The Rose Of Darkness escrita por Pye


Capítulo 18
Capitulo 9 – Amizade Azul. Venha me encontrar.


Notas iniciais do capítulo

Olá mais uma vez meus pequenos botões de açúcar, estou muito feliz que todas estejam ainda acompanhando, então peço muito para os fantasmas comentarem também, porque me motiva muito, viu? Me deixa muito triste uma pessoa favoritar e não marcar presença, por favor então, sim?

Esse capítulo de Natal é todo delas; Anne-chan, Nellye-chan, Rapha M. e minha linda Yuuka-chan.

Obrigado mais uma vez pela presença de vocês, e prometo um capítulo bem dramático para depois deste, tá?

*NÃO SE ESQUEÇAM DAS IMAGENS E MÚSICAS ESPECIAIS DO CAPÍTULO*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/245164/chapter/18

Capitulo Nove

Amizade Azul. Venha me encontrar.

Música de abertura

“Eu estava isolada,

Mas algo agarrou em minhas mãos,

Puxando-me para cima novamente.

Oh, sinto meus pés.

Sinto que estou finalmente ao chão. Você me salvou da escuridão.

Não me abandone em minha obsessão. Eu estou aqui,

Somente para você, meu amor.

Mantenha-me perto.

E então, estaremos caminhando,

Juntos, novamente.”

~ ~

O sol novamente reinava nos céus acima de suas cabeças, mas ao contrário dos dias anteriores, o ar estava fresco, fortalecendo uma leve e gostosa sensação em suas peles. As copas das poucas árvores verdes balançavam diante ao calmo vento daquele inicio de manhã.


Mellanie e Maryana caminhavam sem pressa em direção ao portão de entrada de Sweet amoris. Hoje haveria um breve conselho de classe, então sairiam todos em um horário mais cedo.





Quando finalmente adentraram ao Pátio principal, muitos dos alunos passavam direto para suas salas ou para outros diferentes locais, mas as duas se direcionavam para o pequeno grupo ao fundo. Nathaniel e Miha que por si agarravam algumas pastas com documentos nos braços. Lysandre que ao mesmo tempo encontrava-se sentado com as pernas para cima no longo banco de concreto, também mantinha-se concentrado em escrever em seu pequeno bloco de notas.







Mas, tanto como todos presentes naquele pátio, havia um em especial que havia chamado a atenção da pequena garota. O ruivo perturbado. Oque ele estava fazendo ali? Será que, finalmente estava se juntando á todos? Essa ela pagaria para ver, sem dúvidas.





Maryana se aproximou de Lysandre sutilmente, curvando a silhueta e o rosto na direção de seu misterioso bloco de notas, na tentativa de talvez ver oque ele tanto se concentrava em escrever. Mas ele curvou os olhos bi colores em sua direção, fechando brutalmente o caderninho em suas mãos, impedindo-a assim de descobrir.


A loira bufou,

— Sabe que odeio mistérios, Lysandre. — ela reclamou enquanto sentava-se ao lado dele.

Ele sorriu vitorioso.

— Não seja tão intrometida, pequena Sherlock Holmes. — o vitoriano retrucou.

Miha apertou os olhos em cima dos dois e sorriu de maneira fofa, escorregando as costas pela parede e sentando-se no chão.

— Vem cá Nathaniel-kun, sente-se ao meu lado também. Essas pastas estão muito pesadas. — Miha disse gentilmente.

A garota rosada sendo realmente gentil? Isso estava cheirando a maldade.

O loiro a olhou desconfiado

— Não vai me esfaquear, vai? Pensei que já estivéssemos quites depois daquele susto que você me deu, Miha-chan. — ele falava com certa careta engraçada nos lábios.

A rosada sorriu.

— Não se preocupe loiro, não estou com nenhuma Kunai na cintura, então você está seguro. — ela concretizou com sinceridade.

Ele inflou as bochechas e se sentou ao chão, bem ao seu lado.


Mellanie sorriu por um breve momento de descontração. Mas, seus olhos teimavam em se focar naquele ser de cabelos vermelhos. O demônio não parecia tão amedrontador naquele momento, com tal expressão serena e fones nos ouvidos. Estava tranqüilo, sem peso na consciência, pelo menos naquele momento.




Os braços cruzados como de costume e os olhos levemente serrados, enquanto ouvia tranquilamente seu gênero de música preferido.




A garota puxou delicadamente ar para os pulmões, seguintemente andando naquela direção perigosa, talvez para a boca do tigre, ou para simplesmente, a boca da raposa, qual apelido havia lhe dado não fazia muito tempo. Kitsune-oni. A raposa demoníaca. Era essa a primeira coisa que lhe vinha a cabeça quando a imagem do ruivo refletia em seus pensamentos. Uma raposa infernal e temida com grandes presas, e pelagem avermelhada. Mas, ela sentia naquele momento que talvez pudesse estar errada, em parte. Castiel não parecia tão ameaçador como em sua mente, mas sim um bom cara. Sua mente dizia que era errado, mas seu coração dizia que era certo.


Mas afinal, certo ou errado, em seus pensamentos ou na realidade, ele continuaria sendo apenas ele, como um demônio ou como um anjo sentado ao chão com os fones nos ouvidos.

Não importava.


E, naquele momento, dentre milhares de pensamentos da garota, ele abriu os olhos de uma vez só, e frente à sua visão ele podia claramente ver a pequena garota não tão longe, fitando-o com severidade, como se estivesse com a intenção de ver dentro de sua alma, enxergar seus segredos bem lá no fundo. Mas o contato visual foi quebrado. Ele revirou o rosto para o lado com agilidade, sentindo seu corpo arder diante aquele pesado olhar.




Ele então encaixou dentre os dedos todas as mechas de seus rubros cabelos, prendendo-os para cima, em um curto rabo de cavalo, deixando apenas que duas mechas sobrecaírem frente ao rosto, de ambos os lados.




— Ficou até legal. — Mellanie disse enquanto sentava-se no chão, ao seu lado.


O ruivo olhou-a, revirando os olhos cinzentos em seguida.

— Você não muda. — ele apenas disse.

Ela fitou seu rosto com curiosidade.

— Como assim?

Ele mandou um pequeno sorriso debochado.

— Continua anã e irritante. — respondeu.

E naquele momento, enquanto ele atravessava o olhar pelas grades do pátio e fitava as nuvens no céu, ela mantinha uma das sombracelhas arqueadas e os punhos fechados.

“Insensível. Você não percebe? Quem realmente não muda, é você.”


O vento estava ainda mais constante naquele lugar, e de repente, diante a uma rajada dele, a garota se levantou rapidamente do chão, apressando-se a acenar um ‘até depois’ para o resto do grupo e correr para a entrada do corredor.




