A Lua e as Trevas escrita por Lara


Capítulo 5
Capítulo 05 - Estrela Cadente


Notas iniciais do capítulo

Olá! Desculpe pela demora. Quando eu finalmente entrei em férias, a inspiração não cooperava na hora H. Isso foi muito irritante. Então, este último cap acabou que tendo que ser dividido em duas partes (resumindo, virou 2 cap). Espero que vocês gostem e talvez ainda tenha alguns erros já que eu não tive muito tempo para revisar. Qualquer coisa eu faço as mudanças necessárias se for preciso. Até! Beijos mil!



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“Mais uma vez me encontrava distraído olhando para o anel prateado entre os meus dedos. Mesmo não fazendo mais sentido usá-lo eu não o tirava dali. Para ser mais claro, não conseguia tirá-lo. Ele parecia ser a única coisa que me mantinha ligado a ela ou pelo menos era o que pensava. Eu me via pensando nela com tanta frequência que comecei a achar que tinha algo errado comigo. Minhas ações eram contraditórias demais. Apesar de saber que tudo o que fazia era pelo bem de Yin não conseguia parar de desejar vê-la, tocá-la, abraça-la e beijá-la. A necessidade de tê-la perto de mim beirava a mesma necessidade de comer para manter o meu corpo funcionando. A própria existência dela tinha se tornado algo imprescindível para a minha sobrevivência. Era óbvio, não? O sentimento que pensei que nunca nutriria por ninguém era tão claro quanto o próprio brilho da lua que caia sobre mim agora.”

Estrelas caiam do céu negro como se fossem gotas da chuva fria do inverno. O silêncio ao redor era tão nítido que os simples passos daquele homem pareciam ser a única coisa que existia ali. Sua capa negra que cobria praticamente todo o seu corpo se movia acompanhando os seus movimentos. O sangue do corte do braço ainda aberto deslizava pela manga negra. Os corpos já sem vida jaziam espalhados pelo chão naquela área nas mais diversas posições possíveis dando ao cenário um ar macabro e deprimente. No entanto, nada afetava ou incomodava aquele homem que prosseguia com o seu caminho em passos calculados. Ele tinha salvado o mundo, apesar da quantidade de vidas perdidas, porém, para ele, este mesmo mundo havia acabado no instante em que ela havia parado de respirar. O pálido corpo da jovem de cabelos longos e prateados estava inerte entre os seus braços. O que o mais machucava era o frio que sentia do contado entre as suas peles. No momento em que não aguentou mais ficar de pé, Hei caiu de joelhos de cabeça baixa enquanto abraçava o corpo de Yin para mais perto de si. Lágrimas salgadas e frias desciam pelo seu rosto e acabavam caindo sobre a face dela. Ele gritou soltando todos os sentimentos que tentava inutilmente guardar dentro de si. O som que saiu de seus lábios era uma mistura de raiva, frustração, insanidade e perda. Gritava o nome dela como se tivesse a esperança de que se fizesse aquilo ela abriria os olhos e voltaria para ele. De que ela não o abandonaria naquele mundo que já não significava nada para ele. De novo, perdeu alguém que significava tudo. De novo, não pode fazer nada para salvá-la. Ao realizar o desejo de Yin, Hei destruiu qualquer chance de realizar o seu e isso o corroeria pelo resto da sua vida até que a insanidade levaria a sua razão e tudo que o fazia ser quem era.

Hei acordou em sobre salto suando frio, com a respiração descontrolada e o coração batendo rápido contra o seu peito. Suspirou aliviado caindo de volta para o colchão com o braço sobre os olhos. Era só um sonho. Um sonho que o vinha assombrando desde o dia em que se separa de Yin. Não poderia dizer que já havia se acostumado com ele porque toda vez que começava a se esquecer do sonho, ele voltava a tirar as suas noites de sono. Queria logo acabar com tudo o que estava fazendo para voltar correndo para casa. Voltar para os braços dela e finalmente se livrar de todo esse peso que o atormentava a noite. O moreno se sentou passando os dedos pelos cabelos colocando-os para trás. Ao se levantar, caminhou até o banheiro e usou a água da torneira para molhar o rosto. Ao se olhar no espelho rachado notou que havia alguém na porta do banheiro atrás de si.

