No dia seguinte, Feioso e Joey estavam terminando de desenvolver o plano, quando ouviram o bater de uma porta de carro.

   Joey olhou pela janela e viu Max saindo pela porta do motorista.

   - Não sabia que ele dirigia.

   - Ele tirou a carteira esse ano, quando tirou a carteira, já faz alguns meses. É uns dois anos mais velho que Wandinha. Ela adora isso nele.

   “Ótimo. Não tenho chances contra esse cara.”, ele pensava, ”Não Joey! Pense positivo, você tem um plano. Não tem como falhar.”, ele tentava se convencer.

   - Cuida da Wandinha, que eu vou lá embaixo dar um jeito nele. – disse Joey, colocando o plano em ação.

   Ele desceu as escadas, antes que Max apertasse a campainha. Isso estragaria tudo. Wandinha não podia saber que ele estava lá.

   - Oi, baixinho. Dá para você chamar a Wandinha para mim? Nós ficamos de sair.

   - Ela não pode. Hoje é dia de jantar em família. Olha, eu não devia me meter, mas se ela não te contou, você não deve ser assim tão importante.

   - Olha aqui, garoto-bolacha – disse Max, em tom ameaçador, encostando a ponta do dedo em Joey – Eu só acredito ouvindo dela.

   - Primeiro, é garoto-biscoito, não bolacha. Segundo, só a Wandinha pode me chamar assim. Para você é Joseph. Terceiro, você não tem permissão para me tocar – disse Joey, empurrando o braço de Max – E se você não quer acreditar em mim, tudo bem, eu te levo até a Wandinha.

   Joey se virou em direção à porta e começou a caminhar.

   “Ele não vai vir.”

   Mas para a surpresa de Joey, quando se virou para olhar, Max estava bem atrás dele, acompanhando-o. Ia entrar.

   - Que foi, baixinho? – perguntou Max, com um sorriso no rosto. Ele se abaixou e sussurrou no ouvido de Joey – Você acha que sabe coisas sobre mim. Que pena, baixinho. Acha mesmo que eu voltaria se ainda tivesse medo?

   Fazia sentido. Joey congelou no lugar. Começou a suar frio. Seu plano havia falhado.

   Max o empurrou, fazendo-o cair no chão e entrou na mansão.

Joey, perplexo, só conseguiu ficar parado no chão. “Agora sim. A perdi para sempre”. Quando se levantou, foi para casa. Não queria estar lá para ver aquilo.

No último andar da casa dos Addams, Feioso tentava manter Wandinha ocupada. Segurava uma de suas tranças e tentava cortá-la fora, e ela fazia a mesma coisa, com uma das pernas dele.

   - Me... Solta! Eu tenho que... Ir esperar... O Max!

    Max abriu a porta do quarto. Feioso ficou surpreso e soltou os cabelos da irmã, que largou o serrote no chão e correu para abraçá-lo.

            - Ah, Feioso, o garoto aí da frente foi para casa. Achou melhor brincarmos outro dia.

            Joey estava visivelmente abalado.

            - Que foi, querido? Não comeu quase nada.

            - Nada, mãe.

            - Qual é, menino? Eu sou sua mãe. É claro que eu sei se tem alguma coisa errada. Desembucha, vai!

            - É aquele tal de Max.

            - Max?

            - É, pai. Parece que os nossos vizinhos arranjaram mais um amiguinho – disse Jessica.

            - Ah, é? E como ele é, filho?

            - É bem mais alto e mais forte que eu, sempre anda por aí com os cabelos bagunçados e roupas de marca. Parece até que é famoso. Fica andando para lá e para cá naquela Mercedes branca dele.

            - Mercedes branca? – exclamou Jessica, impressionada – Me conte mais desse Max, quero saber tudo!

            - Bom, o Feioso disse que ele tem uns dezesseis anos e...

            - Dezesseis! Mercedes branca! Parece famoso! Ah, esse aí é do meu número! – Jessica trocava de namorado como trocava de sapato, literalmente. Max “ser do tamanho dela” queria dizer que ela estava interessada.

            Essa frase de Jessica fez Joey pensar. Em alguns instantes, um sorriso se abriu em seu rosto.

            Tinha um novo plano em sua mente.

            Na manhã seguinte, Joey deu um jeito para que Max e Jessica se encontrassem. Ele levou a irmã para “passear” pela calçada da rua em que moravam, prometendo à ela que lhe apresentaria a rapaz.

            Como era planejado, Max chegou em seu carro alguns minutos depois. Antes que pudesse entrar na residência dos Addams, ele cruzou com Joey e Jessica.

            - Oi, baixinho. Quem é essa aí? – disse Max, tirando os óculos escuro, e examinando Jessica de cima a baixo.

            - Max, quero que conheça minha irmã, Jessica. Coitada, terminou com o namorado ontem. Se é que me entende.

            Max sorriu

            - Olha, eu tenho dois ingressos para Vida e Morte Severina 2 – A Desgraça Retorna. Quer pegar um cineminha?

            - Claro!

            Max abriu a porta de seu carro para Jessica entrar.

            - Avise a Wandinha que minha avó está no hospital e eu tive que ir vê-la, ok, baixinho? – e entrou no carro.

            Ligou os motores e foi embora, pondo um sorriso no rosto de Joey, que checou a janela do quarto de Wandinha, só para ter certeza de que ela viu tudo.

            Joey subiu até o último andar, no quarto de Wandinha. Ela estava brincando de tiro ao alvo, atirando machados na parede.

            “Finalmente, acho que ela voltou ao normal!”

            Sem mais sorrisinhos nem risadinhas.

            - Oi – ele disse, como já era de costume.

            - Cadê o Maxwel? Fiamos de ir ao cinema.

            - Eu acho que ele não vem mais. – disse ele, com cara de inocente.

            - Saia – ela disse, fria.

            Wandinha começou a jogar os machados com mais raiva.

            - Sai já daqui!

            As lâminas quase chegavam a perfurar a parede.

            Essa era a primeira vez em meses que Wandinha o assustava. Que o fazia tremer de medo.

            Feioso acabara de subir as escadas e encontrou Joey no corredor.

            - O que aconteceu? – ele perguntou, vendo as lâminas que atravessavam a parede.

            - Dei um jeito e sumi com o Max – respondeu, sem que Wandinha pudesse ouvir.