Não demorou muito, e ela já estava no meio do caminho para o pátio dos fundos, o tão temido que ninguém se atreveria a visitar, somente ela e o demônio.




Ela estava com pressa, suas pernas corriam sem perder tempo. Mas, as sombras estavam atrapalhando-a. Não conseguia ver, não conseguia sentir mais o vento atingir sua pele com graciosidade.


E, no exato momento em que dobrava o último corredor, vendo finalmente a luz do portão e do pátio, sua visão foi cruelmente cortada por um baque violento. Um baque contra alguém. Ela novamente havia atropelado uma pessoa pelos corredores escuros do colégio.


Quando os dois caíram no chão com violência, ela podia ouvir sem dúvidas um gemido de dor vindo bem do seu lado.




Ela vidrou seus olhos naquela pessoa desconhecida.





Era um garoto. Ela havia atropelado um cara.





Fitou-o com mais atenção.





Ele tinha belos cabelos azuis como o céu daquela manhã e, sua pele alva levemente avermelhada diante ao impacto da batida. Seus olhos estavam fechados naquele momento.






Como ela estava envergonhada...







— M-Me desculpe, — ela começou gaguejando, preocupada — você está bem? Eu machuquei você?





E aos poucos, em breves segundos naquele chão gélido, o rapaz de cabelos azuis foi sutilmente abrindo os olhos na direção da baixinha.


Ela podia claramente ver agora,

Seus olhos eram em um púrpura puro, inocente, gracioso. Talvez, por um pequeno momento, ela pudesse tê-los confundido com os de Zero. Mas não, não eram nem um pouco semelhantes. Os do esbranquiçado não eram doces como o do rapaz azulado, não. Os de Zero eram simplesmente rudes, frios e misteriosos, talvez escondidos atrás de uma grande barreira, mas mesmo assim, mantinham-se sua beleza.

A garota fitou o rapaz caído no chão com delicadeza enquanto levantava-se do chão.

Ele olhava-a fascinado, mas suas bochechas ainda estavam vermelhas diante a pequena dor nas pernas.

— Não se preocupe, você não me machucou. — ele disse com um grande e tranqüilo sorriso.

Mellanie também não pôde evitar sorrir. Ele parecia ser uma pessoa boa, realmente, boa.

— Vamos, deixa eu te ajudar a levantar.

E então ela entendeu um dos braços, oferecendo gentilmente a pequena mão em sua direção.

Ele agarrou-a no mesmo momento, sentindo ser puxado com agilidade para cima novamente. Firmou seus pés no chão e parou bem na frente da pequena garota.

E como era pequena...


— Por sorte não caí em cima de você, do jeito que é pequena iria se machucar. — ele disse com mais um pequeno sorriso, fitando ao mesmo tempo a estatura dela.




Ela inflou as bochechas, fingindo estar realmente magoada com o comentário.




— Posso até ser pequena, mas meus punhos são muito fortes. Quer ver só? — ela disse serrando-os e mostrando-os na direção do garoto azul.


Ele soltou gargalhadas divertidas, tornando aquele corredor escuro um pouco mais animado.

— Não obrigado, não vou subestimar a pequena donzela. — ele respondeu — E também não quero meus dentes arrancados.

Ela também riu, não pôde evitar. Ele era realmente engraçado.

E, quando as risadas finalmente se cessaram, ambos os olhares se cruzaram. Uma maravilhosa mistura de Violeta com Verde. Ambos os olhos se chocaram gentilmente, tão gentilmente que poderia chegar a ser estranho.

Mas ela encerrou o contato em um limpar de garganta, chamando a atenção do garoto para a realidade, novamente.

— E então, nunca o vi por aqui. — ela começou — Novato?

Ele sorriu novamente.

— Sim, sou novo por aqui.

Ela murmurou um pequeno ‘hum’ enquanto começava a enrolar uma mecha de seus cabelos nos dedos.

— E de onde você veio? — perguntou.

— Eu vim do centro de New York. Meus pais me despacharam pra cá á pouco mais de uma semana. Meu irmão está lá agora, mas também virá pra cá na próxima semana. — ele disse com um falso sorriso.

Ela o analisou por um momento.

— E porque eles te mandaram pra cá tão de repente assim?

Ele suspirou pesadamente.

— Meus pais são dois loucos irresponsáveis, somente isso, não há um motivo certo por trás disso tudo. Eles apenas tem problemas que tem que resolver, e sinceramente? Eu não me importo mais com isso.

Ela abaixou o olhar, sentindo-se culpada por entrar em um assunto tão infeliz e talvez doloroso para ele.

— Você deve se sentir mal por isso. — ela disse em tom de voz calmo e baixo.

Ele sorriu.

— Eu me sentia no começo, mas agora não mais. Meu irmão está sempre comigo, nós compartilhamos coisas e conversas. Somos grandes amigos, estamos sempre juntos e suportamos tudo, até mesmo a ausência de nossos pais.

Mellanie sorriu ao canto dos lábios e escorregou as costas pela parede, ao fim sentando-se no chão daquele corredor.

Não demorou muito, ele fez o mesmo, ficando ao seu lado com as pernas dobradas e as mãos nos joelhos.

— Eu entendo você, quero dizer, deve ser doloroso não ter as pessoas que você ama por perto, ao seu lado para te ajudar, ou simplesmente para rir com você. — Mellanie disse com a voz um tanto rouca, sentindo sua garganta queimar.

Ele a fitou com peso, curioso.

— E os seus pais? Você convive bem com eles? — o garoto perguntou inocentemente.

Ela sorriu novamente de canto, sentindo aquela simples pergunta atravessar seu coração como uma flecha. A dor não parava, mas ela havia prometido se controlar e continuar firme.

— Eu não conheço os meus pais. — ela começou — Quer dizer, eles estão mortos. Apenas me lembro de vagas coisas de anos atrás. Faz Dez anos que perdi minha mãe. Pode parecer estranho ou egoísta te dizer isso mas, eu preferia ela á meu pai. Eu não me lembro dele, nem de seu rosto ou de sua voz, apenas me lembro que ele costumava discutir com ela, e então ele simplesmente foi embora e nos deixou sozinhas.

Não podia evitar. As lágrimas já estavam presentes em sua face.

Ele lamentou em um murmúrio e tombou o rosto na direção da garota, percebendo e vendo-a chorar.

Rapidamente arqueou a mão e limpou ao redor das bochechas dela com os dedos, delicadamente, afastando as lágrimas.

— Eu sinto muito, não deveria ter feito uma pergunta tão idiota... — ele disse com sinceridade enquanto seus próprios olhos púrpura olhavam-na com pureza.

Ela arqueou um pouco mais o rosto em sua direção, olhando-o também.

