The Ruler And The Killer escrita por Marbells


Capítulo 23
When the future seems to fade away


Notas iniciais do capítulo

Oi! Está aqui o tão esperado capítulo do banquete. Demorei um pouco a escrever este capítulo porque sou péssima com emoções e tive de estudar algumas coisas sobre traumatismo craniano. Espero que este capítulo esteja bom, pois é o momento mais importante até agora.
Boa leitura!



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Aviso: Para quem apenas viu o filme, a cena do banquete acontece de uma forma um pouco diferente. Boa leitura!

Fiquei escondida num atrás de um árvore, esperando que aparecesse alguém que arriscasse ir buscar uma das quatro mochilas colocadas á frente da cornucópia. Conseguia ouvir as pulsações do meu coração como se ele estivesse encostado ao meu ouvido, o meu sangue queimava de expetativa e ansiedade, era o resultado da adrenalina no meu sangue. Cato estava a alguns metros de mim e continuava com uma expressão apreensiva, o que mostrava que ele não tinha mudado de ideias. Ainda, mas eu o faria mudar de ideias quando visse o que ia fazer com a Katniss. Estava tudo no meu cérebro, cada simples promenor do que faria com a “Garota em Chamas”, cada grito que a faria soltar, cada lágrima e cada gota de sangue que ela derramaria. Estava tudo planeado, agora só faltava ela aparecer.

–Estão a demorar muito. – murmurei para Cato.

–Já devem estar a chegar, pequena. Nós viemos mais cedo, lembra? – concordei.

Ficámos mais alguns minutos á espera. As minhas mãos estavam inquietas, brincando com o cabo de uma das minhas facas. Antes de virmos para aqui, lembrei-me de vestir um colete que estava na minha mochila. Não tinha necessitado dele até agora, mas tinha lugar para todas as minhas facas e seria muito mais fácil tirá-las dali do que estar á procura de uma faca nos bolsos das calças ou do casaco. Apertei um pouco o colete e fechei o casaco até acima. Levaria cinco facas nas mãos e as outras ficariam tapadas pelo tecido do casaco, fazendo com que os outros tributos não tivessem a certeza de onde eu tinha as minhas armas, ou nem saberiam se eu tinha mais do que aquelas que estavam nas minhas mãos. Não sei porquê, mas sempre gostei muito do efeito surpresa. O olhar chocado e surpreendido das vítimas, congeladas pelo medo ou estúpidas o suficiente para se atreverem a tentar fugir era-me curiosamente satisfatório. Ah, como se fugir lhes valesse de alguma coisa.

De repente, um vulto apareceu, correndo velozmente até á cornucópia. O vulto, cujos cabelos eram ruivos, pegou na mochila onde estava o número 5 e correu novamente, desaparecendo entre as árvores antes que eu tivesse tempo de sequer pensar em correr também.

–Mas que… - estava boquiaberta. A Foxface era ainda mais esperta do que eu pensava e se havia algum adversário a ter em conta era ela.

–Como ela fez aquilo? – Cato estava tão chocado quanto eu, mas ambos mantinhamos uma máscara de frieza.

–Não sei, mas acho que temos de ter essa garota em conta, a Foxface sabe como jogar e, a partir de agora, temos de usar mais os nossos cérebros também. – Cato assentiu.

–Hey, olha ali! – ele apontou para Katniss, que tinha saído do seu esconderijo e corria em direção ás mochilas – Não deixa ela fugir, Clove!

–Eu não vou, mas você tem de ir atrás da Foxface, agora! – ordenei e levantámo-nos ao mesmo tempo.

–Grita se precisar de ajuda, pequena. – limitei-me a balançar a cabeça e saí detrás da pequena árvore que me tapava.

