Colecionadores De Segredos. escrita por Lioness


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Yo minna!
Oww meus queridos! Não sabem o quanto me motivaram! Não houve nenhuma mudança no rumo dos meus leitores, continuam na mesma, mas o último capítulo foi muito significativo. Por quê? Porque simplesmente meus leitores que se manisfestam mais do que fizeram isso, mais do que me deram apoio, me deram razão a continuar. Mostraram que apreciam realmente minha fic, isto me emocionou. Fora isso, não posso parar a fic porque recebi ameaças - kkkk brincando.
Mas, falando sério, agradeço de coração por todos os incentivos e quando me sentir desanimada novamente, peço que me façam o mesmo e não me deixem cometer a loucura de parar a fic, por vocês que tanto gostam e estão sempre acompanhando!
Enfim, percebo que os agradecimentos estão menores que as reclamações, mas este é o único horário que consigo postar e digamos que acordo com as galinhas para a escola - férias, cade você férias?! Volta pra mim! Não me deixe mais!
Dedicado à:
Luf chan ~ minha querida leitora
GMG ~ meu motivador.
Islas ~ está me acompanhando desde o capítulo 1, meu fiel leitor! Meu motivador também!
IsaChan ~ minha leitora que com um simples "obrigado por postar" já me deixou feliz.
Saah ~ que também me acompanha desde o primeiro post, minha famosa "first" - kkk - que tanto gosto.
Mikuwa Otome 4ever ~ minha querida leitora que mais me motivou e que deixou um lindíssimo review do qual eu me sinto lisonjeada até mesmo por seu tamanho!
Pinkie Chan ~ minha querida dos reviews mais fofos que manda os testamentos que tanto gosto.
&
Eliana ~ que me motivou muito e me ajudou bastante em vários capítulos.
Enfim, preciso dormir minna, então boa leitura, muito obrigada mesmo e boa noite! (:



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Capítulo 15

Toc, toc.

A mão ferida bateu levemente.

Toc, toc.

Novamente o mesmo procedimento, mas nada lhe foi respondido.

Toc! Toc! Toc! Toc!

As batidas agora se mostravam impacientes e mais fortes. Ao perceber que nada iria lhe atender, soltou um olhar confuso e um tanto quanto nervoso para o companheiro ao lado que lhe retribuiu de mesma forma, arqueando os ombros.

A luz branca mesclada com vermelho refletia piscando sob suas cabeças. Estava na hora de alguém trocar aquela placa.

Esperava impaciente frente à porta de madeira. Inconscientemente seu pé batia ritmado no chão. Os machucados voltavam a doer irritantemente e agora, o frio se fazia notável e lacerante contra sua alva pele desprotegida. O corredor completamente vazio e silencioso não lhe trazia o melhor dos ares.

O garoto ao seu lado olhou desconfiado para ambos os lados e deixou a maleta no chão. As safiras azuis brilhavam no escuro e estavam excepcionalmente atentas, como olhos de lince. Levou vagarosamente a mão à maçaneta. Seu corpo já não estava mais como antes, assim como seu semblante. Estava enrijecido e sério, atento a qualquer movimento. Vigilante. Como se atrás daquela porta houvesse algo desesperador e perigoso. A garota o olhou um tanto perplexa e espantada. Ele parecia outro.

Com um sinal de mão, pediu para que ela ficasse ali, esperando-o enquanto empurrava a porta devagar, de uma maneira inaudível. Não entendia o porquê daquilo tudo, Chyo apenas não devia estar.

Assim que empurrou a porta o suficiente, passou seu corpo para dentro com cuidado, atento a qualquer sinal. O local estava escuro e aquilo era estranho para ela. A enfermaria nunca ficava escura, nem mesmo em apagões devido ao gerador extra. Por um momento, temeu que algo pudesse ter acontecido, mas nada podia fazer, apenas observar o que ele fazia.

Ao contrario do que ela pensava, ele não procurou o interruptor inicialmente. Invés disso, ele caminhou pé ante pé para mais adentro do local de um jeito hábil, como se já conhecesse o lugar ou como se enxergasse no escuro. Seus dedos mexiam impacientemente, como se preparassem para um soco ou algo relacionado. Sua postura era de ataque. Aos poucos, já não mais o enxergava.