— Não é sua culpa. Eu só precisava chorar um pouco. Isso é algo ruim? Chorar por algo que nunca vai voltar? — ela perguntou com pequeno receio.

E então ele sorriu, quase instantaneamente.

— Claro que não. Chorar por alguém que você ama não é algo ruim, mesmo que essa pessoa já tenha partido, tenho certeza que ela está com você agora. — ele disse.

Ela o fitou mais uma vez com curiosidade.

— E onde ela está agora? Eu sempre me pergunto isso quando estou sozinha. Onde ela está?

Ele sorriu, cerrando sutilmente os olhos em sua direção.

E então ele abaixou as mãos da face da garota, descendo-as em direção á seu peito.

— Ela está aqui, no seu coração. Você pode sentir? — respondeu puramente.

Ela guiou diretamente seus olhos para suas mãos, onde a ponta dos dedos dele tocavam-na o peito delicadamente.

Podia sentir as batidas. Podia realmente sentir a presença de sua mãe naquele momento, dentro de seu coração.

Ela assentiu.

Ele sorriu novamente e se afastou para sua postura anterior, sentado ao lado dela com uma das mãos nos joelhos.

— Qual o seu nome? — ela perguntou de repente.

— Alexy, — o garoto respondeu — e o seu?

Ela sorriu pequenamente.

— Mellanie.

Ambos trocaram sorrisos.

— Qual a primeira coisa que vem na sua cabeça quando olha pra mim, Mellanie? — ele perguntou pegando-a de surpresa.


Oque exatamente ela poderia responder?




Complicada, realmente uma pergunta complicada.





A garota olhou-o bem no fundo dos olhos violetas, enxergando finalmente algo além do que a somente a aparência. Enxergou por dentro, pelo seu carinho e compaixão. Pelo seu coração.





E então respondeu,




— Céu. — ela disse tranquilamente — A primeira coisa que vem na minha cabeça quando olho pra você, é o céu.


Ele abriu um pouco mais os olhos em sua direção, curioso e surpreso.

— Por quê?

— Você se parece com ele. O céu. Ele pra mim é puro, afetuoso e azul. Azul assim como seus cabelos, mas não somente os cabelos. Azul como seu coração, como a amizade que você demonstrou comigo. — ela terminou com um sorriso delicado.

Ele tornara-se sério a poucos segundos atrás, por surpresa, mas agora ele estava sorrindo. Sorrindo bem ao seu lado, contente, feliz.

— Você é uma garota incrível, Mell. — ele disse, aperfeiçoando justamente em seu apelido.

Ela apertou os olhos, sorrindo com eles.

— Você também é um cara incrível, Céu. — ela disse no mesmo momento em que apertava carinhosamente a ponta dos dedos na bochecha do rapaz.

Ele sorriu, olhando-a mais uma vez nos olhos.

Olhos verdes e alegres, mas atrás da alegria do momento ele podia ver a tortura e a tristeza. Não era tão complicado desvendá-la.

Mas bem naquele instante, em que ela apertava suas bochechas, ele havia feito uma promessa a si mesmo;

Iria fazê-la sorrir naquela semana.

Iria fazê-la feliz, por pequenos dias, apenas, fazê-la sentir-se viva.


Céu. Este era seu mais novo apelido. O mais novo sinônimo de sua alma, de seu coração, e principalmente, o selamento de sua mais nova amizade.





— Estou com vontade de comer morangos com chocolate. — ela disse animada.







— Então acho que podemos dar um jeito nisso. Que tal voltarmos juntos pra casa hoje? Eu posso pensar se compro um espetinho pra você.





— Certo! — ela respondeu alegre, levantando os braços para cima.






“Uma garota incrível...




Mas, oque é exatamente isso que estou sentindo?”


E, naquele breve pensamento do garoto Azul, tudo estava claro agora.

Ele a faria feliz, naquela semana, formada exatamente por,

Sete dias.

~~

As folhas e galhos daquela grande árvore balançaram com ferocidade, enquanto Zero terminava de saltar dela com agilidade, exatamente para dentro do corredor da casa.

Desceu as escadas.

Os dois guardiões desajeitados da garota estavam na sala, sentados sobre o chão com as pernas cruzadas enquanto jogavam damas na pequena mesa de centro.

— Como você pode ser tão ruim até em damas, Lunna? Isso deveria ser crime, sabia? Você não sabe realmente jogar nada? — Kaien dizia em tom reprovador para a mulher á sua frente, com semblante entediado.

A mulher bufou.

— Ora, cale a boca. Eu sou ótima em cartas, mas você insistiu tanto que eu não pude recusar, então pare de falar bobagens, tá? — ela disse alcançando seu limite de paciência.

Kaien grunhiu.


Zero então suspirou pesadamente naquele momento, passando pela sala na intenção de ir diretamente para a cozinha.




Mas Kaien o impediu com uma das mãos esticadas em sua direção, fazendo-o parar no mesmo instante.




Seus olhos se arquearam para o corpo do esbranquiçado.


Seus braços e punhos estavam ensangüentados, por mais uma vez. Os pés arranhados e sujos por terra.

O homem o incendiou com um olhar reprovador.

— Parece que não adianta falar nada pra você, não é? — Kaien suspirou, desanimado — Você não tem consciência, você não tem responsabilidade. Oque pretendia fazer? Percorrer por toda a cidade, pulando de árvore em árvore atrás daqueles imundos animais? Você está doente, Zero. Pare com isso.

Zero olhou-o seriamente, tal olhar frio que atingiu diretamente a espinha de Lunna.

— Não se meta nos meus problemas, Kaien. Eu estou aqui, não estou? Estou fazendo oque você quer, então porque está reclamando tanto? — Zero disse rudemente enquanto se esquivava dos braços de Kaien, que antes o seguravam e impediam-no de sair.

— Você deveria protegê-la, então porque está correndo atrás de falsas esperanças? Você não tem a mínima chance de alcançá-los, Zero. Eles são muito mais poderosos do que nós, você querendo ou não. Então, faça somente o seu dever.

O rapaz de cabelos levemente acinzentados bufou.

— Eu estou fazendo oque deve ser feito. Se não agirmos e simplesmente esperarmos eles nos alcançar, então será tarde. E em pouco tempo, nossa pequena princesa estará nas mãos deles, morta. — ele retrucou em tom de voz alto.

Lunna sentiu seu coração errar um batimento naquele momento e naquelas rudes palavras.

Mas, realmente, ele tinha razão.


Kaien suspirou, retirando os óculos e colocando-os sobre a mesa de centro.




— Faça oque quiser então, mas, por favor, não cometa nenhuma atrocidade. Sempre focado, está me ouvindo? — o homem aconselhou — Ah, e por favor, não chegue mais em casa neste estado. Ela pode te ver e ficar preocupada, então, limpe-se antes de entrar. Não quero mais ver sangue pelos tapetes.