– O que foi? – perguntou rispidamente fechando a torneira. – Pensei ter deixado bem claro que não queria ser incomodado por vocês dentro do meu quarto. – a mulher simplesmente o encarou de braços cruzados sem parecer o ter escutado.

– Você teve mais um pesadelo. – não era uma pergunta, mas mesmo assim Hei sentiu a necessidade de negá-la. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa ela continuou. – Se continuar desse jeito, você vai morrer antes que consiga cumprir o seu objetivo.

– Não preciso que você me diga o óbvio. – virou-se pegando a toalha e saiu do banheiro passando pelo lado dela. – Agora diga o que você quer. – sentou-se na única cadeira que havia naquele quarto. Colocou a toalha sobre o pescoço pegando a garrafa de água para toma-la em grandes quantidades.

– O menino disse que é melhor nós mudarmos de lugar. – ela começou a caminhar em direção a saída. – Partiremos assim que comermos. Você pode se juntar a nós se quiser. Tenho a impressão que este vai ser a nossa última refeição decente. – e desapareceu de vista.

O contratante amassou a garrafa e a colocou sobre a mesa ao seu lado. Naquele momento se encontravam em um hotel abandonado próximo ao lugar onde se encontrava o alvo. Já fazia quase um mês desde que decidira acabar de uma vez por todas com o Sindicato. Faltava pouco para completar o seu objetivo. Pelas informações que tinha coletado só havia mais dois lugares para ir antes de se prepararem para invadir a principal base de comando. Não podia negar que a ajuda daquela estranha mulher e do menino fazia com que o trabalho fosse reduzido drasticamente. Contudo, esta aliança feita por conveniência só duraria até o momento em que Hei eletrocutasse a última essência do Sindicado. Depois disso... Eles voltariam a ser inimigos e ele não podia esquecer isso. Era por essa razão que Hei se mantinha afastado deles. Não queria começar a se afeiçoar com pessoas que poderia ser obrigado no futuro próximo a matar. Apesar de saber que seria uma péssima ideia, ele saiu do quarto e de certa forma se juntou aos outros dois na hora que comer o café da manhã.

Lian olhava para a garota adormecida na cama do seu filho se perguntando por quanto tempo as coisas continuariam daquele jeito. Mesmo sabendo que ela estava apenas dormindo em uma espécie de coma controlada ele não podia evitar pensar na possibilidade dela permanecer daquele jeito para sempre. Da mesma forma, naquele conto de fadas, que a princesa dormiu por anos esperando pela chegada do seu príncipe. Deveria existir um outro caminho que aqueles dois pudessem seguir juntos, porém duvidava que Li o escutaria depois de todos esses anos.

– Não existia outra opção a ser tomada, por isso Hei escolheu essa. – a voz da jovem mulher sentado do lado da cama interrompeu os seus pensamentos. – Ele pode ser imprudente na maior parte das vezes, mas sempre soube escolher o melhor caminho.

– Ora, senhorita. Os seus pais nunca lhe ensinaram que é feio ler a mente dos outros sem permissão? – ela riu sem o encarar. A mulher possuía longos cabelos lisos loiros claros. Pele tão pálida quanto a da garota adormecida, vestia um vestido quase tomara que caia com mangas que iam até os cotovelos. Sua franja ficava exatamente acima dos olhos castanhos. Uma das suas mãos segurava com delicadeza uma das mãos de Yin.

– Você realmente é o pai daquele moleque. – fez uma pausa. – Acho que ainda não me acostumei a ideia de que ele ainda tem um dos pais vivos e por isso sem querer acabo lendo a sua mente, provavelmente tendo encontrar algo que diga o contrário. – colocou parte do cabelo atrás da orelha. – Peço desculpas por isso. Tanto Hei quanto Bai sempre agiram como órfãos então... Eu pensava que eles eram iguais a mim. – o homem cruzou os braços virando o rosto para o outro lado.

