The Last Tear escrita por Emis


Capítulo 19
Capítulo 18 - Quem sou eu?


Notas iniciais do capítulo

Tamires, minha amiga, pronto! Mencionei você, satisfeita?!Hahahaha ...demorei mas postei!!O "up" ainda ta valendo viu?!~~Eu estava fazendo um desenho do Keith, mas não deu certo¬¬"



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Meu coração continuava acelerado, mesmo estando longe do anjo. Minha mão tremia, e o tempo não passava. Keith correu comigo no colo e permaneceu calado, olhando o horizonte sem dizer nada. Ele estava muito quieto, e eu não conseguia pronunciar uma só palavra. Lembrar o anjo me dava arrepios, e eu não estava entendendo o meu próprio corpo.

–Eu não sei quem era ele. – Falei por fim, esperando algum argumento ou algo semelhante. Mas, nada; ele não disse nada.

Eu não senti o aperto de suas mãos ou ao menos um “Ah”, e o elfo nem me olhou, ele continuava com a cabeça erguida, sem prestar atenção em mim, ainda correndo. Deveria estar bravo e ao mesmo tempo não; seu rosto se mostrava franzido e sua mente parecia estar em outro lugar.

Bom, se fosse eu quem o tivesse deixado bravo, ele não estaria tão frio. Meus lábios começaram a ficar secos pelo clima mudando e o sol se pondo. Ele continuou quieto até entrarmos no prédio e pararmos bem na porta, com ele ainda me carregando. Eu até que queria rir, porém esperei um pouco e olhei o seu rosto. Igual, não tinha mudado nada, de uma hora para agora ele não tinha mudado a expressão: calma, com os olhos fixos em nada, a testa franzida e cerrando os dentes.

– Hey, Keith! – Gritei e segurei o rosto dele com as duas mãos, fazendo ele me olhar espantado e surpreso. – Você não vai me levar no colo até o meu quarto, vai?! – E sorri, enfim ele prestou atenção em mim. – Eu posso estar péssima por causa do treino, mas não estou machucada e nem doente. – E não aguentei, comecei a rir tanto com a expressão dele, meio confuso e sem reação, que ele me largou. – Ai... Não precisava me jogar. – E fingi estar com dor nas nádegas enquanto ele apertava o botão para o elevador descer.

– Você consegue andar e é isso que importa.

Ele finalmente disse sorrindo, mas nada como os sorrisos dele: travessos, cínicos, sarcásticos ou sedutores. Ele parecia estar forçando, nada parecido com o Keith que eu conheço. Completamente estranho.

O elevador chegou, e nós subimos. Encarei-o preocupada até ele me olhar cansado e bufar, quando o elevador parou e o elfo empurrou as grades, esperando que eu saísse primeiro.

– Você vai continuar me encarando ou vai para o seu quarto, criancinha? Vou conversar com os adultos. - A entonação arrogante e lá estava o Keith que eu conhecia e que se sentia superior a tudo e todos. Ele estava de volta e isso me aliviou um pouco.

– Isso é uma ordem, sua majestade? – Eu o interroguei, ganhando um belo de um sorriso de canto dele.

– O que eu falo é sempre uma ordem, você que não me escuta. – E se aproximou de mim, sussurrando. – A plebeia deve ser punida, não acha? – E mordeu a minha orelha, me arrepiando inteira.

– Seu complexo de ser rei é incrível, faz todo mundo de escravo. – Sussurrei em seu ouvido, quando ele ainda estava perto. – Mas, eu sou de outra sociedade, aquela que se tem o livre-arbítrio. Minhas decisões e somente minhas.

– A “sua” sociedade não existe mais, e o seu complexo de ser humana já não é realidade, porque você não é mais humana. – Disse curto e grosso, totalmente irritante e arrogante. – Kate, pelo menos desta vez, me escuta. Vai para o seu quarto e não saia de lá, muito menos para fora do prédio. – Ele estava pedindo, realmente pedindo e não mandando.

– Certo. – Respondi ao esforço dele, mesmo querendo discutir sobre o que aconteceria depois, e ele se aliviou. – Mas só dessa vez. – E recebi outro sorriso, mais carinhoso e confortável, ganhando um beijo de brinde, mas na testa. Foi estranho.

– Depois eu levo o jantar. – Avisou e saiu correndo, enquanto eu esperava o elevador voltar. Ele foi tão rápido que não dava para acreditar que alguns minutos atrás ele estava perto de mim.