Zero assentiu e deu as costas, voltando a seguir seu caminho para a cozinha.



Lunna fitou o homem. Seus olhos estavam trêmulos e o coração árduo.




— Kaien, — ela começou com preocupação, mas fora cortada por ele.




— Não se preocupe, Lunna. Ele ficará bem. Teremos que deixá-lo protegê-la a seu modo, afinal, do que adiantaria se nós o impedíssemos, não é? Ele está fazendo a coisa certa, mesmo o quão perigoso for, ele tem que continuar.



A mulher abaixou os olhos e apertou os punhos sobre sua saia,




Sentia que nada estava bem, o caminho não estava trilhando como o esperado.




Não deixaria acontecer nada a eles, não deixaria, de forma alguma, sua sobrinha morrer.


Os olhos então se fecharam com preocupação.


~~







Tudo estava muito tranqüilo naquele pátio, quais pequenas folhas das árvores do lado de fora caíam bem lá dentro com delicadeza, folhas alaranjadas e envelhecidas, deixando bem claro o ínicio da estação. Outono. Uma estação triste para muitos.


Mellanie estava ultrapassando mais uma vez aquele longo corredor, alcançando novamente onde todos estavam, e por incrível que pareça, em seus devidos lugares. Miha e Nathaniel sentados um do lado do outro, anotando algo em suas pastas de representantes. Lysandre ao lado de Mary, aparentemente escrevendo novamente em seu bloco de notas, enquanto a loira olhava pensativa para alguns papéis em suas mãos.

A garota desviou o olhar por um segundo, em direção ao chão no fundo direito. O ruivo estava lá, como esperado, ainda com os fones nos ouvidos e olhos fechados.

Por um momento ele parou de escrever,

— Quem é o cara? — Lysandre perguntou apontando com o lápis na direção do garoto de cabelos azuis, ao lado de Mellanie.

Ela olhou para ele e novamente para o vitoriano, com um sorriso.

— Ah, ele é o Alexy. É novato, me esbarrei com ele no corredor dos fundos. — ela respondeu.

Nathaniel que anotava em sua caderneta junto a rosada, olhou diretamente para o garoto azul.

Ahn, novato? — o loiro disse abobado — Não fiquei sabendo que nenhum novato viria pra cá.

Miha sorriu provocante.

— Isso é porque você é um incompetente. Não sabe fazer nada direito, bah. — retrucou a rosada.

Mellanie riu, puxando a manga da camisa de Alexy, levando-o para perto de todos.

— Prazer em conhecer você, Alexy. — Mary disse do banco, parando a leitura dos papéis.

O garoto sorriu, assentindo com um aceno de cabeça.

Miha sorriu maliciosa, olhando-o da cabeça aos pés.

— Você é bem interessante, garoto Azul. — ela disse.

Nathaniel ao seu lado arregalou os olhos caramelados com fúria, enquanto a garota observava Alexy ficar vermelho.

Mellanie riu,

— Não deixe meu novato envergonhado, Miha! — a repreendeu.

A garota de longos cabelos rosados apenas deu de ombros, voltando a atenção para a papelada em suas mãos.


E dentre a conversa abafada pela distância, os cabelos rubros presos em um rabo de cavalo voaram um pouco para o lado, chocando com a parede gentilmente. Seus olhos se abriram, e no mesmo momento ele despertou, chegando a sua visão as costas de Alexy e da pequena anã problemática. Seus olhos se focaram por meros segundos, desviando-os em seguida. Castiel apertou levemente os punhos e mudou a música, para uma mais agitada e de ritmo violento.





— Você me prometeu morangos hoje, Alexy! — Mellanie alertou.







E novamente as risadas do garoto azul foram ouvidas graciosamente.





— Tudo bem, tudo bem. Compro quantos você quiser. — ele disse.


O vento se cessou ali mesmo, depois de um bom tempo. As copas das árvores se mantiveram como estátuas, paradas, sem manifestar nenhum movimento sequer. Poucas folhas verdes ainda sobravam, e isso causava um leve aperto no coração da baixinha.

Não apreciava Outonos, mas sentia que neste, sua vida seria alegre.

Ou talvez, não.


**







Não tão longe dali, atrás da pequena janela de vidro claro, apertados olhos esverdeados observavam a cena, observavam calorosamente aquele pátio.


E em curtos segundos, olhos agradavelmente verdes tornaram-se em um amedrontador vermelho.

— Me parece que nossa pequena princesa arranjou um amiguinho. — sua voz soou rouca e perigosa.

Dylan suspirou.

— Esse lugar não me agrada. — ele disse olhando ao redor.

Ele tinha razão. Não podia permanecer no colégio, ela perigoso demais.

Meredy apertou os olhos.

— Você não está feliz ao meu lado, querido? Pensei que o conforto estivesse onde eu estivesse, não importasse o lugar. — ela retrucou.

— Esqueça. — ele apenas disse, — Oque há de errado desta vez?

Oh, não há nada de errado. Está tudo maravilhosamente bem. Tudo como eu planejei. — ela sorriu.

Dylan fitou o rosto alvo de sua amante, qual pertencia a olhos perigosamente vermelhos como o sangue, e lábios igualmente rubros. Ele sabia, ela era perigosa. Mas ele não poderia evitar. Afinal, as correntes rodeavam seu corpo fortemente, e as mesmas correntes levavam a ela. Ela dominava-o como quisesse. Ele era seu prisioneiro, para sempre.


**







Exatamente três aulas haviam se passado naquela manhã. A garota adentrava finalmente o pátio dos fundos, qual era abandonado por todos. Alexy não estava com ela, como fez toda a manhã. Provavelmente terminando sua ficha de inscrição com Nathaniel ou Miha.


A garota aproximou-se daquela grande árvore, qual estranhamente formada pela maior parte de folhas verdes. Poucas haviam caído ao chão.

A garota virou-se e olhou maravilhada o gramado banhado por verde, recheado de flores pequenas e médias. Aquilo a deixava tão tranqüila... Como se nada pudesse tocá-la, machucá-la. Aquilo era como um grande escudo. Os pensamentos ruins apenas se distanciavam a cada piscar para aquelas flores.

Mas um estridente som de passos se ecoou em sua cabeça naquele momento, levando embora qualquer pensamento agradável. Era como se fosse batucadas de salto alto, vindo exatamente em sua direção.

A garota se virou rapidamente, fazendo assim seus longos cabelos castanhos se chacoalharem com o vento calmo.