– Bem... Eles tiveram os seus motivos para agir assim.

– Alguma mudança? – um alto rapaz entrou no quarto segurando uma sacola de plástico. Ele possuía uma peculiar cor de cabelo que parecia ser uma mistura entre castanho e vermelho. Pele levemente bronzeada, par de olhos da mesma cor que a mulher, corpo definido e possuía uma aparência jovem. Vestia uma simples camisa preta aberta e calça jeans.

– Demorou! – a mulher reclamou virando a cabeça para encara-lo. – Achei que ia desmaiar de fome se você não tivesse aparecido. – o rapaz suspirou ignorando-a ao se dirigir a Lian lhe estendendo uma marmita.

– Aqui o seu, senhor.

– Não simplesmente me ignore assim! – ela choramingou com raiva.

– Obrigado, Toru-kun. – sorriu em agradecimento pegando a marmita. - E eu já não te disse que não precisa ser tão formal assim comigo? – o jovem sorriu passando a mão atrás da cabeça parecendo um pouco envergonhado.

– Sim, o senhor já pediu sim, mas eu realmente me sentiria muito desconfortável se começasse a agir dessa forma. – começou a andar na direção onde estava a mulher. - Então peço desculpas com relação a isso.

– Pare com as enrolações! Venha logo aqui e me alimente! – ela ordenou fazendo bico parecendo na verdade uma criança que queria atenção. O rapaz puxou uma cadeira para perto da garota e se sentou nela.

– Sabe, irmã, você poderia muito bem comer sem a minha ajuda. – ele pegou uma outra marmita e a abriu já segurando um garfo de plástico. – Afinal, você é canhota.

– Cala a boca e me alimente. – enquanto Lian observava aqueles dois irmãos discutirem entre si ele se perguntou como é que o seu filho tinha se tornado amigo de pessoas tão peculiares como aquelas. Realmente, tudo o que havia pensado sobre contratantes estava errado. Hei e aqueles dois eram a prova viva desse erro. Um erro que significou a perda de três pessoas importantes.

Algumas semanas atrás

– Eu sei que prometi cuidar da sua princesa, filho, mas... – Lian ajeitou melhor o celular no seu ouvido enquanto observava de longe os recém-chegados sentados na sala. - Não me lembro de ter concordado em virar babá de dois contratantes.

Não se preocupe. Uma babá é a coisa que eles menos precisam agora, então pare de ficar pensando em coisas sem sentido. – a voz de Hei era ríspida. – Eles vão garantir que Yin não acorde até eu voltar. Caso aconteça alguma coisa, eles também vão garantir a sua segurança.

– Você confia neles?

Sim. – respondeu sem hesitar. – Eles faziam parte do Sindicado no tempo em que eu e Xing trabalhávamos lá. Pertenciam ao grupo de interrogatório e eram muito bons no que faziam. – o homem ficou pensando no que aquelas crianças a sua frente deveriam ser capazes de fazer para extrair informações dos outros. Depois de alguns segundos ele preferiu não pensar mais sobre isso. – Porém, o que me faz confiar mesmo neles é o fato de terem salvado diversas vezes a minha irmã. Eles realmente gostavam dela.

– Oh... – o homem encostou as costas na parede. – Sério? – ele começou a achar que devia se sentir grato por aqueles dois terem cuidado tão bem da sua filha, no entanto no mesmo instante pensou que não tinha o direito de se sentir assim. Afinal, ele a havia abandonado e perdido o direito de agir como pai. – Entendi, no entanto isso só faria sentido se ela estivesse ainda viva e pelo que notei aquela mulher não gosta muito de você ou estou enganado? – Hei demorou um pouco para responder.

Karen e eu nunca nos demos bem desde o inicio e depois do desaparecimento de Xing... Ela me culpa por tudo. – fez uma pausa. – O que importa é que ela me devia um grande favor, então eu apenas estou cobrando isso agora. Mais alguma dúvida?

