Shadow Touch escrita por Lady TMS


Capítulo 7
Corridas de volta a ele.




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Um único pensamento impulsionava Johana a fugir.

Ele vai me matar!

Ainda tremia embora não percebesse. Suas botas faziam um baque surdo no chão que ritmava com seu coração.

Passava-se vagamente pela cabeça de Johana o poder que aquele homem tinha e do que poderia fazer contra ela. Mesmo que conseguisse chegar em casa, não estaria salva. Poderiam procura-la em registros documentais com fotos. Não sabia se ele iria recorrer a todo aquele trabalho, mas tinha ideia de como o orgulho poderia afetar um homem de forma significativa.

Em suas costas, a frágil bolsa parecia ficar pesada cada vez que batia contra seu corpo. Ainda a tinha, e não sabia como conseguiu estar presa a ela por tanto tempo, mas reconheceu como precisava malditamente dela agora.

Jogou a arma que carregava nas mãos sem pensar se estava travada na bolsa, escondendo-a de baixo das roupas que levava. Estava com medo, mesmo que olhando para trás não visse nenhum sinal de movimentação.

As ruas permaneciam vazias até que chegou ao centro.

Não se passara nem vinte minutos do ocorrido no beco, mas para Johana parecia horas, de modo que, quando entrou em uma loja para trocar de roupa ainda havia policias a procura de fugitivos correndo por perto.

Deu um sorriso para a dona da loja quando esta a viu com roupas masculinas.

–Foi uma festa boba em que tinha que ir trocada de sexo – disse.

A senhora acenou e Johana foi ao banheiro agradecendo a hospitalidade. Colocado o vestido e a jaqueta por cima, estava quase pronta quando alguém bateu na porta. Seu coração parou de bater.

–Quem é? – ouviu sua própria voz trêmula.

–Alguém que precisa usar o banheiro! – uma voz masculina resoou do outro lado.

Soltou o ar aliviada e percebeu que tinha parado de respirar por um momento.

Abriu a porta, pegou a bolsa em cima da privada e saiu encaixando a luva puída e rasgada nos dedos em sua mão.

–Obrigada – o homem resmungou ironicamente.

Dirigindo-se a saída agradeceu à senhora novamente que parecia a dona da loja, com seus olhos cansados e com mãos musculosas marcadas pelo trabalho.

Todos parecem tão cansados!

A estação de trem continuava movimentada enquanto as luzes a sua volta estavam quase se apagando.

O lugar pulsava vida, e esse com certeza era um dos atrativos de uma cidade grande.

Ouviu um sino badalar na igreja ao longe avisando que era meia noite. Homens gritavam por cima das carruagens e cavalos trotavam por diferentes ruas lamacentas com malas pesadas por cima de carruagens. Umas mais impressionante que outras.

Lembrou-se vagamente de ter lido em uma biblioteca que as coisas nem sempre tinham sido assim...

Sua civilização já havia sido mais moderna. Mas tanta corrupção, morte, desonra e obscenidade fizeram com que o governo lentamente mudasse a política, e estabelecesse rígidas normas de conduta,levando a população a viver um modo de vida antigo.

Não sabia exatamente como a sociedade havia se comportado diante disso.

Disseram em sua escola que todos estavam tão desesperados que votaram a favor da mudança.

Não estava muito certa de que essa era a verdade, ou de que se a população tivesse negado a mudança, o governo teria apoiado. Disseram que todos concordaram.

Votar! Disseram na escola que votar era a melhor forma de governo justo.

No entanto estavam querendo tirar o voto. Colocar um governo autoritário no lugar...

Lembrou-se de repente de todas as desventuras pela qual tinha passado no dia quando alguém agarrou seu braço parando-a brutalmente.

–Ei doçura – uma voz masculina e sem rosto falou ao seu ouvido – gostaria de ganhar algum dinheiro? – sentiu o cheiro de álcool e tabaco provocando um enjoo desconfortável em sua barriga.

Johana virou-se para encara-lo com os olhos fulminantes, molhados de lágrimas quase esquecidas.

Nunca antes tinha sido confundida com uma prostituta. Isso a levou pensar se as roupas que estava usando, de algum modo, se parecia a nova moda das rameiras.

Nem teve tempo de se sentir agradecida por não ser alguém a perseguindo.

Com a voz rouca pronunciou com o tom de voz mais calmo que poderia:

–Terei de rejeitar seus cuidados senhor – soltou impacientemente a mão que pressionava seu braço – estou atrasada e preciso ir.

Só respirou novamente quando estava na plataforma esperando o trem mesclada entre centenas de outras pessoas.

.......

Com um ritmo frenético posto pelo trem, Johana se sentiu confortável por estar se afastando cada vez mais da cidade.

Estava escuro lá fora mas ficava olhando pela janela tentando ver sua casa.

Casa...

Já havia um bom tempo que se esquecera o real significado dessa palavra. Não teria ninguém a esperando, nem comida pronta, nem um lugar aquecido. Agora era só um lugar onde dormia. De muitas formas elas se pareciam.

Mas Johana não queria pensar nisso. Na verdade, não queria pensar em nada. Tinha sido uma noite assustadora, e que confirmava que não era mais seguro andar pela Capital.

Tentou ao máximo bloquear as imagens e sensações que a rodeavam. Pensou nas rodas do trem, contava quantas vezes rodava e rodava. Contou as estrelas, contou o número de árvores que conseguia ver, contou quantas vezes seu pé batia no chão, contou quantas pessoas olhavam e riam dela novamente e novamente.

Pensou em um momento em como as repressões ficariam mais violentas a partir de agora. Era lógico que o governo não permitiria uma revolta. Odiava ter sido pega desprevenida. Tinha confiado demais na roupa masculina e não pensou que a policia seria notificada tão rápido, nem sabia que o grupo estaria falando de rebelião, nem que talvez fossem vigiados.

Não posso voltar a participar de discussões. Nem sei se posso voltar à cidade!

Mas precisava, ou ela e as famílias que a ajudavam com a plantação morreriam de fome.

Será que os policiais procurariam por ela? Não podia ser tão sério. Só bateu em um oficial e participou de uma ação contra o governo. Deviam ter assuntos piores do que esse para tratar.

Ao aproximar-se da estação onde desceria começou a ver vários policiais armados no gramado.

Estavam procurando suspeitos? Aqui? Entrariam no trem para revistar? Não acreditava que comunicariam os policiais da cidade. Não podiam saber onde ela morava, podiam?

Respirou fundo. Não era possível, ninguém sabia que ela esteve lá.

Talvez fosse só rotina. Não iriam tão longe para procurar possíveis criminosos.

Respirou mais uma vez.

Se parecesse aflita poderiam achar suspeito, além disso, procuravam genericamente homens, não mulheres.

Esperou o trem parar e desceu. Andava lentamente para a trilha que levava a cidade quando alguém segurou sua bolsa nas costas.

–Já vi essa bolsa antes – Johana tentou não gemer quando alguém apertou seu braço – e esse cabelo.

Virou de vagar sem vontade quando se deparou com ele e o aperto no braço ficou mais forte.

Era o fim...

Sentiu que algo subia por sua garganta diante daquele sorriso.

A sorte...

Mesmo que nunca acreditasse nela devido a constante ausência em sua vida não podia deixar de sentir que esta zombava dela.

O que ele fazia aqui? Tinham estado no mesmo trem?


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Notas finais do capítulo

continuem a ler. o/



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