Tuana acordou se sentido melhor no dia seguinte. Levantou-se, foi ao banheiro e lavou o rosto. Olhou-se no espelho e, tirando a cara amassada do sono, estava com uma boa aparência. Quando voltou ao quarto, pegou seu celular e viu que tinham quatro chamadas perdidas de Felipe. Ela tinha colocado o celular no silencioso para não ter que dar explicações sobre o que tinha acontecido quando falava com ele algumas horas atrás.

Tuana tomou café, tomou um banho e percebeu que não tinha o que fazer. Camila tinha emprestado um livro pra ela, mas estava com preguiça de ler naquele momento. Também não queria assistir TV, não tinha nada legal passando. E TV deixa as pessoas burras!, Tuana lembrou o que Camila tinha dito outro dia. Resolveu então que iria usar o computador, internet.

É claro que quando ela entrou no facebook tinha uma mensagem de Felipe querendo saber se ela estava bem. Tuana ficou surpresa por ele não ter aparecido na casa dela. Mas sabia que ele estava bem ocupado ajudando o pai com os negócios dele. Ela respondeu a mensagem dizendo que estava bem, que provavelmente tinha comido algo estragado, só isso. E o assunto ficou por isso mesmo.

Os dias passaram voando. Num dia da semana, Tuana estava na aula tentando entender o assunto de matemática, o que parecia impossível. Ela estava nervosa e estressada porque precisava de notas boas naquela matéria. Sem contar que a mãe dela já tinha dado uma dura nela por causa das notas. E para completar, o professor resolveu entregar as últimas provas. Ótimo!

– Vou entregar agora os desastres que foram essas provas. – O professor falou e começou a chamar os nomes, ao mesmo tempo em que Tuana queria sair correndo dali.

– Amor, o que foi? – Felipe perguntou ao lado, pegando a mão dela. – Sua mão está suando.

Tuana puxou a mão da dele.

– Não é nada, só preocupada com as notas. Nervosa! – Ela respondeu um pouco ríspida.

Felipe não falou nada, porque estranhou ela ter puxado a mão tão rapidamente.

– Tuana! – O professor chamou e ela levantou para pegar sua prova.

Ela já estava preparada, então não ficou surpresa com a péssima nota que viu. Mas não deixou de ficar irritada.

– E aí, foi tão ruim assim? – Felipe tentou começar uma nova conversa.

– Horrível! – Ela respondeu com raiva.

– Você melhora depois. É só estudar um pouco mais. Eu posso te ajudar, sem problemas.

– Não sabia que você era professor particular agora.

– Exclusivamente seu. – Felipe disse com um sorriso de canto. Ele ignorou que Tuana estava sendo irônica. – Você vai melhorar muito comigo te ensinando.

Tuana não relaxou com a bela indireta que ele jogou.

– Você está parecendo minha mãe!

Felipe perdeu a paciência também.

– Você não precisa atirar pedras nos outros porque tirou uma nota ruim. – Ele falou num tom menos calmo.

Tuana fechou os olhos e suspirou. Não sabia de onde vinha todo aquele estresse. Certamente não era só por causa da prova. E nem naqueles dias elas estava.

– Tutu! – Camila veio. – Tirou quanto? Se fudeu como eu? – Ela mostrou pra Tuana a prova com uma péssima nota também.

– E como eu também, né! – Brenda disse ao lado dela.

– Que ótimo pra vocês! – Tuana disse.

As meninas e Felipe ficaram olhando pra ela quando ela deu essa resposta grossa. Felipe particularmente com uma expressão de desgosto. Tuana sabia que tinha sido grossa sem motivos. Não sabia o por que, mas sabia que precisava se acalmar.

As meninas se afastaram de volta pro lugar delas sem dizer mais nada. Tuana viu elas trocando bilhetinhos, provavelmente falando sobre ela. Até Jéssica que não tinha visto a “confusão” já estava sabendo por bilhetinho, com certeza.

– Tuana, me diz o que está acontecendo. – Felipe perguntou alguns minutos depois que as meninas saíram. – Qual é o problema?

– Felipe, só... – Ela suspirou. – Me deixa quieta um pouco, ok?

Felipe ficou olhando pra ela durante um tempo. Tuana nem sequer teve a decência de encará-lo. Mas notou quando ele virou o rosto com uma expressão amarrada, com raiva. Mas ela não ligou muito. Só queria um momento para ver se aquela tensão toda que sentia dentro de si passava.

