O Primeiro Dia Do Resto Da Minha Vida escrita por Mimia R


Capítulo 27
Conversando com a Lua...?


Notas iniciais do capítulo

Então, será que Felipe vai acordar? A fic já vai terminar e parece que a situação desse casal não se resolve nunca! Sinto pena de Tuana... :x



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A cabeça de Tuana doía muito. Ela apertou os olhos quando sentiu uma luz muito forte e branca em cima dela. Tentou trazer a mão para tapar os olhos, mas não conseguiu levantar o braço. Ela foi abrindo os olhos aos poucos e percebendo onde estava. Cheiro de hospital, cama de hospital, quarto de hospital. Começou a tentar lembrar o que tinha acontecido e o motivo de estar ali e não junto de Felipe.

 Tuana se lembrou de Victor, de conversar e chorar nos braços dele. E lembrou que perdeu a consciência e agora estava ali. Parecia que a fraqueza finalmente tinha ganhado a batalha. Ela estava realmente cansada e com fome, mas ficar com Felipe era muito mais importante do que aquelas coisas. Ignorou a náusea que passou por ela.

 A menina olhou ao redor e viu que estava sozinha. Tentou mexer o braço novamente e foi quando se deu conta que seus braços estavam presos a cama. Ela olhou de um lado para o outro sem acreditar naquilo. Quem tinha ousado prendê-la ali? Ela mexeu os pulsos em várias e várias tentativas de se soltar, mas não conseguiu. Nem conseguia ficar sentada direito na cama por causas dos braços presos.

- Ei! – Ela gritou. – Alguém!!!

 Tuana já estava desesperada e com muita raiva. Não podiam ter feito isso com ela. Ninguém tinha o direito de prendê-la.

- Me solta! – Ela gritou novamente, se debatendo na cama.

 Ela ouviu pessoas falando na porta. Esperou para ver se alguém iria entrar.

-...Não, deixa que vou. É melhor...

 Tuana reconhecia aquela voz. E imediatamente Victor entrou no quarto. Ele fechou a porta e olhou com cautela para Tuana.

- Oi. – Ele disse com receio. Podia ver a raiva de Tuana.

- Oi? Sério? Me solta daqui! – Tuana gritou.

- Tuana, fica calma. – Victor disse enquanto se aproximava da cama.

- Victor, me solta! – Tuana gritou. – Me solta agora!

- Você tem que comer alguma coisa. – Victor disse. Ele parou antes de encostar-se à cama. Tinha medo do que Tuana podia fazer.

- Victor, me solta agora!

- Você não pode sair daqui sem comer. E o seu soro nem acabou ainda. – Victor falou apontando para o lado da cama.

 Tuana não tinha percebido o soro. Olhou e viu um tubinho fino em seu braço. Ela soltou um suspiro de frustração. Não queria ficar ali naquele quarto. Queria ver Felipe. Tinha que voltar para perto dele o mais rápido possível.

- Tuana, quando você comer alguma coisa e seu soro terminar, prometo que vão deixar você ir ver o Felipe.

 Tuana queria gritar. Estava se segurando para não fazer aquilo. Estava sem paciência e com uma dor de cabeça forte. Ela respirou fundo, mas não resistiu.

- Eu quero sair daqui! – Ela gritou.

 Victor já ia falar alguma coisa quando a porta do quarto foi aberta e um médico entrou. Tuana o reconheceu imediatamente. Era aquele que tinha cuidado dela quando perdeu o bebê. Alex. Ele sorriu e se aproximou da cama.

- Olá, Tuana. – Ele disse.

 Tuana ficou olhando para ele, mas não respondeu.

- Soube que você estava aqui. – O médico disse. – E pelo que vejo, precisaram tomar medidas drásticas com você.

 Ele disse e sorriu ao mesmo tempo, estava achando a situação um pouco descontraída. Tuana não achou graça. Ela olhou para Victor.

- Me solta logo, Victor.

- Podemos até soltar seus pulsos. – O doutor Alex disse. – Mas desse quarto você só sai quando se alimentar.