– Sim. Só mais uma. – Lian voltou os seus olhos na direção do rapaz sentado ao lado da mulher. – Por que o garoto me trata com tanta formalidade? Eu duvido que isso seja normal entre contratantes. – durante um bom tempo não houve qualquer resposta do outro lado da linha. – Li?

Não acredito que ele ainda...

– O que foi?

Não é nada. – sua voz não possuía qualquer emoção ao dizer essas palavras. – Apenas o ignore ou não se importe. Ele possui uma personalidade estranha demais para ser compreendida.

– Olha quem fala... Se quer a minha opinião eu acho o garoto muito mais normal que uma certa pessoa que tem um enorme complexo por irmã. – Lian conseguiu escutar o filho trincar os dentes de raiva.

Verdade? Então, tenho certeza de que você e eles vão se dar muito bem. – disse com ironia e raiva.A proposito, os dois são irmãos. Se bem que eles sendo ou não piores do que eu isso não é da minha conta, certo? – e logo em seguida desligou.

Verdade seja dita, Lian logo começou a se arrepender de ter provocado o filho com brincadeiras infantis, assim que percebeu que aqueles dois contratantes eram muitas vezes mais estranhos que Li. Contudo, achava que a companhia deles era no mínimo divertida. Tirando o fato de que Karen tinha um péssimo hábito que xeretar a mente dos outros. Aquele era um poder que deveria ser temido e admirado de certa forma.

– Toru-kun. Tem uma coisa que gostaria de perguntar para você faz um tempo. – o rapaz tinha acabado de dar a última garfada para a irmã quando o homem o chamou.

– Sim? O que gostaria de perguntar?

– Você gostava muito da Xing, não é?

– O quê? Isso nem foi uma pergunta. – Karen parecia estar mais irritada que o normal. – Aquele idiota do seu filho decidiu fofocar sobre assuntos alheios?

– Não. Na verdade, ele não me disse absolutamente nada. – os olhos do homem encontraram com o do rapaz. – É só que consegui notar algumas coisas com o tempo em que passamos juntos aqui. Só isso.

– Entendo. – o rapaz apesar de ter ficado surpreso com as palavras de Lian agora estava sorrindo. – Não podia esperar por menos vindo do pai daqueles dois. – fez uma pequena pausa. – Eu amo Xing e duvido que vá amar mais alguém além dela. – seu rosto ficou um pouco corado de vergonha. – É verdade que Xing me rejeitou quando me declarei, porém fiquei muito contente por ela ter me contado o seu verdadeiro nome. Mesmo que ela nunca tenha me visto da mesma forma que a via, não me importo. Vou passar o resto da minha vida amando-a porque este foi o caminho que escolhi.

– Idiota.

– Hã?! – a mulher se levantou da cadeira com uma expressão séria, mas ainda segurava a mão de Yin. – Seu maldito velho, você realmente acabou de chamar o meu irmão de idiota? Quem pensa que é para fazer isso? Só eu...

– Você passou todo esse tempo achando que ela não sentia nada por você? – ignorando as ameaças da mulher, o homem continuou a encarar o rapaz.

– Hã? Bem... Não é que ela sentia nada por mim... Eu sabia que ela tinha um grande afeto por mim e pela minha irmã, mas... Ela não estava apaixonada por mim.

– Se ela não estava apaixonada por você, por que ela lhe contaria o verdadeiro nome? – tanto o rapaz quanto a irmã dele arregalaram os olhos.

– Por quê? – Toru aparecia um pouco desconsertado com o caminho que esta conversa estava indo. - É simples. Ela disse que era uma forma de agradecer pelos meus sentimentos.

– E você acreditou nela? – o rapaz aos poucos foi ficando com raiva.

– Onde o senhor pretende chegar com isso?

– Isso é óbvio. – fez uma pausa. - Ela mentiu porque estava te protegendo.

– Protegendo?

– Que piada sem graça é essa, velho? – ela parecia que estava prestes a soltar a mão da jovem garota adormecida, no entanto o irmão a impediu de fazer isso. – Toru...

– Se não acredita em mim, por que não pergunta para o meu filho idiota? – sugeriu voltando a sua atenção para a marmita.