Lançei umas facas que tinha na mão em direção a Katniss, mas ela se defende com o seu arco. Esse teria sido um golpe fatal. Corro até ela, mas Katniss puxa a corda do arco e uma flecha voa na minha direção. Levanto o meu braço esquerdo para proteger o meu coração e grunho de dor ao sentir a flecha a cravar.se na minha carne. “Então foi com isso que ela conseguiu aquele 11”. Se eu não tivesse me defendido, estaria morta neste momento. Senti o ódio borbulhar no meu sangue e a adrenelina que snetia há momentos atrás nada se comparava com o que snetia naquele momento. Era como s etivesse recarregado todas as minhas energias e fosse explodir caso não as gastasse bem depressa.

Páro e tiro a flecha do meu braço, rangendo os dentes durante o processo. Estou bem, no entanto. A ferida nem está a sangrar muito. Já senti dores piores que aquela e não é uma simples flecha que me vai impedir de chegar até Katniss. Volto a concentrar-me na “Garota em Chamas”. Ela correr até às mochilas e pega na sua, pequena e cor de laranja. Em seguida, ela dispara novamente na minha direção, mas desta vez já estou preparada e consigo desviar a tempo. Vejo no rosto de Katniss que ela estava á espera disso, mas que tinha alguma esperança de me acertar novamente. Infelizmente para ela, eu levo o título de carreirista a sério – pelo menos naquilo que posso. Mal a seta cai no chão é uma das minhas afcas que voa, cortando o ar e acertando a testa de Katniss. Sorriu maldosamente e corro até ela, que tem parte do rosto tapado de sangue. Outra seta vem na minha direção, mas nem preciso de me preocupar em desviar, pois pára no chão a alguns metros à minha direita. Choco contra ela e jogo-a ao chão. Sento-me em cima de Katniss e pressiono os meus joelhos nos seus ombros, o que torna impossível que ela fuja. Katniss debate-se sob mim, mas ambas sabemos que ela está presa e que os seus minutos estão contados. Sempre estiveram na verdade.

Finalmente a oportunidade pela qual tanto esperei. Todas as pessoas que me julgaram pela minha altura ou pela minha idade, todas elas verão o quanto estão erradas. Sorrio cruelmente. Estou prestes a matar Katniss Everdeen, a “Garota em Chamas” e vou saborear cada segundo.

–Onde está o lover boy, Distrito 12? Ainda se aguenta? – pergunto.

–Está na floresta. Atrás do Cato. – Katniss responde rudemente, irritando-me e grita a plenos pulmões – Peeta! – cravo-lhe o punho na traquei-a e Katniss cala-se e, sem me aperceber, abano a cabeça de um lado para o outro. Segundos depois lembro-me do que Cato disse “Foi um corte profundo e longo, por isso dúvido que ele ainda não tenha alguma infeção. Deve estar morto em poucos dias”. Com que então a “Garota em Chamas” acha que é mais esperta do que eu.

–Mentirosa, - acuso com um sorriso, pois sei que ninguém vai aparecer para estragar o meu momento. O Cato não permitirá que tal aconteça – Ele está quase morto. O Cato sabe onde o feriu. Se calhar você o amarrou a uma árvore enquanto tenta mantê-lo vivo. – quase gargalhei ao imaginar Katniss a arrastar um Peeta doente e fraco e amarrá-lo a uma árvore – O que está dentro daquela mochila tão bonita? O remédio para o lover boy? Pena que nunca vá recebê-lo.

Abro o meu casaco, expondo a quantidade quase incontável de facas que mantive comigo desde o primeiro dia na arena. Vejo surpresa nos olhos de Katniss e, quando pego numa faca com a lâmina fina e recurvada, penso na Capital. O que será que eles estão a fazer agora? Tenho quase a certeza de que quase toda a população de Panem, não apenas a Capital, está dicidida em torcer pela tão aclamada Katniss Everdeen ou pela garota das facas, aquela que até há alguns dias todos pensavam não ter sentimentos. Até tem certa piada, na verdade. Esta é a primeira Edição dos Jogos Vorazes em que se ouve falar em amor ou algo semelhante. Como se não bastasse um casal de amantes dessafortunados, o público agora tem dois e, ironia do destino ou não, ambas as garotas desses dois casais estão agora numa luta de onde apenas uma delas escapará com vida.

