Como fomos os primeiros a entrar na sala, nos sentamos na mesma bancada. Acabamos não conversando muito antes de começar a aula, só deu tempo dele me contar como foram as aulas do dia anterior.

Quando a Bia entrou, deu uma olhada para nós dois sentados na última bancada e não disse nada. Foi para o outro lado da sala e sentou-se com o Rafa.

No fim da aula a Bia esperou pelo Aquiles na porta e perguntou:

_ Vai para a lanchonete com a gente?

_ Não. Estaremos na sala de SIC.

Virou-se para mim:

_ Vamos?

_ Uhum. - confirmei ainda em dúvida.

Sem reclamar, a Bia seguiu para a lanchonete com a turma.

_ Olha lá hein... Não vai se arrepender de perder sua admiradora pública? - perguntei enquanto rumávamos para o bloco 3.

_ Que isso... Eu já devia ter tomado uma atitude a muito tempo.

_ Nisso você tem razão.

Ele não respondeu. Bom, tá certo que não foi uma pergunta, mas ele podia fazer o favor de revelar o que eu ainda não sabia, não é?

_ Vocês por acaso... - comecei

E olhei interrogativamente para ele, na esperança de não precisar terminar a pergunta.

_ Por acaso o quê? - perguntou inocente.

_ Oras Aquiles... Vocês já ficaram, não ficaram? - diga que não, por favor...

Your cruel device

Seu plano cruel

Your blood like ice
Seu sangue como gelo

One look could kill
Um olhar poderia matar

My pain, your thrill
Minha dor, sua vibração

Já era bem ruim admitir que ele tinha uma linda namorada...

_ Eu e a Bia?

_ Não. Você e a rainha Elizabeth II.

Ele riu e depois de se recompor me respondeu:

_ Não.

_ Impossível.

_ Hã?

_ Por que ela é tão devota assim então?

_ Ah, não sei Mel... Tem gente que é bem perseverante...

_ Tem gente que vence pelo cansaço, você quis dizer não é? - corrigi, quase irritada.

_ Tá com ciúmes dela?

_ Eu?! Por que deveria? Claro que não. - me entreguei, não foi?

Ele estava consciente do poder de sedução que tinha. Não era tão besta quanto aparentava... Me reservei ao direito de permanecer em silêncio. Só ia piorar a minha situação. Depois de algum tempo voltamos a conversar. Primeiro sobre a lástima que era a aula de SIC, depois sobre química... Nada muito revelador. E logo acabou o intervalo e entramos para a aula.

A Bia sentou atrás da gente, mas não nos dirigiu a palavra. Depois descemos para a aula de educação física.

Assim que o Aquiles se juntou aos outros colegas para o futebol, aleguei uma dor de cabeça insuportável para o professor, e ele deixou que eu fosse embora sem me dar falta. Era melhor eu me afastar um pouco mesmo... Estava claro que não passaríamos de amigos. Então, que eu não me iludisse mais.

Minha mãe notou que eu estava meio apática durante o fim de semana, mas não me questionou. Mesmo toda aquela apatia, ainda estava melhor que aquele mar de lágrimas da quinta-feira.Cheguei mais cedo na segunda-feira também, mas não tive a sorte de encontrar as tias simpáticas da limpeza para me deixarem entrar na sala.

Qual a minha surpresa ao encontrá-lo no banco para o qual me dirigia. Estava ao telefone.

_ Tá bom então. Faça como preferir. - e desligou.

Parecia irritado. Hesitei, mas acabei me sentando ao lado dele. A uma distância segura, que fique bem claro.

_ Bom dia. - arrisquei.

_ Bom dia Mel. Tudo bem? - perguntou não muito interessado.

_ Tudo. E você? - novamente estava arriscando.

_ Indo.

É, não estava nada bem...

_ Chegou bem cedo hein... - Pior que essa, só a clássica “O tempo está bonito hoje, não?”.

_ É. Meu pai me trouxe.

_ Ahn. Legal.

Depois de mais um curto espaço de tempo silencioso, perguntei:

_ Foi bem de fim de semana?

_ Definitivamente não.

_ Poxa... O meu também não foi lá essas coisas... Acontece.

Fiquei quieta. Evidentemente ele não queria falar do fim de semana mal sucedido dele.

_ Eu estava falando com a Daphne agora a pouco. - sinalizou o celular.

_ É mesmo? - o que mais eu poderia dizer?

_ É. Deu tudo errado... E aí acabamos brigando sério.

_ Que ruim. Espero que tudo se resolva. - o conceito de resolução para mim não era o mesmo para ele.

_ Vamos ver.

_ Foi grave mesmo?

