a sua frente. Seu sorriso já era mais perceptível e maior, um sorriso doce e sincero.

–-Parece que eu finalmente te achei, não foi? – proferiu o ruivo deixando o rosto da garota, seu tom de voz ainda não deixava de ser sério.

–-Gaara... – ela murmurou o puxando para um abraço forte e apertado. Suas mãos envolviam o cabelo escarlate do garoto, assim como ele apertava fortemente suas costas contra seu corpo. Ambos recostavam as cabeças nos ombros de cada um – Eu senti saudades. – sua voz saiu abafada e choramingona. Ele a apertou mais. – Por onde andou? Para onde foi? Porque não me escreveu? Este lugar não tinha nenhum meio de manter contato comigo?

–-Não. – ela entendeu a gravidade daquilo – Não sabe como me fez falta.

–-Você está aqui agora, Gaara. De verdade. – apertou-o mais.

Estavam enlaçados ternamente em um abraço que ambos sabiam que não se repetiria tantas vezes mais, por mais que quisessem o contrário. Não tinham planos de romper aquilo tão rapidamente, mas o frio estava a incomodar-lhes insistentemente. Soltaram-se aos poucos, sem desviar os olhos um do outro. A expressão do ruivo estava novamente séria, mas nada de anormal. Ela mantinha um pequenino sorriso. Sim, estava alegre por tê-lo perto depois de um longo tempo, mas não podia refutar com a tristeza pesada que lhe caia sobre o peito ao vê-lo. Era nostálgico, e não na melhor ideia.

Ele fez menção de lhe tocar o rosto novamente. Encarava seriamente o esparadrapo que cobria a ferida em seu rosto.

–-Não se preocupe, eu apenas cai e ralei um pouco. Você sabe como eu sou. – riu pelo nariz, ele sorriu de canto.

–-As aulas de etiqueta e postura pareceram não fazer efeito. – debochou colocando as mãos no bolso.

–-E você parece não se lembrar de o que eu te disse sobre seu humor amargo e as aulas de sono. – apontou para as olheiras dele – Mas, não tem problema, eu te perdoo.

–-Você não perdeu os velhos hábitos.

–-Por quê? – questionou com uma sobrancelha erguida.

–-Onde esteve?

–-Andando por aí.

–-Estava no jardim.

–-Como sabe? – a sobrancelha permanecia erguida.

–-Como eu disse, você não perdeu os velhos hábitos.

–-E você, perdeu?

–-Ia te procurar.

–-Não fuja do assunto, espertinho!

–-A garota ali ia me ajudar.

–-Garota?

–-Sim, atrás de nós. – apontou com o polegar.

–-Hinata! – lembrou-se da amiga.

–-Sakura – suspirou e em seguida sorriu de canto – você continua a mesma.

–------------- xx --------------

Seus passos pesados faziam bastante barulho. As mãos mantidas no que restou do bolso de sua calça estavam cerradas com certo toque de nervosismo. Sua expressão emburrada afastaria qualquer um que passasse por ele, isso caso alguém estivesse com ele naquele corredor. O abdômen e braços desnudos estavam cobertos por pequenos esparadrapos, assim como seu rosto. Parecia que o tempo ameno não lhe ajudava em nada.

Puxou profundamente o ar para dentro de seus pulmões e o segurou por um tempo. Tentou parar de pensar, mas ironicamente só consegue fazer o contrário quando não quer ou quando necessário. Soltou de uma vez, arquejando. Um pouco frustrado por não ter surgido qualquer efeito. Estava incomodado com o que ela havia dito pra ele, a maneira que o fez. Porém, uma parte de sua consciência o lembrava de como ela estava, seu estado. Ela estava estressada por motivos maiores, ele deveria entender. Por outro lado, alguma parte de sua cabeça o martelava como acusações e perguntas, como do tipo: “Não é pra tanto, porque se importa tanto com ela ou com o que ela diz ou deixa de dizer?” ou “Mas o que é esse sentimento esquisito que tem quando a vê?” e mais coisas do gênero. Não aguentava isso.