— Você. — ela disse apertando ao mesmo tempo os olhos verdes sobre aquela criatura,

— Olha quem eu encontrei aqui, a garotinha dos isolados. — provocou Ambre, enquanto aproximava-se da garota com ar superior.

Mellanie curvou o rosto, confusa.

— Garotinha dos isolados? Do que está falando?

A loira riu altamente.

— Então você não sabe? Mas que idiota. — ela começou — Garotinha dos isolados, um bom apelido pra você, não? Claramente porque você só se mete com quem não deveria se meter, você é a bobona do grupinho medíocre do colégio. Todos falam de você, queridinha. Sempre você, não é? Com seu grupinho de idiotas. Não suporto olhar pra você, me dá nojo.

Mellanie manteve seus olhos bem abertos, de certa forma espantada com tantas coisas inúteis que saiam da boca daquela garota metida.

Oque ela estava falando?

— Você precisa ir tomar seus remédios Ambre. Acho que você se esqueceu hoje. — Mellanie provocou.

A loira novamente riu, formando um largo sorriso debochado ao final.

— Não seja tão ridícula garota. Acha mesmo que todos a sua volta se importam com você? Ninguém se importaria com uma garota tão fraca e tão dependente, queridinha. Abra seus olhos. Ninguém gosta de você. — ela começou — Sabe, eu estava passando exatamente por aqui há uns dias atrás, e sabe oque eu vi? Ah, você não irá acreditar. Eu vi o nosso mais novo professor de história, sabe de quem estou falando? Pois bem, ele estava acompanhado de uma garota, sabe? Uma colegial. Eles me pareceram bem íntimos, conversavam abertamente sobre algo que não pude escutar. Agora preste bem atenção, não vai adivinhar com quem ele estava conversando. — a loira se aproximou da garota, pegando uma fina mecha de seu cabelo castanho e enrolando em suas enormes unhas vermelhas — Ele estava com você. A garota mais “santa” dessa escola. Interessante, não? Mas isso é algo bom, Mellanie, e sabe por quê? Porque assim eu pude comprovar minhas suspeitas. Você não passa de uma vadia que dá em cima de professores bonitões. Você não sabe queridinha? Relações entre professor e aluna é proibido, mas pelo que me parece, você não está tão preocupada em ferrar a vida dele, está?

Quando Ambre terminou seu dialogo, repentinamente largou a mecha de cabelo da garota, enquanto a mesma seguia a megera com o olhar, calmamente.

— Você é louca, tem noção do que tá falando? — Mellanie repreendeu quase em um grito para cima da loira, que parecia não se deixar atingir de maneira alguma, apenas ria, sem parar.

— Que dó de você, estou morrendo de pena. — ela provocou — Mas sua ficha não se entende apenas aí não, queridinha. Eu sou muito observadora, sabe? E oque eu percebi foi que, além de querer arrastar o professor pro buraco junto com você, você ainda quer arrastar mais dois. Isso é realmente intrigante.

Mellanie apertou os punhos junto ao corpo, sentindo seu coração queimar e subir para a boca.

— Cala a boca, Ambre.

— Ora, não seja tímida minha pequena flor, e apenas me diga, sim? Assuma que você estava aqui naquele dia conversando intimamente com o sensei de história, diga! E você disse o nome dele claramente. “Sebastian”, não é? Você deveria ter vergonha do que faz. — ela continuou — E eu também sei de outras sujeiras suas, então fique calada e escute. Alexy, esse é o nome do novato não é? Fiquei sabendo que você foi muito prestativa com ele mais cedo, que coisa adorável de sua parte, Mellanie. Mas não adianta fingir, queridinha. Ele é sua próxima presa. Você apenas o enrolou para mais tarde. Mas pensando bem, talvez ele goste de porcarias como você, porque, ele é uma porcaria.

A garota baixinha apenas ouvia tudo calada, com os punhos firmes junto ao corpo e os olhos levemente cerrados. A raiva estava atingindo cada estágio de seu corpo, suavemente.

— Ambre...

Oh, não diga nada queridinha. Eu ainda não acabei. — ela avisou tornando os olhos frios — Todos aqueles que você pensa serem seus amigos, queridinha, na verdade são uma grande farsa. Ninguém aqui gosta de você. Todos estão te usando por capricho. Mas que culpa nós temos, não é? Vagabundas como você tem que se manter em seu devido lugar. Então, querida, não se meta com eles. Não encoste um dedo nos garotos daqui. Seus feitiços baratos não funcionarão com o maloqueiro, com o sensei ou simplesmente com o novato azul. Desista. Enxergue seu lugar e se isole de todos aqueles que fingem gostar de você. Aliás, todos são tão hipócritas, não é verdade? Tão sujos e mal lavados, assim como você. Me dá nojo. — a loira finalmente terminou com um sorriso repleto de malícia.


Mellanie começara a sentir lágrimas queimarem em seus olhos, mas ela não poderia se dar por vencida daquela maneira. Não podia, de forma alguma. Então, apenas puxou ar para os para os pulmões com ferocidade, erguendo a cabeça para cima novamente, olhando aquela garota perversa a sua frente de olhar superior.




— Ah, mas oque ouve minha queridinha? Será que está com tanto medo que não pode nem ao menos falar? — Ambre disse com ironia na ponta dos lábios rosados,





Mellanie sorriu perigosa, e naquele mesmo momento suas pernas instantaneamente voaram para frente, por quase impulso, algo que seu coração dizia ser certo. E junto ao sorriso provocante nos lábios da baixinha, seu braço direito se ergueu e seu punho se manteve firme em um soco certeiro no rosto de boneca da loira. Uma bofetada dolorosa e sonora, oque fez Ambre cair no chão junto a um grito de dor.





A baixinha observou-a de cima com olhar feroz e respiração ofegante. Seus punhos ainda estavam firmes junto ao corpo.




— Isso foi por falar mentiras sobre mim. — a garota disse com a voz rouca diante a raiva.


A loira a olhou com olhos semi-cerrados, ao mesmo tempo em que se encontrava caída de joelhos no chão, os lábios rosados agora manchados por sangue, qual escorria pela borda de sua boca. O soco havia sido realmente forte.

— E isso, — Mellanie começou novamente, agora golpeando o rosto da loira com uma bofetada árdua na face — é por ter falado mal de Sebastian!

Ambre apenas virou o rosto com o impacto para o lado, arriando um pouco as pernas, mas continuando de joelhos. Sua bochecha estava marcada perfeitamente por dedos finulos da morena, marcas vermelhas.

— Sua... — a loira esforçava-se para completar uma frase, mas os ferimentos não permitiam.

— Não o conheço, mas eu sei que Sebastian é um homem bom e sério. Nunca se envolveria com uma garota do colegial. Você está errada a respeito dele. Sebastian é um homem incrível, e não merece seus julgamentos venenosos. — Mellanie disse friamente, jogando seu olhar em cima da loira no chão.

