Chovia direto por mais de uma semana em Los Angeles, o que era estranho. A sempre tão ensolarada cidade agora estava debaixo d'água. As aulas na Hollywood Arts haviam sido suspensas até que a chuva parasse, o trânsito estava caótico e todos reclamavam. Todos em excessão a Jade West, obviamente. Ela estava com Beck em sua casa, aproveitando que os pais haviam saído mais uma vez. Jade estava dando graças a Deus, não por sua mãe, mas sim pelo pai. O sr. West além de demonstrar não gostar da própria filha, odiava o genro. Em compensação a sra. West, sempre doce e amável, embora a jovem morena não percebesse e a achasse irritante. Mas quando tinha algum problema, recorria a mãe que sempre fazia o impossível para ajudar.

Jade observava a chuva que caía além da janela, se lembrando do dia em que havia saltado do penhasco com Cat e Tori, e depois de tudo isso Tori finalmente reuniu coragem e se declarou à Andre, que partilhava de mesmo sentimento e agora os dois estavam juntos. Seu próximo passo era ajudar Cat. Mas como? A pequena ruiva era mil vezes mais tímida quando o assunto era o nerd ventriloquista. Robbie sentia o mesmo por Cat, mas tímido também, acabava se escondendo. Como ajudar aqueles dois cabeças dura a se unirem?

Foi enquanto isso que Beck voltou ao quarto com uma casquinha de sorvete de baunilha com licor de menta por cima em mãos. A pedido de, é claro, sua namorada. Ele entregou a casquinha para a garota, um tanto relutante. Jade pegou o sorvete e com a "pazinha" que estava "espetada" no sorvete, pegou um pouco e levou a boca.

- Jade, eu... Não sei se é uma boa ideia. Você pode ficar doente.

Ela rolou os olhos azuis-esverdeados de seu sorvete até o namorado que tinha no rosto uma expressão preocupada.

- Eu não vou ficar do... - Seus olhos se arregalaram e um sorriso enorme brotou em seus lábios.

- Ja-Jade...

- Beck, é isso! - Ela gritou animada, arremessou a casquinha de sorvete no lixo a abraçou o namorado com força.

- Isso.. O que?

- Já sei como ajudar a Cat!

- Ah... - Ele retribuiu o abraço e rolou os olhos para o sorvete no lixo. - E... A sua casquinha?

- Deixa ela lá! - Jade deu de ombros e se apressou a beijar o namorado.

* * *

- Enganar o Robbie? Não, Jade. Eu não posso fazer isso...

- Vou ter que te empurrar da porcaria do penhasco que nem fiz com a Vega? - Jade berrou. Assustada, Cat começou a chorar. A morena suspirou e abraçou a amiga ruiva. - Desculpe, Cat. Eu não queria gritar.

- Tudo bem... - Ela fungou. - Mas eu não quero enganar o Robbie.

- Cat, pense em atuação. É isso. Pense que está fazendo uma peça de improviso e o Robbie está atuando nela, mas sem saber.

Cat parou alguns segundos para pensar, acentindo e sorrindo após perceber que era uma boa ideia.

- O que faremos?

- Deixe comigo. Mas eu terei que dormir na sua casa por alguns dias.

- Yay, sem problemas. Mamãe vai adorar ter você aqui. E eu também, claro. - As duas se abraçaram.

- Ótimo, amanhã colocaremos o plano em ação. 

- Vamos preparar agora? - Jade acentiu. - Kay, kay...

E assim as meninas passaram o resto da tarde ajeitando tudo. O quarto cor-de-rosa ficou com caixas de remédios de mentira, na verdade eram balinhas tic-tac. Robbie não iria perceber a diferença. O pijama rosa-bebê da ruiva estava dobrado em cima da cama com a escova de cabelo preferida dela junto. Um colchão do lado da cama com as coisas de Jade em cima e, é claro, as duas. Elas avisaram a sra. Valentine sobre o plano e ela, nem bobe nem nada, concordou em ajudar a filha a finalmente conseguir o garoto dos sonhos. Embora todos perguntassem o que Cat havia visto em Robbie, ninguém conseguia acreditar. Alguns achavam que era por causa dos problemas psicológicos da ruivinha, mas não era nada disso. O coração sempre fora algo extremamente misterioso, e a prova disso era o amor dos dois jovens. É claro que Robbie era apenas mal interpretado. O fato de levar Rex junto de si, o tornava estranho e desengonçado para muitos. Mas Cat e os amigos o amavam do jeito que ele era, e com eles Robbie era ele mesmo. O que era uma coisa boa. Assim todos podiam entendê-lo e até mesmo apoiar o secreto romance dele com Cat. Embora, na visão de Jade, esse "segredo" estivesse com os dias contados para finalmente deixar de ser totalmente secreto.

