Hello, Stranger escrita por Leh-chan


Capítulo 1
Horas Extras


Notas iniciais do capítulo

Essa fic eu estou dando como presente de aniversário de 15 anos pra uma pessoa que eu amo muito. É. Não é o melhor presente que eu já dei pra alguém, mas eu fiz de coração, mesmo. Então, pessoinha, espero que você goste ♥3

Feliz aniversário, e que sua vida seja repleta de felicidades.

Ademais, boa leitura²



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:: CAPÍTULO 1 – Horas extras ::


[T
ora’s POV]


            – Amano-sama... – Ouvi Kohara me chamar, com aquela voz manhosa de quem quer alguma coisa. Larguei minha maleta aberta sobre a mesa, virando-me imediatamente pra encontrar a carinha de cão abandonado que eu já esperava.

            – Sim?

            – Anou... Eu sei que já está na hora de você ir embora, mas... Será que poderia me ajudar um pouco? Juro que não vai levar mais que quinze minutos, e...

            – Tudo bem. – O interrompi, com um leve sorriso nos lábios. Não que eu estivesse feliz em ficar, mas seria pior se não o fizesse. Kazamasa é um estagiário novato com grandes tendências a fazer besteiras. Além do mais, são só quinze minutos... Não deve haver mal nisso, certo?

            – Ah, muito obrigado, Amano-sama! – Seu rosto se iluminou num sorriso contagiante. Em outra situação, talvez eu sorrisse de volta, mas não em plena sexta-feira à tarde, quando tudo que eu quero é tomar um bom analgésico e ir pra cama.

            – Já disse que pode me chamar de Shinji, Kazamasa. – Respondi, tentando não parecer rude, e virando-me para terminar de ajeitar as minhas coisas.

            – E eu disse que pode me chamar de Shou... Que tal assim: eu te chamo como você quer, e você faz o mesmo. Heeeeeeeein? – De onde provinha tanta felicidade, Senhor?

            – Pode ser... Shou. – Dei de ombros. Ao acabar, peguei a maleta e me voltei para a porta. – Então, para onde vamos?

            – Hum... O problema é com alguns papéis... Estão na minha mesa... Importa-se de ir até lá?

            – Vamos logo. – Completei. Ele entendeu que eu não queria conversar e apenas começou a andar em direção à porta da minha sala. O segui em silêncio.

            No percurso, algumas pessoas acenaram respeitosamente para nós. Todos trabalhavam em mesinhas num espaço mal dividido, fazendo contas ou simplesmente rabiscando algum desenho na borda de um relatório. O lugar era frio e metálico. É assim que deveria ser um banco, eu suponho. Mesmo trabalhando aqui há sete anos, ainda não me acostumei com isso. É como se estivesse preso em uma grande caixa de ferro... Não me sinto confortável.

            Nem notei quando já estávamos na mesa de Kazamasa. Era pequena, como tantas outras ali, e tinha muitas coisas sobre a superfície. Nas divisórias que separava a escrivaninha dele das demais, algumas fotografias penduradas. Antes que pudesse analisá-las, ouvi uma voz interrompendo meus devaneios:

            – Sinta-se à vontade, Shinji-san. – E falando isso, puxou uma cadeira, oferecendo-a para que eu me sentasse. Aceitei sem rodeios, jogando minha mala em cima de alguns papéis, sem me importar muito. Ele fez uma leve careta, mas logo disfarçou e puxou uma cadeira para sentar ao meu lado.

            – Então... Qual é o problema?

            – Hm, essas folhas de pagamento... – Então ele apontou um monte com aproximadamente trezentas folhas, eu diria. Suspirei baixinho, e se ele ouviu, pelo menos procurou não demonstrar. – Elas não estão batendo com os valores determinados no sistema, e... – Ignorei completamente qualquer coisa que ele tenha dito após isso e peguei a primeira folha da pilha cuidadosamente. Depois, com a outra mão, retirei meus óculos do bolso do meu paletó e coloquei-os. Isolei minha mente de qualquer ruído e comecei a analisar o papel. Quatro, sete, vinte e oito, sobem dois... É claro que não está dando certo, idiota!