–-Arrrggh!! – Esbravejou alto e nervoso levando a mãos aos cabelos dourados e puxando-os, olhando pra cima.

–-Naruto. – a voz cruzou o corredor distraindo-o, um pouco surpresa.

–-Ah... Sasuke. – deixou os cabelos e largou os braços rentes a cintura, olhando o amigo de lado.

–-O que... – estava prestes a perguntar o que estava fazendo, mas outra coisa mudou sua ideia – O que você fez?

–-Está falando desses arranhões? – olhou para si mesmo, com o maior tom de tranquilidade e uma pitada de deboche, como se aquilo não fosse nada – Eu cai.

–-Não, você não entendeu minha pergunta, o que você fez? O que quebrou? E não estou falando de ossos, pelo menos não os seus. – riu de canto maldosamente.

–-Muito engraçado teme, mas já que perguntou: eu estava com Sakura-chan e...

–-Eu não me interesso pelo resto. Mas, isso explica porque não apareceu para ver a tal da Hyuuga a tarde inteira. – disse colocando as mãos no bolso, encurvando ligeiramente as costas para trás e lançando-lhe um olhar questionador. – Aliás, eu tenho uma pergunta: como pretende me pagar? – agora seu olhar havia tomado um reflexo ligeiramente sádico.

–-Ah, merda, Hinata! Esqueci totalmente dela! – voltou a puxar seus cabelos – Íamos estudar!

–-Eu sei. A propósito, pare com isso, está sujando todo o chão com seu cabelo. – divertia-se com a situação.

–-Cala a boca teme! Já estou com a cabeça cheia de mais, não tenho espaço para seus deboches.

–-Você com a cabeça cheia... Acho que não. Enfim, eu tomei seu lugar. Prometi que estudaria com ela.

–-O quê? – exaltou-se – O que você fez?!

–-Pare de gritar baka – voltou ao seu tom áspero e sério novamente, já havia se divertido – Eu a encontrei deprimida e perguntei onde você estava. Por um deslize eu tive que fazer a proposta. – admitiu a contragosto. Aquilo era um pouco constrangedor. Sabia o que estava por vir.

–-Sasuke... – murmurou perplexo – Então a proposta veio de você é? – e havia começado o tom zombeteiro. Começou a rir – Quem diria que a pedra de gelo Uchiha Sasuke faria isso! Vejamos que mudança, olha só! – aproximou-se mais do amigo e passou seu braço por seu pescoço o forçando a se aproximar – Chega mais perto – e agora havia começado a lábia com aquele habitual sorriso sapeca – Você sabe, Hinata-san é uma garota muito linda, admita! Um corpo perfeito, e é bastante gentil.

–-E irritantemente tímida. Não sabe dizer uma palavra sem gaguejar.

–-Cala a boca, idiota! Esse é só um defeitinho. – mensurou com os dedos, espreitando os olhos.

–-De muitos outros, quer dizer. – estava começando a ficar irritado com a conversa e com a proximidade de Naruto.

–-Como se você fosse o senhor perfeição! Vamos Sasuke, admita, ela é bem melhor que as prostitutas com quem encontramos!

–-Eu as prefiro.

–-Hn, Sasuke... – bufou.

–-As vemos uma vez, uma noite. Não é necessário manter contato.

–-Enfim, se quiser alguma coisa, posso conversar com e...

–-Não, você não pode porque eu não quero ter nada com crianças mimadas desta escola. A única coisa que levarei daqui é o ensino e o diploma. Ah, e se não tirar as mãos de cima de mim agora, eu te mato.

–-Tudo bem teme, não precisa estressar. – soltou o amigo e tomou um pouco de distância – Mas, onde esteve?

–-Não te interessa.

–-Ok, ok, não toco mais no assunto.

Iniciaram a caminhada de volta para o quarto em silêncio. Até que Sasuke o quebrou:

–-Você estava com Sakura, certo?

–-Sim.

–-Então ela também está machucada. Baka, por favor, diga que não fez nada contra a vontade dela!

