POB BELLA

Acordei com o telefone a tocar e ainda de olhos fechados tateei a mesa de cabeceira.

- Sim – atendi com a voz rouca de sono.

- Isso lá é forma de atender o telemóvel? – uma voz divertida soou do outro lado.

- Edward? – perguntei sentando na cama.

Já faziam dois dias que não nos falávamos, depois da festa em sua casa.

- Será que podes abrir-me a porta. Estou há 15 minutos a bater. Acho que os vizinhos não vão esperar muito mais para chamar a polícia.

Saltei da cama no mesmo instante, indo até ao armário.

- Ah desculpa. Espera só um pouco.

- Tudo bem.

Atirei o telemóvel para cima da cama e tirei do armário umas calças de ganga e uma camisola.

Penteei o cabelo rapidamente e corri para a sala, tropeçando no caminho e quase caindo no chão.

Muito corada abri a porta, dando de caras com um sorridente Edward.

- É impressão minha ou tu ias caindo, agora mesmo?

- Não foi impressão. Eu ia mesmo – admiti fazendo-o gargalhar.

A cara feia que lhe dirigi não serviu para nada a não ser aumentar as gargalhadas.

 - Ah entra mas é – disse, sem evitar o sorriso.

- Tu já me tinhas dito que eras descoordenada – ele disse sentando-se.

- Eu estou com sono e o sofá ficou à minha frente – reclamei, sentando-me ao seu lado.

- Claro, claro – ele riu, mas depressa o sorriso desapareceu e ele encostou a cabeça no sofá, parecendo cansado.

Virei-me para ele, cruzando as pernas.

- Como correu a conversa?

Ele não abriu os olhos, apenas suspirou.

- Mal.

- Não brigaste pois não?  - Finalmente abriu os olhos, olhando-me directamente.

Estes olhares deixavam-me desconcertada.

- Teve que ser. A minha tia precisa de alguns limites.

- Ah Edward. Eu não quero que alguma zanga apareça na tua família por minha causa. Esquece isso.

- Não foi por tua causa. Tu não falaste nada. Foi ela quem… - os seus olhos ficaram desfocados, lembrando algo até que ele balançou a cabeça e me sorriu. – vamos esquecer isso.

Olhei-o atentamente e os seus olhos pareciam implorar que eu esquecesse.

- Tudo bem – sem me conter bocejei semicerrando os olhos de tanto sono.

- A sério que estás assim com tanto sono?

- Não dormi nada a noite toda. Hoje esteve um calor horrível. Agora é que estava bom.

Sem dizer nada ele puxou-me de encontro ao seu corpo e fez-me deitar a cabeça no seu ombro, começando a acariciar-me o cabelo.

Senti o meu corpo relaxar.

- Sempre que a minha mãe mexe no meu cabelo eu adormeço em pouco tempo.

Com as suas caricias os meus olhos foram fechando.

- É, isso realmente resulta.

Ouvi o seu riso baixo e em seguida deixei-me ir para a inconsciência.

…

Acordei com o barulho de uma chave a abrir a porta.

Eu ainda estava com a cabeça no ombro de Edward, que continuava com a mão na minha cabeça e parecia ter também adormecido já que começava agora a abrir os olhos.

Com medo do que Renee pudesse dizer, levantei-me no mesmo instante em que a porta se abria.

Fui rapidamente na sua direcção, sorrindo.

- Mãe, não sabia que vinhas hoje.

- Decidi fazer uma surpresa. Só não esperava encontrar os meus dois amores juntos.

Disse abraçando-me e em seguida virando-se para Edward que se aproximava.

Enquanto eles se beijavam eu peguei na mala de Renee levando-a para o seu quarto, não querendo interrompe-los.

Demorei um pouquinho e voltei para a sala, encontrando-os sentados no sofá.

- Mãe, queres comer alguma coisa?

- Não querida. Comi antes de vir para cá. Como é que vocês estão?

- Muito bem – respondemos ao mesmo tempo.

- E o trabalho? – perguntei.

- Cansativo. Aproveitei que estava lá e fiz uma revisão em todos os animais.

Ficámos a conversar entretidos até que a conversa mudou totalmente de rumo e começamos a falar de saídas à noite.

- O Mike dançava muito bem. Normalmente íamos com a Tanya e o Jacob a uma discoteca que há perto de Forks. Era bem divertido. Dançávamos até cansar.

- Aqui têm aberto vários lugares muito bons para dançar. – Edward comentou, virando-se em seguida para Renee – Nós nunca saímos para dançar.

- Sim, é verdade.

- Vamos sair uma noite destas. Nós os três.

- Mas primeiro a Bella tem de arranjar um namorado. Não é muito divertido ficar a fazer de vela. Porque é que não lhe apresentas um dos teus amigos, da faculdade?

- Mãe, estás a fazer com que eu pareça uma desesperada atrás de um homem – ralhei chateada.

Edward riu do meu comentário.

- Hum… os da faculdade são demasiado chatos. Só tinham um com quem eu costumava sair, o James.

- Eu conheci-o. Muito bonito.

- Sim. Mas não serve para a Bella – Edward comentou com uma careta.

Sério, eu estava a sentir-me uma mercadoria para ser vendida.

- Porquê? – Renee perguntou.

- É casado? – perguntei.

- Não. Acho apenas que não é a pessoa certa para sair com a Bella.

- Oh. Mas se for só uma saída para dançar não tem problema.

Ele deu de ombros e não disse mais nada.

Renee levantou-se.

- Vocês importam-se que eu vá tomar um banho?

- Vai, mãe  - respondi levantando-me – eu vou fazer o almoço.

Ela assentiu.

- Edward, vens?

Ele olhou uns segundos.