Naquele dia Tuana foi pra casa sem falar com ninguém. Quando tocou o sinal, ela pegou suas coisas e foi a primeira a sair da sala. Sentiu-se um pouco mal por não ter ido falar com as meninas, pedir desculpas. E principalmente por Felipe, que ela viu olhando pra ela enquanto ela saia apressada. Mas ela queria muito chegar em casa e deitar em cama para refletir sobre o que estava acontecendo e ver se relaxava. Tinha certeza que depois disso se sentiria melhor.

Tuana dormiu a tarde inteira. Quando acordou foi logo pegando o celular. Mas ficou decepcionada porque Felipe não tinha ligado pra ela. Ela ficou pensando nele e em como tinha agido como uma idiota. Ele provavelmente estava chateado. Ela ficou olhando pro teto e pensando sobre aquilo quando o celular tocou. Ela pegou rapidamente com esperança que fosse ele, mas não era. Era Jéssica. Bom, parece que pelo menos ela ainda fala comigo, Tuana pensou ignorando sua decepção por não ser Felipe no telefone.

– Tuana. – Jéssica falou quando ela atendeu.

– Oi.

– Ei, você está bem? As meninas disseram que você tava estranha hoje...

Tuana suspirou. Parecia que os suspiros eram o único jeito de ela controlar uma raiva que queria aparecer.

– Foi? – Tuana disse tentando parecer normal.

– Foi! – Jéssica disse firme.

– É que eu tava estressada por causa da prova hoje.

– Ah, sim. Sei, eu também tava preocupada com a prova de matemática.

Tuana se segurou para não falar besteira, porque sabia que Jéssica tinha tirado uma nota ótima. Mas ela estava sendo legal, e Tuana não queria ser grossa com mais ninguém.

– É. – Tuana disse.

Um silêncio pairou no telefone.

– Então, você vai falar com elas?

Tuana ficou confusa por um tempo e depois percebeu que ela estava falando das meninas.

– É, eu vou. Preciso pedir desculpas.

– Certo.

– Certo.

Mais silêncio.

– Tuana, tem certeza que você está bem? – Jéssica falou com uma voz meio cansada.

– Sim. – Tuana não tinha certeza se essa resposta era a correta...

– Então tudo bem. Tenho que desligar.

– Ta certo.

– Tchau. – Jéssica disse e desligou sem dar tempo de Tuana retribuir o tchau.

Anoiteceu e nada de Felipe ligar. Tuana queria muito falar com ele, mas tinha medo de ligar e ele não atender. Ela não tinha mais saído do quarto depois que Jéssica tinha ligado. Só conseguia pensar em Felipe. Ela já tinha falado com Camila e Brenda pelo facebook e pedido desculpas. Agora só faltava falar com ele. Mas não sabia como.

Ela passou mais um tempo pensando até que resolveu que o melhor era ir até a casa dele. Assim ele não poderia ignorá-la. Teria que ouvi-la de qualquer jeito. Ela foi tomar um banho rápido, trocou de roupa, escolheu uma bonitinha e foi. O caminho pareceu uma eternidade. Ela foi olhando pro celular o tempo todo na esperança de ele ainda ligar. Mas ela chegou ao condomínio dele e nada. Então ela foi em frente.

Quando ela entrou e estava caminhando em direção da casa dele, ela percebeu que ele estava sentado na calçada. Ela parou um minuto, respirou fundo e continuou andando. Mas parou alguns passos à frente quando viu que ele não estava sozinho. Tinha alguém ao lado dele. Segurando a mão dele. Uma garota. Tuana ficou paralisada. O coração dela disparou. E seu cérebro começou a disparar alertas vermelhos. Ela tentou raciocinar. Não conhecia a garota. E era claro que Felipe não estava fazendo nada demais. Mas ainda assim a raiva começou a cresce dentro dela. E foi quando a garota viu ela parada ali e falou com Felipe que virou pra olhar.

– Tuana! – Ele disse surpreso e se levantou.

Tuana acordou do seu transe e foi andando pra onde eles estavam. A garota levantou-se também e ficou encarando Tuana com curiosidade. E Tuana viu que ela era linda e devia ser mais velha que ela. Ciúmes.

– O que você faz aqui? – Felipe perguntou.

Tuana queria falar, mas com aquela garota ali ela se sentia muito exposta. Ficou piscando e abrindo a boca, mas não conseguia falar. E nem conseguiu disfarçar que era por causa dela.