O silencio era absoluto. Incomodava-a e sufocava-a de ansiedade. Quando já se movia para entrar atrás do garoto, um par de enormes safiras brilhante surgiram de repente na sombra do portal, assustando ela que gritou e recuou com as mãos frente ao rosto se defendendo. Logo ao ver o que havia feito, o garoto ascendeu a luz no interruptor mais próximo, deixando seu rosto iluminar.

–-Desculpe Sakura-chan, não quis te assustar. – acalmou-a, puxando para mais perto de si pelo pulso.

–-Baka! – ela levou a mão livre ao peito, especificamente sobre o coração acelerado – Nunca mais volte a me assustar assim! – se deixou ser puxada para dentro da enfermaria por ele.

–-Há uma coisa que você precisa ver. – disse sério.

–-O que foi de tão grave?

Ele não a respondeu, apenas a levou até por de trás do biombo azul claro. Seus olhos esverdeados arregalaram ao capturar a cena.

–-Acredito que essa seja a Chyo, certo? – seu tom de voz permanecia sério.

A imagem da mulher idosa estirada no chão com a boca entreaberta assustou a garota, fazendo-a levar a mão até a boca. Estava um pouco adiante ao garoto, mas ao se deparar com o corpo no chão recuou até bater contra o peitoral desnudo do loiro, e como ele bloqueava o caminho, começou a se debater contra ele. Seus olhos começaram a lacrimejar e suas pernas a tremular. Suas feridas latejaram mais agora em especial. Seu coração palpitou mais forte do que já estava. Sentiu o equilíbrio lhe trair e começou a escorrer pelo corpo de Naruto, fazendo com que seus cabelos amassem contra o peito dele. Este que ao notar o estado da garota logo a segurou, apoiando-a mais contra si e tentando levanta-la e mantê-la em pé.

–-S-Sakura-chan, o que houve?! O que está acontecendo? – ele perguntava aflito.

“Mamãe!”

“Está tudo bem querida.”

“Você está sangrando! Está morrendo?! Seus olhos mamãe, você não pisca! Por quê?! Por que não para de ficar mais vermelha? Porque esta sangrando? M-Mamãe?! Por que não se mexe?! Por que não se levanta?! M-MAMÃE!”.

Flashes corriam rapidamente por sua mente. Aquilo era parte de seu pesadelo. Parte daquilo que chamava de infância. Com o fundo vermelho e um lindo pôr do sol, mas que de repente se transformava em uma chuva sangrenta em que sua querida mãe era manchada, esticada no chão da calçada de sua casa. Em que ela assistia a tudo, mas não se movia, não podia, não conseguia, como uma tortura.

Batendo freneticamente e fortemente suas costas contra o corpo do loiro atrás de si – que fazia o máximo para segurá-la e mantê-la em pé, em alto estágio de preocupação – escapava por entre os braços dele e escorria até quase chegar ao último lugar que gostaria de alcançar: o chão. Em consequência disso agarrava fortemente aos ombros fortes e torneados de Naruto e cravava suas unhas neles, mas como aquilo não era o suficiente, à medida que caía, raspava o braço do garoto que naquele momento, não se importava com isso. Ela gritava arduamente de aflição, de tristeza, de repugnância, de medo. Suas pupilas estavam extraordinariamente contraídas e por mais que Naruto se esforçasse para acalma-la, ela não parava. Ela estava em estado de choque.

–-N-Naruto, por favor, me salve, me ajude, me ajude! – ela clamava engasgando em seus soluços, virando seu rosto para ele e deixando que ele visse suas lágrimas frenéticas escorrendo por suas bochechas quentes. Seus olhos imploravam por amparo, por uma mão, por ajuda. Ele estava confuso, não entendia completamente o que se passava, mas sabia o que fazer.

Fitou-a perplexo, mas de um jeito reconfortante. Ao vê-la naquela situação havia cortado profundamente seu coração. Ele podia sentir o desespero dela e sua aflição, seu medo. Era quase apalpável. Ele sentia o cheiro exalado em sua pele. Não sabia o que havia acontecido a ela, e admitia, estava curioso quanto a isso, mas não agora. Não era o momento, ele podia fazer apenas uma coisa.