_ Acho que sim. Ela me ligou pra mandar eu sumir da vida dela. Com palavras um pouco menos delicadas.

_ Vocês terminaram? - perguntei antes de me arrepender.

_ O pior é que eu não sei.

Sem querer procurei pela aliança de compromisso dele, que infelizmente estava no mesmo lugar.

_ Vocês vão se entender. - eu disse um pouco mais baixo, encerrando o assunto.

Depois o pessoal começou a se aglomerar, e não nos falamos mais. Na verdade ele não falou com mais ninguém. Estaria sofrendo tanto assim pela namorada? Que decepção...

Bom, quem era eu pra me intrometer desse jeito? A errada era eu...

Nem à Bia ele cumprimentou quando ela chegou. Passei as duas aulas de literatura preocupada com ele. Depois na aula de educação física ele preferiu fazer companhia à mim e à árvore em vez de jogar com os amigos.

_ Você não precisa treinar para os jogos?

_ Não. Estou bem treinado já. Me dá um desses fones, vai.

Ele pegou um dos meus fones, sem a minha permissão, mas eu já estava mais que acostumada com o atrevimento dele.

_ Quem está cantando? - me perguntou.

_ Tarja Turunem. É o CD solo dela, depois de sair do Nightwish.

_ Eu gostava do Nightwish. Agora ficou meio pop, você não achou?

_ Meio? Você sabia que a Anette Olzon começou numa banda cover do ABBA?

_ Nuss... ABBA? Não é aquela banda que canta o hino dos gays?

_ Hino dos gays?

Eu não estava preparada para o que viria a seguir... Ele protagonizou uma das cenas mais constrangedoras e impensáveis que eu já havia presenciado, interpretando de forma afetada e desafinada o maior sucesso da banda ABBA: Dancing Queen.

_ You can dance, you can jive, having the time of your life! See that girl, watch that scene, digging the Dancing Queen!

_ Tá bom, eu conheço Aquiles! - pedi entre risos apertando a mão dele.

Ele parou de cantar e me observou segurar a mão dele com bastante vigor. Segui o olhar dele e também fiquei observando meu gesto. E se pudesse eu não soltava mais.

I wanna love you, but i better not touch (don't touch)

Eu quero te amar, mas é melhor não tocar (Não toque)

I wanna hold you, but my senses tell me to stop
Eu quero te abraçar, mas meus sentidos me mandam parar

I wanna kiss you, but i want it too much (too much)
Eu quero te beijar, mas eu quero muito isso

I wanna taste you but your lips are venomous poison
Eu quero te provar, mas seus lábios são venenosos

Your poison running through my veins
Seu veneno correndo pelas minhas veias

I don't wanna break these chains.
Eu não quero quebrar essa corrente

_ Aquiles chocho, vamos jogar vai! - gritou um dos colegar dele da quadra.

Ele me encarou e eu fiquei encabulada, mas sustentei o toque.

_ Eu vou treinar um pouco... Nunca é demais. - e deu uma risada sem graça.

Soltei a mão dele me sentindo a pior pessoa do mundo. A escória da sociedade. Ele se dirigiu para a quadra, e não pensei duas vezes para deixar a aula de educação física.

Corri para o bloco dois onde seria a aula de química depois do intervalo. Como não estava tendo aula e o professor só estava corrigindo algumas provas, perguntei se podia entrar. E como sempre ele consentiu sem nem olhar para ver quem era. Cruzei os braços sobre a mesa e pousei a cabeça em cima. O que eu havia feito? Ele já estava todo deprimido por causa da namorada e eu com segundas intenções... Já não estava claro que ele não queria nada nem com a Bia e nem comigo? Por que eu tinha que me rebaixar tanto? Mendigando afeto...

Eu era mesmo uma panaca, fala sério...

Ouvi o sinal do intervalo, e continuei na mesma posição. Passado os quinze minutos eu me endireitei na cadeira, mas não tirei os fones.

Mais alguns minutos e o pessoal começou a entrar na sala. Ele foi um dos últimos, com os colegas de time.

Your mouth so hot

Sua boca tão quente

Your web, i'm caught
Sua teia, eu estou pego

Your skin, so wet
Sua pele, tão molhada

Black lace, on sweat
Cordão preto, no suor

Sentou-se ao meu lado e não disse nada. Eu também não daria o braço a torcer. E acabei vencendo.

_ E então, o que está ouvindo agora? – ele finalmente perguntou.

Que idiota. Mas já que ele ia fingir que nada tinha acontecido, então eu faria o mesmo.

_ Leave’s eyes. For Amelie.

_ Legal... Por você? – brincou fazendo um trocadilho sem graça com o meu nome.