–-Hey, não! Quer dizer, ela também está machucada, mas não é isso que está pensando!

–-Eu não estou pensando neste tipo de coisa, mesmo que vindo de você é aceitável. Só estou querendo dizer que ela é uma Haruno e se você se meter em problemas com ela vai ser complicado.

–-Ah, falando nisso, ela é filha daquele Hisashi, sabia? – seu tom de voz parecia com o de uma criança que recém aprendeu algo.

–-Baka, prestou atenção no que eu acabei de falar?

–-Eu não fiz nada contra ela. – seu tom de voz se tornou sério – Somos amigos. Eu só a ajudei. Ela é gentil também, me sinto bem com ela.

–-Hn...

Novamente o silêncio retornou, mas assim como antes, foi interrompido.

–-Ela é complexa.

–-Achei que já havíamos encerrado o assunto. – não desviou os olhos do caminho.

–-Ela sofreu algo muito forte, talvez como eu, como nós. Parece que há algum fantasma disso atrás dela, alguma lembrança que a consome. Assim como... – parou por um segundo para pensar em sua frase. Não havia se dado conta de como aquela comparação era forte – nós.

–-Não. Não ouse comparar o que passamos com que ela possivelmente passou. – agora o olhava seriamente pelo canto de olho.

–-Você não estava lá quando ela entrou em choque.

–-Ela é só uma garotinha assustada.

–-E o que nós somos? – proferiu essas palavras sem medir o quão ela pesava sobre si e Sasuke. De certo modo arrependeu-se, de outro modo não. Sasuke encarou o caminho friamente e lembrou-se de mais cedo.

–-Duas pessoas privadas da liberdade e de capacidades. Dois assassinos a sangue frio que matam sem hesitar. Dois seres que nunca irão realmente existir. Dois seres que buscam vingança. Não somos duas crianças assustadas. Elas já morreram dentro de nós desde o primeiro filete de sangue que escorreu por nossas mãos, junto com a esperança. Nós somos o que nunca deveria existir, Naruto. Nós somos os fantasmas silenciosos que vagam pelo mundo. Somos o temor de tudo e todos que respiram. Nós somos a morte. Então, não volte a tocar no assunto.

O loiro engoliu em seco, calado. Aquilo era verdade. Era um assassino. Nunca deixaria de ser. Nunca deixaria de sentir certo prazer em matar. Nunca deixaria de ser calculista. Nunca iria saber o que é se sentir livre com o peso em suas costas por tantas vidas e em parte, aquilo era divertido. Ainda absorvia memórias, mas sua capacidade de guarda-las já havia se esgotado sendo preenchidos por dezenove anos de ferocidade, corpos sem vida, armas, sangue, escuridão e avidez por sua doce vingança. Aquilo nunca iria sair de sua mente. Nunca deixaria de sentir o sangue frio correr em suas veias. Nunca deixaria de sentir seu coração pulsar lentamente no ritmo em que dança e brinca com o fim de suas vítimas, ou melhor, suas missões. Talvez seja por isso que gostasse tanto de ficar perto de Sakura. Era a única capaz de fazê-lo esquecer disto. Mas Sasuke não deixava de ter certa razão, ele não deveria ter feito aquela comparação.

–------------- xx --------------

–-Sakura-san – correu no rumo da amiga – Não s-sabe como eu fiquei preocupada! – parou de frente a ela com uma mão afagando o peito e a outra a testa, aflita. – O-Oh, meu D-Deus, você está toda machucada! – puxou o braço da rosada e analisou as feridas e sua roupa em trapos. Em seguida levou a mão até o rosto ferido, seguindo com os olhos todos os arranhões, em especial aquele que cortava sua face. Então a soltou e novamente puxou seu braço de súbito, só que desta vez a puxou consigo, caminhando – Vamos! T-Temos que olhar is-isso direito! – virou-se arrastando Sakura, mas esta se recusou a andar.

–-H-Hinata, espere!

–-Não temos o-oque esperar Sakura-san! Estive preocupada e qu-quero saber o que houve! – preferiu com firmeza, encarando-a sério.