– Eu vou deixar vocês a sós. – A garota falou e saiu. E entrou na casa de Felipe. Tuana pensou ter visto um sorriso no rosto da garota, mas poderia não ser nada.

– É minha prima Bárbara. – Felipe falou percebendo que Tuana estava confusa com aquela situação.

– Ah. – Foi o que Tuana disse.

Felipe ficou encarando Tuana. Ela respirou fundo.

– Vim pedir desculpas. Por ter agido como uma idiota na escola. Eu não sei o que deu em mim.

– Tudo bem. – Felipe falou.

– Sério? – Tuana estava surpresa por ele ter aceitado tão rápido.

– Você estava com raiva, eu percebi. Não sei exatamente do que, mas tudo bem, todos temos os nossos momentos. Mas eu sei como ninguém que não podemos deixar a raiva nos dominar. Você tem que saber disso também. Prejudica as pessoas ao nosso redor.

Tuana ficou surpresa com o que Felipe falou. Parecia que ele entendia mesmo essa coisa toda com a raiva. Tuana lembrou da vez que viu ele com raiva na escola. Ele tinha se controlado, mas até hoje ela imaginava como seria Felipe com raiva de verdade...

– É, eu entendi isso hoje. Só não sabia o que estava acontecendo comigo. – Ela disse. – Sei lá, eu estava frustrada, tensa, qualquer coisa me irritava profundamente...

– Tudo bem. – Felipe chegou perto dela segurando suas mãos. – Vamos deixar pra lá. Eu odeio brigar com você!

Tuana sorriu pela primeira vez naquele dia. E esse sorriso parecia ter trago um alívio pra ela.

– Eu odeio muito ficar brigada com você. – Tuana sussurrou.

Felipe sorriu, mas foi um sorriso rápido porque logo em seguida ele o rosto dele estava muito próximo do dela. Tuana estava prendendo a respiração. Parecia que fazia uma eternidade que tinha beijado Felipe da última vez. Queria muito estar com ele novamente. Queria se jogar nos braços dele. Ela ia dizer isso, mas ele colocou os dedos nos lábios dela. E começou a puxá-la.

Eles entraram na casa dele. Estavam indo para o quarto de Felipe. No caminho Tuana viu a prima dele na porta de um dos quartos. Ela olhava pros dois. Tuana foi andando, mas não desviou o olhar. A garota fez uma expressão estranha e fechou a porta do quarto. Tuana estranhou, mas não iria pensar naquilo agora. Felipe fechou a porta quando eles chegaram ao quarto dele. E sem falar mais nada, os dois estavam se beijando. Devagar no começo, um beijo que mostrava como se amavam. Mas a intensidade foi aumentando, mostrando o quanto queriam um ao outro.

Felipe agarrou a blusa de Tuana e puxou. Tuana fez o mesmo com a camisa dele. Ele começou a passar a mão pelo corpo dela. Tuana se arrepiava toda em cada parte que ele tocava. Ele começou a beijar todas as partes do corpo dela. Tuana já estava ofegante só com os toques dele. Já sentia o calor crescer no meio de suas pernas. Os dois estavam com pressa. Já fazia um tempo desde que tinham estado juntos pela última vez. Felipe colocou Tuana na cama e deitou por cima dela. Tuana se sentia febril. Naquele momento muita coisa estava se passando dentro dela. Ela respirava muito rapidamente. Na verdade estava quase com falta de ar. Tudo acontecia com uma intensidade enorme. Felipe olhou pra ela e sorriu. Passou a mão pelo rosto de Tuana e parou de sorri naquele instante.

– Amor, você está bem? – Ele perguntou franzindo a testa.

Tuana não respondeu. Ela ofegava muito. Não estava conseguindo respirar direito. E estava ficando enjoada. O Colchão de Felipe era de mola, e com todo os movimentos que os dois estava fazendo ali, Tuana estava ficando tonta.

– Tuana? – Felipe falou mais uma vez.

– Eu acho...- Ela disse. – Que vou...

Tuana empurrou Felipe de cima dela e correu para o banheiro. E só deu tempo disso. Ela vomitou no vaso logo em seguida. Felipe correu para o banheiro atrás dela. Parou na porta quando viu que ela estava vomitando. Ele estava confuso. Tuana ficou parada ao lado do vaso sanitária por um tempo. Mas parecia que o enjôo já tinha passado. Felipe foi pro lado dela e ajudou-a a levantar, sem dizer nada. Tuana lavou o rosto e os dois voltaram para o quarto. Felipe fez Tuana se sentar na cama. Ela não olhava pra ele, estava constrangida.

