Hello, Stranger escrita por Leh-chan


Capítulo 2
Sempre piora, meu amigo...




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:: CAPÍTULO 2 – Sempre piora, meu amigo... ::


[T
ora’s POV]


            Finalmente, acabei... Lembra quando eu disse que tinha trezentas folhas pra corrigir? Pois é, eu errei. Eram quatrocentas e vinte e três. Se minha cabeça já estava doendo antes, imagine agora?

            No “cubículo do Shou” não havia relógio, mas já deveria estar tarde, pois meus olhos fechavam involuntariamente. Ajustei os óculos e peguei todas as folhas, ajeitando-as e batendo as mesmas na mesa, para ficarem alinhadas. Agora, a mesa já estava uma bagunça de novo. Vários copos de café, os papéis daqueles croissants todos (eu comi tudo sim, e daí? Não vou engordar por isso, morra de inveja.), os papéis que estavam errados, todos espalhados, alguns tsurus que eu havia feito em momentos de tédio... Num estado semelhante ao que eu encontrei, resumidamente, mas não iria deixar as coisas assim.

           Procurei o celular no meu bolso e fitei o visor. 3h41min. Até que eu acabei antes do que imaginei... Sou eficiente com cálculos, reconheço. Saga também reconhece, e por isso eu tenho uma sala luxuosa e não um cubículo. Para não falar na diferença de salário, claro...

           Olhei ao meu redor, no chão, e encontrei o que procurava: um pequeno cestinho de lixo. Tudo bem que eu procurava um que não fosse tão pequeno, mas esse ia servir. Fui recolhendo todo o lixo da mesa e comprimindo-os o máximo que pude, jogando no cesto de maneira quase “organizada”, para que coubessem todos os itens. Levou um tempo, mas consegui colocar tudo ali. Kazamasa que se vire depois, já fiz demais por ele. Preciso parar de ser tão bondoso... Enquanto eu estou aqui, ele ainda deve estar “se divertindo” por aí com o “Pooh-san”. Mas agora que eu acabei, só preciso ir para casa... Um dos pontos positivos é que não tem como a coisa piorar, né? Cansado, com dor de cabeça, a boca inchada parecendo um angolano... É, não vai ficar pior.

           Finalmente, depois de tanto tempo sentado, levantei-me. Os músculos das pernas já estavam dormentes. Estiquei-me um pouco, na esperança de me sentir mais confortável. Não ajudou muito.

            Peguei minha maleta e abri, na intenção de colocar os papéis recém-corrigidos lá dentro, mas para minha surpresa, só um terço deles iria caber. Coloquei a parte de cima do montinho e fechei a mala, com um pouco de dificuldade, quase socando as coisas ali. Legal. Vou ter que levar mais da metade na mão. O caminho até o carro é um pouco longo...

            Enfim, verifiquei se havia deixado tudo certo. Visto que sim, retirei os óculos, voltando a colocá-los no bolso do paletó, ajeitei as mangas outrora elevadas, peguei minha mala com uma mão, abracei os papéis junto ao corpo com o outro braço e comecei a caminhar novamente pelo banco, aquela sensação terrível de claustrofobia me invadindo. Não que eu fosse um bichinho claustrofóbico, mas aqui não é um lugar exatamente confortável. Além disso, lembro dos dias em que eu trabalhava numa mesinha como essas... Era terrível. Realmente adoro minha sala com vista para o parque. Sério, é tão mais confortável trabalhar lá...

            Mais uma desvantagem de ficar naquele lugar é que não há janelas, nem contato com o mundo exterior, e desta forma, não notei que estava chovendo antes de alcançar a portaria. Fiquei um tempo observando a rua vazia através da porta giratória de vidro. Acho que acordei com o pé errado... Na verdade, teria acordado com o pé errado, se não tivesse caído de bunda no chão logo de manhã. Devia ter notado desde então que hoje não seria um dia bom.

            Coloquei os papéis dentro do paletó, colando-os na minha barriga e segurando firmemente. Ah... Eu realmente não deveria ter acordado hoje. Saí correndo o mais rápido que pude, olhando apenas para o chão. A chuva me fustigava, rapidamente me encharcando, então apertei o passo. Os papéis pelo menos estavam seguros...

            Continuei correndo e vi que, para a minha surpresa, a rua não estava deserta. Na direção oposta à que eu ia, uma mulher vinha correndo, provavelmente com o intuito de não se molhar. Usava uma blusa vermelha chamativa que lhe parecia demasiadamente grande. E, além disso, parecia estar chorando. Por um segundo, parei para observá-la, e esse segundo foi suficiente para tudo ir pelos ares... Literalmente falando. Um maluco veio correndo em minha direção e adivinha? Não teve a capacidade de desviar! Assim, eu caí, ele caiu por cima de mim e todos os meus preciosos papéis caíram junto. No chão. Numa poça. Com água. Água líquida, sabe? Aquela que desintegra papéis.