–-E-Eu tenho que te explicar algumas coisas antes.

–-Ah, não tem problema. Esse aí deve conhecer a sa-saída muito bem! – o olhou com um ar de superioridade.

–-Eu já disse que me chamo Gaara. – estava começando a se irritar com a morena.

–-E não é só sobre ele que quero conversar. – Sakura interveio, percebendo a tensão entre os dois.

–-Mas, Sakura-san, s-se ele não f-for embora agora, t-talvez nem c-consiga sair.

–-Bom, Ino não está e já está tarde de mais para ele ir. Os seguranças já devem estar em seus postos e você que depois que eles assumem nenhum aluno entra ou sai a menos que tenha autorização escrita da diretora, o que não é o caso. A única opção é ele dormir na cama de Ino.

–-M-Mas é o dor-dormitório f-feminino! – protestava já corando.

–-Eu não irei te agarrar ou te morder, mesmo que me peça. – a fitou com um ar sutilmente debochado.

–-S-Sakura-san... – apelou.

–-Hinata, por favor – agora era a vez de a rosada apelar – não temos escolha.

–-Na verdade...

–-Hinata... – segurou suas mãos e a olhou com um olhar torto e pedinte de: “Pare com isso Hinata, facilite, você sabe.”. Além disso, era importante a permissão da morena. Sakura não iria deixar que um garoto dormisse com elas sem a permissão da amiga.

–-Ah – suspirou profundo – Você g-ganhou. M-Mas e se os monitores pa-passarem no quarto pela m-manhã?

–-Daremos um jeito.

–-Não se preocupe, serei imperceptível. Apenas preciso de um lugar para deitar e vou embora logo pela manhã. Sakura – direcionou seu olhar agora para a rosada – eu posso passar na sua casa pela tarde amanhã?

–-Bom... – pesquisou por um tempo na memória – Não sei se estarei em casa, mas pode tentar. – sorriu – Sabe meu endereço?

–-Continua o mesmo?

–-Sim.

–-Então eu me lembro de cor.

–-Não vá se perder na cidade, não sabe o trabalho que me daria de te procurar. – riu de seu deboche.

–-Você saberia onde me encontra. E eu já morei aqui. – sorriu minimamente de canto.

–-A cidade mudou bastante desde que foi embora. – agora, o sorriso do ruivo se dissipou. Sim, havia bastante tempo desde a última vez que visitara o parque.

–-Ainda consigo me virar.

–-Eu espero que sim.

–-S-Sakura-san, temos que entrar antes que algum m-monitor passe. Po-podem estar bêbados, mas não estão c-cegos.

–-Ah, verdade, bem lembrado Hinata. Vamos, Gaara. – o chamou com a cabeça e entraram no quarto, fechando bem a porta atrás de si.

–------------- xx --------------

O ônibus balançava fraco, mas o suficiente para seu corpo balançar junto. O rosto cansado e as pálpebras pesadas de sono estavam cada vez mais evidentes. Havia sido um dia longo. Lembrou-se do garoto que havia visto mais cedo e sorriu pequenamente. Buscava arduamente em sua memória – já fraca, tinha que admitir, por mais que relutasse – imagens de alguns anos atrás. Faria quantos anos? Franziu a testa tentando calcular. Dezessete, dezoito, quem sabe? Não importa a quantidade, só sabia que fazia muito tempo desde a última vez que o viu.

O ônibus chacoalhou pela última vez, despertando-a, era seu ponto. Levantou-se do banco carregando sua garrafa e, com a ajuda do motorista, desceu. Andou mais algumas quadras a fio sentindo a brisa trazer novamente a umidade de uma chuva iminente. Olhou para o céu e novas nuvens formavam-se tão intensas que mesclavam com a cor do céu. Ao notar tal coisa apressou os passos, não estava interessada em tomar um banho no meio da rua.

O estalo do som de seu salto batendo contra o chão a fez lembrar que precisava troca-lo e a também fez perceber a quanto tempo estava escutando este barulho irritante. Seus pés doíam. Desejava ansiosamente chegar em casa e alguns minutos depois agradeceu mentalmente por ter finalmente alcançado sua calçada.