– Se Hei soubesse disso ele, com certeza, teria me dito algo. – protestou o rapaz.

– Verdade, se ele não estivesse tendo que cumprir com alguma promessa idiota.

– O que você esta tentando sugerir, velho?

– Apenas que apesar de passado vários anos longe dos meus filhos, eles não mudaram tanto quanto eu pensava que mudariam. Simplesmente isso. – o silêncio se prolongou por um bom tempo dentro daquele quarto até que a jovem mulher o quebrou.

– Vou matá-lo! Desta vez com certeza vou matá-lo pra valer! – as palavras de Karen saíram da sua boca como se fosse uma verdade imutável e ela dizia tudo isso com o punho fechado parecendo querer bater em alguém. – Vou fazê-lo desejar nunca ter nascido.

– Acalme-se, Karen. – pediu o rapaz colocando a mão sobre o ombro dela. – Onde já se viu um cadáver que fala? Primeiro precisamos interroga-lo. – o homem teria rido com vontade se não tivesse notado que Karen não estava mais segurando a mão de Yin. O rapaz também notou isso quase no mesmo instante. – Idiota! Não solte a mão dela por um motivo tão bobo! – ele rapidamente juntou a mão das duas o mais rápido que conseguiu. – Ela acordou? – a mulher loira fechou os olhos e segurou com as duas mãos a pequena mão pálida de Yin.

– Parece que não, mas...

– O quê? – Lian se aproximou dos irmãos.

– Ela usou uma parte dos poderes dela. – respondeu Toru se virando na direção da janela. – Será que... Impossível! Mesmo ela não sendo um doll comum seria impossível fazer isso!

– Fazer o quê?! – perguntou Lian um pouco irritado e frustrado.

– Eu acho que ela enviou um espirito observador até onde Hei esta.

O moreno tinha acabado de colocar a mochila nas costas quando sentiu uma sensação estranha de que algo ruim estava para acontecer. No instante em que a mulher militar estava prestes a sair pela porta o menino soltou uma exclamação e desmaiou caindo de frente para o chão.

– Garoto! – ela correu na direção do menino.

– O que aconteceu? – perguntou Hei se juntando a mulher.

– Não sei. Ele simplesmente... – foi então que ela simplesmente parou de falar, ficando com uma expressão de surpresa e já se preparando para usar a sua arma. Antes mesmo que Hei pudesse se virar para ver o que era que a tinha assustado tanto, ele ouviu uma voz feminina muito familiar.

– Hei. – não foi preciso dizer mais nada para que ele entendesse a situação que se encontrava. Antes de virar para trás ele sussurrou para a mulher que ela saísse dali junto com o menino e foi exatamente isso o que ela fez. O moreno se levantou ainda de costas para a presença atrás de si. – Por que não olha para mim? – ao virar na direção oposta encarou aquele rosto que tanto desejava rever, porém apesar de terem a mesma aparência sabia que aquela não era a sua Yin. Ela flutuava com os dois braços voltados para trás das suas costas. Possuía um ar divino, assim como os seus cabelos que agora estavam brilhando em uma luz azul-prateada. Vestia vestes coladas pretas. – Por que esta fazendo tudo isso?

– Onde esta a Yin? – perguntou Hei friamente.

– Yin? – ela perguntou sem entender. – Eu sou Yin. – em piscar de olhos ele conseguiu se aproximar o suficiente para segurar o pescoço dela. Os dois caíram no chão sendo que Hei estava em cima da garota, ameaçando-a com uma faca afiada, enquanto ainda segurava o seu pescoço. O olhar que lançava para ela era sinistro e frio com um ar de assassino. A jovem garota continuou a encara-lo sem qualquer mudança na expressão facial.

– Vou perguntar mais uma vez. Onde esta a Yin?