- Vou ajudar a Bella com o almoço – deu-lhe um beijo leve nos lábios – quando terminares tens o almoço à tua espera.

Ela sorriu e foi para o quarto.

- Ah Edward podias ter ido – comentei, enquanto íamos para a cozinha.

- Não me sentiria muito à vontade contigo aqui – disse apertando-me o nariz.

Ri e assim que chegámos à cozinha preparei uns bifes com natas e umas batatas fritas.

Quando estava tudo ao lume sentei com Edward e retomei o assunto.

- Não achas que estás a ser muito duro com a tua tia?

- Tu não a conheces. Consegue levar qualquer um à loucura.

- Certo, ela não devia ser preconceituosa. Mas ela ama-te. Temos de respeitar a maneira como ela vê as coisas.

- E ela tem de respeitar o meu amor pela tua mãe – fixei o olhar na janela ao ouvi-lo – eu não gosto que se metam na minha vida.

Assenti e mudámos para assuntos mais leves, relaxando até que a minha mãe chegasse.

Depois do almoço expulsei-os da cozinha e comecei a arrumar tudo, mas da sala vinha o som das suas vozes.

- Andas fugida – Edward comentou.

- Claro que não.

- Andas sim, quase não consegui falar contigo enquanto estiveste fora e agora estás com um olhar estranho.

- Eu ando meio cansada.

- Estás a precisar de relaxar – em seguida não ouvi mais nada, por isso provavelmente estavam a namorar.

Senti um aperto estupido no peito, por isso concentrei-me em lavar a loiça e deixar a cozinha a brilhar.

Quando já não podia prolongar mais o tempo que estava na cozinha voltei para a sala. Assim que ouviu os meus passos Edward afastou-se de imediato de Renee que pareceu confusa.

- O que vamos fazer à tarde? – ele perguntou – cinema, passeio…

- Eu vou descansar. Estou cansada – Renee falou.

- Eu não estou cansada – rebati.

- Mas também não vais sair de casa – Renee avisou

Edward olhou-me inquisidor mas apenas dei de ombros.

- Queres que vá embora? – perguntou-lhe.

- Claro que não. Podemos ficar aqui os três, ver um filme.

- Vou buscar pipocas – avisei.

Quando voltei, sentei no sofá e Edward sentou ao lado de Renee, que se aconchegou no seu corpo.

- Edward queres beber alguma coisa? – Renee perguntou

- Eu quero uma ginja mãe.

- Bella. Não vais beber – Renee repreendeu, virando-se em seguida para Edward que sorriu.

- Quero uma ginja.

Quando a minha mãe se virou ele piscou-me o olho, fazendo-me sorrir.

Após lhe entregar a bebida e pousar a garrafa na mesa, Renee sorriu.

- Posso escolher o filme?

- Força.

Quando ela se virou para a estante com os livros, Edward estendeu-me o copo,  ao mesmo tempo que o seu sorriso torto aparecia.

Olhei-o embasbacada e ele apenas assentiu.

Sorri e dei um bom gole, voltando em seguida a encher o copo e entregando-lhe.

Voltei a sentar no exacto momento em que Renee se voltou, para se sentar novamente, sem reparar que eu e Edward sorriamos como duas crianças.

- Espero que gostem.

Desviei o olhar, fixando-o na televisão, onde começava o filme “Um amor para recordar”

- Choro cada vez que vejo este filme – comentei.

- Queres que tire?

- Achas Edward? Eu adoro o filme – ele riu da minha expressão indignada e esticou a mão pedindo pipocas.

Passei-lhe a taça, concentrando-me novamente no filme.

O filme estava a aproximar-se do final quando comecei a chorar e ouvi a voz sussurrada de Edward.

- Bella – chamou.

Olhei para o outro sofá, onde ele estava e vi que Renee adormecera.

- Vem cá – esticou a mão.

Sentei-me do outro lado dele que pegou a minha mão.

- Porque estás a chorar?

- Esta história é tao triste. Eles encontraram o amor, mas não podem vivê-lo plenamente. Porque é sempre assim?

Ele olhou-me perscrutador.

- Como assim?

- Porque é que duas pessoas que se amam não podem ser felizes juntas? Porque é que uma pessoa tem de amar sem ser correspondida? Porque é que tem de sofrer por amor?

- Mas eles dois correspondem aos sentimentos um do outro.

- É, mas eu não tenho isso. – murmurei, mas mesmo assim ele ouviu.

- Estás a falar do Mike? Tens saudades?

- Não. Não estou a afalar do Mike.

O filme acabou  e Renee acordou, interrompendo a nossa conversa.

- Não estavas a brincar quando disseste que choravas.

- Não estava mesmo. – limpei as lágrimas – vocês não se importam que eu não jante? Estou cansada e ainda quero ligar para a Tanya.

- Claro, filha. Vai.

- Boa noite para vocês – Edward apertou a mão que ainda segurava e que estava no meio dos nossos corpos

Beijei a bochecha dos dois e soltei a sua mão, sentindo de imediato falta do seu calor.

Praticamente corri para o meu quarto, fechando a porta e atirei-me sobre a cama, enquanto marcava o número de Tanya.

- Bella querida. Como estás?

Ao ouvir a voz tao conhecida não consegui conter as lágrimas.

- Nada bem.

- Bella, o que se passa?

- Ah Tanya. Eu nunca devia ter deixado Forks.

- Não te estás a dar bem? As coisas com a tua mãe não se resolvem? – a sua voz era preocupada.

- Estou a dar-me bem e a relação com Renee está completamente diferente.

- Então qual é o problema?

- Edward – disse simplesmente.

- Bella…

- Eu acho que me apaixonei por ele, Tanya. O que é que eu faço?