Cumprimentou seu vizinho xereta com um aceno de cabeça e um sorriso forçado e adentrou o portão. A primeira coisa que deparou foi seu irmão vestido com sua bermuda desbota que quase não trocava, sua camisa polo azul bebê puída e também desbota, seus amáveis tênis de caminhada e suas meias enrugadas que ele fazia questão de vesti-las acima da canela e, por último mas não menos importante, seu boné bege e gasto com a escrita “Havaí” bordado em marrom junto com algumas palmeiras, nada menos que um suvenir de praia. Estava cuidando das flores do pequeno jardim frontal.

–-Essa coisa precisa de óleo de novo. – grunhiu pegando o frasco com o tal em cima da mesinha de jardim e deixando sua garrafa no chão, em seguida pingou o líquido no portão.

–-Mas eu coloquei hoje. – sorriu sapeca virando a cabeça para vê-la.

–-Pelo visto não pôs o suficiente. – devolveu o frasco de óleo para seu lugar e tomou a garrafa nas mãos – Quando vai parar de sorrir por nada como um idiota? – fuzilou-o com os olhos.

–-Quando você deixar de ser tão ranzinza. – ergueu-se com dificuldade e apreciou seu trabalho com suas preciosas peônias.

–-Meu amiguinho aqui vai me ajudar. – disse já dentro da casa.

–-E Tsunade-hime?

–-Cancelamos hoje. – o barulho da garrafa sendo aberta ecoou.

–-Por quê? E, ei, me espere. Estou velho mais ainda gosto de um bom sake! – entrou atrás da irmã.

–-Caso tenha esquecido, eu ainda sou enfermeira naquele colégio! – disse enquanto procurava dois copos no armário – E você sabe que seu fígado não aguenta mais que três copos!

–-Ora Chyo, você sabe que sou resistente como um touro – abanou a mão pra cima e pra baixo – E, você fura tanto seus plantões que não sei como ainda não foi despedida. – aproximou-se da senhora e a ajudou a servir o sake.

–-Quieto, nii-san!

–-Sabe que dia é hoje? – levou o copo até os lábios, bebericando a bebida.

–-Eu vou buscar os jogos. Não sei como ainda faço isso. – grunhiu baixinho.

–-Não precisa fingir, eu sei que você ama os nossos jogos de noites de sexta-feira! Eu sou seu irmão mais velho, te conheço! – brincou sentando à mesa e cruzando as mãos sob seu copo, esperando enquanto brincava com os pés.

–-Oh, como eu poderia não gostar? – ironizou colocando a caixa de jogos na mesa e ajeitando o tabuleiro e as cartas – Beber e jogar com meu irmão mais velho que parece uma criança?! É adorável! – sorriu falsamente e em seguida fechou a cara.

–-Oh, que isso, não precisamos jogar Monopoly hoje. Já que trouxe o sake, que tal poker? – a olhou convidativo e animado.

–-Hn... – ergueu a sobrancelha e o olhou desconfiada, deixando as cartas de lado – Ainda se lembra?

–-Chyo, eu não me esqueceria de quando viajamos pra Mônaco e eu passei quase dois dias seguidos no cassino de Monte Carlo. Eu ganhei bastante e dei um preju bom para eles! – riu dando piscadelas para Chyo que inevitavelmente riu também. Lembrava bem daquela viajem e das peripécias de ambos.

–-Tudo bem – animou-se e empurrou tudo para o lado enquanto seu irmão se levantava para buscar o baralho e fichas – O que apostamos? Feijões?

–-Oh, por favor, irmãzinha, eu sou velho, mas não sou chato! Ganhei uns trocadinhos quando joguei com o vizinho.

–-O xereta? – interrompeu.

–-É. Felizmente ele é péssimo, mas não assume. Uma boa fonte de renda extra. – gargalhou.

–-Nii-san, fale baixo, ele pode ouvir seu velho caduco!