A preocupação do Keith me incomodava, e por que eu não podia sair do quarto se ficar no prédio dava no mesmo? Sobre o que ele estava tão preocupado?

– Kate, Kate. – Eu estava tão distraída que não vi Gabriel sair do elevador e me chamar. Olhei para ele sem jeito, envergonhada. – Você está bem? – Me olhou preocupado.

– Humm...sim. – Sorri para disfarçar. – Estou bem. O que você queria? – Ele começou a rir.

– O elevador, você não vai usar? – Perguntou, sorrindo angelical. Eu adorava o jeito fofo do Gabriel, em comparação o Keith era um demônio, em todos os sentidos.

– Ah, certo. Obrigada. – E entrei, mas lembrei de perguntar algo e dei um passo para trás, voltando ao corredor e correndo até o Gabriel. – Espera, Gabriel! – Puxei o colete dele. – Preciso da sua ajuda. – Falei e ele me olhou desconfiado.

Nós seguimos até o meu quarto, dois antes do quarto de Keith. Ele caminhou ao meu lado sem perguntar nada, percebendo que eu me encontrava pensativa e séria. Eu estava tentando lembrar algo, algum acontecimento passado ou apenas um sonho, qualquer coisa com relação ao anjo. Como sempre, sem resposta.

– Então, por onde começamos? – Perguntou, sentando na cadeira da escrivaninha, depois que tranquei a porta e sentei na cama.

– Quem pintou aquele quadro da sala? – Fui direta e isso o estranhou, me olhando engraçado. – Aquele quadro, ele me passa uma sensação estranha. – Expliquei.

– Foi um elfo. – Ele sorriu. – Há tempos esse quadro existe, e ninguém lembra o nome do artista, só da lenda. – E pareceu triste. – A história é verdadeira e o quadro foi uma representação do que aconteceu, como uma bíblia bem conservada e que não envelhece. Está sob magia e ninguém sabe como fizeram isso. Os elfos foram criados antes dos humanos e depois dos anjos, para protegerem a Terra e manterem o equilíbrio, mas tem o lado ruim e o lado bom. Alguns elfos foram consumidos pelo lado negro e viraram os Filhos das trevas, cada um com sua forma. – E pausou. – Você sabe o que é um “Tenebris”? – Acenei para que continuasse. - Os “Tenebris” são elfos que mataram desnecessariamente, só por matar. – Isso me lembrou do Keith e fiquei assustada.

– Mas, então Keith... – E eu estava perdida, não conseguindo falar. – Ele... – E o Gabriel riu.

– Não, Keith não é ruim. – E sorriu para que eu me acalmasse. – Ele nunca matou ninguém, bom, não humano ou elfo. Ele só não se expressa bem, mas não é ruim. Ele tem uma boa alma, como a de uma criança.

– Muito infantil, isso sim. – Nós dois rimos. – Ele me preocupa, às vezes. – Olhei para o chão cheio de símbolos destacados no taco de madeira. – Ele, às vezes, me mostra um pouco de solidão e eu não sei o que fazer. – Sussurrei.

– É normal ele não falar dele mesmo, nunca falou. – E o rosto do Gabriel ficou cada vez mais sombrio enquanto falava. – Ele não se expõe, nunca mencionou seu passado. O Keith é um mistério, ninguém o entende.

“Ninguém o entende”, a frase ficou gravada, se assemelhando com algo familiar. Meus pensamentos fluíram para muito longe, recordando alguma imagem.

Keith se banhava em um lago, junto à lua cheia e seu rosto mostrava um calmo e sexy pensar, erguendo a mão para tirar os cabelos dos olhos e os pondo para trás. As gotas caíam lentamente sobre o formato masculino à luz do luar, com os traços fortes de um modelo, seu olhar estava baixo e os olhos cinza refletiam a água. Ele parecia solitário, triste, sussurrando algo para o céu escuro. Mas sua expressão de um segundo para o outro mudou completamente, com raiva e capaz de matar alguém. Ele acabou desaparecendo do lago, sem traços do “Keith” e nem suas vestimentas. Olhei ao redor para ver se ele se escondia, mas nem sinal... Quando uma mão passou pela minha barriga, me puxando para perto.

– Você gosta de me observar, não? – Falou por trás de mim, colado ao meu corpo, sem roupa e com um pedaço de tecido na cintura, todo molhado. – Veio me procurar, meu anjo? – Sorriu frio, me abraçando e não soltando.

