Aquele piquenique estava um desastre. Joey, caído no chão, só conseguia ver tia Franie, gritando e correndo, com os cabelos em chamas, Wandinha, atirando flechas na direção de seu primo Toby, que pouco fazia, além de correr em círculos tentando desviar; Feioso, explodindo coisas aleatórias pelo parque, Sr. e Sra. Anderson tentavam manter a calma, e Jessica, que estava dando em cima do rapaz do carrinho de sorvete, enquanto Mortícia e Gomez dançavam tango, como se nada estivesse acontecendo.

      Sua cabeça doía, enquanto ele se perguntava o que havia acontecido. Joey não conseguia se lembrar de muita coisa, só que havia levado uma pancada na cabeça.

      Lentamente seus olhos foram se fechando e as lembranças começaram a surgir.

      - Qual é, gente? Me desçam aí, vai? – ele implorava para Rex e Toby, que o mantinham pendurado no galho mais alto da árvore.

      - Não vai dar, não. Hoje é dia de piñata! – disse Toby, sacando seu taco de basebol, já mirando para acertar Joey, quando Wandinha e Feioso se aproximaram.

      - O que vocês estão fazendo? – perguntou Feioso.

      - Não é da sua conta – respondeu Rex – Agora bate logo, Toby.

      - Se vocês o levantarem mais alto, posso tentar acertá-lo com uma flecha. – disse Wandinha, fazendo-os se virar.

      - Não precisamos da ajuda de uma garotinha.

      - É. Ainda mais se ela parece ter acabado de sair do caixão.

      - Sabemos o que fazer com ele. Vai pentear as suas bonecas vai!

      - Se elas ainda tivessem cabeça... – disse Feioso para si mesmo.

      Rex e Toby se viraram novamente para acertar Joey. Wandinha não gostava de ser deixada falando sozinha. Sacou seu arco e flecha e em poucos segundos, havia acertado com perfeição um pássaro, que caiu morto aos pés dos garotos, fazendo-os recuar um passo.

      - Tenham medo. Tenham muito medo. – ela disse, apenas, e começou a caminhar na direção do lago, seguida por Feioso.

      Toby e Rex engoliram em seco. Nunca haviam visto uma garota assim. Após alguns instantes, Rex percebeu que ainda tinha a corda em sua mão.

      - Mano, ainda tem uma coisa que a gente precisa resolver. – disse ele, apontando para Joey com a cabeça.

      - Ah, sim. Da garota a gente cuida depois.

      Esse comentário fez Joey abrir um pequeno sorriso no canto da boca. Ninguém nunca seria páreo para Wandinha.

      Depois que Rex e Toby se afastaram, deixando Joey amarrado na árvore, Wandinha e Feioso se aproximaram do garoto.

      - Jura que você tem tanto medo assim deles, Joseph? – ela perguntou, se sentando ao pé da árvore.

      - Juro. Agora, será que dá para vocês me ajudarem a descer daqui?

      - Não. – ela disse, seca.

      Joey olhou para Feioso, que já estava se levantando para ajudar.

      - Nem pense. Se você fizer isso, eu te faço assistir todas as temporadas da Hannah Montana quando chegar em casa. Pense bem.

      Feioso apenas se sentou, e tentou descobrir para que a irmã olhava fixamente.

      O piquenique.

      Toby e Rex chegaram em passos pesados.

      - Mãe, tô com fome. Quando vamos comer?

      - Agora, querido. Vá lá chamar as crianças, vai.

      - Claro.

      Rex caminhou até a árvore em que eles estavam. Deu um tapa na cabeça de Joey que quase o fez beijar a árvore.

      - Venham...

      E um em Feioso.

      - Comer...

      Mas antes que conseguisse encostar um dedo em Wandinha, ela agarrou o braço dele e o atirou por cima da cabeça num golpe de tae-kwon-do que o fez voar até o poço a alguns metros dali.

      - Agoraaa...

      Wandinha se aproximou do poço e olhou dentro dele.

      - O poço deve ter secado. Coitado, devem ter sido suas últimas palavras. Joseph, está com fome?

      - Estou. Porque?

      - Vou te ajudar a desce não se mexa.

      Wandinha mal terminou a frase, pegou o arco e flecha e atirou com precisão na corda que o prendia a árvore, fazendo Joey cair com força contra o chão.

      - Podia ter sido um pouco mais delicada, não é? – ele perguntou, se levantando com dificuldade.

      - Eu fui delicada.