           – Você não olha por onde anda não? – Disse o rapaz loiro, olhando bem fundo nos meus olhos, quase me perfurando. Se ele não estivesse em cima de mim, juro que tinha socado aquele idiota tão... Tão...

            – Você que deveria tomar mais cuidado, pirralho! – Gritei, por impulso. Observando-o melhor agora, era um jovem. E um daqueles meio rebeldes, sabe? Roupas estranhas, maquiagem pesada... Talvez fosse melhor não arrumar problemas. Mas puta que pariu, as folhas que eu passei a noite inteira fazendo! Eu não acredito nisso! Me mata logo, bonequinha assassina!

            – Hmph... Vai pra casinha, vai, tio... – Concluiu, levantando-se rapidamente e ajeitando as roupas excêntricas que usava, para depois sair correndo na mesma direção que a mulher havia ido. Acho que eu deveria ficar aqui, deitado no chão, só sentindo a água tocar minha pele... Porque se eu levantar, é capaz de cair uma bigorna na minha cabeça, que nem nos desenhos animados, sabe? Mas é melhor eu recolher logo meus papéis antes que não sobre nada mesmo, e aí nem terei referência quando for fazer de novo.

            ... Fazer de novo... Só pensar nisso já me dá aquela vontade enorme de sair correndo atrás do maldito loiro que me derrubou e socar ele até a raiva passar. Para cada papel encharcado que eu recolhia, imaginava um tapa naquele rostinho tão... Hum... Mais um papel se despedaçou por completo. Legal, Shinji, parabéns por ser tão delicado. Quer saber de uma coisa? Que se dane, também. Juntei todos eles de qualquer jeito, peguei minha mala e continuei correndo, até avistar o meu querido e amado carro, com um aquecedor e remédios para dor de cabeça no porta-luvas. Peguei o pequeno controle no meu bolso e apertei o botão, o que fez com que as lanternas piscassem e abrisse as travas do meu mais novo amor: um Corolla preto de um mês e meio de idade. É por esse tipo de coisa que quase compensa ficar trabalhando até essa hora. Sério.

            Finalmente cheguei lá e abri a porta do motorista com um pouco de urgência. Joguei minhas coisas molhadas no banco do passageiro e sentei-me no do lado, fechando a passagem. Nem acredito que finalmente estou aqui... Um suspiro aliviado deixou meus lábios.

            Abri o porta-luvas e de lá retirei uma pequena toalha, com a qual sequei minhas mãos e rosto o máximo que pude. O próximo passo foi tomar um remédio que diminuiria o volume de meus lábios (que agora que eu olhava no espelho, estavam assustadores!) e amenizaria minha dor de cabeça. Por fim, coloquei o cinto de segurança e liguei o carro, dando partida.

            Acionei o aquecedor enquanto virava uma curva à esquerda. As ruas estavam quase vazias, com exceção das pessoas que estavam, provavelmente, voltando de suas “noitadas”. Era sexta, no fim das contas. Na verdade, tecnicamente, já era sábado. Legal, né?

            Parei em um sinal vermelho de um cruzamento, por pura formalidade, já que não havia carros atravessando. Mais um carro vermelho parou ao meu lado, e em seguida, um prata na minha diagonal. Observava a noite tranquila pelo retrovisor e vi, ao longe, um ponto amarelo trançando a estrada. Hmph... Nunca gostei de carros amarelos. Geralmente seus donos são pessoas que gostam de chamar a atenção.

            O semáforo abriu e eu continuei o percurso. A esta altura, meus cabelos já não estavam pingando mais... Abençoado seja quem inventou o aquecedor. O carro vermelho ao lado dobrou a esquina, mas o prata continuava seguindo o mesmo caminho que eu. Nada fora do comum, claro, já que eu estava em uma avenida que dava acesso à praticamente todo lugar que se quisesse ir. E, como em toda avenida movimentada, havia muitos cruzamentos, com muitos faróis, e eu certamente pegaria todos fechados. Mais uma vez, diminui a velocidade. Uns quinze faróis fechados não seriam nada depois do que eu enfrentei hoje... Mesmo assim, resolvi que seria bom ouvir alguma música, pra alegrar um pouquinho, sabe? Talvez ajudasse muito. Música sempre foi uma das minhas paixões.