–-Não tem problema, eu costumo dizer isto pra ele! Geralmente o deixa mais irritado e mais disposto a jogar alto.

–-Ele é mesmo idiota – riu enquanto distribuía as cartas e as fichas na mesa. – Se me ganhar, eu te pagarei quando receber, no final do mês.

–-Vai ser fácil! – bebericou mais do sake.

–-Não se esqueça de que eu também estive em Monte Carlo, nii-san. – virou metade do copo de uma vez só.

–-Estou com meu boné da sorte! – apontou para a cabeça.

–-Não seja tolo. Se trouxesse mesmo sorte ele não teria sumido e meus filhos ainda estariam vivos.

–-Mas foi ele quem me deu e isso já é o suficiente.

–-Sabe, nii-san – terminou de distribuir e começaram – Hoje eu estava me lembrando dele.

–-No colégio? – analisou friamente o que tinha em mãos – Aumento.

–-Compro. – jogou as fichas – Não, no ônibus, mas foi um garoto da escola que me lembrou dele. Ruivinho como ele, até tem uma semelhançazinha no humor. – sorriu um pouco mesurando com os dedos.

–-Parece que foi ontem que ele corria por aqui e brincava com os esparadrapos amarrando-os nos bonecos e fazendo marionetes!

–-Ele amava isso! Aliás, eu aumento.

–-Compro e aumento mais. Se ao menos soubéssemos onde está o corpinho dele. Se ele realmente está... – a dor e a tristeza eram notáveis em sua voz.

–-Compro. Nii-san, por favor – o olhou já emocionada. Seus olhos esbranquiçados brilhavam marejados, agonizando – não fale isso. Só... – puxou ar tentando recuperar-se – Vamos continuar o jogo sim?!

–-Claro, Chyo. Tudo bem.

–------------- xx --------------

–-Bom, temos água no frigobar e alguns chocolates que Ino comprou o que significa que pode pegar se quiser. – falava enquanto ele se aconchegava embaixo do edredom roxo – O banheiro é logo no final desse corredorzinho, também temos no segundo andar. – esfregava a toalha no cabelo espalhando gotículas para todo lado, incluindo o ruivo.

–-Sakura – a mão esticada para proteger o rosto – se importaria...?

–-Ah, claro! Desculpe, eu não estou em um bom dia hoje, estou distraída.

–-Não é novidade.

–-Estou mais distraída. Contente?

–-Um pouco.

–-Como gostaria de melhorar?

–-Já está como eu gostaria.

–-Eu já vou apagar as luzes, só preciso trocar os curativos. – tentou trocar o assunto.

–-Ajuda?

–-Não, tudo bem, eu posso fazer isso sozinha. Você deve estar cansado.

–-Você está ferida.

–-Eu aguento.

–-Tudo bem, não insistirei. – recostou-se no travesseiro e buscou uma posição confortável. Conhecia Sakura muito bem ao ponto de saber que ela é orgulhosa de mais para aceitar sua ajuda. Seria bem mais fácil e menos desgastante apenas fazer o que ela pediu: não ajudar.

–-Hinata – a morena estava sentada em sua cama estudando enquanto ouvia música com seus headphones, foi preciso chama-la mais vezes para que ela escutasse – Está tudo bem? – perguntou gentilmente. Havia notado que a presença de seu amigo a incomodava.

–-Claro Sakura-san! Porque não estaria? – o tom irritadiço era palpável.

–-Hinata...

–-Desculpe, e-está mesmo tudo b-bem. – proferiu sinceramente. Aparentemente ele era importante para Sakura, então deveria aceitar – Quer ajuda com os curativos? Eu posso s-ser util.

–-Não, está tudo bem eu consigo sozinha, não quero te incomodar, mas obrigada. Eu vou terminar isto – apontou para o rosto – e volto já – a rosada caminhou até o banheiro para fazer o que falou. Enquanto isso, Gaara fitava a morena descaradamente.

–-O-O que f-foi?! – perguntou Hinata já corando.

–-Os seus fones. São legais. – ela continuou sem jeito – Você é um pouco irritante.