 Victor concordava com o médico, mas não ousou dizer nada. Olhou para Tuana e deu de ombros. Tuana teve vontade de agarrar o pescoço dele naquela hora. Ela queria que aquele médico saísse dali. Ela não conseguia ficar a vontade com ele e não sabia o motivo. Talvez porque ele fosse tão novo e... lindo.

- Eu vou mandar trazer comida aqui para você. – Alex disse. – Seu namorado pode garantir que você coma.

 Tuana sentiu mais raiava por ele pensar que Victor era namorado dela. Ele sabia que ela estava ali no hospital, mas não sabia o motivo? Antes que Victor falasse alguma coisa, ela disse em voz alta:

- Meu namorado está em coma num quarto aqui desse hospital e eu estou aqui sendo proibida de ficar ao lado dele!

 O médico ficou em silêncio por um momento. Depois balançou a cabeça em entendimento.

- Certo. Mas de qualquer forma você precisa comer. – Ele disse isso e saiu do quarto.

 Tuana não aguentava mais ficar ali. Cada minuto parecia uma eternidade. Ela respirava fundo e suspirava irritada. Uma enfermeira chegou com uma bandeja de comida. Colocou uma mesinha ao lado da cama e saiu. Victor continuava parado de pé ao lado da cama sem nada dizer. Tuana, também calada, olhava para os pés. Estava muito irritada. E sua cabeça latejava.

- Não dá pra eu comer com as mãos presas. – Tuana finalmente disse. Ela tentava ser calma, mas sua voz tinha um tom de irritação.

- É verdade. – Victor falou. Ele foi até um lado da cama e colocou a sua mão por cima da de Tuana. Parou um momento assim. – Mas você não vai tentar sair daqui sem comer. Eu não vou deixar.

 Falado isso, Victor começou a soltar o pulso dela. E depois se dirigiu para o outro lado e fez o mesmo. Tuana acariciou os pulsos que tinham marcas vermelhas. Victor pegou a bandeja e colocou no colo da menina.

- Ela esqueceu os talheres. – Ele observou. – Eu vou buscar. Não saia daqui!

 Ele saiu do quarto. Tuana imediatamente colocou a bandeja de volta na mesa. Ela viu que o soro já estava no fim, então não se importou e puxou a agulha do braço. Quando ela saiu da cama e tocou os pés no chão, sentiu uma tonteira. Colocou a mão na cabeça e fechou os olhos. Teve vontade de deitar novamente, mas descartou a possibilidade. Ela correu para a porta e quando abriu se deparou com Victor lá.

- Indo a algum lugar? – Ele perguntou olhando sério para ela.

- Me deixa passar. – Tuana disse tentando passar pela porta. Mas Victor a impedia.

- Claro que não. Tuana, volta pra cama.

- Victor!

 Ele nem discutiu. Empurrou Tuana para dentro do quarto e fechou a porta. Pegou a chave e guardou no bolso. Tuana estava incrédula. Ela não sabia o que falar.

- Deita na cama e come. – Victor falou devagar. – Depois você vai ver o Felipe.

- Isso é um absurdo! – Tuana disse, mas foi para cama. Ela percebeu que não tinha jeito.

 Finalmente ela comeu. E se sentiu muito melhor depois disso. Ela não ia admitir aquilo, mas era verdade. Ela comeu muito rápido, estava com pressa para sair dali. Mas depois se arrependeu porque teve vontade de comer mais. Ela levantou da cama e foi em direção a porta. Parou antes de sair. Olhou para Victor. Ele olhava para o chão e tinha uma expressão triste.

- Obrigada. – Tuana falou.

 Victor levantou o olhar para a menina. Eles ficaram se olhando por um minuto. Tuana voltou até o garoto e o abraçou. Victor soltou um suspiro cansado e triste, mas retribuiu o abraço.

- E desculpa. – Tuana sussurrou e depois saiu do quarto.

 Victor olhou para a porta por onde a menina tinha saído e apenas balançou a cabeça devagar. Depois saiu dali também.