–Prometi ao Cato, se ele me deixasse apanhar você, que eu daria um bom show. – Katniss volta a debater-se, mas não vale a pena. Ela está encurralada – Esqueça, Distrito 12. Vamos matar você. Como matámos a sua patética amiguinha… como é que se chamava? – eu sei o nome dela. Claro que sei, mas ver o lampejo de dor e revolta nos olhos de Katniss e demasiado gratificante – Aquela que pulava de árvore em árvore? Rue? Bem, primeiro a Rue, depois você e depois acho que deixamos a natureza se encarregar do lover boy. Que te aparece? – pergunto e, sem resposta, decido que está na altura de começar o meu “trabalho” – Ora bem, por onde começar?

Limpo apressada e desajeitadamente o sangue da ferida de Katniss com a manga do casaco e examino-lhe o rosto. Tentando apanhar-me desprevenida, Katniss tenta morder-me na mão, porém eu sou mais rápida e agarro-lhe o cabelo por cima da cabeça, obrigando-a a ficar quieta.

–Acho que vamos começar com a sua boca. – sinto uma sensação fantástica de satisfação e sei que valeu a pena ter arriscado a minha vida para vir atrás de Katniss. Quando voltar para o Distrito 2, eu e Cato vamos ter a oportunidade de rever este momento as vezes que quisermos até as imagens de Katniss a sangrar e ser massacrada por mim já não nos dizerem nada. Ou até encontarmos algo melhor para ver.

Levo a faca aos lábios Katniss, percorrendo com a lâmina da mesma o contorno dos lábios da “Garota em Chamas”. Para meu espanto, Katniss mantem os olhos abertos, fixados nos meus. Vejo medo, dor e, sobretudo, determinação naqueles olhos cinzentos que tanto desprezo e lembro-me da Colheita do Distrito 12.

Uma garotinha de 12 anos que foi salva pela irmã. Primrose Everdeen teria sido muito provavelmente mais uma das minhas vítimas ou de Cato, durante a cornucópia. Mas Katniss veio no lugar dela. Por livre vontade. Por um segundo penso em desferir-lhe um único golpe fatal, em memória do seu ato de coragem. Mas depois recordo-me do desfile dos tributos, onde Katniss e Peeta apareceram com fatos fumegantes e chamativos que atrairam todas as atenções para os tributos do Distrito 12. A quase perfeita nota com os Idealizadores e o ataque das teleguiadas vêm-me á cabeça e vejo-me ainda mais decidida a vingar-me de Katniss. A irmã dela que feche os olhos durante os próximos minutos e que apenas os abra apenas quando ouvir o som do canhão que anunciará a morte da irmã mais velha, porque de maneira alguma eu vou desistir de matar a Katniss Everdeen, uma das pessoas que mais detesto á face da Terra.

–Sim acho que já vais precisar mais dos lábios. Queres mandar um último beijo ao lover boy? – sinto algo húmido na minha cara e percevo que a desgraçada teve a coragem de cuspir no meu rosto. Tenho a certeza que estou bastante enrubescida, pois sinto o meu rosto quente devido á raiva – Muito bem, então. Vamos começar.

Forço a lâmina contra o lábio de Katniss e quando a mesma começa a abrir a carne, sinto algo a arrancar-me bruscamente de cima dela. Um grito estridente escapa da minha boca quando percebo de quem são aqueles braços fortes e bruscos que me levantam a meio metro do chão. Thresh. E ele pareçe tudo menos feliz. Volto a gritar e ele vira-me de lado para, em seguida, jogar-me no chão. Cerro os dentes para não soltar um guincho devido á dor e até posso ouvir os ossos dos meus maxilares a estalarem. Levanto a cabeça e fito o garoto do Distrito 11. Deste ponto de vista, Thresh pareçe ainda mais alto e forte, mais ameaçador e assustador do que no Dia da Colheita ou qualquer outro momento; rosto dele está avermelhado pelo que penso ser raiva e uma voz na minha cabeça avisa-me para sair dali ou, pelo menos, tentar.