Ambre simplesmente fitou-a, abrindo novamente os olhos e olhando a garota parada em pé, á sua frente.

— E mais isso, — a baixinha disse por mais uma vez, agora formando um golpe com o pé, chutando certeiramente seu nariz — por ter dito mal dos meus amigos. — pausou ao terminar o golpe, vendo a garota cair por completo no chão desta vez — Não abra sua boca pra falar de nenhum deles, Ambre. Eles são importantes pra mim. Eu, que nunca tive amigos de verdade, somente uma que sempre esteve ao meu lado, estou muito feliz por ter finalmente muitos que gostam de mim por perto de verdade. Eles estão no meu coração agora, então não fale mal deles na minha frente, nunca mais.

A loira estava revirada no chão, de barriga pra baixo, acabada, simplesmente sentindo que seus pulmões iriam explodir e seu rosto derreter. Nunca havia sentido tanta dor antes, e principalmente, nunca ninguém havia encostado um dedo nela.


Por uma última vez, a respiração lenta da baixinha enfurecida pôde ser ouvida, e naquele momento de descontração, ela agarrou a garota loira pelos cabelos, puxando-a para trás, deixando novamente seu rosto ensangüentado á mostra.




— Você também falou do Alexy, não foi? Isso me deixou bastante chateada. Eu o conheci hoje bem de manhã, e nós se trombamos no corredor. Poderia ter sido um encontro horrível se ele não fosse uma pessoa realmente incrível. Sabe Ambre, eu poderia esmagar sua cabeça no chão aqui agora, mas não farei isso. Não sou tão má quanto você pensa. — ela disse largando os cabelos violentamente da loira, enquanto fitava-a se virar — as pessoas que você falou, cada uma, todas são incríveis. Foram elas que me motivaram todos os dias á vir para essa escola e viver nessa cidade. E oque você sabe realmente sobre o “maloqueiro” que você falou? Não fale mal de Castiel na minha frente outra vez, loira. Ele não é oque todos pensam, ele não é um marginal. — ela apertou os olhos novamente em uma pausa — Mas, você não sabe oque é isso, não é? O amor. Você realmente não sabe oque significa. — ela continuou — Mas agora vá, corra pra sala da diretora. Eu não me importo de ser punida ou levar uma suspensão. Mas ouça, se eu souber que chegaram quaisquer mentiras sobre Sebastian, e se ele for punido por isso, eu realmente sentirei muito pelo seu velório.





Mellanie a olhou jogada no chão por uma última vez, e saiu finalmente em direção ao portão gradeado que dava a saída dali. E, enquanto andava, sabia que havia feito algo terrível. Mas oque ela poderia fazer, afinal? Ouvir da boca da cobra seus amigos serem insultados?





Seu coração dizia que era a coisa certa.





~~








As aulas finalmente haviam se acabado, e todos estavam novamente naquele pátio principal. A escola estava vazia e o vento tornava-a ainda mais fria naquele momento.


Todos estavam juntos novamente, menos ele. O ruivo não estava mais lá, sentado e isolado em seu cantinho no chão do pátio. Era estranho. Para ela, não seriam completos sem ele.

— Você aceitaria meu convite para sair algum dia, Alexy? — Miha levou na brincadeira, mandando piscadelas para o garoto azul.

Mas ele não pareceu perceber a brincadeira da garota.

— Desculpe, Miha. — ele respondeu sem jeito, passando a mão pela nuca.

Ela estranhou com um sorriso zombeteiro.

— Oque foi? Não sairia comigo?

Ele a olhou corado.

— É que, — pausou sentindo sua voz falhar — é que, eu não gosto de garotas.

Todos naquele momento se espantaram, olhando diretamente para ele enquanto Mary analisava suas roupas.

— Então você... — Nathaniel começou confuso.

Alexy apenas abriu mais um de seus sorrisos alegres e descontraídos,

— Sim, eu gosto de garotos. — ele confirmou.

Lysandre disfarçou uma risada enquanto olhava a cara da garota de cabelos rosados, aparentemente chocada com a revelação.

— Porque estão com essas caras de idiotas? Eu desconfiei dês do começo. — disse de repente o ruivo, aparecendo por trás do grupo.

Mellanie o fitou, mandando um olhar mortal.

— Ah, você deve ser o Castiel! Ouvi falar de você pelos corredores. Você costuma espancar pessoas? Interessante. — Alexy disse sorridente para cima do ruivo,

O ruivo arregalou os olhos, se afastando com passinhos rápidos para o outro lado.

— Me olhe desse jeito de novo que eu te mostro o interessante no meu soco. — Castiel disse rudemente.

Todos riram, inclusive Alexy, enquanto Mellanie dava um pequeno murro na perna do garoto de cabelos rubros em pé.


Ela então atravessou os olhos por aquela grade, vendo as árvores ao redor balançarem com o vento frio e o sol quente no céu refletir na pequena poça de água no chão da rua.




— Ei, oque está fazendo aí parada baixinha? Vamos, pensei que você quisesse comer morangos hoje — Alexy disse.




— Sem essa, minhas pernas estão doendo. — Mellanie respondeu com pirraça.


O garoto de cabelos azuis ficou pensativo, mas não demorou muito para abrir um largo sorriso no rosto, e antes que a garota percebesse, ele a agarrou pelas pernas e a levantou no ar, jogando-a para suas costas.

— Ei! Oque pensa que tá fazendo? — ela gritou.

Todos riram enquanto olhavam-na ser segurada por Alexy.

— Pensei em te levar no colo, já que suas pernas são curtinhas demais e não agüentam correr. — ele debochou.

A morena bufou sobre suas costas, se debatendo e dando socos em seus braços na intenção de voltar ao chão. Mas era inútil.


E, por um pequeno e repentino momento, ela pôde sentir em seu coração uma pontada de felicidade. E que, na realidade, oque a loira havia lhe dito há pouco tempo atrás naquela manhã, não passavam de mentiras. Todos estavam ali, ao seu lado, e eram seus amigos de verdade, gostavam dela. Isso era oque realmente importava naquele momento.





~~











Seis dias mais tarde.



O por do sol daquela tarde estava fresco e radiante, oque fez a garota descer correndo apressadamente as escadas e abrir a porta da casa, e quase voando saltou para fora, apressando-se em atravessar aquele caminho de pedras ao lado do jardim. Ao fim, sentou-se na calçada repleta de folhas caídas, talvez já estivesse se acostumando com elas.