– Homem tolo. Ainda não entendeu? – ela começou a passar os dedos pela parte afiada da faca de forma distraída. – Ela faz parte de mim, assim como eu faço parte dela. – ela sorriu de forma sinistra. – Se acredita tanto que eu não sou ela... Por que não me mata? – de forma inesperada ela segurou a faca com força e a forçou na direção da sua garganta, mas Hei conseguiu ir para trás cortando a parte da mão dela que segurava a faca. – O que foi? Não consegue? – o moreno a encarava com cautela enquanto ela lambia o sangue que escorregava pelos seus dedos. A ferida não demorou muito para desaparecer. – Mesmo que você consiga acabar com o Sindicato, nada vai mudar. Eu não vou mudar e nem ela.

– Isso era tudo o que tinha a me dizer? – ela ao em vez de respondê-lo voltou os olhos para a própria mão e notou que esta começava a desaparecer assim como o restante do seu corpo.

– Parece que o meu tempo aqui acabou. – seus olhos se encontraram e ela sorriu de leve. – Da próxima vez... Vou matar todos. Sejam humanos ou contrates. E nós finalmente nos tornaremos um, Hei. – e ela desapareceu.

E foi isso o que aconteceu. – Hei tinha em mente que algo poderia dar errado com toda essa história, mas não esperava que o seu pai fosse o causador de tanta confusão e ainda por causa de uma besteira. Ele tinha combinado de manter mínimo contado com a sua antiga casa, porém depois do inesperado aparecimento daquela pessoa, ele tinha que ter certeza de que todos estavam bem. – Peço desculpas por isso. Tomaremos mais cuidado aqui em diante.

– Você não precisa se desculpar por nada, Toru. – o moreno suspirou passando de forma frustrada a mão pelo cabelo. - Eu é quem deveria estar me desculpando pelo comportamento do meu pai idiota. Sinta-se livre para imobiliza-lo se ele aprontar mais alguma coisa. – do outro lado da linha se ouviu risos.

Entendido. – durante um bom tempo nenhum dos dois falou.

– O que foi?

Não é nada. É só... Quando você voltar eu gostaria muito que a gente conversasse. Sobre Xing. – ao ouvir o nome da irmã ele inconscientemente acabou se lembrando de umas das últimas conversas que teve com ela antes perdê-la. Não era uma surpresa que os seus erros do passado voltassem a assombra-lo, porém achava que teria mais tempo para se redimir deles.

– Nós podemos conversar agora se você quiser. – o contratante se encostou à parede com a cabeça levemente abaixada. – Não estou dizendo que não vou fazer tudo o que puder para voltar, mas... Também não vou ser presunçoso o suficiente em dizer que tenho certeza de que não vou morrer.

O que esta dizendo, Hei? Não esta parecendo nem um pouco com você. – o moreno respirou fundo pensando a mesma coisa. Nem ele mesmo sabia por que estava dizendo aquilo. – Eu me recuso a acreditar que você vai morrer e abandonar aquela garota que você implorou para mim e a minha irmã cuidar. Nós conversaremos quando você voltar, certo?

– Sim... – ambos desligaram ao mesmo tempo. Ele foi até o cômodo ao lado onde a mulher militar cuidava do menino que ainda estava desacordado no sofá. – Como ele esta?

– Sua doll parece ter feito algo com o espirito observador dele, mas aparentemente não foi nada grave. – ela virou o rosto para encará-lo. – Ele acordará depois que descansar um pouco.

– Entendo.

– Aquela garota mudou muito desde a última vez em que a vi. – a mulher se levantou e distraidamente olhou para a própria mão. – Ficou mais forte. Só de encará-la pude sentir o poder que a cercava e inconscientemente tremi. – ela deu um riso irônico. – Até parecia que tinha voltado para os dias em que era humana. – fechou a mão com força. – Eu pego o primeiro turno. – antes que ela fosse embora Hei falou.

– Como as pessoas te chamam? – a surpresa que sentiu ao ouvir as palavras dele era inegável e por isso parou de andar. De inicio pensou em ignora-lo com a mesma frieza que ele havia tratado ela e o menino, porém escolheu por não fazê-lo. Apesar de aquele garoto ser um caso sem salvação, ela sentia certa simpatia por ele.