Recuo para trás, sobressaltada, quando ele berra:

–O que você fez áquela garota? Matou-a? – não percebo de imediato a quem ele se está a referir, mas depois lembro-me do que disse a Katniss. Thresh deve ter-me ouvido a troçar da morte da Rue, a garotinha do Distrito 11, e achou que fui eu quem a matou. “Maldito Marvel, até morto ele cria problemas”.

Recuo de gatas e abano a cabeça frenéticamente.

–Não! Não, não fui eu!

–Você disse o nome dela. Eu ouvi. Foi você quem a matou? – volto a negar, mas isso pareçe enfurecer Thresh ainda mais. Merda – Você a cortou como ia cortar essa garota aqui?

–Não! Não, eu… - entro completamente em pânico quando vejo a pedra do tamanho de um pequeno pão na mão de Thresh e chamo desesperadamente pelo meu namorado – Cato! Cato!

–Clove! – oiço a voz de Cato e pergunto-me onde ele estará, pois a sua voz está demasiado longe. Onde diabos ele se meteu? Aí lembro-me que eu mandei-o ir atrás da garota de cabelos ruivos.

Grito mais uma vez o nome de Cato, mesmo sabendo que ele não chegará a tempo e tiro rapidamente uma faca do meu casaco. Rolo no chão e, apanhando-o de surpresa devido á rapidez do meu movimento, espeto a lâmina da faca na perna de Thresh, mesmo na barriga da perna. O garoto urra de dor, mas poucos segundos depois – não o suficiente para eu me levantar e fugir – ele volta a olhar para mim e levanta o braço no ar, preparando-se para lançar a pedra contra mim.

Vejo a queda da pedra em câmara lenta. Sempre na minha direção, a pedra com extremidades irregulares e afiadas parece levar vários minutos a fazer a sua trajetória até a mim. No entanto, sei que apenas se passaram poucos segundos quando sinto um impacto na minha testa. Vejo tudo preto, no ínicio, mas continuo a ouvir o que se passa á minha volta. Thresh fala com Katniss sobre algo que não consigo perceber e a dor que até agora era inexistente começa a fazer-se sentir. Se eu pudesse gritar para provar a dor que sinto, então garanto que até na Capital se ouviriam os meus berros. Sinto-me mole e indefesa, mas sei que isto é diferente daquela vez no lago, quando quase morri afogada. Desta vez, o problema é interno, algo dentro de mim está errado e aos poucos começo a perder os sentidos. Vejo-me pela primeira vez na minha vida a combater a escuridão que teima em abraçar-me. Não posso morrer. Não agora que tenho a oportunidade de partilhar um futuro quase perfeito com Cato. Não agora que posso ter aquilo por que tanto pedi.

Recuso-me a fechar os olhos e oiço passos pesados e apressados. Chego a pensar que seja Thresh que veio terminar o que começou, mas depois a pessoa que se aproxima desliza de joelhos na grama e fica a meu lado, ajoelhada. Tento levantar o rosto e ver quem está ali, mas a dor tolda-me os sentidos. A minha visão está destorçida e apenas consigo ver alguns pontos florescentes e berrantes á minha frente. A minha audição está um pouco melhor e é apenas por isso que consigo identificar a voz de Cato.

http://www.youtube.com/watch?v=eM69hsNTD8A (N/A: Esta música é perfeita para este capítulo. Oiçam-na).

–Clove. Fica comigo, Clove. – ele me chama e eu tento focar-me no seu rosto, mas apenas vejo borrões. Abro a boca para dizer que o oiço, mas apenas me escapa dos lábios um gemido de dor. Oiço Cato fungar e sinto um aperto na minha mão – Clove, olhe para mim. Pequena, você vai ficar bem.