            Retirei um CD do porta-luvas e coloquei-o no rádio. Meu CD favorito. Sempre o deixava acima dos outros, para pegar com mais facilidade e... Antes que eu pudesse ouvir a primeira nota da melodia, ouvi um estrondo, e meu carro foi empurrado para frente. Atolei o pé no freio, assustado, o coração disparado. A pista molhada fez os pneus cantarem e isso dificultou minha parada, mas logo eu recebi auxílio: o carro que estava passando na frente me fez parar. E era um Maybach preto... Que carregava uma noiva... E pelo jeito já estava começando a tirar o vestido. E o carro atrás de mim? Lembra aquele doido do carro amarelo? Pois é, ele deu um empurrãozinho e encheu meu traseiro de alegria! E agora nem meu amado CD me apaziguou. Desliguei o rádio com raiva e já saí do carro, num salto, gritando para o rapaz que saía do veículo de trás enquanto a noiva do da frente tentava se recompor: 

            – SEU VIADO! COMPROU A CARTA AONDE? NA MESMA ESQUINA QUE TUA MÃE DAVA O... – Antes que eu pudesse terminar a frase, uma voz me interrompeu.

            – VIADO É VOCÊ! – Bem, errado ele não estava, mas o que me surpreendeu foi a voz que disse isso. A mesma que me perguntou se eu não olhava por onde andava... Abri bem os olhos para poder ver, apesar da grande torrente de água que nos separava, o mesmíssimo garoto de cinco minutos atrás. Primeiro acaba com meus documentos... E agora, com meu carro. O CARRO, CARAMBA! Estava tão preocupado em xingá-lo que esqueci meu precioso. Virei-me rapidamente e vi a pior cena da minha vida, deu até um aperto no coração: meu amorzinho com a parte traseira e a dianteira completamente acabadas, principalmente a de trás. Nesse momento, meus joelhos cederam. Por que comigo, Deus?  Eu juro que eu fui um bom menino, Papai Noel... Eu nunca mais colo chiclete na cadeira do Sakamoto, nunca mais...

            Meus olhos se encheram de lágrimas, já não sabia de mais nada. Como é possível alguém ter um dia tão ruim?! Só voltei à realidade quando vi uma grande jaqueta vermelha ser jogada sobre meu dorso. Do lado direito, um senhor de idade, estatura baixa, estava apontando o Maybach (provavelmente seu motorista) e conversando com o garoto que estava do meu lado direito, e havia acabado de jogar a blusa sobre mim.

            – ‘Tá bom, velho, ‘tá bom... Olha aqui, pega meu cartão. – E dizendo isso, entregou um cartãozinho para o senhor, que deu-se por satisfeito e saiu andando. Em seguida, vi um cartão ser estendido praticamente no meu focinho – Você também, tio. Leva meu cartão, e te pagarei pelos danos... Só não fica reclamando que nem o velho. – E fez uma cara amarrada enquanto eu pegava o papel de suas mãos. Sem esperar por um comentário de minha parte, ele saiu correndo e entrou no seu carro amarelo, dando partida e indo embora. Apesar do carro estar amassado, pelo menos estava pegando. O outro já havia ido embora, também. Se ainda houver algum deus aí em cima que não esteja contra mim, por favor, faça meu carro pegar, ok?

            Abri a porta, sem olhar, pra não me arrepender ainda mais de ter vindo trabalhar hoje e virei a chave no contato, na expectativa. O motor fez aquele barulho característico. É, pelo jeito ainda tem alguém no paraíso que não me odeia tanto. Um dia desses pago umas geladas pra ele.

            Voltei a pegar a mesma toalhinha com a qual me sequei mais cedo e repeti o processo, tirando aquela blusa horrenda com a qual fui coberto. Na verdade, ela me parece familiar... É a mesma que aquela mulher que passou chorando estava vestindo... Ótimo. Agora sei que o rapaz que acabou com a minha vida é loiro, tem mau gosto para carros e roupas, faz moças chorarem... E... Analisando seu cartão, descobri que seu nome é Hiroto. E que a única diferença entre os números de nossos celulares eram os dois últimos dígitos.


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Notas finais do capítulo

N/A: Olá.

Olha só quem resolveu aparecer COM ESTILO nesse capítulo, hein? O ESQUILO! *apanha*

Sabem... Eu já sabia disso. É algo sério, e eu tinha plena certeza. Mas hoje eu só confirmei que... Eu não vou pro céu. Eu amassei dois carros lindos e acabei com o resto do dia de um pobre infeliz....

E será que o dia do Tora ainda tem como ficar pior? Não me subestimem. >DD