Hello, Stranger escrita por Leh-chan


Capítulo 5
Socorro!




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/24988/chapter/5

:: CAPÍTULO 5 – Socorro! ::


[T
ora’s POV]


            Estávamos andando há uns quinze minutos desde o incidente com o café. No caminho, encontramos um lixo onde jogamos os copos descartáveis e prosseguimos. Já estávamos na caixa-forte 872, então não tardaria muito para a nossa chegada.

            Quanto mais profundo íamos, mais os cofres ficavam pesados e protegidos, por todo tipo de coisa. Mas esse para o qual íamos era diferente dos demais. Eu nunca o havia visto, mas ouvi relatos de quem já esteve aqui. E quando nós chegamos, era exatamente como imaginava: uma porta. Comum, não como os cofres vizinhos todos revestidos de aço... Apenas uma porta. Fiquei olhando-a por um instante, imaginando o que ela guardaria... E quando eu menos esperava Hiroto já tinha uma chave em mãos e estava a abrindo. Mais uma vez, segurou a porta para que eu passasse à sua frente, e eu o fiz sem nem olhar se ele estava com gracinhas novamente.

            Ao entrar, uma luz fraca se fez presente. Ogata fechou a porta atrás de nós e começou a olhar as coisas à sua volta. Havia apenas alguns computadores deveras estranhos na parede oposta à entrada, e nada mais.   

           – Muito bem, então... A gente deve começar por...

            – Já estive aqui. Sei o que fazer. – Interrompeu-me. Apenas confirmei com a cabeça e deixei que ele caminhasse em direção aos monitores, que acenderam com um toque no teclado.

            Hiroto digitou um monte de coisas, colocou as mãos em um leitor de digitais, postou os olhos em frente a um leitor ótico, digitou mais um monte de coisas e, por fim, como naquelas máquinas de dinheiro que existem em outro setor do banco, uma coisa caiu por uma abertura pequena.

            – Pode me ajudar, por favor? – Fiz que sim com a cabeça e fui até o local que ele me indicou: uma tomada, no meio de uma parede vazia.

            – Erm... Então...? – Não entendi a finalidade daquilo, até que ele retirou a cobertura de plástico da dita tomada. Mas ao invés de circuitos e fios, havia ali uma singela fechadura. Então eu vi que o objeto que ele acabara de adquirir era uma chave dourada, que ele estava girando ali. Na hora, aquelas cenas de filmes (novamente os filmes...) veio em minha mente, onde a parede se move sozinha então começa a surgir um monte de fumacinha do nada. Fui tirado de meus devaneios por um cutucão:

            – Me ajuda a empurrar isso! – Ele estava empurrando... A parede? No sentido que ela ia, ele a empurrava, como uma porta de correr. Mas pelo jeito era muito fraquinho, pois nada de a parede se mexer... Ou era só loucura mesmo tentar empurrar aquilo. Seja como for, ainda é meu trabalho, né... Suspirei e comecei a imitar o gesto do menor, e para a minha surpresa, uma pequena fenda se abriu. Colocamos nossos dedos nesta fenda e cada um puxou seu lado da “porta”. Terminei antes que ele, então passei a admirar uma porta de metal pesada e mais um lugar para se digitarem números. Assim que o loiro terminou, digitou algo ali. Depois colocou seu dedo polegar em alguma coisa e eu pude ouvir um pesado “clique” ecoando no ar. O cofre estava aberto, agora. No lugar onde outrora estava escrito “digite a senha”, apareceu um cronometro, marcando três minutos, e sempre diminuindo. Fechamento automático.

            – Pois bem, é melhor entrarmos. – Comentei.

            – EntrARMOS? – Falou ele, dando ênfase à conjugação que eu escolhi.

            – Sim, entrarmos, Hiroto. Algum problema?

            – Nenhum, é só que... VOCÊ ESTÁ INVADINDO A MINHA PRIVACIDADE! – Gritou comigo. Ai, que vontade de gritar de volta... Mas limitei-me a responder normalmente:

            – Não posso deixar você sozinho com as coisas. Não são suas, não estão no seu nome. Além disso, você já se provou suficientemente cuidadoso e digno de minha confiança, né? – Vi o mais novo fazer um bico, mas logo prosseguiu:

            – Da última vez que eu vim aqui, não precisei de babá.

            – A última pessoa que te atendeu não deveria te conhecer como eu... Talvez você não tenha batido no carro dela, vai saber? – Eu não ia ser chamado de babá e ficar quieto. Não mesmo... Vi-o fazer bico novamente. Ô coisinha fofa, viu... Quase me faz perder a vontade de te matar... Ao invés disso, só fazer sofrer um pouco... Ou muito.

            – ‘Tá certo, mas você tem que fechar os olhos. – Disse, já entrando no local, eu indo logo atrás, mas de olhos bem abertos. Oras, eu não ia roubar o dinheiro dele, caramba.

            – Eu venho aqui para te vigiar e você quer que eu feche os olhos? Claro, claro... – Continuei caminhando, até quando estávamos lá dentro.

            – Eu deixei você entrar, já é o suficiente. Preciso de um pouco de privacidade, okkei? – As luzes iam aumentando gradativamente. Era uma luz avermelhada, daquelas que usam em museus para não danificar os quadros. O lugar ia ficando mais aquecido, também.

            – Deixa de ser teimoso, eu aqui dentro ou não, não faria a menor diferença se estivesse parado feito uma estátua. – Agora eu já conseguia discernir algumas poucas formas, dentre elas, algo luminoso que marcava o tempo e continha uma mensagem, pedindo para digitar mais uma vez a senha de verificação. Irrelevante.

            – Eu não quero que você fique!

            – E eu não posso sair! Hiroto, é meu trabalho! Deixa de ser teimoso e vai logo! – Okkei, faltou educação. Mas eu estou com sono, com fome, e esse menino me irrita. Além disso, ficar nessa “caixinha metálica” não é agradável. Não sou uma sardinha.

            – Pois eu não vou me mexer enquanto estiver aqui, e então você vai perder seu precioso dia. – Retrucou e sentou-se no chão, pernas e braços cruzados, virado para a parede.

            – Ótimo. – Respondi, fazendo o mesmo, de costas para ele. Comecei a observar o ambiente que nos cercava. E sabe de uma coisa? Não tinha NADA ali. Apenas mais um cofre pequeno sobre uma prateleira e algo fino e longo coberto por um pano noutro canto. Tanta segurança para.... Isso? Só fiquei mais curioso agora.

            Tirando-me de meus devaneios, pude ouvir uma voz feminina e aveludada, que eu conhecia bem: aquela automática que te atende em todo santo lugar, sabe?

            “Três... Dois... Um.”. E então, um barulho de “clique” bem pesado. Virei-me para a porta, só para confirmar minhas suspeitas... Estávamos trancados.

            – Hiroto...

            – Ah, quer dizer que resolveu sair? – Ele ainda não havia visto. As luzes começaram a abaixar, junto com a temperatura.

            – Hiroto... – Me virei, um pouco trêmulo, tocando seu ombro.

            – Não vai sair não? Pois então podemos ficar aqui pra sempre.

            – Hiroto, eu... Não duvido que fiquemos...

            – Não vai levantar, não?

            – Hiroto... – Repeti seu nome de novo, nervosamente. – Nós estamos presos.

            – Como presos? É só você sair que esse nosso ciclo vicioso se quebra.

            – Não... A porta do cofre... F-Fechou. – Comecei a olhar em volta, buscando por algo que nos ajudasse. Adivinha? NADA.

            – Não... Não é possível, Shinji. Portas de cofres não se fecham sozinhas.

            – Só quando têm fechamento automático e o dono está distraído demais fazendo birra para ir colocar a merda da senha! – Explodi. Aquele lugar parecia ir encolhendo à medida que ficava mais frio e menos iluminado. Encolhi-me um pouco, e Ogata virou-se de frente para mim.

            – Ah, desculpe, desculpe... Então você abre logo isso para nós podermos sair...

            – Eu não posso abrir.

            – Como assim? Você TRABALHA aqui, veio até aqui comigo para me auxiliar... Tem que saber o que fazer.

            – Só se pode abrir do lado de fora, agora. Pelo-amor-de-Deus – Falei muito rápido, as palavras pareciam uma só. – me diz que você não trouxe a chave com você...

            Ele parou para analisar os bolsos. Por favor, por favor, por favor...

            – Não, ficaram na fechadura... Isso é bom? – Ótimo! Ainda temos chances!

            – Sim, sim... Agora é só ligarmos para alguém vir nos buscar... – Inocentemente, vasculhei por meu celular em minha mala. Tirei-o de lá e, quando fui usar, me lembrei da coisa mais óbvia: na profundidade que estávamos e com paredes tão grossas, nenhum celular seria capaz de ter sinal. Legal, vamos morrer.

            Ogata deve ter notado o “que” de desespero em meu rosto, pois logo veio perguntando, sutilmente mais preocupado agora:

            – Não conseguiu também, né? – Claro que não! Apenas assenti negativamente. Ele prosseguiu. – Então... O que devemos fazer? – Por incrível que pareça, ele estava calmo. Talvez fosse melhor assim.

            Apenas me levantei em silêncio, pegando minhas coisas e caminhando lentamente para o canto da sala de metal. Encostei-me no encontro de duas paredes e ali fiquei. Agora o sono, a fome, a raiva... Tudo estava indo embora... E eu só queria ir embora também. O frio, a visão diminuindo a cada instante... A sensação de estar tudo encolhendo... Acho que se chama “claustrofobia”. Estava enganado ao dizer que não era um bichinho claustrofóbico, no fim das contas.

            Só notei que o loiro havia se aproximado quando se sentou exatamente ao meu lado, se encolhendo todo e batendo os dentes, congelando de frio, eu suponho, por vestir uma roupa tão fina. A luz estava estável agora, era pouquíssima, só dava para ver sua silhueta. A temperatura daqui era, se não me engano, quinze graus Celsius. Suportável.

            Retirei meu paletó lentamente e o estendi para Hiroto, que apenas virou sua cabeça para o meu lado e ficou olhando.

            – O quê...? – Perguntou, sem entender.

            – Vista... Deve estar com frio. Se soubesse, tinha pego sua blusa lá na minha sala...

            – O que minha blusa faria na sua sala se eu não trouxe uma?

            – Ontem... Eu a trouxe hoje.

            – Então você já sabia que ia me encontrar? – Perguntou, desconfiado.

            – Não... Um acaso. Mas isso não ajuda... Pegue logo. – E estendi mais o paletó. Ele ficou meio receoso, mas o pegou. E quanto menos eu esperava, senti-o deitar a cabeça no meu ombro e jogar o paletó aberto sobre nossos corpos encolhidos.

            – O quê...? – Foi minha vez de usar a frase super-criativa.

            – Não quero ninguém morrendo de frio. – Deu de ombros. – Além disso, você está tremendo muito... – Observou ele. Só não iria contar que o verdadeiro motivo da tremedeira não era exatamente a temperatura... Então fiquei quieto.

            Silêncio? Perto do Hiroto-atentado-sama? Uau... Diferente. Ele estava apenas encolhidinho, encostado no meu ombro... E então, senti sua mão puxar minha cintura para mais perto de si, o que fez minha cabeça tombar levemente para o lado e ficar sobre a dele. E novamente, aquele cheiro delicioso dos seus cabelos tomou conta de meu ser... Era calmante. Depois disso, não sei quanto tempo ficamos assim, só sei que eu não estava mais limitado àquela caixa de sardinhas super desenvolvida. Estava extasiado... Aquilo era quase como cheirar cola (não que eu tenha cheirado, crianças).

            – Shin... – Ouvi uma voz manhosa.

            – Pode me chamar de Tora... – Já que ele queria um apelido, que fosse um decente. Odiava “Shin”.