Soltou suas mãos de seus pulsos, removeu seus braços dos braços dela e enlaçou-a protetoramente pela cintura e pescoço, deixando que ela recostasse a cabeça em seu peito. Abraçou-a forte e apertado. Não se importava pelo fato de começar a estar molhado pelos soluços constantes dela, não, ele estava sendo partido ao meio ao ver o pânico explícito nela, ao ver seu rosto tão delicado e alegre se quebrar em um mártir violento e descomunal como aquele. Ver aqueles lindos olhos ficarem opacos e cheios de aflição e angústia. Não sabia quem ou que havia feito isso a ela, mas sabia que se o encontrasse... Bom, acho que não gostaria de ser torturado até o último pulsar cardíaco.

Acordou de seus pensamentos quando sentiu frios dedos em seu dorso. Sim, era ela. Suas mãos alisaram suas costas percorrendo suavemente suas feridas e por fim pararam em seus ombros, apertando a carne com força e perfurando-a com as unhas. Sentia as tênues linhas carmesins escorrem por si. Mas aquilo não doeu tanto quanto escutar ela murmurar “Não me deixe cair.”, não, essas palavras penetraram seus órgãos fundamente.

Os soluços ainda não haviam cessado. Ele apertou mais ainda o corpo dela contra o seu de maneira que ela afagou sua cabeça em seu ombro, fungando. Ela já não se debatia tanto quanto antes, parece que finalmente havia se acalmado. Ele beijou carinhosamente o topo de sua cabeça e ela intensificou suas mãos contra sua carne.

–-Hey, Sakura-chan – abaixou sua cabeça para sussurrar carinhosamente em seu ouvido, acarinhando suas costas com os dedos. Ele era mais alto que ela, mas isso só os deixava em uma posição mais confortável – Está tudo bem. Vai ficar tudo bem.

Ela soltou suas mãos de seus ombros e as repousou ao lado de seu corpo. Ele pode sentir seus lábios roçarem várias vezes contra sua pele, como se ela fosse dizer algo, mas apenas o silêncio ficou entre eles.

Até um momento.

–-Se todo esse escarcéu é por mim, eu estou bem, vejam! – a velha que antes estava no chão, aparentemente morta, agora estava mais do que viva, em pé, saindo do biombo e arrumando algumas coisas jogadas na bancada.

–-E-Espera! – Naruto a olhou sem soltar a garota que havia virado o rosto para ver o que estava acontecendo e seu olhar era igual, se perguntava como não a havia visto levantar – Vo-Você não estava...

–-Morta?! – gargalhou em alto e bom tom, uma gargalhada gostosa – Brincadeirinha! Te peguei! – a senhora pronunciou do jeito mais alegre e natural possível.

–-Chyo-baasan, e-então a s-senhora... – Sakura dizia agora virando seu corpo inteiro, mas sem sair dos braços de Naruto.

–-Sim, eu só fingi! Eu os escutei vindo então resolvi pregar uma pecinha! – riu – Faziam tanto barulho que era possível escutar dos dormitórios! Só não pensei que você, senhorita Sakura, fosse fazer todo esse escândalo. Devia ir consultar a psicóloga, hein!

A senhora que vestia calças sociais, uma camisa cinza larga, jaleco e um estetoscópio como colar os olhava severamente. Analisava os corpos de ambos e o estado emocional e físico em que Sakura se encontrava. A rosada ainda não havia recobrado completamente de seu choque. A encarou séria. Já a atendera e ensinara uma coisa ou outra para a garota. Sabia, por Shizune, de uma parte de seus problemas psicológicos, mas não pensava que fosse tão sério assim. Perguntava-se qual seria seu trauma.

–-O que querem aqui? – finalmente disse, de maneira ríspida – E não vão se soltar, não? Aqui é a enfermaria, se quiserem namorar vão pra outro lugar! – já mostrava seu mau humor típico, sua marca registrada.

–-D-desculpe – disseram ambos em uníssono separando-se e seguindo-a para fora do biombo, o rubor tomava conta de suas faces. – Bom – pronunciava Sakura enxugando as lágrimas – acho que já sabe por que viemos, não? – mostrou seu corpo e o de Naruto – Precisamos de alguns pontos e de algumas feridas enfaixadas. Ah! – completou – E de seu cesto de lixo hospitalar para jogar fora algumas coisas que utilizei para cuidar de feridas mais sérias.