E então, olhou bem no fundo daquele céu prestes a se por finalmente. A coloração era incrível. Uma formidável mistura de Azul-marinho e alaranjado. O sol estava indo embora agora, junto as montanhas e colinas no horizonte. Lembrou-se de Zero, e de sua teoria sobre os sonhos. Poderia ser mesmo possível alcançar aquelas montanhas tão distantes? Para ela, era impossível. Estavam tão longe...




E finalmente quando o sol se pôs bem em frente á seus olhos, sentiu uma presença atrás de suas costas. Virou-se.


— Gostei do lugar, parece bom pra se morar. — ouviu-se uma voz divertida.

Alexy. Era realmente ele e, estava bem ao seu lado agora.

Fazia exatamente seis dias dês que se conheceram em um corredor escuro, e daquele dia em diante, eles não conseguiam mais se separar. Era incrível como apenas seis dias puderam tornar sua vida tão mais leve e alegre. Ele era tudo para ela agora, e talvez porque não considerá-lo uma parte dela também? Não adiantava mais. Ele já havia achado a chave de seu coração, e estava bem lá dentro, sentado, e não pretendia sair tão cedo.


Ela sorriu com os olhos arqueados em sua direção, enquanto os cabelos azuis voavam com o vento da tarde.




— Como descobriu onde eu moro?




Ele riu um pouquinho e sentou-se na calçada também.


— Tenho meus contatos, menina morango. — respondeu sentindo-se orgulhoso por um momento — E então, oque quer fazer agora?

Ela abaixou a cabeça em direção ao chão, vendo as pequenas folhas verdes caírem e serem arrastadas pelo vento. E, uma lâmpada piscou em cima de sua cabeça, formando um sorriso em seus lábios.

— Você vem comigo? — ela perguntou enquanto se levantava freneticamente.

— Pra onde?

— Quero te mostrar um lugar! — ela insistiu ao mesmo momento em que puxava-o pelo braço com pressa, arrastando ele pela rua.

Eles corriam sem olhar para trás, vendo apenas o sol se esconder de fininho dentre as colinas mais distantes do horizonte.


Quando finalmente chegaram ao tão esperado lugar, o garoto olhou a sua volta, era um enorme campo recheado por verde, não importava para onde olhasse, era completamente verde, com apenas algumas árvores e flores aos longes. A garota sorriu como se fosse uma criança com um doce nas mãos, e então tornou a puxar o garoto azul, mas agora eles estavam subindo uma pequena colina, e bem lá em cima se depararam com mais um enorme campo verde. Era maravilhoso. Ele olhou ao redor e seus olhos transbordaram de nostalgia. Era como se estivesse tendo uma gostosa lembrança do passado. Ele e seu irmão tinham uma fazenda no interior, e eles adoravam se deitar sobre o gramado dos campos, assim como aquele.




— Não é lindo? — a garota começou, abrindo os braços e dando pequenas voltinhas em círculos, apreciando o ar fresco do fim de tarde.




Ele sorriu, rindo um pouco da amiga abobalhada.


— É sim. É lindo. — ele falou.

E então ela parou, plantando os pés novamente no chão e olhando-o com admiração. Ele estava tão fascinado quanto ela.

— Vem cá, — Mellanie disse puxando-o pela manga da camisa para baixo, e rapidamente os dois caíram no gramado verde.

Ambos arrumaram suas posturas de barriga para cima, estavam deitados tranquilamente, enquanto olhavam para cima, para o céu. E, pouco a pouco começara a se formar pequenas bolinhas brilhantes nele. Estrelas. A garota baixinha adorava as estrelas. Elas eram tão graciosas e pequenas, simplesmente amáveis.

Ela suspirou.

O céu que antes estava colorido pelo pôr do sol alaranjado, agora estava negro. O azul fechado da noite.

— Um dia, há muitos anos alguém chegou bem perto de mim e me disse que, as estrelas são como pequeninos olhos que te vigiam todas as noites, garantindo assim sua proteção. — a garota sorriu como uma criança, lembrando-se apenas de raras lembranças de seu passado.

Era verdade. Ela se lembrava agora. Há muito tempo, há um pouco mais de Onze anos atrás, um homem havia lhe dito tais palavras doces. E eles estavam deitados sobre um enorme gramado recheado de pequenas flores, estavam em um campo, assim como este, mas ela não conseguia enxergar o rosto daquele desconhecido amável em sua mente. Ele era um anônimo, simplesmente um desconhecido em suas memórias amargas. Mas, ela sentia uma pontada em seu peito quando tentava se lembrar dele. Seria seu pai, o homem de seus recentes pensamentos? Ela não sabia completamente nada sobre ele, nem sequer a lembrança de seus olhos ou simplesmente de sua voz. Era algo desaparecido entre as negras lembranças de sua mente. Mas por alguma razão, quando olhava aquelas estrelas, podia sentir ainda mais a fundo a presença de sua mãe em seu coração.


O garoto azul estava encarando-a pesadamente, com o rosto curvado em sua direção, enquanto ela estava perdida em um túnel de devaneios.




E então ele sorriu, virando os olhos para as estrelas pequeninas e encarando-as com carinho.




— Você tem razão. — ele apenas disse.


Bons segundos de silêncio se formaram naquele momento.

— Você gosta realmente de garotos? — Mellanie perguntou de repente, ainda com os olhos pregados no céu.

Era uma pergunta inocente, afinal.

Ele sorriu mais uma vez, sem se importar com o questionamento.

— É, eu acho que sim. — ele respondeu — Não sei direito sobre isso. É confuso.

Ela virou o rosto para sua direção, o encarando dessa vez com dúvida e curiosidade.

— Confuso? Hm. — ela começou, — Como você descobriu que gostava de garotos?

Ele mais uma vez sorriu nostalgicamente, levando sua mente para outro lugar, para outro ano, bem lá trás, para o passado...

— Quando eu estava na Sétima série, eu conheci um garoto. Ele se sentava à minha direita na classe. O tempo passou e nós se tornamos amigos, mas com o passar do tempo eu pude sentir uma sensação estranha, eu me sentia desconfortável. Nós éramos muito próximos, muito apegados. No começo eu pensei ser amizade, mas um tempo depois eu não pensava mais nada, não conseguia entender. E daí comecei a pensar enquanto olhava discretamente pra ele “E se ele gostar de garotas?”. Eu era tão diferente de todos os outros caras... Enquanto eles se reuniam pra jogar basquete, eu me isolava pra ouvir música. — ele pausou com um sorriso doce — Nossa amizade durou exatamente um ano. E quando as aulas terminaram, eu o procurei e disse tudo o que estava sentindo. “É estranho, não é?” Eu perguntei pra ele, mas foi aí que algo inesperado aconteceu. Ele simplesmente sorriu pra mim e disse, “Não, não é nada estranho Lexy!” Eu fiquei tão feliz com aquilo, ele me entendia, era o único com quem eu podia contar. Mas, antes de eu abraçá-lo, ele me beijou. Me beijou no meio da calçada, bem do lado do parque. Eu fiquei assustado, mas depois de alguns segundos meus olhos foram se fechando e eu sabia que era o certo. — ele concluiu, distanciando finalmente seu olhar das estrelas, levando-o agora para a garota fascinada ao seu lado.