– Tuana, você preciso ir ao médico. – Felipe disse.

Ela não disse nada. Pegou sua blusa e vestiu. Estava com muita vergonha do que tinha acontecido.

– É sério, Tuana. Você não está bem. As meninas me contaram que você vomitou na casa de Brenda, naquele mesmo dia que você vomitou enquanto falava no telefone comigo.

– Eu não acredito que elas foram dizer isso pra você! – Tuana se sentiu traída.

– Tuana, a questão aqui é que você precisa ir ao médico. E eu vou levar você!

– Não! – Tuana olhou pra ele dessa vez. – Felipe, eu to bem. Isso não deve ser nada.

– Tuana, você não está bem! – Ele disse.

Felipe pegou a camisa dele e vestiu.

– Eu vou te levar ao médico agora mesmo. Vamos. – Ele disse pegando no braço dela.

Tuana puxou o braço.

– Felipe, para! Eu não vou pra médico nenhum. Não preciso!

– Você precisa sim! – A voz dele estava ganhando um tom diferente. Raiva. – Tuana, vamos.

Tuana levantou-se.

– Eu vou pra minha casa. – Ela disse olhando bem nos olhos dele.

– Você está me desafiando? – Felipe perguntou cautelosamente, cerrando os olhos.

Tuana ficou olhando pra ele. Ele estava falando sério? Ele parecia um pai com raiva por causa de um filho rebelde.

– Felipe, eu vou pra casa e pronto. Você não pode me obrigar a ir ao médico! – Ela disse.

Felipe tinha as mandíbulas cerradas. E respirava com um pouco menos de calma. Tuana teve medo de que fosse ver naquele momento o Felipe com raiva de verdade. Mas não ia esperar pra ter certeza.

– Eu vou embora. – Ela disse e saiu.

Quando passou, viu a prima de Felipe sair do quarto. Ela ficou olhando Tuana ir embora. E Tuana ficou encarando ela também. Elas nem se conheciam e já tinha uma tensão entre as duas. Antes de sair pela porta, Tuana ainda conseguiu ver a garota ir até o quarto de Felipe. Teve vontade de voltar lá, mas resolveu que não.

Estava quase na saída do condomínio quando Felipe apareceu no carro do pai.

– Eu te levo.

Tuana ficou parada, na dúvida.

– Pra casa. – Ele acrescentou contrariado. Parecia que estava mais calmo agora.

(Música de cena: California King Bed – Rihanna)

Tuana entrou no carro. Felipe seguiu o caminho para a casa dela. No carro a tensão poderia ser sentida por qualquer um. Tuana não acreditava ainda. Tinha ido lá na casa para pedir desculpas. Tinha conseguido, os dois tinham ficado bem até o momento em que o maldito corpo dela resolveu ter um ataque de frescura de novo! Que droga! Droga! Droga! Droga! Só pode ser carma! Ela ficou tão absorta na revolta dela, que não percebeu que já tinham chegado na casa dela. Felipe não tinha dito nada, e só olhava pra frente com as mãos no volante. Tuana ficou lá também sem nada dizer.

– Você não percebe que se alguma coisa acontecer com você, eu... – Felipe começou a dizer, mas não conseguiu terminar. Ele agarrava o volante do carro com muita força.

Tuana colocou a mão em cima da dele sobre o volante. Felipe tinha fechado os olhos, mas abriu e olhou pra ela naquele momento. Eles encostaram os lábios um do outro, um beijo leve, apenas o toque.

– Eu vou ao médico. – Tuana sussurrou.

Felipe ia falar, mas ela falou antes.

– Mas eu vou sozinha, e quando eu quiser. – Ela falou se afastando dele.

Ele ia protestar, mas ela não deu tempo. Deu um último beijo nele e saiu do carro. Felipe ficou olhando ela entrar em casa. Ele queria muito saber o que acontecia com ela, mas não podia obrigar ela ir ao médico também. E por isso quase deixou a raiva dominá-lo. Só restava esperar e ver no que aquilo ia dar. Provavelmente deveria ser só besteira. Ele respirou fundo e resolveu acreditar que era só besteira mesmo. Tudo aquilo ia passar e eles ficariam bem.