      - Vamos que eu tô com fome! – disse Feioso – Sua mãe fez o que? Asa de morcego assada? Rabo de rato com molho?

      - Acho que foi torta de maçã e sanduíche. Foi mal.

      - Muito mal, Joseph. – Wandinha disse, seca.

      - Você nunca vai me deixar em paz, não é?

      - Não.

      - Ótimo, é assim que eu gosto.

      Ao chegarem perto da toalha do piquenique, tia Franie logo perguntou sobre Rex.

      - Ele foi beber água lá do poço, vai voltar logo.

      - Ou não... – cochichou Wandinha, para si mesma.

      - Que garota mais gracinha! – disse tia Franie, apertando as bochechas de Wandinha, quase a fazendo cometer um homicídio.

      Joey, pressentindo que aquilo ia acabar mal, deu um leve empurrão em Wandinha, o suficiente para tirá-la de perto da tia.

      - Joeyzinho, como você cresceu! Que saudade! Eu lembro de você quando você era desse tamanhozinho, tão fofinho! Agora você já virou um homenzinho! – ela dizia, enquanto quase arrancava fora as bochechas do garoto.

      - Tá, tia. Obrigado... Também senti saudades... – ele disse, tirando as mãos dela de seu rosto.

      - O que estão esperando? Vamos comer, né gente? Você senta perto de mim, né, gracinha de menininha? – disse a velha, puxando Wandinha pelo braço.

      - Nossa menina está na idade em que só pensa em uma coisa. – começou Gomez.

      - Meninos? – sugeriu tia Franie.

      - Homicídio – disse Wandinha, distraidamente, enquanto examinava uma faca de plástico que achara em cima da toalha. Podia parecer ridículo, mas ela era capaz de causar graves danos a alguém com isso.

      - Entendo...

      Foi quando Jessica chegou com o sorveteiro.

      - Oi, gente. Esse é o Michael, meu namorado.

      - Sorvete? – ele ofereceu.

      - Eu quero um de morango, por favor. Eu gosto porque são rosa! – disse tia Franie, para Wandinha.

      - Se você ama a vida, nunca mais me dirija a palavra. – ela disse

      - Ora, garotinha, que coisa mais feia! Nunca mais fale assim com a titia!

      - Mas você nem é minha tia! – ela esbravejou – Tá ali o seu sobrinho, ó! – apontou para Joey – Tá vendo, Joseph, cada uma que você me arruma! – ela disse, já fora do sério.

      Foi quando tia Franie deixou cair uma gota do tal do sorvete sobre a mão da garota.

      Wandinha tentou se controlar. De verdade, ela tentou. Mas após alguns segundos, o líquido rosa sobre sua pele pálida a impedia de raciocinar direito.

      Seu olho direito tremia involuntariamente, enquanto o ódio crescia em suas veias.

      - Oh, desculpe, querida! Eu não vi! Deixa que a titia limpa! – disse a mulher, esfregando a mão dela com um guardanapo amarelo.

      - Não, tia. Acho melhor lavar, é mais higiênico. Vamos, venha comigo até o lago! – Wandinha disse, com o maior esforço.

      - Claro, querida. – disse a mulher, se levantando.

      As duas caminharam juntas por alguns metros, e quando Wandinha achou que já estava longe o bastante do piquenique, ela sacou seu isqueiro e tocou fogo nos cabelos ruivos tingidos da mulher, que começou a gritar e correr.

      - Ei, você não pode fazer isso com a minha mãe! – gritou Toby, se levantando.

      - Espere só, para ver o que eu fiz com o seu irmão – ela disse, com um sorriso maligno no rosto.

      - Ah, sua... – ele gritou, enquanto correu na direção dela.

      Wandinha sacou seu arco e começou a atirar na direção de Toby, que corria para todos os lados, escapando por pouco de cada uma.

      - Ei, não comece sem mim! – Feioso gritou para a irmã, enquanto começava a lançar bombas pelo parque.

      Senhor Anderson começou a ter um ataque de asma, e a mulher tentava socorre-lo.

      - Agora sim, mon cher, agora isso está parecendo um lar!

      - Só falta uma coisa, cara mia. Quer dançar?

      - Seria uma honra. Tropeço?

      Tropeço, saindo do nada com um órgão, começou a tocar o pior tango que conhecia.

      Joey apenas admirava a cena, até que Feioso resolveu explodir o carrinho de sorvete do namorado de Jessica, e fez um pedaço enorme de gelo voar direto na cabeça de Joey, o deixando inconsciente.

      E foi isso o que havia acontecido. O pior piquenique de todos.