– Eu me chamo Katherine e não “meu anjo”, Sr. Elfo. – Sorri, afastando-me dele, agora apoiado na árvore e me encarando. – Vim te agradecer. – Comecei a andar devagar, seguindo uns insetos, tocando uma árvore, depois outra que estava perto. Eu andava em círculo e ele me observava quieto. – Obrigada por me ajudar ontem. Eu e meu amigo, Haziel, quando visitamos os humanos, nós sempre passamos por esta floresta. Só que ele nunca sai de perto, um chato que não larga a minha mão. – Eu estava me explicando, não sabia o porquê. - Às vezes, Haziel me irrita e eu acabo escapando, sabe? Contudo ele sempre me acha e o pior é que eu já cansei. – Olhei para o elfo, que continuava quieto, e depois para a lua que queria falar comigo. – Eu não entendo e ninguém o entende. Eu já disse que ele é só um irmão, assim como os outros. – Virei para o Keith e sorri. – Obrigada, foi divertido ver o rosto dele. – E sorri mais ainda. – Ele estava pálido quando te viu comigo de mãos dadas. – Comecei a rir.

– Esse foi o agradecimento mais bem explicado que alguém já me deu. – Era inevitável desviar os olhos daquele sorriso perfeito, atraente e o olhar malicioso, direcionado à mim. – Um anjo perseguindo um elfo, épico. – Desencostou da árvore e foi se aproximando, levantando a mão até o meu rosto e gentilmente tocando minha pele. – Você não quer ser o meu anjo? – E sorriu bem mais malicioso. Um demônio, ele poderia ser a reencarnação de Lúcifer, pensei. – Esse Haziel vai ficar bravo, muito bravo. – Sussurrou no meu ouvido, meio que rindo.

– Um anjo não sai das minhas asas, então eu as arranco para sair de perto dele? – Pronunciei pensativa. – Se for para tirá-lo de perto de mim, eu aceito. Um trato com um elfo, isso sim é algo épico. – Me aproximei para beijar a testa dele, como um acordo, fazendo a pequena marca de lua brilhar. Ele fez o mesmo, aproximou-se tanto, abaixando-se, que senti sua respiração e o batimento do coração, fazendo o meu corpo se petrificar quando tocou a minha nuca e beijou o símbolo, gentil e quente, dando-me arrepios e sem perceber fiquei fraca. O peso do meu corpo se apoiou nele e eu desmaiei.

– Kate, Kate! – Uma mão estava abanando. – Hey, Kate! Você está aí?! – Era Gabriel me chamando. – Oie!

– O que foi? – Tirei a mão abanando e olhei como se nada tivesse mudado. Eu estava sonhando acordada, incrível. Ele olhava preocupado. – Por acaso... Eu demorei a responder?

– Se demorou? Muito, você praticamente estava dormindo, olhando o nada e nem me respondendo até agora. – Eu não tinha o que falar só que estava longe, bem longe. – Você está bem, quer que eu chame alguém?

– Não! – Entrei em pânico. – Não, eu estou bem. – Se alguém me examinasse nesse momento, eu tinha certeza que algo ruim aconteceria. Alguma coisa estava estranha, eu tinha que lembrar algo e isso era importante, mas o quê?

– Tem certeza de que não quer que eu chame a Karen? – Ele me olhou desconfiado.

–Sim, certeza absoluta. – Sorri frio. – Bom, continuando... Qual era a lenda do quadro? – Fui direto ao ponto, sem deixar que ele fizesse mais perguntas sobre minha saúde mental e desviasse do assunto.

– Você sabe que anjos não podem se relacionar com elfos, certo? –

Foi o pico, eu fiquei pasma, o choque foi grande até para os meus dedos, congelando em segundos.

– N-Não, quero dizer, eu nunca soube. – Gaguejei ainda em choque. – Isso é brincadeira, certo? – O que eu estava esperando, alguma coisa boa? – Por que eles não podem ter uma relação? – Olhei intrigada para o Gabriel.

Dura lex, sed lex. – Eu sabia o significado disso e ele continuou. – Porém a lei não foi por uma causa ruim, mas para não causar intrigas em ambos os lados.

– Como assim?! Que mal isso causaria? – Uma onda elétrica percorreu o meu corpo e me fez ficar nervosa, muito agitada.

– Kate, um anjo causaria muitos problemas. – E estendeu a mão até o meu rosto, sorrindo calmo. – Um anjo causou muitos problemas, por isso a lei existe. Você causou problema. – E outro choque, ainda pior.