–-Hn... – a senhora guardava algumas gases na estante – Onde se enfiaram para ficaram tão machucados assim? – encarou o corte no rosto da garota – Não me digam que estavam...

–-Não! – ambos a cortaram. – Não foi isso, – o loiro disse – mas... Bem... Podemos deixar essa parte quieta?

–-Mas eu preciso saber como se machucaram.

–-Com galhos e pedras. – Sakura respondeu.

–-Hn... – fitou-os desconfiada, com a sobrancelha direita erguida – Muito bem. Se não contarem da minha pequena travessura para Tsunade-hime, eu não pergunto mais o que houve com vocês. Trato?

–-... – o loiro e a rosada se entreolharam e disseram juntos – Trato!

–-Agora, Haruno-san, por favor, volte para trás do biombo e coloque a roupa que está na cômoda ao lado. Em seguida, quero que se deite na maca para eu poder examina-la. – ela já vestia as luvas estalando-as contra os dedos – Você é o próximo, lourinho! – apontou com o indicador para Naruto. – Vamos, meu turno está quase acabando!

–-Mas a senhora mal começou! – Sakura apelou.

–-Isso não te interessa, ande de pressa!

A garota obedeceu-a, caminhando com dificuldade para trás daquele biombo não tão grande como deveria ser. Suas pupilas ainda estavam contraídas e seus ferimentos latejam como nunca devido à emoção de agora a pouco. Olhou para suas mãos ainda tremulas e notou que suas unhas estavam manchadas de vermelho. Detestava aquela cor, embora um dia já tenha sido uma de suas favoritas. Aquela era a sua segunda crise na mesma semana. Sentia-se um pouco envergonhada por ter feito tanto apenas pela brincadeira de mau gosto, mas não conseguia evitar, era inconsciente e inevitável. Acontecia sempre que tinha aqueles pesadelos ou via uma cena que lhe fazia lembrar. As feridas e cicatrizes em suas pernas são consequências disto. Por grande sorte, tinha Ino para lhe amparar. Era-lhe muito grata e feliz de tê-la encontrado. Ela havia sido um anjo – embora, aparentemente, nem chegue perto disso – que havia surgido e embora brigassem tanto, uma não viveria sem a outra, assim como Hinata, ela também era bastante gentil e já a ajudara em diversas formas. Afagou o rosto fortemente com a mão, deixando-o ainda mais avermelhado, e começou a se despir.

Enquanto isso, Naruto já estava sentado na maca, da mesma forma que havia sentado no banco para Sakura examina-lo. Chyo o encarava de longe com uma interrogativa no rosto. Pegou alguns apetrechos e seguiu para onde ele estava.

–-Então, onde se machucou?

–-Bom, as costas.

–-Eu já vi isso há meia hora. Além disso, com todas essas cicatrizes, dá para ver a um quilometro de distancia! Garoto, pra tua idade, deve ter levado a vida adoidada. – riu do próprio deboche – Em que se meteu?

–-Algumas brigas. – riu ao lembrar de que tipos de “brigas” se tratavam.

–-Pelo visto, deve ser bastante corajoso.

–-Alguns caras eram maiores que eu, só isso.

–-E ainda os provocava?

–-Como sabe que sou eu quem começa?

–-Você não tem cara de ser quieto.

–-Chyo-baasan... – choramingou, sua fama o perseguia.

–-Muito bem, agora, onde mais machucou?

–-Não sei bem, não sinto dor.

–-Não sente... Dor? – o fitou com o cenho arqueado. Havia examinado muito bem as feridas mais visíveis e não eram do tipo de não doer – Garoto, não precisa bancar o macho, pode dizer que dói. Você é o novato, mas já deve ter percebido que os garotos daqui são um bando de filhinhos de mamãe que correm pra enfermaria ao menor sintoma. – o loiro riu.

–-Eu já supunha isto, mas já disse: não dói. Só está formigando de um jeito irritante. – respondeu do jeito mais natural o possível.