_ Pois é.

Uma vez eu li que as pessoas diziam “pois é” quando não tinham o que responder, ou quando tinham, mas estavam com preguiça de fazê-lo.

_ E o que diz uma música que tem seu nome?

Que porcaria de pergunta... Pessoas normais simplesmente perguntariam qual meu estilo musical depois de saber o que eu estava ouvindo.

E também... Na atual situação, era constrangedor demais dizer a letra daquela música.

_ Por que você não me sente? Por que não posso segurar sua mão? Você nunca disse que me deixaria. E eu sei que você está em algum lugar.

Respondi seguindo a atual estrofe que ouvia.

I hear you calling and it's needles and pins (and pins)

Eu escuto seu chamado e isto são agulhas e alfinetes (e alfinetes)

I wanna hurt you just to hear you screaming my name
Eu quero te machucar só para ouvir você gritar meu nome

Don't wanna touch you, but you're under my skin (deep in)
Não quero te tocar, mas você está sob minha pele (no fundo)

I wanna kiss you but your lips are venomous poison.
Eu quero te provar, mas seus lábios são venenosos

Ele ficou um tempo calado. Tentei imaginar a cara dele. Será que ele achou que estava falando com ele?

Acho que foi isso mesmo que ele pensou, pois fiquei muito tensa depois de recitar aquela estrofe. Tudo bem... No fundo, era isso mesmo que eu tinha a dizer.

Your poison running through my veins
Seu veneno correndo pelas minhas veias

I don't wanna break these chains.
Eu não quero quebrar essa corrente

Poison... poison...
Veneno... veneno...

One look (one look)

Um olhar (um olhar)

Could kill (could kill)

Poderia matar (poderia matar)

My pain, your thrill
Minha dor, sua vibração

O professor começou com as explicações daquelas funções orgânicas que pareciam infinitas.

Depois ele pediu que resolvêssemos os exercícios do capítulo. Terminei e descansei a mão sobre o livro. Pelo barulho das folhas do livro do Aquiles, percebi que ele ainda estava procurando as respostas. Mas não me atrevi a oferecer ajuda.

Apoiei a cabeça na outra mão e fiquei observando o lado oposto ao dele.Ouvi a cadeira dele se mover, mas não dei atenção. Deveria ter dado. Para pensar no que fazer quando ele pegasse a minha mão.

Virei-me trêmula para ele. Parecia que não estava fazendo nada de anormal. Continuava escrevendo, enquanto lia alguma coisa no livro, como qualquer estudante aplicado. Não fosse pela mão esquerda dele segurando a minha firmemente.

_ Você... Está precisando de ajuda? - perguntei nervosa.

_ Não. Por enquanto está fácil. - respondeu sorrindo tranquilamente.

E voltou a fazer o exercício. Mas não soltou a minha mão. Por quê? Por que estava fazendo aquilo?

Puxei a minha mão tentando me livrar do toque, mas não consegui. Ele também lutou para continuar com a minha mão entre a dele.

I wanna love you, but i better not touch (don't touch)
Eu quero te amar, mas é melhor não tocar (Não toque)

I wanna hold you, but my senses tell me to stop
Eu quero te abraçar, mas meus sentidos me mandam parar

I wanna kiss you, but i want it too much (too much)

Eu quero te beijar, mas eu quero muito isso

I wanna taste you but your lips are venomous poison.
Eu quero te provar, mas seus lábios são venenosos

Your poison running through my veins,
Seu veneno correndo pelas minhas veias

Acabei por desistir da luta, até mesmo porque na realidade era o que eu mais queria.

I don't wanna break these chains.
Eu não quero quebrar essa corrente

Continua

*

*

N/a: Dia 20 de julho -> Dia do amigo.

Meus amigos? Pessoas lindas que conheci no Nyah!

Minha maninha e beta-reader kikatz, meu anjo da guarda Keli-chan, Daay-flor-chan e Biia-querida-chan q fazem cada loucura pra ler a fic... Sam-chan, uma das primeiras junto com minha querida perfumed-chan... Mery Am, amiga de outras fics! ^^

Daih-hina q se tornou uma leitora mto importante! Gabiy Rodrigues, e naat_cullen lindas, Deh_Cullen-chan q tá querendo me bater pq a Mel não vai ao salão... (Família Cullen em peso por aki ^^)

Ice-chan q mesmo q perca alguns caps, faz questão de comentar em todos!

Kiramya-chan, garota de poucas palavras, porém suficientes!!

Ingryd Barbosa com quem troco a maior ideeeia por review! rsrsrsrs!

Gente, só aki mesmo pra me divertir tanto por escrever...

Amo todas e cada uma!

s2