            – Shou. – O interrompi. Ele continuava falando e falando, mas parou quando eu o chamei. Apenas me olhou, e eu prossegui. – Os holerites... Estão todos errados. O aumento era de dois por cento, não de dois décimos... Isso é vinte por cento. – Era só o que me faltava: um contador que não sabe dividir por cem. Eu juro que quando eu vir meu supervisor, vou matá-lo por me designar um aprendiz tão... Desatento.

            – Ah... Então era isso... – Comentou ele, pegando outro papel e fitando o mesmo. – Acho que terei que refazer tudo... Né? – Me perguntou, tristemente, com um olhar de dar pena até no mais esfarrapado dos mendigos. Como eu odeio esse menino...

            – Sim... Quando deveria me entregar, mesmo?

            – Amanhã cedo, Shinji-san... – Exibiu-me um sorriso deveras triste e vazio. Não acredito que ele deixou algo tão importante para a última hora! Se eu não entregar esses papéis revisados pela tarde, Sakamoto vai me decapitar!

            – Bem... – Coloquei o papel novamente sobre o monte, dobrando as mangas de meu paletó até a altura do cotovelo e puxando junto com este a camisa branca que eu usava por baixo. – É melhor começarmos logo se quisermos terminar hoje, certo? – Ajeitei os óculos sobre a ponte de meu nariz, vendo o estagiário sorrir quase que bobamente.

            – Muito, muito obrigado, Shinji-san! Nossa, nem sei como posso te agradecer! – Ah, não... Ele vai passar os próximos quinze anos falando obrigado... Tudo menos isso...

            – Bem... – O interrompi, mais uma vez. Ele olhou para mim na expectativa, e eu logo continuei. – Eu aceito um café expresso e um croissant, certo? E sugiro que compre algo para você, também. Não espere chegar em casa cedo. – Ele apenas acenou com a cabeça, agora com um olhar determinado. Fez uma leve reverência, sussurrando mais um agradecimento e saiu a passos largos.

            Mais uma vez, suspirei. Olhei a mesa à minha frente e encontrei uma pequena bagunça. Agora que analisava com mais atenção, havia de tudo. Não suporto trabalhar desta forma... Retirei minha mala da mesa, e instantaneamente, entendi o porquê da careta do jovem quando eu a joguei ali: havia acabado de destruir o relatório mensal dele. Mas bem... Nada mais justo. Se eu teria trabalho extra, ele também deveria ter.

            Recolhi todos os papéis que não diziam respeito às folhas de pagamento e coloquei-os o mais organizadamente possível dentro de uma grande gaveta. Apanhei canetas, grampeadores, réguas, calculadoras. Não precisaríamos de nada disso. Pelo menos, não eu... E espero que Kazamasa não precise de tais artifícios para cumprir a obrigação.

            Terminando (o que demorou um pouco), ajeitei-me na cadeira, adotando uma posição um pouco mais confortável. Já havia passado o dia inteiro cuidando do meu próprio trabalho, junto com esses números. Números são um jeito eficiente de se esconder do mundo... Mas são ingratos. Nunca estão a seu favor... E dão dor de cabeça.

            Levantei-me por um momento, para esticar as pernas, e vi que os poucos estagiários que ainda se encontravam no banco estavam indo embora. Passei uma mão pelos cabelos, tentando afastar aquele incômodo dali... Inútil. Talvez quando eu comer algo salgado essa sensação melhore.

            Na tentativa de me distrair até que Kohara voltasse, comecei a analisar as fotos na parede, e uma delas me chamou a atenção. Shou estava abraçado com um homem muito atraente, os rostos perigosamente próximos... Não havia visto o namorado dele antes, apesar de saber que era um homem. Ele se constrangia muito em tocar no assunto, e ainda assim, mantinha uma foto daquelas num lugar completamente visível. Acho que ficou extremamente feliz quando soube que eu também tenho tendências homossexuais, pois havia ficado demasiadamente sem graça quando foi descoberto.