–Oq... – indignou-se.

–-Mas parece ser uma boa pessoa. Sakura teve sorte. Ela parece ter feito boas amigas.

–-O-Obrigada... – estava um pouco sem graça – E, b-bom, se Sakura-san te estima tanto quanto parece, você provavelmente t-também é um-uma b-boa pessoa. – tentava segurar para parecer séria e segura, mas não tinha como não ruborizar – apesar de ser um estranho completo. – murmurou, mas ele foi capaz de ouvir.

–-Obrigado. – agradeceu tanto quanto pelo elogio quanto pela outra parte. Encararam-se por alguns minutos. A expressão de Gaara continuava séria e impenetrável, mas ao menos havia acalmado um pouco Hinata e conquistado um mínimo de simpatia dela. Isso facilitaria a noite.

–-Bom, eu terminei. – Sakura surgiu de súbito – Eu penso que estão cansados, então já vou apagar as luzes. Tudo bem para vocês?

–-Claro Sakura-san! – a morena dizia enquanto guardava seu headphone junto com o Ipod e os livros na mesinha ao lado. Gaara apenas a olhou e Sakura apagou as luzes.

Alguns raios caiam ao longe, mas era possível escutar o estrondo forte. Ventava forte e as cortinas bailavam bruscamente. Hinata aconchegava-se mais na cama. A luz do relâmpago cortava o quarto enquanto Sakura caminhava descalça, pisando na barra da calça de seu pijama, até a janela. Estava parada diante a esta, apreciando o vento e trocando o ar dos pulmões. Lembrou-se de Naruto e de como havia sido rude. “Ele só estava querendo ajudar... Naruto...” pensou. Não queria o envolver com seus dramas, com seus problemas. Ele a ajudou e ela o retribuiu com arranhões. Sentia-se envergonhada por ele ter presenciado uma de suas crises. De certa forma, seu orgulho tinha uma parcela de culpa, ou muita. E como diria a Hinata? Estava com sorte dela não ter se lembrado do fato de que havia dito a ela que precisavam conversar. Ela deveria entender, afinal, Sakura não fez propositalmente, assim como não era proposital o jeito que se sentia perto do loiro. “Ah! Não!” sua cabeça estava fervilhando.

Suspirou profundamente e lembrou-se de seu objetivo: fechar a janela. Quando fez menção de fazer tal coisa, uma voz a interrompeu.

–-Gaara? – sussurrou caminhando até ele.

–-Não feche, por favor, eu gosto assim.

–-Tudo bem. – disse indo para sua cama, mas algo a parou.

–-O que realmente houve? – perguntou mais sério que o usual. Embora estivesse escuro, conseguiam ver muito bem a face um do outro, e ambos estavam sérios.

–-Eu não... – parou. Ele a encarou mais seriamente ainda – Eu não quero falar sobre isso.

–-Sakura... – apertou mais seu pulso, mas fraquejou quando ela agachou a sua altura.

–-Boa noite Gaara – a mão de Gaara afrouxou-se ainda mais quando Sakura depositou doce e ternamente um beijo em sua bochecha – Está tudo bem. Bons sonhos. – ergueu-se e deitou-se em sua cama, envolvendo seu ursinho. Gaara a fitava um tanto perplexo. Sabia que não era como ela disse. Sentiu o pequeno tremular em sua voz, e aquilo o preocupava.

–-Boa noite, Sakura.

–------------- xx --------------


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Notas finais do capítulo

Entãaaao: erros de ortografia? Coerência? Digam nos comentários ok?!
Ah! Antes que me esqueça: em dezembro eu li Eu Sou o Mensageiro do Markus Zusak e desde então eu sempre quero recomendar aqui, mas sempre esqueço - e olha que já estamos em março - então, fica a recomendação! É excelente!
Ah²! Eu não sei qual dos dois é mais velho: Chyo ou seu irmão, então se estiver errada, eu não mudarei.
Bom, é só, não me lembro de mais coisa para falar então: boa noite, meus queridos leitores.
Ja ne (: