Hello, Stranger escrita por Leh-chan


Capítulo 4
A loira tarada?




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:: CAPÍTULO 4 – A loira tarada? ::


[T
ora’s POV]


            – Amano-sama? – Chamou uma das recepcionistas que eu conhecia só de vista. – A pessoa que o senhor está esperando chegou. – Então virou-se, abrindo passagem para o que eu imaginava ser uma loira tarada, até que... O que eu vi teria me traumatizado para sempre... Mas depois de ontem, não me surpreendo facilmente com acasos.

           Seus olhos castanhos fitaram-me com curiosidade. Digo, uma ENORME curiosidade, olhava de cima a baixo. Agora, sob a luz do dia, não vou mentir: minha curiosidade também era grande, mas eu sei disfarçar, né?!

            Ele estava um pouco mais “ajeitadinho”. Uma camisa de linho fina, preta, meio aberta e desleixada sobre uma calça jeans de lavagem clara. Nos pés, o tradicional All Star. Alguns acessórios e maquiagem devolviam o sutil ar rebelde que lhe era natural. Apresentável.

            Entretanto, agora que eu o via melhor... Ele tinha cara de criança. Era bem novo, diria uns 22 anos... Tinha olhos relativamente grandes e chamativos, e neste momento, mantinha os lábios levemente abertos enquanto me observava, dando-lhe uma expressão de bobo. Adorável. Sim, adorável... Oras... Ele acabou com minha vida, mas ainda tem o direito de ser bonito.

            – Hiroto...?

            – Erm... Tio? – Questionou ele, enquanto a recepcionista fechava a porta, abafando um risinho.

            – Eu... E... – Nem sabia por onde começar. Queria xingá-lo tanto, mas tanto...

            – O tio tem nome? – Perguntou com naturalidade, parando de me analisar e passando a fitar meu rosto, com seriedade.

            – A-amano Shinji... – Vacilei por um momento, e no momento seguinte, ele já tomava minha mão, apertando-a de forma educada.

            – Ogata Hiroto... É um prazer. – E sorriu levemente, um sorriso que eu jurava conter certa dose de malícia. Como isso é... Irritante!

            – Pois que bom que sente prazer, já que eu não. – Fechei o rosto.

            – Ah, o que foi agora, tio? – O sorriso desapareceu.

            – Como o que foi? Você...

            – Eu amassei seu carro... E daí? Eu vou pagar... Não se importe... – Ele me interrompeu. Então, além de tudo, ele deve ser um desses filhinhos de papai. Certo... Vamos acabar com isso, então.

            – Olha, garoto... Você devia prestar mais atenção no que faz, fala e pensa, se é que pensa. Poderia, pelo menos, fingir que se importa? Não é apenas um carro... Era meu carro. Além disso, você me fez estragar todo o trabalho que eu passei a noite fazendo, eu não dormi essa noite por sua causa! – Ok, não era culpa exclusiva dele, mas ele não ajudou.

            – Nooooooossa, quer dizer que eu sou tão irresistível a ponto de te tirar uma noite de sono, huh? Não pensei que você fosse entregar os pontos tão rápido. – Disse, enquanto mexia nos cabelos loiros.

           – Do que está falando? – De fato, não entendi palavra.

            – Oras... Não é claro que você é gay? Só pensei que não fosse entregar tão rápido... – E bocejou. Senti meu rosto esquentar... Não de vergonha, e sim, de raiva. O pior de tudo é que eu nem poderia rebater.

            – S-seu... – Limitei-me a prender a ofensa. Afinal, estava trabalhando, ainda...

            – Certo, tio, certo. Relaxa e goza... Além disso, eu estou com um pouquinho de pressa. Podemos logo fazer o que temos que fazer, por favor? – Deu de ombros. Pena que eu não posso matar um cliente... Enquanto estamos dentro do banco. Só se fizer parecer um acidente...

            Suspirei. E o que mais eu poderia fazer, mesmo?

            ­– Ok, senhor Ogata, se... – Sua voz me interrompeu.

            – Pode me chamar de Hiroto.

           – Por que deveria?

            – É como os mais íntimos me chamam. – Disse ele, dando uma piscadela e tirando do bolso algum tipo de gloss, passando nos lábios de maneira, no mínimo, desejável. Quer dizer que eu não sou o único gay, huh?

            – Que seja... Hiroto. Pode me acompanhar até minha mesa? Tem algumas perguntas que eu preciso fazer.

            – Sim, senhoooor! – Respondeu-me, correndo para a cadeira que ficava de frente para a minha, na outra extremidade da escrivaninha. Lembra que eu sou um ser racional? Que passado distante, né? Então eu somente andei até meu lugar, sentei-me e peguei um papel e uma caneta. Não que eu fosse precisar deles, mas os clientes ficam irritados quando falam, falam e ninguém faz nada.

            – Nome completo? – Perguntei, tentando não olhá-lo, por saber que ele mantinha os olhos presos em mim.

           – Ogata Hiroto. Você fica melhor sem os lábios inchados, sabe? – Abaixei mais a cabeça, fingindo anotar algo e ignorando o comentário.

            – Idade?

            – Vinte e quatro. E vocêeeeee? – Vou tentar ignorar de novo.

            – Telefone?

            – Eu perguntei primeiro.

            – O quê? – Questionei, fazendo-me de desentendido.

            – Quantos anos tem, tio Shinji? – Legal... Não sabia que minha irmã tinha filhos.

            – Vinte e sete, Hiroto... Pode me dizer seu telefone, por gentileza?

            – Oras, você já tem meu telefone, aposto que já até decorou... – Procurou me irritar, eu nem desviei os olhos do papel, mas pude ouvir um risinho satisfeito.

           – Muito bem... Sabe dizer o número da conta?

            – Sim.

            Após confirmar, apenas ficou em silêncio. Esperei um minuto, dois... Então o fitei. Estava tranquilo, brincando com uma caneta, olhando o teto.

            – Então...?

            – Então o quê? – Perguntou-me. Eu posso matar ele? Só um pouquinho, vai...

            – O número da conta.

           – É, todas as contas tem um número... – Concluiu olhando para o teto, ainda. Acho que encontramos um gênio!!!

            – Fato.

            – Ahan... O clima anda instável, né?

           – Poderia me dar o número da sua conta, por favor? – Perguntei, a vontade de jogar algo nele aflorando.

            – Ah, até que enfim! Pensei que nunca ia pedir!

           – O QUÊ? – Elevei o tom da voz enquanto ele fazia cara de indignado.

           – Oras, você me perguntou se eu sabia, não qual era ele. Mas agora que pediu com tanto carinho, amor, até posso te dar... As pessoas te dariam qualquer coisa se pedisse com jeitinho assim, sabe? QUALQUER coisa. – Frisou o “qualquer”. Ah... Será que é tão visível assim o meu nível de habilidade social sutilmente abaixo da média?

            – Então...? – Tentei novamente. Em seguida ele ditou o número da conta lentamente, e eu fingi anotar. A finalidade disto era saber se ele, de fato, era o dono da mesma. E ainda vinham muitas, muitas outras perguntas...

            – A senha, por favor? Pode me dizer?

            – Não vou dar minha senha pra você, espertão.

            – É apenas a de verificação, Hiro... – Me interrompeu. Como? Ele levantou e se debruçou sobre minha mesa, ficando realmente muito próximo de mim. Quando eu ia pedir uma explicação, ele começou a falar:

            – Que nó de gravata mais horrível, Shin-chan... Deixa-me arrumar isso. – E antes que eu pudesse aceitar, negar, ou sequer piscar, eu estava sendo puxado pela gravata, como um cachorro é puxado pela coleirinha. Se eu já estava próximo do cidadão, nem queira imaginar agora. Nossas respirações se chocavam e o loiro molhava lentamente os lábios usando aquela língua aparentemente habilidosa enquanto desfazia o nó do meu pescoço.

            Vim a descobrir que as mãos do ser oxigenado também eram hábeis, pois geraram um nó perfeito em poucos segundos. E você diz: por que você não reclamou se não está gostando, animal de patas? Resposta simples: se eu pensar em mexer os lábios, eles se selam com o loiro tarado (hã, hã... Combinooou, BINGO. Estou ficando muito sensitivo, huh?).

           Finalmente ele estava se afastando, um sorriso incrivelmente inocente nos lábios. Ah... O que eu posso fazer?

            – Hum... Obrigado. Podemos prosseguir?

            – 123456... Podemos ir logo, Shin-chan? Estou com pressa, e nós dois sabemos que isso é completamente sem fundamentos e desnecessário. Se você quiser fazer uma entrevista comigo, tem meu telefone... – Nossa, essa foi a senha mais idiota que eu já vi, mas estava certa. Suspirei, levantando-me da mesa. Ainda tinha mais o que perguntar... Mas ele não estava a fim e eu só queria me livrar daquela coisa que anda e fala, pois a fome e o sono tomavam conta de mim.

            Peguei minha mala e fiz menção para que o mais novo me seguisse, ação que ele iniciou no mesmo momento. Nem me dei ao trabalho de olhar para trás, graaaande erro. Logo, uma mão estava sendo pousada na minha cintura, apertando-a sutilmente e me afastando da porta. Assim, Hiroto passou na minha frente e abriu-a, indicando-a para que eu passasse com um sorriso falsamente cortês. Ô audácia da filombeta, viu...

           Passei, tentando não demonstrar nada em minha expressão. Ele quer jogar um joguinho? Pois sou EU quem dá as cartas.

-

            – Etto... – Ouvi um fio de voz cortar o silêncio enquanto caminhávamos por um setor um tanto mais vazio do banco.

            – Sim? – Perguntei, eficientemente. Ele é só mais uma parte do meu trabalho... Só mais uma parte do meu trabalho... Então, acalme-se...

            – A gente podia tomar um pouco de café antes de ir? – Ah, a criança feliz falou a palavra certa: café. Tudo que eu estou precisando agora...

            – Claro! A cantina fica no nosso caminho, então não vai fazer mal passar lá e pegar uns copos.

            – ÊÊÊÊÊÊ! – Exclamou, aparentemente feliz. Acho que ele deve ficar mais quietinho enquanto come...

            Viramos um corredor à direita. Já estávamos em uma parte bem profunda do estabelecimento, poucas pessoas iam lá. Ainda assim, havia uma pequena barraca com comes e bebes... Muito útil quando as cantinas principais estavam lotadas.

            – Ali está... – Disse, enquanto apontava para o lugar. Continuei caminhando, mas desta vez, o loiro tomou a dianteira. Quando o alcancei, já estava fazendo o pedido.

            – Dois cafés expressos e duas tortinhas de limão, por favor. – A moça sorriu para ele e anotou o pedido, em seguida, indo providenciar. O que eu podia dizer?

            – Hm... Obrigado. – Eu estava com fome, mesmo. Pelo menos ele foi útil, né?

            – Obrigado “os escambau”! São para mim. – Falou, sério. Eu já estava procurando uma resposta à altura quando ele sorriu e deu um soquinho no meu ombro. – Há, brincadeirinha, Shin-chan. – E sorriu. Logo a moça nos deu os alimentos, Hiroto pagou, entregou-me os meus e continuamos a andar.

            As tortas estavam dentro de um potinho plástico, então coloquei a minha no bolso da minha calça e comecei a tomar o café. O loiro fez o mesmo.

            Logo, estávamos em um ponto completamente deserto do banco, estilo filmes americanizados. Andávamos e as luzes automáticas iam se acendendo pelo caminho. Ainda estávamos muito longe de nosso destino, deviam permitir carrinhos de golfe.

            – Ne, Shinji-san... Ainda falta muito? – Ele começou a falar, agora andando de costas para poder falar comigo. Isso não vai acabar bem...

            – Um bocado... Você não deveria olhar para a fren.... – Nem tive tempo de terminar. Sério... Acho que a única coisa que eu não consigo adivinhar são os números da loteria. Adivinha? Ele tropeçou em qualquer coisa que eu não cheguei a ver e derrubou café quente em mim. Mais precisamente, conseguiu sujar minha camisa e minha gravata preferida. Respira, Tora... Respira fundo...

            – Ah, me desculpe, Shin-chan... – Falou ele, em tom preocupado, aproximando-se de mim e mexendo na camisa, no intuito de afastá-la do meu corpo para que eu não me queimasse, acredito. A essa altura, adianta eu surtar por algo tão pequeno? Depois de lavado sai... Ao contrário do meu amor (vulgo: carro).

            – Tudo bem, tudo bem... – Respondi, repelindo-o e retirando um lenço do bolso de meu paletó. Ia começar a limpar quando novamente, sua mão me interrompeu, tirando o lenço da minha mão antes que eu pudesse pensar.

            – Deixa que eu resolvo isso... – Oh-ou... Comecei a recuar involuntariamente, até que choquei minhas costas contra uma superfície gélida. Hiroto segurou cuidadosamente o tecido de minha blusa, aproximando-se muito de mim para poder assoprá-lo. Não sei o motivo, mas apenas o fez. E começou a variar entre soprar e secar-me com o lenço “roubado”. Sua cabeça sob meu queixo, e eu devo assumir: o cheiro que seus cabelos exalavam era estonteante. Apenas recostei a cabeça na parede com um suspiro, esperando que ele terminasse, e desejando intimamente que esse momento chegasse logo.

            Não demorou muito e eu já me via livre, com o lenço sujo de café estendido para mim. O que ele esperava que eu fizesse com ele? Coloquei-o dentro de seu copo quase vazio de café, que eu mantinha em mãos para jogar fora quando avistássemos um lixo.

            – Toma. – Ofereci meu café para ele, já que o loiro mal havia tomado o seu. Eu sou muito gentil, né? Não deveria... O fato é que de tanto café que havia em mim, eu não queria mais beber.

            – Ah, não... Esse é o seu, e...

            – Não gosto muito de café. – O interrompi, uma mentira deslavada, mas que o fez sorrir e acenar com a cabeça enquanto tomava o copo de minhas mãos. E assim, continuamos andando, o corredor vazio e apertado, metálico e nada acolhedor, que se estendia por muitos e muitos metros ainda...

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Notas finais do capítulo

N/A: Sabe, isso é um fenômeno raro (-Ronaldo), mas eu gosto dessa fic. Especialmente de algumas frases específicas.

“Ele acabou com a minha vida, mas ainda tem o direito de ser bonito.” “Erm... TIO?!” “Pena que eu não posso matar um cliente, [...] só se fizer parecer um acidente”

...
Eu realmente AMO esse Tora. E AMO judiar dele, claro. Vocês não gostam dele, também? ♥