– Mas, eu não fiz nada, como que causei problema? – Ele não estava me explicando direito e o mundo girava como sempre, minha cabeça parecia não processar nada. – Eu não fiz nada! - Levantei me revoltando. – Eu nem sei sobre o que você está falando!

– Você sabe, eu tenho certeza. – Afirmou, olhando e dando-me calafrios. – A lenda foi sobre um anjo que se aproximou de um elfo, mas ela causou muitos problemas. Os anjos se revoltaram contra os elfos por causa dela e o quadro foi pintado por um elfo, não se sabe quem e nem quem o conhece. Apareceu como mágica. Ninguém entende o porquê de ter sido pintado, mas o que traz é sofrimento. Um anjo, única entre eles e que foi amada. Eles queriam vingança por nada.

Uma frase veio á minha cabeça “Ars longa, vita brevis”. A arte é eterna, a vida é breve. Alguém me disse isso, mas quem?!

– E-Eu...não entendo. – A voz não saía, era confuso. – Isso não pode estar certo, ela tinha o direito de amar quem ela quisesse! – Fiquei com raiva, mesmo não sendo culpa do Gabriel. Meus olhos se cerraram, avermelhados, explodindo em lágrimas. – Isso está totalmente errado! – Sentia-me acusada e culpada de algo que não fiz.

–Kate, você não é o anjo que causou a briga. – Ele sorriu, parecendo um pouco satisfeito. – Por que está tão zangada? – Gabriel me dava ás vezes, um pouco de medo, colocando-me contra uma parede invisível, pior que o Keith quando dava bronca. Ele mexia com minha mente, literalmente.

– E-Eu não sei. – Respondi. O impacto foi grande, como um soco na cara. – Eu não sei! – Levantei e comecei a andar de um lado para o outro. – Por que isso está acontecendo?! Deus meus! – Eu parei, espantada, sentando no chão. – O que eu acabei de falar?!

– “Meu deus”? – Ele riu.

– Sim, mas foi em latim. – Olhei inconformada. – Eu não sabia que “deus” significava “deus” em latim, muito menos o que era “meus”. Eu não sei latim... Então como?!

–As portas estão se abrindo, uma a uma. – Ele sorriu. – Talvez você esteja mudando.

– Eu não quero mudar! – Falei firme. – Gosto de ser eu mesma, isso é injusto! – Minha cabeça estava explodindo de dor. – Odeio isso! – Pus a mão para parar a dor, como uma louca sentada no chão e apertando a cabeça. – Domine adiuva me, adiuva me! – Comecei a falar novamente em latim, pedindo ajuda ao senhor, meu deus.

– Kate, se acalme! – Ele sentou perto de mim, me abraçando e com a mão na minha cabeça. – Memento vivere, memento vivere! – Ele repetia: Lembre-se de viver, lembre-se de viver!

Minha cabeça ficou leve, sem dor nem nada. Sumiu. Eu não sentia dor. Estranho e bom. Eu raciocinava melhor quando não sentia a dor.

– O que você fez? – Estava me afastando dele, percebendo a mesma marca na testa que a do Keith.

– Magia. – Sorriu angelical. – Melhor descansar, você não está bem. O Keith me avisou que você ficou com febre, melhor se deitar. Sua cabeça não está boa. – Ele me levantou e mandou eu sentar na cama.

– Realmente, minha cabeça não está boa. – Sussurrei. – Esse foi o pior mês da minha vida. – Comecei a deitar na cama e encarar o teto com alguns símbolos e um bem grande: uma estrela de Davi. – O que isso significa? – Apontei, depois olhei para o Gabriel, sentado ao meu lado, na cadeira.

– É a proteção. – Não entendi. Continuei olhando vago para ele. – Proteção contra os anjos. Você está protegida contra os anjos, eles não podem te encontrar, nem a nós. Esse lugar é protegido pelo símbolo, mesmo eles procurando por você vai ser difícil. Quanto mais perto do símbolo, mais “invisível” você é para eles, os anjos.

– Ah, então é por isso que o Keith me mandou ficar no quarto. – Meu ânimo ficou melhor, eu estava sorrindo. Explicado, ele não queria que os anjos nos encontrassem.

Alguém bateu na porta e depois abriu. Camilla, aquele demônio. Não gostei nem um pouco quando ela chamou o Gabriel.