–-Hn... Garoto insistente, mas se não quer falar – deu de ombros – tudo bem. Agora, deite-se, por favor. – ele obedeceu-a – Bom, vejamos, - pegou uma lanterninha do bolso do jaleco e mirou a luz nos olhos do garoto, abrindo-os bem com os dedos – Não há dano interno. Pelo visto só se machucou acima da cintura. Um corte longo e superficial no abdômen, diversos cortes no dorso e braços – seguia com o dedo os lugares apontados – alguns cortes no rosto e vários hematomas, grandes até. Teve sorte, não é nada grave, exceto pelos hematomas que vão ficar doloridos por um bom tempo. A propósito, agora a pouco eu notei que suas feridas nas costas estavam tratadas.

–-Sim, Sakura-chan tratou-as pra mim.

–-Tratou foi? – seu tom de voz e feição era de admiração – Quem diria que ela faria isso tão bem!

–-Pois sim, ela dará uma boa médica. – sorriu gentilmente.

–-Não penso que ela terá tempo de ser médica. Agora, sente-se e estique os braços, vou fazer os curativos.

–-Por quê? – ignorou a ordem.

–-Bom, ela é a única herdeira da empresa Haruno, não acho que seu pai aceite que ela seja outra coisa a não ser a nova proprietária administradora da empresa. Agora faça o que te pedi, vamos rápido! Detesto esperar! – começou a erguê-lo pelo braço.

–-Então ela é filha daquele Hisashi. – ele terminou de sentar, proferiu o nome do Haruno com certo tom de... Curiosidade.

–-Talvez seja por isso que seu sobrenome seja Haruno. Você não é muito esperto, não é?! Agora, estenda os braços e pare quieto. Vou esterilizar isto.

–-Não pensei que ela fosse alguém tão importante assim. – novamente, ele obedeceu a velha sem tirar os olhos de seu rosto.

–-Mas ela é, e seria bom se deixasse ela inteira e viva de preferência.

–-Mas eu...

–-Cala essa boca e fique quieto, sim? – o fuzilou com os olhos.

–-H-Hai. E-Espera, isso não é pra...

–-Esterilizar? Sim, e eu já havia dito isso.

–-D-Droga! Isso arde!

–-O quê? Vai me dizer que tem medo? Então senhor machão agora tem medo de coisas que ardem? – riu alto maldosamente – Bom saber.

–------------- xx --------------

As cortinas palhas balançavam conforme o ritmo designado pelo vento frio e úmido. Seus cabelos moviam-se levemente, mas aquilo já estava a incomodar-lhe. Olhava-o discretamente, ambos com uma delicada xícara de porcelana bordada repousada em um pires sob seus colos. Ambos um pouco sem graça, porém, ao contrário da garota, ele a encara friamente. Seus olhos verde mar pareciam um pouco irritados com a umidade. Mantinham-se levemente abertos. Aparentavam cansaço e sonolência, entretanto, o inchaço e as olheiras por baixo de seus olhos apontavam insônia.

–-E-Então... – gaguejou um pouco sem graça, procurando algo a fim de quebrar aquele silêncio extremamente irritante – E-Eu esqueci seu n-nome, desculpe...

–-Gaara – respondeu-lhe sem nenhuma emoção presente em sua voz, sua expressão continuava intacta – Sabaku No Gaara.

–-Hm... – olhou para o chão – Um nome d-diferente. Não me l-lembro se te disse, mas me c-chamo Hinata, Hyuuga Hinata – voltou o olhar para o garoto a sua frente, agora lhe dando um sorriso gentil que foi dizimado em seguida devido à falta de resposta.

Embora a cadeira em que estivessem sentados fosse acolchoada e extremamente confortável, parecia que estava sentada em um monte de pedras ríspidas. Contorceu-se um pouco a procura de uma posição melhor e levou a xícara delicadamente aos lábios, bebericando um pouco do chá. Logo retirou do contato de sua pele, estava quente.

–-Desculpe, m-mas não me di-disse de onde conhece Sakura-san. – devolveu a xícara ao pires – Ah, e, o chá está bom?

–-Apesar de ainda não ter o provado – seu olhar parecia de reprovação, ela havia notado o fato, mas ainda o perguntou – parece estar bom. E, respondendo a sua pergunta inicial: de algum lugar.

