Mais um convidado, desta vez um jovem moça. Seus cabelo curto eram negro como a noite neste mundo, os olhos eram cinzas como um dia nublado mas que não transmitiam dúvida. Seu nome é Noelle Bellmont. De primeira vista uma frágil e indefesa garota, mas será que é realmente isso?

A jovem percebeu que carregava uma gaiola coberta por um pano branco, mesmo não se lembrando o porque parecia-lhe familiar então a manteve consigo.

Noelle estava no centro de uma cidade, as pessoas andavam de um lado para outro, muitas apressadas e por incrivel que parecesse, ninguém se esbarrava naquela confusão. Pareciam não notar sua presença e apenas passavam reto por ela, mas não se preocupou, apenas precisava encontrar um lugar mais calmo e perguntar onde estava a quem estivesse nele.

Em poucos segundos se misturou no meio daquela multidão passando despercebida, andava calmamente com certo ritmo nos passos e como todos a sua volta. A garota se encaixava perfeitamente sem dificuldade em qualquer que fosse a situação, não se desesperava e aceitava naturalmente o que acontecia. Sabia que não tinha memórias, sabia que nunca havia visto aquele lugar antes e sabia que não conhecia ninguém, mas em nenhum momento se deixou levar por isso apenas fez o incomum, se adaptou ao ambiente desconhecido.

Enquanto andava, passava por várias lojas onde diferentes tipos de artigos eram vendidos, mas apenas uma chamou-lhe atenção, uma loja de pássaros. Sem hesitar entrou na loja, quando abriu a porta ouviu o barulho de um sino soar chamando a atenção da dona da loja. A moça estava alimentando os pássaros das gaiolas e quando terminou olhou para Noelle e a recebeu com um doce sorriso.

–Em que posso ajudar? - perguntou enquanto fechava uma gaiola.

–Boa tarde, você poderia me dizer onde estou? Quero dizer o nome da cidade.

Por alguns segundos a moça ficou em silêncio e observou a jovem com curiosidade, não era sempre que se encontrava uma jovem perdida. Logo lembrou-se de algo, a Rainha havia feito um discurso alguns dias atrás sobre convidados, talvez aquela jovem a sua frente fosse uma.

–Você não é daqui? - a mulher perguntou um pouco surpresa - Estamos no Mundo dos Sonhos esta cidade não tem um nome. Por acaso a senhorita é uma convidada?

–Convidada?

–Sim, convidados são aqueles que vieram de outro mundo e não tem memória da antiga vida.

–Entendo... Sabe como posso voltar de onde vim?

–Desculpe, mas a Rainha não deu mais nenhuma informação a respeito dos convidados. Apenas que vieram de outro mundo, possuem uma arma leal e que serão convocados quando todos chegarem.

–Muito obrigada pela informação. - Noelle agradeceu saindo da loja.

–Espere. - a moça disse - Eu notei que carrega uma gaiola, como um presente de boas vindas, não gostaria de um de meus pássaros?

Noelle sorriu e parou na porta virando apenas um pouco para trás.

–Não obrigada, já tenho um. - Noelle agradeceu a oferta e saiu da loja.

Quando saiu da loja, a primeira coisa que fez foi observar o céu, estava anoitecendo e de alguma forma aquilo a fazia sentir um mal presentimento. A noite era algo que devia se temer? Bem não se lembrava porque a incomodava, mas deveria encontrar algum lugar para passar aquela noite, mas como se não conhecia ninguém? Nem ao menos conhecia o lugar onde estava e nem as pessoas. O que estava errado?

–Noelle.

Ao ouvir a voz Noelle perdeu sua linha de raciocínio e passou a prestar atenção na voz que vinha de sua gaiola coberta. Ela retirou o pano e pela primeira vez viu o falcão que havia dentro.

–Eu percebi que estava começando a ficar com dúvidas, está tudo bem? - o falcão perguntou.

–Estava pensando onde posso passar a noite.

–Bem, aqui não é perigoso. Esse lugar é um dos mais calmos do Mundo dos Sonhos, então você não precisa se preocupar muito. Há uma praça aqui perto, você pode ficar lá essa noite.

–Certo. Pode me dizer onde fica?

–Vire a esquerda nesta rua e siga em frente, logo irá avistar a praça.

A rua estava deserta, apenas alguns comerciantes estavam ali e apenas fechando suas lojas. Uma cidade completamente diferente da que havia conhecido algumas horas atrás. Noelle logo chegou à praça e ainda se sentia incomodada com aquela escuridão, mesmo que ainda houvessem luzes acesas o que a realmente incomodava era a noite mas por que?

A praça estava vazia como o resto da cidade, haviam bancos espalhados por ela mas o que mais chamava a atenção nela era a enorme árvore no centro dela, as poucas flores estavam abertas e curiosamente nenhuma havia a mesma cor. Noelle se aproximou da árvore e se sentou embaixo dela, deixou a gaiola em seu colo e olhou para o céu mais uma vez.

–Não vai descansar um pouco? - perguntou o falcão.

–Não, algo me incomoda.

–Não precisa se preocupar, eu disse que aqui nada acontece e além disso eu ficarei acordado.

Parecia sincero, mas nem se conheciam, por que estava ajudando ela?

–Quem é você? - perguntou buscando o sentido da gentileza do falcão com ela.

–Eu? Eu apenas sei que existo apenas por uma única razão.

–E seria?

–Ajudar você a alcançar seu sonho.

–Mas eu não me lembro de nada.

–É apenas um detalhe, todos os convidados tem algo em comum, isto é, a ligação com seus sonhos. Tenho certeza que vocês não se esqueceriam tão facilmente de seus sonhos.

–Poderia me falar um pouco mais? Por exemplo você.

–Bem, como você, eu não tenho memórias, mas sei que estou aqui para ajudar você e nasci com muita informação sobre este mundo. E apenas alguns convidados e moradores tem ajudantes como eu.

–Por que?

–Eu não tenho informação a respeito disso.

–Sabe por que estou aqui?

–Por causa de seus sonhos. Eles possuem mais força que você imagina.

–Posso voltar para casa?

–Isso depende da Rainha.

Noelle começava a se sentir exausta, o sono aos poucos a afetava mas mesmo assim não queria dormir.

–Descanse.

–Não, não posso. - disse tentando se manter acordada.

–É melhor e eu vou ficar acordado.

Ela bocejou prova de que a qualquer momento poderia adormecer, mas ainda estava com aquele mal presentimento e tinha certeza que algo iria acontecer se dormisse agora, principalmente porque não estava com sono a alguns segundos atrás, como se alguém estivesse fazendo isso de propósito, mas como e por que?

Os olhos se fecharam, sentiu uma flor cair sobre a cabeça e nada mais. Não conseguia abrir os olhos nem mesmo se mover, poderia ser desesperador para qualquer pessoa mas Noelle aceitou sua situação e como esperava aquele sonho familiar começava...