– Querem falar com você. – Camila disse para ele, me olhando de canto. – E você, não saia desse quarto. – Sorriu me ameaçando.

– Como se eu quisesse, demônio. – Retribuí com um sorriso e acenei para ela ir embora. A elfa virou as costas com raiva, batendo as botas de couro e dizendo alguma coisa, que infelizmente consegui ouvir.

– Um dia eu mato essa humana. – Ela disse e eu ri.

O Gabriel continuou no quarto, rindo da situação e caminhando até a porta. Virou e se despediu.

– Depois nós continuamos a conversa. – Sorriu e foi embora, fechando a porta.

Um silêncio duvidoso ocupou o quarto. Entediante. Eu não tinha nada para fazer até alguém aparecer, claro. Fiquei olhando o teto, encarando a enorme estrela de Davi. Eles não podem me encontrar, eu posso ter certeza disso, não é?!

– Alguém poderia me responder?! – Disse alto. – Não gosto de ser prisioneira no meu próprio quarto, merda! – Gritei.

A porta se abriu, e, para a minha surpresa, ele respondeu.

– Eles não vão te encontrar, não aqui. – E sorriu me acalmando. – Você realmente gritou na minha cabeça, você percebe isso?! – Resmungou. – Ainda está latejando, humana chorona. – Pôs a mão na cabeça, mostrando estar com dor e sentou na cadeira, perto de mim. Apoiou o braço na cama e me encarou bem de perto. – Você está bem? – Perguntou gentil, brincando com o meu cabelo.

–Dura lex, sed lex. – Repeti o que o Gabriel disse e sorri triste. Ele me olhou surpreso, não entendendo. Eu tinha que fazer a coisa certa e essa era a coisa certa, me afastar. – Você ultrapassou a lei. Não uma, mas várias vezes. Saia de perto de mim. – Eu estava me esforçando ao máximo para dizer aquelas palavras, cortando a minha garganta e forçando a minha arrogância.

– Desde quando você virou uma santa?! – Perguntou inconformado. Fechei os olhos, evitando o que dizia e saí da cama, empurrando ele para ir embora. – Hey! – Ele pegou o meu braço, me fazendo parar e olhar para aqueles olhos cinza e... Merda! – Você não é um anjo, nem uma humana. Você é uma elfa! – Afirmou cada palavra que dizia, confirmando meu pensamento. Ele não iria me largar, nunca.

– Estúpido, idiota, o ser mais irritante do mundo! – Evitei o contanto com seus olhos. – Absolutamente impossível, porque eu sou um anjo! – Gritei em direção ao chão. – Eu sei que eu sou! Minha alma, eu nasci assim! – Voltei a encará-lo e não deu certo.

– Muito bem, Kate, você é o ser mais estranho que já vi. – E começou a rir. – Ninguém consegue te superar em argumentos? – Ele não estava me levando a sério.

– Então me solta e vai embora! – Gritei insatisfeita. – Pelo amor de Deus, me larga e vai embora. A lei é dura, mas é a lei. Os elfos não aceitam, os anjos não aceitam, ninguém aceita. Você seria a pessoa ideal para entender esse negócio de regras e lá grande merda, por que não entende?! – Eu estava suplicando e ele rindo.

– Eu já disse. – Apertou o meu punho com força, me fazendo estremecer. – Você não é um anjo. – Ele estava sério, e muito.

–Eu sou um anjo. – Desafiei seu olhar. Nos encaramos por vários segundos e finalmente ele me largou e deu as costas.

– Que seja, não ligo mais. Faça o que quiser e viva como quiser. – Disse amargo e muito frio. Eu o deixei bravo, muito bravo.

Ele se afastava e isso era bom, mas porque o meu coração doía? Ele tinha que se afastar de mim. Ele tinha, mas doía. Olhei-o indo embora, passando a mão na maçaneta e abrindo, fechando e batendo a porta com força. Eu podia ser aquela porta toda em vidro e ele me quebraria em mil cacos, mas a dor ainda seria menos ao que eu estava sentindo.

– Missão cumprida, Kate, fez um bom trabalho. – Falei para mim mesma, bufando e deitando na cama, sentindo meu corpo pesado, minha mente um chumbo e meu coração em vários cacos de vidro. Uma lágrima escorreu, e em seguida várias caíram. – Quem sou eu? – Era a única pergunta que ninguém me respondia, que nem eu conseguia responder.


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Notas finais do capítulo

Consertei uns erros e acrescentei poucas coisas.^^ -> 17/10/2013