No dia seguinte, Jade enviou um sms para Robbie, dizendo que Cat estava mal e que a ruivinha precisava dele. Mais do que depressa o judeu se arrumou e saiu, até mesmo esquecendo de pegar Rex. Com a cabeça cheia de pensamentos ele esqueceu até mesmo da bicicleta e foi correndo para a casa da amiga/amada. Chegando lá, cansado e sem fôlego, ele tocou a campainha. E para a sua surpresa, foi James, o irmão de Cat, que atendeu a porta.

- Cat, seu namorado veio te ver! - James gritou.

E nesse momento, Robbie havia ficado vermelho. No andar de cima Cat corou também. Embora fosse o desejo mais profundo de ambos, ouvir James falar isso em voz alta os deixavam constrangidos. Principalmente porque não eram namorados de fato. Ainda não.

A sra. Valentine se apressou a atender a porta e lutou para conseguir segurar o riso ao ver o menino de cabelo cacheado extremamente vermelho.

- James, querido, Robbie não é namorado de Cat. Por que não vai pra cozinha ver se a massa de biscoitos está boa? - James acentiu e foi saltitando como uma criança feliz em direção ao cômodo citado. - Desculpe por isso, Robbie. Entre... Cat está te esperando lá em cima com Jade. A pobrezinha não conseguiu dormir direito a noite, assim como Jade que me ajudou a cuidar dela. - A sra. Valentine suspirou. Sem dúvida era uma ótima atriz. Cat havia puxado seu talento artístico dela.

- Obrigado sra. Valentine. - Robbie acentiu e seguiu em direção ao quarto de Cat. Chegando lá, seu coração quase saiu pela boca. A ruivinha estava deitada, com olheiras profundas, pálida... Na verdade Jade havia feito aquela maquiagem na amiga, uma maquiagem muito boa e convincente. E por falar nela, a morena estava sentada ao aldo da amiga, mexendo no cabelo dela, uma coisa que acalmava Cat de verdade. A ruivinha estava muito nervosa por ter que fazer aquilo e por isso Jade estava a acalmando da forma mais eficaz que conhecia. 

Cat sorriu fraco ao ver Robbie, e o chamou para mais perto.

- Bom dia, ruivinha. - Robbie sorriu fracamente também.

- Bom dia... - A voz de Cat saiu como um sussurro. E a cada segundo, Jade e ela agradeciam as aulas de atuação com Sikowitz. - Você está todo molhado...

- É que... Eu vim correndo.

- Bem, Shapiro, acho bom você não ficar doente, porque eu não vou cuidar de você. - Jade rosnou.

- Eu cuido... - Cat se ergueu na cama. Jade, que ainda estava com as mãos no cabelo de Cat, puxou disfarçadamente uma mecha e a pequena ruiva gemeu de dor pelo puxão.

- O que foi, Cat? - Robbie perguntou preocupado.

- Dor de cabeça... É como se tivessem puxado todo o meu cabelo fio por fio... - Ela suspirou e se deitou novamente na cama. Jade, você me paga por isso... ela pensou.

- O que eu posso fazer para ajudar? 

- Chá! Precisamos de mais chá. Você pode ir fazer, ou pedir para sra. Valentine, por favor, Robbie? - A feição de Jade era de preocupação, mas no interior ela sentia vontade de dar risada.

- Sim, Jade. Eu vou agora mesmo. - Ele se virou e foi para a porta, tropeçando nos próprios pés que quase caindo, salvo pela maçaneta. - Eu to bem. - Ele disse antes de sair do quarto.

Tendo certeza de que ele não escutaria, Jade começou a sussurrar:

- Se controle, Cat. Ou vai estragar tudo.

- Desculpa. - Ela sussurrou também. 

Logo Robbie voltou novamente com uma xícara quente de chá de hortelã em mãos.

- Mais alguma coisa, meninas?

- Eu quero cupcake... - Cat disse, sua voz fina como de uma criança.

Jade e Robbie acentiram.

- Vai lá buscar o cupcake dela enquanto eu vou medindo a temperatura, Robbie.

- Está bem. - Ele voltou a sair do quarto novamente e Jade, apressada, colocou a ponta do termômetro dentro da xícara.