 Tuana olhou de um lado a outro do corredor do seu quarto para se situar onde estava. Ela viu o médico de Felipe, ele deu um leve sorriso para ela e apontou na direção oposta de onde ela estava. Tuana correu para lá. Só precisou virar uma esquina e reconheceu aquela janela de vidro. Quando estava chegando perto, começou a andar devagar. Foi como se antes mesmo de ver Felipe novamente ali, toda realidade viesse à tona. Ela chegou ao vidro e viu seu namorado ainda deitado naquela cama, com tubos e mais tubos pelo corpo e dormindo profundamente. Não conseguiu segurar as lágrimas.

 Algum tempo mais tarde apareceu uma enfermeira ao lado dela. Ela trazia um pequeno sanduíche natural. Nenhuma das duas precisou dizer alguma coisa. Tuana sabia que tinha que comer se não queria mais sair de perto de Felipe. Ela pegou o sanduíche e foi comendo aos poucos. Parecia um pouco injusto ela estar ali comendo, na frente de Felipe, enquanto já fazia muitas e muitas horas que ele não comia nada.

 Tuana já estava um pouco mais sensata naquele dia. Talvez tivesse sido o soro, ou por ela ter descansado um pouco e comido algo. Mas ela parou chorar e começou a pensar. Já estava ali havia horas. Já devia ser noite. Sua mãe já tinha aparecido para falar com ela, tentar convencê-la a ir para casa. Seu pai também tinha ido e levou uma roupa nova para ela. Victor não tinha mais aparecido. Já devia ser noite. Ela estava cansada de ficar ali de pé. Então conseguiu pegar uma cadeira e colocou ali para se sentar.

 Ela deve ter adormecido ali mesmo porque acordou assustada com o médico de Felipe chamando seu nome. Ele sorriu para ela. Tuana piscou os olhos e voltou a si.

- Se continuar dormindo assim em cadeira você vai dar um jeito nas suas costas. – Ele disse.

- Que horas já são? – Tuana perguntou. Fazia tempo que tinha perdido a noção das horas.

 O médico olhou seu relógio.

- Nesse momento já são exatamente 04h57min da manhã.

 Tuana se levantou da cadeira e olhou para Felipe. Mais um dia chegava e o garoto continuava do mesmo jeito. Ela começou a ficar com medo de se acostumar a vê-lo daquele jeito. E se demorasse anos para ele acordar? E se ele nunca acordasse? E se...

- Tuana, você não pode pensar assim. – O médico disse. – Nesses casos, nós temos que ter fé.

 Tuana percebeu que devia ter pensado alto. E lágrimas desciam pelo seu rosto novamente. Ela ficou envergonhada e enxugou-as rapidamente.

- Tuana, eu não vim aqui só para acordar você.  – O doutor disse.

- Você veio me fazer comer alguma coisa. – Tuana afirmou.

- Não exatamente. Você tem que comer, mas ainda é cedo para isso. – Ele disse.

 Tuana esperou para ver o que ele ia dizer. Não estava nenhum pouco curiosa. Mas depois pensou que deveria ser algo sobre Felipe. Teve medo e um pouco de esperança. Ela olhou para o médico.

- Os pais de Felipe estão lá na sala de espera. Eles vieram aqui ver o filho enquanto você dormia. Não quiseram acordá-la. Eu não disse a eles naquela hora porque eu queria deixar você ser a primeira.

- Primeira de que? – Tuana perguntou sem entender.

 O médico deu outro pequeno sorriso para ela.

- Só pode ser uma pessoa de cada vez. E você vai ser a primeira a poder entrar aí no quarto do Felipe.

 Tuana pensou ter ouvido errado. Não acreditava no que ele estava dizendo. Finalmente poderia entrar no quarto, ficar realmente perto de Felipe. Poderia tocá-lo, poderia sentir a pele dele novamente. Ela ficou encarando o médico ainda atordoada por um minuto, como se esperando que ele falasse que estava brincando. Mas a única coisa que ele disse foi:

- Tuana, você vai entrar lá. Mas você não vai poder ficar por muito tempo. No máximo 10 minutos. Você está me entendendo?