– Pensei que você não queria se envolver com nós. – não houve qualquer resposta da parte dele e ela não realmente esperava que ele fosse se explicar. Provavelmente nem ele mesmo entendia as suas contradições. Chegava até a ser fofo. – Oni. – ela virou o rosto para encará-lo. – Você pode me chamar de Oni. – logo em seguida subiu as escadas sem olhar para trás.

O contratante decidiu rever o plano mais uma vez apenas para ter certeza que não tinha deixado passar nada. Sentava-se na beirada do sofá, onde o menino descansava, com um pequeno notebook em mãos. Ao sentir algo o puxando de leve ele notou uma pequena mão segurando a sua camisa.

– Acordou? Quer um pouco de água? – o menino balançou a cabeça afirmativamente. Hei pegou uma garrafa de água que se encontrava no chão e a estendeu para o menino que ia pegá-la até que o moreno a afastou dele. – Se você não sentar não vai conseguir tomá-la direito. – o garoto não gostou muito do que o rapaz tinha feito, mas acabou se sentando e com isso recebeu a garrafa. – Qual é o seu nome? – em resposta ele olhou para o lado oposto em que Hei se encontrava. – Não quer me contar? Esta bem. – o contratante voltou a atenção para o computador. – Vou chama-lo de pirralho daqui em diante então.

– David. – disse em quase um sussurro. – Por que você quer saber?

– Nenhum motivo específico, apenas quis saber. – abaixou a tela do computador e encostou a cabeça no sofá fechando os olhos. – Acho que é o mínimo que devo a vocês. – em seguida jogou na direção do menino um casaco de tamanho adulto. – Use isso se for andar por aí.

– Realmente é um contratante estranho demais. – comentou olhando para o casaco.

– Um simples “obrigado” teria bastado, sabe? – Hei se levantou do sofá.

– Você sempre age dessa maneira com todo mundo? – o moreno encarou o garoto.

– Do que você esta falando?

– Quando sequestraram a sua doll em Okinawa pensei que você não arriscaria a sua vida para salvá-la, contudo, para a minha surpresa, você não apenas a salvou como se sentiu aliviado quando a abraçou. – David se lembrava daquele dia com clareza. – Nunca achei que veria uma cena como aquela. – levantou a cabeça para encarar o contratante. – E muito menos que sentiria tanta raiva e inveja por outro doll. – o garoto desceu do sofá vestindo o casaco. – Obrigado pelo casaco. – e foi subir as escadas.

Hei caminhou até o outro cômodo e lá se sentou na beirada do que tinha sobrado da janela. A chuva ainda insistia em cair fazendo com que o ambiente ficasse frio. Por alguma estranha razão ele começou a se lembrar de todas as pessoas que tinha conhecido depois de ter escolhido seguir o mesmo caminho que a sua irmã. A maioria dessas pessoas estava morta. Seja por sua mão ou pela mão de outros, a verdade imutável era única. Suas mortes foram em vão. Nada mudou. Os humanos ignoravam a existência deles, contratantes continuavam a matar e dolls não passavam de meros bonecos úteis aos olhos da maioria das pessoas. E as verdadeiras estrelas jamais voltariam.

– Por que você o rejeitou, Bai? – ela estava de costas para ele com a cabeça levantada na direção do céu escuro da noite. - Foi por minha causa?

– Oni-chan, você já se apaixonou por alguém? – aquela garota tinha essa péssima mania de ignorar as perguntas que não queria responder fazendo outras perguntas mais intimidadoras.

– Não. – respondeu com simplicidade.

– Imaginei. – fez uma pausa. – Mesmo que tente explicar as minhas razões, duvido que você as entenderá. – ao virar para observa-lo um sorriso apareceu nos seus lábios. - Ainda é muito ingênuo.

– Você tem noção de que esta conversando com o seu irmão mais velho, não tem? – Bai riu enquanto caminhava para mais próximo do moreno.

– Diga-me, por que você acha que eu menti para Toru? Caso contrário você não estaria aqui me perturbando com essas perguntas. – ela encostou a testa no ombro dele. – Acha que é mesmo possível conseguir enganar um dos melhores em interrogatório do nosso grupo?