Ela fitou-o um pouco espantada. “Por favor, não me diga!” ironizou mentalmente, mas limitou-se a lhe sorrir gentilmente e a fuzila-lo com os olhos. Ele retribuiu o gesto de mesma forma. Hinata não gostava muito dele. De sua atitude. De seu jeito. Perguntava-se o que tinha haver com sua amiga e porque não dizia. Também pairava em sua mente a questão de o que Sakura estaria fazendo com um cara como aquele.

–------------- xx --------------

O vento brincava alegremente com seus cabelos, balançando-os por todos os lados. O resplandecer de seus olhos ônix se mostrava na pequena poça d’água a sua frente. Seu corpo repousava na pilastra ao seu lado esquerdo. Aquecia as mãos no bolso da calça moletom. Um de seus pés – mais precisamente o direto – repousava ao companheiro do lado. Deixara que eles o guiassem e olha pra onde havia vindo: para algum lugar que ele fazia a mínima ideia de onde seja. Caminhar por si mesmo lhe mostrara não ser uma boa opção de se escolher. Em compensação, pode trocar os ares de seus pulmões por um mais fresco, o que lhe era agradável. Os pelos de seu corpo estavam eriçados devido à brisa fina e mansa que corria. Perguntava-se quando começou a ter essas sensações um tanto frágeis, essas demonstrações de fraquezas. Olhou para seu reflexo na poça. Há não tantos anos atrás mataria sem misericórdia ou piedade, pode-se dizer com uma ligeira ponta de prazer. Afinal, foi privado desses sentimentos muito cedo. Era um digno assassino de aluguel friamente calculista aos 14 anos. E vejam só, agora, arrepiava-se com uma simples brisa. Aquele não era ele. Não. Havia amolecido consideravelmente desde que Naruto começou a exerce-lhe uma maior influência como amigo. Tentou forçar um sorriso sobre seu reflexo, mas falhou miseravelmente. E agora, onde estamos, tentava ver seu próprio sorriso em uma poça. Com certeza aquele não era o Uchiha. Uma mudança era nítida, mas perguntava-se se aquilo era bom. Bem, é suposto que seja, mas ele ainda sentia-se um pouco... Estranho.

Pelo reflexo na poça pode ver um morcego cortar o céu. Um pouco atrás de si escutou cantorias altas, risadas e diálogos obscenos. Com certeza eram seus superiores farreando. Voltou à procura do morcego, mas este já havia sumido há muito. Seria aquele sentimento estranho o sentimento da liberdade? Afinal, ele não existia até algumas semanas atrás, era apenas uma ferramenta de algum magnata mafioso. A ideia de poder fazer o que quiser, quando quiser, poder sair livremente nas ruas e viajar para um lugar sem ter que se preocupar com a missão. Sentir o verdadeiro gosto do ar, completamente diferente de quando trabalhava. Poder criar uma família... Esta ideia espantava até mesmo Uchiha Sasuke. Mas não pretendia fazer nada disto agora, não. Queria apenas se livrar deste disfarce e poder iniciar sua vida. Não tinha noção de ideia de como faria, talvez começasse com algumas viagens. Havia algum bom dinheiro no banco, guardado de suas missões. Seria o suficiente para levar uma vida tranquila. Bocejou. Não importava naquele momento. Queria relaxar. Por em ordem as ideias na cabeça. Beberia um copo de leite quente, leria algo e cairia no sono. Por sorte, Jiraya já não mais se encontrava em seu quarto. Teria uma boa noite de descanso, embora ainda não esteja plenamente acostumado a isto, ou gostasse disso.

Girou oitenta graus e voltou a caminhar. Sabia de uma coisa: não seria aquele Uchiha que viu no reflexo da água.

–------------- xx --------------

–-Muito bem. Com isto estamos acabados! – exasperou cortando a ponta da bandagem que sobrava no rosto branco da garota que vestia a roupa hospitalar – Você deu mais trabalho. Volte daqui cinco dias para tirar os pontos e amanhã para trocarmos os curativos.

–-Chyo-baasan, posso trocar os curativos sozinha. – não havia emoção em sua voz.