 Tuana tinha ouvido os 10 minutos. Mas não ligava. Só queria entrar lá e chegar mais perto de Felipe. Ela deu um passo para ir em direção a porta do quarto. Mas o médico segurou seu braço. Ela olhou para ele novamente.

- Tuana, 10 minutos. – Ele disse. – Você entendeu?

 Tuana só ficou olhando sem concordar.

- Tuana, tem a família dele ali fora que também quer ver o menino. Você entendeu, não é?

 Tuana só concordou com a cabeça. O doutor soltou o braço dela e a menina correu para a porta do quarto. Ela abriu e entrou. O quarto era um pouco mais escuro do que parecia por fora. Tuana fechou a porta atrás de si e caminhou até a cama onde Felipe estava. Lá dentro do quarto ela podia ouvir todas aquelas máquinas fazendo barulhos. O único que ela conseguia reconhecer era o monitor cardíaco, fazendo aqueles pii pii pii. Ela encostou-se à cama e começou a olhar para Felipe de perto.

(Música de cena: Talking to the Moon – Bruno Mars)

 O rosto dele tinha arranhões. Um lado da testa estava com grandes hematomas. Devagar Tuana colocou sua mão no local. Lágrimas começaram a cair novamente por seu rosto. Ela olhou o corpo de Felipe, uma parte estava descoberta pelo lençol. Tinha leves hematomas no peito dele. Tuana tocou levemente o lugar. E foi fazendo isso por todo lugar onde via machucados. Ela não parava de chorar agora.

 Tuana segurou na mão de Felipe e apertou. Ela ficou um tempo assim, como se esperando que ele retribuísse o aperto. Mas a mão dele continuou parada como esteve desde o começo. Tuana queria beijá-lo, sentir sua boca na dele, aqueles beijos de Felipe que ela tanto adorava. Mas sabia que isso não aconteceria mesmo que ele não estivesse com um longo tubo indo para dentro de sua boca. Então ela encostou sua cabeça no peito dele e fechou os olhos. As lágrimas começaram a cair em cima do corpo de Felipe. Mas Tuana não se importava. Sua garganta ardia, ela tinha um nó lá dentro e sabia que precisava falar alguma coisa. Tinha que falar, mesmo que Felipe não ouvisse. Ainda com a cabeça encostada nele, ela falou com uma voz baixa e um pouco rouca:

- Me desculpa.

 Silêncio.

- É tudo culpa minha. Você está aqui, nesse estado...

 Sua voz ameaçava falhar, mas ela continuou firme.

- Tudo bem, eu vou entender se você não quiser me perdoar. Mas por favor, só... acorda! Felipe, acorde, por favor! Eu vou suportar viver com a sua raiva, com a sua mágoa. Só acorda. Porque se você... morrer, isso eu não vou suportar. Eu só quero ver seus olhos novamente, ouvir sua voz novamente, mesmo que seja pra você dizer que me odeia... Por favor, Felipe...

 Ela não conseguiu mais falar. Só chorava e soluçava.

 Em um determinado tempo Tuana ouviu algumas batidas no vidro. Ela levantou a cabeça para olhar. Viu o médico mostrando o relógio e ao lado dele estavam os pais de Felipe. A mãe dele chorava. Tuana ficou olhando durante alguns segundos, depois voltou a olhar para Felipe. Não queria sair dali, queria ficar colada nele para sempre. Mas sabia que não tinha esse direito, não podia ser tão egoísta assim. Ela tocou novamente o rosto de Felipe.

- Eu te amo. – Sussurrou.

 E muito relutantemente ela foi saindo de perto dele e deixou o quarto. Lá fora ela encontrou os pais de Felipe. A mãe dele foi na direção de Tuana e a abraçou. As duas continuaram chorando nos braços uma da outra. Depois a mulher entrou no quarto para ver o filho. O pai de Felipe segurou no ombro de Tuana. Os dois ficaram olhando pelo vidro a mulher lá dentro do quarto. Todos estavam sofrendo, Tuana sabia. E como fez tantas vezes nos dias anteriores, ela rezou.


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Notas finais do capítulo

É uma situação complicada para todos... E agora só faltam mais 3 capítulos para acabar a fic! *-*



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