– As pessoas tentem a ser mais tolas quanto se trata das pessoas que lhe são importantes. – Hei começou a passar mão pelos cabelos soltos dela.

– Diz isso por experiência própria?

– Se você realmente não gostasse dele não teria lhe dito o seu verdadeiro nome. – ele não precisou ver o rosto dela para saber que tinha derrubado todas as suas defesas.

– Ah... Ele te contou isso também? – a garota se afastou lentamente, andando de ré. – Que pena. Não queria te envolver neste assunto, mas parece que não terei outra escolha. – voltou a olhar para o céu. – Hei, prometa-me que você jamais contará a ele. Não importa o que aconteça. – ele não respondeu ainda encarando as suas costas. – Se você não prometer, esta conversa acaba aqui. – Hei suspirou um pouco decepcionado com o comportamento da sua irmãzinha.

– Eu prometo.

– Às vezes eu imagino quantos sacrifícios você teve que fazer por minha causa e é nessas horas que me vejo odiando a mim mesma por fazer a pessoa mais importante sofrer ao lutar contra os próprios princípios. – ela esticou a mão na direção das estrelas. – Sinto muito, Oni-chan. – no segundo seguinte o contratante a envolvia em um abraço aconchegante.

– Não peça desculpas por escolhas feitas por mim. – fez uma pausa. – Se algum dia eu me arrepender delas, a única pessoa que poderei culpar sou eu mesmo. Entendeu? – Bai segurou gentilmente o braço do irmão e fechou os olhos. – Você merece ser feliz independente dos erros que acha que cometeu. É por isso que não entendo por que o rejeitou se o ama. – uma lágrima solitária percorreu pelo lado direito da bochecha dela, a qual desapareceu antes mesmo que alguém pudesse se dar conta da sua existência.

– Rejeitei Toru porque ele estará mais seguro longe de mim. Não quero que chegue uma hora em que ele tenha que escolher entre mim e a irmã dele ou que ele prefira se sacrificar por mim. Não. Eu não sou tão egoísta assim. E provavelmente nunca serei. – segurou com mais força o braço dele. - Tudo o que eu preciso é você. Se você ficar do meu lado até o último instante será o bastante para mim. – saiu dos braços do irmão se encaminhando em direção as barracas de dormir. - Boa noite.

A decisão que Hei tomou enquanto observava a chuva cair foi apenas mais uma das suas escolhas egoístas em que ele se convencia de que estava pensando em si mesmo, quando na verdade estava somente fazendo mais um sacrifício pelo bem dos outros. Mesmo depois de chegar ao esconderijo do inimigo e matar todos que ali se encontrava ele não se arrependeu nem por um instante. Era assim que deveria ter sido desde o inicio. Ele sempre preferiu trabalhar sozinho. Aquela máscara que cobria o seu rosto nada mais era do que a sua verdadeira identidade. Ele era o Shinigami Negro e deveria agir como tal.

Quando o turno terminou, tanto Oni quando David desceram as escadas apenas para descobrir que o moreno tinha sumido e deixado para trás uma mensagem em um papel dobrado e duas passagens de avião. Toda aquela situação era tão patética que a mulher tinha certeza de que riria se não estivesse envolvida em nada disso. Ela amassou tanto o papel quando as passagens, deixando-as cair no chão para em seguida pegar as suas coisas.

– Que imbecil. – voltou-se na direção do menino que olhava distraidamente para o chão onde estava o papel amassado. – Vamos. Não podemos deixar aquele retardado desaparecer sem dar satisfação. – o menino a seguiu olhando somente mais uma vez para trás antes de sair do local. No papel estava escrito apenas uma palavra. “Obrigado.”


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Notas finais do capítulo

Notas finais do capítulo

1- Oni – termo que equivale a "demônio" ou "ogro". Deixo aqui bem claro que na história original não revelaram o nome dessa personagem. Quis usar este como nome dela para mostrar a ideia negativa que as pessoas tinham do poder dela.



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