            – Tora¹? – Senti ele se levantando e, mesmo sem ver, um olhar malicioso ser lançado sobre mim. – Raaaaaaawr... – Isso era uma onomatopéia de tigre. Falida. E uma mão arranhou meu braço por cima da blusa.

            – Que tem?

            – Selvagem... Algum ex-namorado te nomeou assim?

            –...

            – Nossa, você deve ser terrível na cama, hein! – E mais uma vez, aquela “garra” me arranhava o braço. Suspirei mentalmente. É, ele não mudou em cinco minutos... Ainda é o mesmo Hiroto de sempre.

            O mesmo de sempre... Estranho dizer isso de uma pessoa que eu conheci ontem. Estranho, pois parece que eu o conheço de mais tempo...

            – Mas então, Toooooora... – Disse ele, prolongando o “o”. – Estou com fome, mas não sei quanto tempo ficaremos aqui. O que temos? – Perguntou-me enquanto tirava o celular do bolso e ativava a lanterna que ele possuía, convenientemente localizada na parte superior. Útil. Não iluminou muito, mas um pequeno círculo que fez com que pudéssemos nos enxergar. Estava de frente para mim agora, meu paletó cobrindo apenas a mim. A sensação de compressão voltava lentamente, então procurei manter a mente ocupada.

            – Temos nossas duas tortinhas de limão, e... – Retirei a marmita que Ayaka fez para mim da mala, abrindo-a e encontrando quatro lanches com patê de atum e uma garrafinha com chá verde. Relatei o fato ao loiro.

            – Certo, certo... Vai dar para viver. Vamos dividir um desses lanches, então. Guarde o resto aí, sim? – O obedeci. Guardava as coisas enquanto ele partia um lanche no meio. Rapidamente, uma metade estava sendo oferecida a mim. Peguei-a, sussurrando um “obrigado” e mordendo o alimento. Acho que não levou nem dois minutos para acabarmos... Mesmo que não enchesse a barriga, matou a fome consideravelmente. Melhor assim.

            – Hum... Tora-san... – Ogata se aproximou. – Tem... Uma sujeirinha no seu rosto. Patê. – E sorriu. – Deixa eu limpar... – Não foi um pedido, e sim um aviso. Não vi problemas, então permiti. Nisso, ele se debruçou sobre meu corpo, eu colei as costas na parede. Devia estar bastante corado agora, o frio já estava até indo embora... Então aquela língua (tão habilidosa, Senhor...) ficou dançando por alguns momentos em minha bochecha, se aproximando cada vez mais de meus lábios, mas por ali parou. Sorte...?

            Afastou-se lentamente, a respiração ligeiramente alterada. Logo, parou de novo. Pertinho de meu nariz... E ficou me olhando. Ficou parado, me olhando, sem dizer nada, sem esboçar expressão... Só parado. Demorou alguns minutos, então uma mão subiu por meu rosto, alisando-o com cautela, e foi até meus cabelos. Então, segurou um bom pedaço e levantou-o, bagunçou-o, alisou-o, bagunçou de novo.

            – Hiro... – Antes que eu terminasse de falar, suas mãos se dirigiram a meus óculos, retirando-os cuidadosamente da minha face.

            – Você... Tem um rosto bonito. Fica melhor sem óculos. Se colocasse uma roupa indecente, arrumasse o cabelo e passasse um pouco de maquiagem, talvez até que desse pro gasto mesmo. – O quê? Ai ai ai ai ai... Só este menino mesmo... Sorri levemente e voltei a me encostar na parede do canto, vendo o rapaz empoleirar-se ao meu lado e ali permanecer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

N/A:Erm... Oi!

Primeiramente... Quero destacar minha frase favorita do capítulo: "Ô coisinha fofa, viu... "
... SHAUSHAUSHAUSHAUSHA

Pois é... Tia DaniDeadRabit adivinhou minha intenção, droga ò.ó
Aqui estão eles, trancados no cofre... Então? Agora.... Que se matem, oras...

Só mais dois detalhes: crianças, não cheirem cola!
E... Desculpem-me pela viagem nerd-super-ficção-científica que os dois empreenderam até o confinamento deles. A imaginação vôou demais... :x