–-Não quero arriscar meu emprego. Não se pode contar com a aposentadoria hoje em dia. Não me desobedeça. – caminhou até um grande móvel e tirou de lá dois frascos de remédios – Aqui – entregou um na mão da garota – São analgésicos caso comece a sentir dor. Só tome isto, ok? – ela assentiu – Não quero que misture remédios. O mesmo pra você, machão. – apontou para o garoto loiro recostado na poltrona e jogou para ele. Ele pegou no ar e assentiu – Agora, Haruno-san, troque de roupa e eu te esperarei.

–-Eu também. – o garoto, que agora estava coberto de pequenos esparadrapos, levantou-se de súbito e começou a caminhar na direção da rosada, mas foi impedido.

–-Não Naruto, devem estar preocupados com você. – ela lhe disse mansa.

–-Quem? Está falando do Teme?! – riu pelo nariz – Ele deve é estar bancando o solitário por aí.

–-Bom, este é um motivo para procura-lo e, – ela colocou mais de seu peso em seus braços que a mantinham sentada na maca – não precisa ficar. Eu sei que está cansado. Além do mais, deve haver outras coisas para fazer – lembrou-se de Hinata.

–-Sakura-chan... – olhou-a um pouco preocupado, um pouco frustrado por ela não querer sua companhia, mas relutantemente aceitou – Vai mesmo ficar bem? O que aconteceu mais cedo...

–-Não acontecerá de novo – interrompeu-o olhando para as marcas em suas costas. Não queria ter que vê-las ainda mais sabendo que foram causadas por ela em mais um de seus surtos.

–-Tudo bem. – lançou um olhar de piedade e preocupação sobre ela. – Prometa-me. – cruzou os braços.

–-O casal pode ser mais rápido, por favor? Não Tenho a noite toda! – reclamou Chyo. Ambos a olharam de canto de olho, já um pouco irritados com a situação.

–-Naruto, eu não tenho que prometer-lhe nada. Conhecemos-nos há pouco tempo, somos amigos há pouco tempo. Por favor, não venha com isso. Não se preocupe, não acontecera de novo. – seu tom era ríspido e irritado.

Ele lançou-lhe um olhar de frustração. De certa forma, aquilo o magoou. Na realidade, havia o magoado de verdade, embora não quisesse admitir isso. Não entendia a grosseira repentina. Ele queria apenas ajudar. “Talvez já tenha ajudado de mais.” pensou. Lembrou-se do estado frágil em que ela se encontrava e de como ela detestava estar assim. Maleou um pouco e levou em consideração, mas aquilo não significava que estava tudo bem.

–-Boa noite Sakura-chan. – ele deu-lhe as coisas – Bons sonhos. – completamente diferente do usual, seu tom de voz agora foi frio e ligeiramente distante. Apesar de ter sido por ela, Sakura não gostou muito daquele jeito e engoliu em seco, juntamente com seu orgulho.

–-Vamos Haruno-san, eu a ajudo. – a senhora passou os braços de Sakura sobre seus ombros e ajudou-a a descer – Mas não demore. – a rosada lhe olhou e mesmo sem expressar direito, Chyo entendeu sua mensagem – As velhas também tem de quem cuidar.

–-Eu espero que sim, Chyo-san. Não é bom estar solitária. – ao mesmo que seu sorriso era amigável, era triste e melancólico. A senhora já estava se cansando um pouco disto. Era médica experiente, entendia de traumas e como eles marcam o resto de seu tempo vivo. Mas não era do tipo de se lamuriar. Era experiente nisto. Também havia um trauma antigo, mas para o bem de seus pacientes e de si mesma, esqueceu-se dos fatos, cicatrizou a ferida. Claro, um bom sake também a ajudou e o emprego de enfermeira em um internato era conveniente. Nada melhor para garantir uma boa espera pela morte.

–-Ah, querida, meu irmão não é a melhor das companhias. Ás vezes eu queria ser mais solitária. Mas, enfim, vamos logo! Eu já disse, uma garrafa de sake me espera e, infelizmente, meu irmão também. Oh, ele é muito chato! Fica sempre contando as mesmas histórias e fazemos sempre a mesma coisa. Um pouco de álcool o faz se tornar mais agradável.

–-Eu meio que entendo – sorriu fracamente – Oh, por um acaso, vocês tem algum tipo de esconderijo para bebidas? – indagou com a sobrancelha direita erguida.