Quero dizer que sim, que vou ficar bem, mas já nem sei onde estou naquele momento. A dor começa a desaparecer e é substituída pro sensação de leveza. Os meus olhos ficam pesados e sinto-me sonolenta. Pisco várias vezes, enquanto Cato diz o meu nome, e começo a ceder á tentação de fechar os olhos quando oiço:

–Não! – ele praticamente grita – Não, Clove! Não feche os olhos, por favor. – faço como ele pede, mesmo que a grande custo e Cato suspira pesadamente. Sinto algo molhado no meu pescoço e sei que são as lágrimas de Cato. Mas eu não quero que ele chore – Seja forte, pequena. Você não pode desistir agora! Não desista. Por mim, por favor. – lentamente, Cato pega na minha cabeça e coloca-a sobre os seus joelhos.

–Cato… - sussurro e consigo imaginar um sorriso de alívio no rosto dele naquele momento – Fica comigo.

–Sempre, pequena. Sempre. – Cato baixa o rosto e beija-me delicamente.

É apenas um roçar de lábios, mas é o suficiente para me fazer lutar contra a vontade de fechar os olhos. Pois sei que se o fizer não voltarei a abri-los. Pelo menos por agora.

–Nós… va… vamos ganhar… - era suposto que fosse uma afirmação, mas as minhas palavras não passam de múrmurios leves e quase inaúdiveis.

–Sim, nós vamos. Fica comigo, pequena. Eu vou… eu vou arranjar uma forma de nos mandarem alguma coisa para você. Eu prometo que… - Cato não acaba a frase, pois a sua voz estava embargada e penso que se ele não tivesse parado de falar teria começado a chorar desalmadamente.

–Tenho sono. – sussurrei alguns segundos depois. Isso pareceu despertá-lo, pois, através do borrões de luz, pude ver a cabeça de Cato a balançar de um lado para o outro freneticamente – Quero dormir, Cato.

–Não, Clove! – ele agarra o meu rosto com as mãos, gentilmente e sinto mais lágrimas no meu rosto. Não quero que o meu namorado chore, isso apenas me faz sentir pior, com dor física ou não – Fique acordada, pequena. Você consegue. Faça um esforço. Por mim. Pode ser?

–Sim. Por você. – é aí que percebo que isto só depende de mim. Cato tem razão. Eu sou forte. Mas mesmo assim há algo que quero ter a certeza que fica esclarecido.

–Vou levar você para um lugar seguro. – ele anuncia, acariciando com beijos o meu rosto - Temos de sair daqui, pequena. – ele levanta a minha cabeça e volta a colocá-la sobre a grama. Um grito que mais pareçe um guincho sai da minha boca e oiço Cato a praguejar, chorando ao mesmo tempo – Desculpa, desculpa.

–Espera. – agarro o braço dele quando Cato me vai pegar ao colo e olho o rosto dele, ou aquilo que acho que seja o rosto dele – Eu… Que… Quero dizer uma… coisa.

–Nós temos de sair daqui primeiro, Clove. Você pode dizer depois. – “se houver um depois” penso, mas sei o que Cato está a fazer. Ele está a atrasar aquele momento porque tem medo que isto seja uma despedida. E o que as pessoas fazem quando não querem despedir-se de alguém? Fogem do momento.

–Não. – mesmo fraca, a minha voz tem certa determinação – Eu sinto… eu sinto que a única razão para eu ainda estar viva é você. Só você. Porque… Porque eu sou louca e sádica e você me prende á realidade. Você, garoto da espada, você fez de mim uma pessoa melhor. – sorrio quase que imperceptivelmente e solto da minha boca aquela que deve ser a frase mais marcante desde o início dos Jogos – E é por isso que eu te amo. – Cato funga e abraça-me desajeitadamente, chorando no meu ombro.