— Isso é incrível, Céu! — ela disse — Seu amigo tinha razão. Não há nada de errado em você gostar de garotos, afinal, você o enxergou por dentro, enxergou os sentimentos dele, então não importa, tanto como ele tendo esses sentimentos e era um garoto, poderia ter os mesmos sentimentos em uma garota. Não há problema nenhum nisso. O amor não enxerga o sexo das pessoas, Alexy.

O garoto de cabelos azuis sorriu e se sentou no gramado, sem nem ao menos despregar os olhos púrpura da garota deitada ao seu lado.

— Você pode me ajudar a descobrir, Mell? — ele perguntou de repente, olhando-a com carinho.

Ela apertou os olhos delicadamente em sua direção, confusa.

— Descobrir, oque? — ela perguntou inocentemente, enquanto se levantava e sentava com as pernas dobradas ao lado do garoto azul.

Ele sorriu, e de repente tocou o rosto dela com carinho, com um toque delicado.


Naquele mesmo momento, ela pôde compreender oque realmente ele queria, do que ele realmente estava querendo dizer para ela.




Sentiu seu coração pular uma batida, descontroladamente, seu coração estava quase parando. Seus grandes olhos verdes se tornaram maiores enquanto olhava-o surpresa.




Mas sua expressão logo se tornou calma, e ela sorriu, assentindo com um pequeno gesto de cabeça.


— Obrigado por isso... — ele somente disse.

E finalmente aproximou seu rosto, por fim tocando nos lábios macios da garota baixinha. O toque era doce, agradável. Simplesmente calmo e puro, extremamente puro.

Mellanie manteve os olhos bem abertos á princípio, temendo qualquer reação ou toque, mas ao longo dos segundos ela se tornou tranqüila e, finalmente, fechou os olhos com calma enquanto ele continuava a tocar-lhe os lábios entre os seus.

Era algo fascinante, mas era um tanto perturbador. Seu coração não parava de bater, e ao mesmo tempo uma ponta de culpa percorria sua pele. Era como se... ela estivesse beijando o próprio irmão, essa era a sensação verdadeira de beijar um melhor amigo? Sentir-se culpada?

Suas alvas e pequenas mãos tocavam o ombro direito do rapaz quando o beijo finalmente se finalizou.

Ela abriu calmamente os olhos em um suspiro, deparando-se com os profundos olhos violetas do garoto azul.

— E então, sentiu alguma coisa? — ela perguntou.

Ele manteve-se quieto por um momento, mas logo sorriu ao canto dos lábios.

— Não. — Alexy respondeu

Ela sorriu também, divertida.

— Nada mesmo?

E então ele balançou a cabeça negativamente, e ao final soltou pequenas risadinhas, caindo na grama novamente e voltando a fitar as estrelas.

— Mas sabe, eu descobri algo importante hoje à noite. — ele disse, fazendo a garota direcionar-se para ele e o olhar com atenção — Descobri que gosto de garotos, mas mesmo assim, continuo com o coração confuso, e que estar perto de você faz ele se sentir ainda mais confuso. Eu gosto sim de garotos, mas, eu também gosto de você Mellanie.

Ela sorriu bobamente e também se jogou contra o gramado, deitando-se de lado e olhando-o.

— Céu?

— Sim?

— Promete ser pra sempre o meu melhor amigo, e estar sempre ao meu lado? — ela perguntou sentindo os olhos queimarem naquele momento.

Ele então fechou o sorriso. Ela havia o pego de surpresa.

Mas, afinal, não tinha oque temer. Ela era importante agora.

— Eu prometo, garota dos morangos. — ele deu um pequeno riso e apertou as bochechas da baixinha — Estarei sempre ao seu lado, certo? Então não se preocupe.

Ela abriu um largo sorriso, e logo encenou uma boa cara de dúvida.

Humm, é estranho beijar um cara que gosta de outros caras. — ela disse zombeteira.

Ele riu, dando um peteleco no meio da testa dela.

— Você tem gosto de morangos, também é estranho beijar uma garota com gosto de morangos. — ele retrucou oque a fez rir.

— Eu gosto de você. — ela afirmou tornando-se séria.

— Eu gosto de você também, baixinha irritante.

Ela sorriu alegre e simplesmente jogou as pernas por cima das dele, deitando-se confortavelmente naquele enorme gramado.


E, por talvez um pequeno momento, ela pôde sentir confiança naquele lugar, em volta de si mesma. Era estranho, com certeza estranho. Ela amava-o, talvez? Tudo que ela queria era estar perto dele, o tempo inteiro, afinal, ele era seu melhor amigo, agora. Não queria que ele partisse, não queria que ele sofresse as conseqüências de estar ao seu lado. Afinal, ela era o anjo da morte. Essa era a verdade sobre si mesma. Mas, naquele pequeno momento sobre as estrelas, ela pôde ter certeza que ficaria tudo bem. Pelo menos por alguns segundos ou minutos, eles estariam juntos.




“Alexy, céu, garoto azul...




Fique para sempre ao meu lado?


Promete estar aqui, para me abraçar?

Você não sabe, eu não lhe contei, mas você...

Também tem gosto de morangos...”

**

As rosas estão florescendo

Em meu jardim neste momento,

Oh bela alma perdida na escuridão,

Oh calma chuva que cai sobre meus cabelos,

Prometa-me

Que estará aqui quando o mundo acabar?

Prometa-me

Que estará aqui quando a dor voltar?

Venha, rápido, corra,

Venha em minha direção,

Eu estou contente por ter você aqui,

Então por favor,

Sorria para mim?

Seu abraço me acalma,

Sua temperatura está um pouco quente agora.

Você está bem aqui ao meu lado?

Não consigo enxergar.

Preciso que a chuva pare antes do anoitecer,

Para que assim, podermos ver as estrelas,

Juntos, outra vez.

E por um único instante,

Venha me encontrar.

— Amizade Azul.

**





Música de Encerramento, Alexy. Sign.




[Imagem Extra do Capitulo ~ ESPECIAL ~ Beijos, Mellanie e Alexy]


[Imagem Extra do Capitulo ~ Alexy]

[Imagem Extra do Capitulo ~ Kaien Cross]

[Imagem Extra do Capitulo ~ Castiel ~ Cabelos presos]


Fim do Capítulo 9











Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, é isso meus pequenos. Comentem por favor, tá? Me deixem feliz um pouco >