            Embaixo da foto estava escrito, com aquela caligrafia que eu conhecia tão bem dos relatórios, “Pooh-san”, rodeado de coraçõezinhos. Um apelido estranho, porém, aceitável. O rapaz lembra um ursinho.

            E mais uma vez (devia ser a sétima só hoje, perdi a conta...), o meu barulhento aprendiz interrompeu minhas divagações, entrando na partição carregado de coisas. Digo, muitas mesmo. Corri imediatamente para ajudá-lo tomando de suas mãos dois copos grandes que o ofereciam maior dificuldade, colocando-os sobre a mesa (agora limpa e vazia, com exceção dos papéis que iríamos usar. Diferente, não?) e em seguida, pegando alguns dos sacos que ele segurava. Estavam quentinhos. Coloquei junto aos copos e não pude evitar um pequeno sorriso.

            – Nossa, Shou... Comprou a cantina inteira, foi? – Ele sorriu de volta, um pouco sem graça.

            – Não sabia do que o senhor gostava, e, além disso... Se vamos ficar aqui, que seja agradável, né? – Hm, pelo menos ele se importava com nosso bem-estar. Mas isso não mudava o fato de que eu acabei de perder minha sexta-feira...

            – Certo. Então a gente pode comer antes de começar... Estou faminto. – Observei ele acenar animadamente com a cabeça e sentar-se na cadeira onde outrora estivera. Sentei na outra, e ele me entregou um dos pacotes.

            – Toma, pegue este. Comprei especialmente para você, espero que goste. Adoro ele.

            Retirei o conteúdo de dentro: era um croissant relativamente grande, e ainda estava bem quente. Depois de observá-lo por um tempo, dei uma pequena mordida, mastigando com cautela. E não é que estava muito bom? Passei a mastigar com mais voracidade, e o loiro apenas sorriu, atacando o dele também. Quando finalmente terminei de engolir o último pedaço, resolvi me manifestar:

            – Nossa, estava muito bom mesmo... De que era?

            – Hum... – Ele parou uns segundos para pensar e engolir o conteúdo de sua boca, presumo. – Frango, queijo, calabresa, noz-moscada... – ELE DISSE O QUÊ?! Diz que não foi noz-moscada, por favor...

            – V-você... – Antes que eu terminasse a frase, algo me interrompeu. Por incrível que pareça, não foi Kohara, e sim, seu celular, tocando uma música... Alegre. Ele abaixou a cabeça, meio que pedindo permissão para mim. Fiz um gesto com a mão, sinalizando que poderia prosseguir, então ele atendeu. Acompanhei atenciosamente suas palavras. Não que eu seja curioso, mas... Ele deveria estar trabalhando. Espero que seja algo sério.

            – Moshi moshi?

            – ...

            – Ah, Pooh-san... Me desculpa, mas eu não posso ir...

            – ...

            – A gente pode comemorar seu aniversário amanhã... Que tal? – Aniversário do “Pooh”? Que coisa...

            –...

            – Não vai dar... Vou voltar um pouco tarde hoje, e...

            – ...

            – Não faz assim... Eu juro que depois podemos fazer o que você quiser!

            – ...

            – Não fica bravo, eu... – De repente, o loiro estava olhando para o telefone com um olhar curioso. Parece que o namorado acabou de desligar na cara dele.

            – Shou... – Chamei-o. Ele apenas assentiu com a cabeça, mas não parecia estar prestando muita atenção. Mesmo assim, continuei. – Tudo bem se você quiser ir... Eu... Termino por aqui. – Me ofereci. Ah, qual é... Eu não sou tão mau assim, ‘tá certo?