–Eu ta… também te amo, Clove. E é por isso que vou tirar você daqui e vou fazer com que você fique bem. Eu prometo. – ele beija a minha testa e o meu nariz e, como tantas outras vezes, Cato leva uma madeixa solta do meu cabelo até ao nariz, inalando o aroma – Eu te amo. – com isso, Cato pega-me ao colo com cuidado.

A dor torna-se cada vez mais forte a cada passo de Cato e dou por mim a chorar agarrada ao casaco dele, com o rosto enfiado na curva do pescoço do meu namorado. Cato sussurra palavras motivadoras e lembra-me do quanto em ama, para, em seguida, repreender-se por ter chegado tarde demais e por ter demorado tanto tempo para dizer um “simples” “Eu te amo”. Já não consigo proferir nenhuma palvra e Cato começa a acelarar o passo. Os nós dos meus dedos devem estar brancos de tanta força que fiz e os meus maxilares estão completamente cerrados e tenho a sensação de os meus dentes esão prestes a desfazerem-se em pedaços. Mas o pior é a minha cabeça. Uma dor que dá a sensação de atravessar os ossos, os nervos e a massa cinzenta a que chamamos de cérebro faz-me gritar de dor e é aí que tenho a certeza de que não posso durar muito mais. Deixo de ver por completo e, sem forças, largo o casaco de Cato, que agora já está a correr.

Não sei o que a Capital acha disto. Devo parecer fraca neste momento. Esúpida e fraca por ter demorado tanto tempo para cortar o raio da cara da Katniss e por ter deixado um tributo com uma nota inferior á minha atacar-me. Mas também sei que isso os comove. Porque eu estou ás portas da morte – sei que estou – e o Cato continua a implorar-me para ficar com ele, para não o deixar e não pára de me lembrar das coisas que poderemos fazer quando voltarmos – juntos e sãos – para o Distrito 2. Ele diz-me que vamos morar na mesma casa na Vila dos Vencedores e que a outra casa pode ficar para os pais dele, já que os meus raramente estão no Distrito. E é uma exclente ideia que eu provavelmente aceitaria e diria concordar se tivesse capacidade para tal.

Não sei quanto tempo se passou, mas continuo sem ver absolutamente nada e sinto-me cada vez pior. Já não sinto nenhuma parte do meu corpo com exceção da cabeça e nem sei se é de noite, de tarde ou dia. Estou desorientada e quase morta. Mas o canhão ainda não se fez ouvir e isso deve significar algo de bom. Ou minimamente calmante. Porém, as minhas esperanças de que Cato me consiga colocar a salvo vão por água a baixo quando, depois de tanto correr e de ofegar como um cavalo que acaba de sair de uma corrida, ele tropeça não sei no quê.

Felizmente a minha cabeça bate em algo macio que penso ser a barriga de Cato, mas é o suficiente para elevar ainda mais o nível da minha dor. Não grito nem tento levantar-me. Deixo-me ficar no chão, sentindo-me febril e inútil. Se morrer, ao menos o Cato sabe que o amo e que nada disto foi um jogo para mim. Cato levanta-se rapidamente e chama por mim, colocando-me de novo seu colo.

Tudo parece abater-se sobre os meus ombros nesse momento. Absolutamente tudo. A falta de atenção dos meus pais; o fato de ter ido para o Centro de Treinamento; as noitadas de Cato com outras garotas, mesmo quando eramos apenas amigos; termos ido juntos para os Jogos; o ataque de Marvel; a nota da Katniss e, sobretudo, a minha cobardice em dizer á pessoa que amo mais do que a mim própria aquilo que sinto por ela. E tudo isso é o suficiente para me fazer fraquejar. A minha cabeça tomba para o lado e a última coisa que oiço é a voz de Cato, agoniada e exaltada, implorando-me para ficar com ele, para não o deixar. Mas é isso mesmo que eu faço nesse momento.



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Notas finais do capítulo

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