- Assim vai ficar bem quente. - Jade sussurrou mais uma vez, um sorriso perverso nos lábios.

- Eu ainda não acho isso certo... - Cat sussurrou, mas antes que ela pudesse falar algo, Jade colocou o termômetro em sua boca e Robbie voltou com um cupcake com cobertura rosa.

- E então? - Ele perguntou.

Jade tirou o termômetro e o "checou". Logo em seguida suspirou preocupada.

- 38,7 °C. - Ela disse e foi pegar um dos "comprimidos". - Aqui, Cat. Vai fazer a temperatura abaixar.

Cat acentiu e tomou o seu tic-tac, querendo na verdade poder mastigar a balinha. Robbie se aproximou, quase colocando uma das mãos na testa de Cat para ver se estava muito quente, mas Jade lhe deu um tapa, o fazendo refrear.

- O remédio não tem efeito instantâneo, Shapiro.

- Desculpe.

* * *

E com o passar das horas, Cat foi cercada de mimos pelo garoto, assim como no dia seguinte e no outro. Robbie sempre pulava cedinho da cama para ir visitar a ruivinha e ajudá-la. Eles se divertiram juntos, assistiram filmes, Robbie tocou e cantou para ela... E depois de cinco dias ela já estava "curada". Naquele mesmo final de semana, o sol voltou a brilhar com força em Los Angeles. Na segunda-feira, as aulas se normalizaram na HA e todos os alunos já estavam lá.

- Anda, Cat. Você tem que ir lá. - Jade a empurrava.

- Não, eu não quero... Não posso! - Ela se debatia em resposta ao empurro.

Beck, ao ver a cena, começou a puxar Cat também.

- Não! Isso é sequestro! Ou melhor, Catquestro.

- Cat, você e o Robbie ficaram juntos por cinco dias. Acha mesmo que agora não dá pra ir? - Beck perguntou, ainda puxando a amiga.

Ao ouvir isso, ela cedeu e quando conseguiu se soltar, acentiu.

- Está bem, eu vou ir falar com o Robbie. 

Jade e Beck sorriram e abriram passagem para a ruivinha. Ao ver Robbie, Cat decidiu não ir falar com ele. Foi logo correndo em direção ao garoto e o beijou. Nenhuma pessoa que passava pelo corredor conseguiu acreditar, nem mesmo Jade que havia incentivado aquilo. No começo, Robbie estava surpreso, mas depois relaxou e retribuiu o beijo de Cat. E os dois ficaram lá, se beijando até perderem o fôlego. Um precisava do outro naquele momento, era como se apenas os dois existissem no mundo. Não haviam pessoas, problemas... Nada. Apenas eles dois e o amor que sentiam um pelo outro.

- Cat... - Robbie falou ofegante depois que finalizaram o beijo.

- Robbie, eu preciso te contar uma coisa. Eu não fiquei doente, foi ideia da Jade. Ela queria que a gente ficasse próximos e me ajudou a reunir coragem. Desculpe. - Uma das várias lágrimas que brotaram nos olhos da ruivinha escorreu.

- Cat... Eu já tinha percebido aquilo. Eu não sou tão bobo e eu te conheço. E conheço a nossa amiga. Eu conversei com ela e a disse que continuaria com aquilo só pra poder ficar com você. 

- É... É mesmo? 

- Sim, Cat. Eu amo você! - Eu também te amo, Robbie. - Cat o beijou mais uma vez. 

O corredor inteiro da Hollywood Arts estava lotado com os estudantes que se empurravam para ver a cena. E após isso, todos aplaudiram. Jade, não aguentando a emoção, correu e foi abraçar a amiga.

- Cat! Estou tão orgulhosa de você!

- Obrigada Jade. Eu devo tudo isso a você, minha cupida. - As duas riram.

- É... Jade? - Robbie perguntou, tímido.

- Sim?

- Obrigado. 

Jade sorriu e o abraçou. Robbie, apesar de surpreso, retribuiu o abraço.

- Quero que cuide bem da minha amiga, nerd.

- Sim senhorita.

Foi quando Beck abraçou a namorada por trás. Ela se virou para ele, fitando seus gentis olhos castanhos, olhos que tanto amava, do garoto que tanto amava.- Atchim! - Ela virou o rosto para espirrar. E espirrou mais uma vez, e mais uma outra.

Cat, Robbie e Beck deram risada.

- Acho que mais alguém vai precisar de mimos. - Cat falou, rindo.

- Deixa que eu cuido dela. - Beck piscou para Cat, que sorriu.