            – Ah não, Shinji-san... Esse trabalho é meu, não posso fazer isso. Mas muito obrigado, mesmo assim. – Disse ele, mostrando-me um sorriso vazio enquanto retirava os óculos do bolso. Segurei sua mão, impedindo-o de colocá-los.

            – Não é um pedido. Vá embora agora... Eu termino por aqui. Sério. Só termine seu relatório...

            – Senhor, eu...

            – Vá, Shou. – O interrompi de novo, sorrindo de canto. – O “Pooh” o espera... Eu me acerto com você depois. – Vi seu sorriso aumentar de intensidade, agora se tornando algo mais verdadeiro. Soltei a mão dele, e isso foi tempo o suficiente para ele pular em cima de mim e me abraçar fortemente.

            – AAAAAAH, muito obrigado mesmo, Shinji-san... Você é realmente o melhor supervisor do mundo! – E deu um beijo na minha testa, pegando uma mochila que estava num canto da sala e saindo correndo, extremamente alegre. Não pude evitar um leve sorriso.

            – EI! – Gritei. Ele se virou para mim e imediatamente seu olhar ficou preso. Imagino que esteja prestando muita atenção a qualquer coisa que eu diga, afinal, eu fiz a melhor boa-ação da minha vida. – Pode me chamar de Tora... Se quiser...

            – Erm... Tora-san?

            – Pode tirar o “-san”, também. – Ele me olhava, indignado. Acho que não deve ser comum seu chefe te contar um apelido íntimo, né? No fim das contas, eu passava tanto tempo com aquela pessoinha esfuziante que, de certa forma esquisita, éramos bons amigos.

            – Hm, Tora... V-Você... – O estagiário não conseguia falar, apenas apontava para mim. O que havia de errado? Virei minha cabeça um pouco e vi, no reflexo do monitor do computador, uma cena digna de filme de terror: meus lábios estavam demasiadamente inchados. Claro... As nozes. Sou alérgico a elas... Como pude esquecer tão rápido desse assunto?

            – Ah, isso... Não se preocupe... – Não consegui evitar tocar-me com a ponta dos dedos. Meus lábios estavam com uma textura, no mínimo, esquisita. – Vá logo... Eu cuido disso, também.

            – Tem certeza? Eu posso...

            – VAI LOGO, SHOU! – Sem notar, gritei. Se ele não sumisse em dois segundos, eu juro que desistiria de deixá-lo ir.

            Para sua felicidade, ele apenas sorriu, se curvou levemente e depois de levantar, saiu correndo à toda. Enquanto isso, meu olhar estava fixo no meu reflexo. Acho que tem algum remédio para alergia na minha sala... Talvez na gaveta... Preciso ir ver.

            Com um pouco de urgência, levantei-me, a mão ainda na boca, e sai correndo por entre as mesas. Todas vazias... Já não havia mais ninguém.

            Não demorou muito e eu cheguei onde queria, abrindo a porta rapidamente e me dirigindo até a mesa. Logo encontrei o que queria: uma cartelinha com algumas seringas, e minha amiga epinefrina. Retirei uma e caminhei até minha cadeira para a dolorosa missão desnecessária que eu prefiro não descrever. Afinal, todos sabemos como é tomar uma injeção. O que poucos sabem é que isso é bem pior quando você mesmo é quem tem que aplicá-la.

            De qualquer forma, isso evitaria que eu morresse de anafilaxia, mas o inchaço continuaria por algum tempo, e ele é incomodo. Que bom que não tem mais ninguém aqui... Mas... Mais ninguém? Mesmo? Que horas já são? Fitei o grande relógio redondo na parede. O ponteiro pequeno marcava 8, e o grande, 6. Legal... Ainda tem como meu dia piorar? Acho que não, já que ele acabou para mim.


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Notas finais do capítulo

N/A: Então... Espero que tenham gostado. Eu, pelo menos, gostei de escrever. Quero dizer... Há coisa melhor do que acabar com o dia de alguém fictício? xDD