–-Desculpe Haruno-san – franziu a testa – Onde está querendo chegar? Quer algumas garrafas? Desculpe, mas não posso arranjar. Mas sei de alguns alunos que...

–-N-Não, não é nada disso – percebeu o quanto sua pergunta havia sido idiota – Desculpe, não é nada, apenas... Esqueça.

–-Tudo bem. – olhou-a confusa – Mas quantas vezes eu já te falei que tenho um lugar pra ir?! – esbravejou – Se eu tiver que repetir mais uma vez, eu te mostrarei que não sou apenas uma velha decrépita!

–-O-Ok. – ela era amedrontadora quando queria.

–------------- xx --------------

–-Muito bem. Haruno-san está entregue. – a senhora lhe sorriu amigavelmente diante o corredor feminino.

–-Por favor – sua voz era rouca e baixa enquanto mantinha o olhar direcionado para o chão – A senhora pode me acompanhar até o... Quarto?

–-Haruno-san, eu já lhe disse... – interrompeu-se, a garota ainda parecia um pouco desolada. Aquele havia sido um trauma forte, pelo visto. Suspirou fundo – Tudo bem. Qual é o seu quarto?

–-210.

–-Não está tão longe assim.

–-Sim, em cinco, oito minutos chegamos.

–-Acho que guardaram algo pra mim.

–-Sim, eu espero.

–------------- xx --------------

–-Estou ficando preocupada, onde Sakura-san pode estar? – pensou alto.

–-Não tem alguma ideia? – parecia igualmente preocupado.

–-Bom... – esforçou-se a lembrar – Ela gosta de andar por aí. Talvez esteja...

–-No jardim? – cortou.

–-Como s-sabe? – seus olhos perolados arregalados.

–-Eu a conheço bem. Pelo visto, ela não mudou muito. – por um único instante, Hinata podia dizer que havia visto um minúsculo sorriso no rosto do garoto ruivo.

–-Vou procura-la. – disse se levantando decidida deixando a xícara e o pires de lado.

–-Irei junto. – ele da mesma forma.

–-N-Não precisa, n-não quero incomodar. – seu cinismo era terrível.

–-Não será incomodo. – começou a divertir-se com a história.

–-Não q-quero que os monitores t-te vejam! – contra-argumentou.

–-Não será problema. Estão todos reunidos na sala de professores festejando. Como acha que cheguei aqui? – caminhou até a porta.

–-M-Mas...

–-É melhor irmos antes que fique tarde de mais. – lhe estendeu a mão pela passagem da porta pedindo educadamente que ela saísse.

–-Tudo bem. – suspirou em derrota – M-Mas não poderá ir embora se ficar até tarde.

–-Não tem problema, notei uma cama vazia em seu quarto. – ela arregalou os olhos. “O quê?” pensou. Agora era definitivo, não gostava dele.

–------------- xx --------------

–-Ah – suspirou cansada – Muito bem, este é o seu corredor, estou certa?

–-Sim, Chyo-baasan. Muito obrigada. – sorriu-lhe gentilmente. Finalmente um sorriso espontâneo e sincero. A companhia da senhora havia lhe feito bem.

–-Oh, por nada, mas não se esqueça do que combinamos. – estava feliz por animar a garota.

–-Certo.

–-Ah, e, da próxima vez, arranje um local mais seguro para se encontrar com seu namorado.

–-Ele não é meu... – parou pasmada por um instante.

–-Sakura-san? Sakura-san?! Oy, garota! Está tudo bem?! Se mexa! – a imagem da garota parada lhe remetia lembranças ao acontecimento mais cedo. Já havia passado então se perguntava se havia falado algo errado.

Ao longo do corredor, um garoto ruivo estava à porta de um dos quartos a presença de uma aluna morena. O olhar de Sakura não se direcionava para a garota, ao contrário, estava totalmente voltado ao ruivo. Seus olhos começaram a marejar. Tristeza, alegria, não sabia, mas aquela presença, aquela pessoa, exerceu sobre si um mar de sentimentos.

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Notas finais do capítulo

Embora eu tenha revisado, eu posso ter deixado algo passar então digam nos comentários ok?
Ah, e aí, sirvo para ser troll? Hahaha'.
Ja ne (: