O laboratório estava imundo e cheio de poeira pelo chão. O nariz de Hana ficou irritado imediatamente e ela logo o tampou. Issei não teve o mesmo problema. O sortudo tinha aquele pano no rosto, afinal.

Mesmo estando aos pedaços e abandonado havia anos, Issei ainda acreditava que sobraram informações sobre a criação de Nadeshiko. Pelo menos acreditava que conseguiria confirmar se ela tinha mesmo o DNA de Natsu.

Claro, só para provar. Issei tinha certeza absoluta disso.

Nesse mês que se passou, o que eles mais fizeram foi procurar aquele laboratório. Não foi fácil; além de ele ter sido quase totalmente destruído, ele estava localizado no que mais parecia ser o meio do nada. Mas enfim conseguiram.

O problema era que Issei queria as informações para usá-las contra Nadeshiko, e Hana queria encontrá-las para escondê-las ou destruí-las, e assim proteger a maga.

– Hana, olha só. Acho que encontrei o computador principal.

Tarde demais.

– É mesmo? – Ela perguntou sem ânimo.

– É... É, isso mesmo. Aqui deve estar registrado todos os experimentos que aqueles cientistas fizeram. E como a última coisa que fizeram antes do laboratório ser destruído foi Nadeshiko, não deve ser difícil encontrá-la.

Hana aproveitou que Issei estava de costas para ela e franziu as sobrancelhas. Chamar Nadeshiko de coisa lhe pareceu frio demais. Bem... Não podia esperar algo sensível saindo da boca de Issei.

– Achei – ele avisou. – Número 232. Apelido: Nadeshiko Sakurai.

A garota foi imediatamente para seu lado. Lá estava: o número e o nome de Nadeshiko logo acima de sua ficha técnica. Issei rolou a página a procura do método que usaram para sua criação. Então, ele parou.

–... Tem a aparência de aproximadamente dezessete anos. Organismo criado para evoluir da mesma forma que um organismo humano normal. Criada a partir do DNA de Natsu Dragneel. Feita para servir a guilda Phantom Lord.

Mesmo com aquela máscara, Hana podia imaginar Issei com um sorriso sádico no rosto.

– DNA de Natsu. Isso faz dela uma Dragneel.

– O que faz dela um de seus alvos.

– Exato.

– E agora?

Issei se levantou e desligou o computador.

– Agora nós esperamos. O momento certo chegará, mais cedo ou mais tarde.

E ele se encaminhou para a saída. Francamente, claro que ele já tinha um plano traçado. Hana sabia que o vilão ainda não confiava totalmente nela. Sem problemas; ela conseguiria sua confiança de qualquer jeito.

– Ei, espere por mim!

. . .

Um floco branco de neve caiu em sua mão. Na outra, caiu um floco negro. E não deveria ao menos estar nevando naquela época.

Mas toda Magnolia agora era preenchida por um misto de neve branca e negra, um evento inédito. Alguma coisa devia estar prestes a acontecer.

– É você, não é, Zeref? Você está fazendo isso?

Tentativa falha. Zeref não estava mais ao seu lado. Mas Sarah sabia que ele estava por perto. E ia encontrá-lo.

Afinal, ele era a única pessoa que podia chamar de família.

. . .

Neve naquela época do ano? E ainda de duas cores? Estranho. Mas Nick achou melhor não se preocupar com isso por enquanto; preferia se concentrar mais na luta contra Yuri que ocorreria dali a pouco.

– Falta só meia hora, Nick! – Exclamou Luke em seu ouvido. – Estou ansioso pra ver isso!

– Com certeza você está muito mais ansioso do que eu – disse o loiro. – Aliás... Parece que todo mundo aqui está.

– É claro! Estão todos apostando em você. Sabemos como esteve treinando duro nesse último mês e queremos muito finalmente ver como você ficou forte! Especialmente com esse poder de Dragon Slayer!

Nick suspirou. Algumas semanas atrás, ele contara para o resto da aliança sobre o que Hearther e Kazumi lhe contaram, sua magia nova que poderia ser uma Metsuryuu Ougi e as escamas que apareceram em seus braços depois de usá-la. Todos ficaram surpresos, mas a maioria ficou mais empolgada do que preocupada. Nick não esperava ter se divertido tanto com aquela história.

– Eu já disse que não quero esse poder.

– Você pode não querer implantar a lacrima, mas está claro que ainda tem um pouco desse poder dentro de você. Não pode rejeitar isso.

– Sei disso.

– Mas vamos parar de falar nisso, né? Daqui a pouco você tem que dar um show e não pode se desconcentrar com essas coisas.

Luke se afastou e Nick sorriu. Ele conhecia o ruivo desde criança e raramente se sentia tenso com ele por perto. De alguma forma, a simples presença de Luke já o descontraía.

– Nick – chamou-o Yume. – Hearther está te procurando.

– Nee-chan? O que...

– Nick! – Ela exclamou ao vê-lo. – Yuri quer falar com você. Ele está te esperando no South Gate Park.

– O que ele quer falar comigo?

– O pirralho não me falou. – Pela cara de Hearther, dava pra ver que ela insistira muito para descobrir o que Yuri queria. Hearther não gostava que a ignorassem. – Mas acho melhor você ir logo antes que os dois percam a hora da luta.

Nick assentiu e saiu da guilda, esquecendo-se de seu casaco. Não fez diferença. A neve continuava a cair, mas não fazia nem um pouco de frio.

–--

Yuri estava debruçado sobre a cerca, bem ao lado da escada que levava ao centro do parque. Nick não precisou dizer nada para ele notar sua presença.

– Obrigado por vir – disse o mago de madeira.

– O que aconteceu?

Yuri foi direto; sem se virar para o amigo, lhe passou uma carta. O loiro a tirou do envelope e a desdobrou para lê-la.

Caro Mestre Kevin,

Como vão as coisas? Espero que esteja tudo indo bem na Blue Pegasus e que não estejam tendo problemas com Dark Guilds de novo.

Nosso Yuri vai bem? Continua forte? Tem se alimentado direito? Sei que ele já é grandinho, mas espero que continue cuidando dele como prometeu. Eu e Paul queríamos muito poder vê-lo mais uma vez, mas como não podemos, será que pode nos mandar uma foto? Por favor. Sentimos falta de nosso garoto.

Nós estamos indo bem aqui. A produção aumentou e apareceram mais clientes. Paul não se cansa de dizer que, com esse ritmo, logo poderemos voltar para Magnolia e reencontrar Yuri. Eu quero muito acreditar nisso também, senhor. Quero mesmo.

Espero que possa me responder,

Sheron.

– Essa carta...

– É da minha mãe – respondeu Yuri. – Eu achei por acidente enquanto conversava com o Mestre em sua sala e ele me contou tudo. Disse que meus pais haviam falido e que não tinham mais condições de cuidar de uma criança, então me deixaram sob os cuidados de Mestre Kevin. Desde então eles vivem numa vila trabalhando com a agricultura, colhendo e vendendo verduras e outras coisas. Todo o mês eles mandam uma carta perguntando como eu estou.

Nick devolveu a carta ao envelope.

– E como você se sente sobre isso?

– Não sei. Estou estranho. Não sei o que pensar. Quero dizer... Meus pais escrevem há anos e o Mestre nunca me disse nada! Ele preferiu me deixar pensar que eles já estavam mortos. Todos que são abandonados pelos pais ao quatro anos têm o direito de saber o que aconteceu, certo?

– Eu te entendo. Ainda quero saber o que aconteceu com Hearther naquela missão.

– Você se sentiu assim quando soube dos seus pais biológicos?

O loiro deu um sorriso sem graça.

– No meu caso é diferente. Meus pais biológicos estão realmente mortos. Você devia ficar feliz por seus pais estarem vivos, conseguindo viver bem e ainda se preocupando com você.

– Mas... Eu gostaria de saber, entende? Por que eles não mandaram as cartas pra mim?

– Vai ver eles pensaram que você não entenderia.

Yuri enfim se virou.

– Foi por isso que a Hearther não contou sua história antes?

Nick assentiu.

– Eu também fiquei com raiva, mas ela só queria me proteger. Tenho certeza de que o Mestre Kevin pensou da mesma forma.

Yuri suspirou.

– É... Acho que você tem razão. Obrigado, Nick. É bom poder contar com alguém sensato.

– É pra isso que os amigos servem, não é? Agora nós temos que ir. Não podemos nos atrasar para nossa própria luta.

–--

Os magos da Fairy Tail, Blue Pegasus e até da Eletro Magic estavam reunidos na frente da guilda das fadas, apenas esperando a chegada dos dois combatentes do dia. A arena de pedra de Yume já estava pronta para a luta; o primeiro que saísse dela perderia, como foi decidido por Nick e Yuri no dia anterior. Ao redor, luzes alternando entre azuis e marrons foram acesas pelos magos da guildas assim que a noite caiu. Agora só faltava o mais importante.

– Vai pegar muito mal se eles se atrasarem para a própria luta – comentou Luke.

– Já está pegando mal – falou Elijah. – Cara, o Nick não é disso.

– Vai ver Yuri queria conversar sobre algo bem importante com ele – supôs Yume. – Só o que podemos fazer é esperar.

– Desculpe a demora! – Sasha chegou ofegante. – Hoje o treino se estendeu até mais tarde.

Alguns dias após o término da missão, Sasha pedira a Kenzo e Shirou para treinar com eles, e os rapazes aceitaram imediatamente. Inicialmente ela queria apenas ficar mais forte e conseguir se lembrar de onde conhecia Kenzo, mas em pouco tempo a atividade passou a ser bem mais divertida do que esperava.

– Estão todos aqui? – Ela quis saber.

– Todos, menos Nick e Yuri – respondeu Ace.

– E os Nakamoto – Diego observou. – Eles ainda não voltaram da viagem.

Depois da morte de Kenta, Kouji e Kazuo decidiram procurar Ethan para enfim acertarem as contas com ele. Disseram que iriam para Shirotsume Town e voltariam em breve, mas já estavam fora havia tempo demais.

– As Demon Angels também não chegaram – acrescentou Berry. – Sabia que não chegariam de Veronica a tempo...

– Chegamos! – Fel gritou. – Atrasamos muitos?

– Bem, a luta nem começou ainda, então acho que não – falou Mortis.

– Mas pessoal... O que é essa neve? – Indagou Yui. – É muito estranha...

– Podemos falar disso depois. – Ammy indicou com a cabeça os dois garotos que chegavam correndo.

Nick e Yuri se desculparam pelo atraso assim que se reuniram à multidão e foram se posicionar na arena. De um lado, os membros da Fairy Tail incentivavam o loiro; do outro, os integrantes da Blue Pegasus encorajavam o moreno. A maioria da Eletro Magic simplesmente clamava por uma boa luta.

– Vamos ver quem tem a melhor criança, Taylor. – Falou o Mestre Kevin. Estranhando o silêncio do velho amigo, olhou para ele. – Taylor? O que foi?

– Você não sente, Kevin? Essa neve... Não pode ser um bom sinal.

– Sim, é estranho. Mas essa é uma noite de luta e de festa, então que tal esfriarmos um pouco a cabeça?

Taylor sorriu em concordância. Mas ainda assim... Não tinha como ignorar o sentimento de que alguma coisa ruim estava por vir.

– Muito bem! – Gritou Kevin. – Hoje ocorrerá a luta prometida entre Nicolas Evans e Yuri Collins. É uma luta amigável, mas que decidirá qual dos dois ficou mais forte nesses seis anos. Que vença o melhor!

Todos os espectadores vibraram de animação por finalmente se iniciar a luta. Nick foi o primeiro a se mover; logo juntou as mãos para preparar um Ice Make. Yuri aproveitou isso e correu rapidamente até o amigo para lhe bater antes que pudesse fazer a magia, mas Nicolas não se deixou ser pego. Cancelou a magia e se abaixou para desviar do soco do amigo a tempo antes de contra-atacar com um golpe forte em seu rosto. Seus companheiros de guilda vibraram ainda mais.

– Bons reflexos, Nick – Yuri o elogiou.

– Sua velocidade também está ótima – Nick retribuiu.

E sorrindo, os dois avançaram ao mesmo tempo.

Dessa vez foi Yuri quem se esquivou dos primeiros golpes de Nick, indo para trás do amigo e chutando suas costas para afastá-lo. Em seguida, juntou as mãos e logo as colocou no chão de pedra da arena, fazendo um círculo mágico surgir sob elas.

– Wood Make: Land of Pillars!

Vários pilares de Madeira saíram de outros círculos mágicos que surgiram no chão. Nicolas conseguiu se desviar dos primeiros que apareceram em sua frente, mas não pôde fazer nada quando um apareceu logo abaixo de seus pés. O pilar lançou o mago de gelo para cima e Yuri aproveitou a deixa.

– Wood Make: Splinters!

Inúmeras lascas de madeira saíram de seu círculo mágico e foram direto para o loiro, ainda no ar. Por sorte, seus reflexos foram rápidos novamente e o rapaz logo conseguiu confeccionar um escudo de gelo a sua frente, ainda que não impedisse todas as lascas de lhe acertarem. Ao cair no chão, Nick desfez seu escudo e preparou o contra-ataque.

– Ice Make: Thorns Blast!

Incontáveis espinhos de gelo começaram a serem lançadas descontroladamente. Yuri foi esperto; usou seus pilares como barreiras, embora tivesse que correr de um lado para o outro quando os espinhos os desgastavam. Por fim uma onda de espinhos o pegou em cheio quando Yuri saía de trás de mais um pilar, jogando-o para a beira da arena.

Quando Nick já começava a se mover para dar o último golpe, o mago de madeira levantou o rosto e sorriu para ele. E então, seu corpo tomou a forma de madeira e se quebrou.

– Que...

– Você também precisa treinar seus olhos, Nicolas.

O loiro olhou para cima. O verdadeiro Yuri pulou de cima de um dos poucos pilares ainda intactos e caiu na direção do mago de gelo com um grande martelo de madeira em mãos.

Nick se desviou com uma cambalhota para o lado por um triz. A área atingida pelo martelo era agora uma cratera. A arma também se quebrou com o impacto, mas em seu lugar surgiu uma grande espada de madeira. Nicolas se surpreendeu e logo depois abriu um sorriso.

– Parece que você finalmente conseguiu.

– Isso aí. A Chain of Weapons está completa.

O loiro resolveu entrar em seu jogo. Juntou as mãos para preparar sua magia.

– Ice Make: Warrior’s Sword!

Nick também foi equipado com uma grande espada. Assim, os dois partiram para o ataque novamente, colidindo suas lâminas enquanto os outros membros de suas guildas torciam com ainda mais força e os da Eletro Magic apostavam em quem seria o vencedor do confronto.

Enfim, Nicolas conseguiu acertar um golpe capaz de quebrar a espada de madeira de seu rival, mas ele não deixou barato; na mesma mão de Yuri surgiu logo um facão de madeira que partiu a espada de gelo ao meio. Depois, desfez a faca e socou o rosto do loiro com toda a força. O mago da Fairy Tail foi jogado no chão.

– Acho que já sabemos qual de nós dois é o mais forte...

Antes que ele terminasse de falar, porém, Nick posicionou as duas mãos no chão e um círculo mágico surgiu em cada uma dela.

– Ice Make: Frozen Stalagmite.

Formas pontiagudas de gelo saíram do chão ao redor do loiro, pegando Yuri em cheio e o deixando sem saída. Mais um pouco e estaria fora da arena.

– Demais! – Exclamou Ace.

– Quando foi que o Nick-kun ficou tão forte?! – Perguntou Lucky.

– É o resultado de seu árduo treinamento – falou Luke.

– Sim. Eu o vi treinando várias vezes nesse mês. Nick está levando mais a sério do que nunca – disse Yume.

O dito cujo se levantou, tomando cuidado para não encostar nos estalagmites de gelo. Yuri estava na beira da arena. Faltava pouco para a vitória ser sua.

Usando sua magia mais uma vez, confeccionou um arco e flecha de gelo.

– Aí está! – Gritou Eriol. – Eu o ajudei a criar essa técnica! Esse tem que ser o golpe definitivo!

A flecha de gelo potente de Nick brilhava cada vez mais em seu arco. O rapaz esperou o brilho ficar forte o suficiente para fazer seus olhos ficarem entreabertos e a lançou.

– Ice Consecutive Arrows!

Várias flechas de gelo igualmente brilhantes foram lançadas depois da primeira, uma de cada vez. Yuri conseguiu se proteger de algumas, mas estava difícil. Só lhe restava uma opção.

Natasha sorriu quando viu a mão direita do primeiro se cobrir totalmente de uma madeira resistente.

– E essa fui eu que ajudei a criar. Não comemorem tão cedo, fadas!

A próxima flecha a se aproximar foi atingida pelo punho de madeira do mago da Pegasus. O soco conseguiu rebatê-la de volta para seu criador.

– Counter!

A flecha pegou Nick de surpresa. Com a força redobrada pelo contra-ataque de Yuri, ela jogou o mago de gelo para o outro lado da arena. Porém, o moreno não conseguiu rebater a flecha que ainda estava a caminho e também foi jogado para fora.

– Empate! – Declararam o Mestre Kevin. – A luta terminou!

Os dois amigos e rivais se levantaram e foram ao centro da arena para se cumprimentarem. Mesmo sem um vencedor definitivo, os espectadores vibravam mais do que nunca.

Eram tanto gritos que não dava para simplesmente ignorar a única pessoa que batia palmas.

– Parabéns! Vocês foram mesmo ótimos.

Todos se viraram para o sujeito desconhecido. Depois de um breve silêncio, Yano exclamou:

– Aí está você, novato!

O rapaz que devia estar na faixa dos dezenove anos tinha os cabelos escuros lisos e repicados e olhos cinzentos. A julgar pelas suas roupas – uma camisa preta sob uma regata branca e calça jeans azul –, também não parecia estar incomodado com a neve estranha, além de elas caírem bem em seu corpo definido. O jovem carregava um sorriso simpático no rosto, mas não dava para ignorar a cicatriz em seu olho direito.

– Pessoal, esse é o nosso novo companheiro – Koichi tomou a iniciativa de apresentá-lo. – Seu nome é...

– Caíque – concluiu Mortis. – Caíque Koityro.

O tal Caíque desfez seu sorriso ao ver a garota, mas foi por pouco tempo. Logo já estava com um sorriso ainda maior no rosto.

– Mortis! É você mesma?

Mortis tremia de leve. Tentou secar seus olhos, mas eles simplesmente não paravam de ficar marejados.

– É claro que sou eu, idiota. – Ela se aproximou para abraçar o velho amigo. – Eu...

– Ah, eu não tô acostumando a te ver chorando. A Megan é a chorona, a Mortis é a forte. Não era assim?

Ela se afastou e baixou a cabeça.

– Era. Megan...

– Eu sei – ele disse. – Desculpe. Mas estou feliz que você tenha sobrevivido para vingá-la.

Mortis levantou o rosto para o amigo novamente e assentiu, determinada.

– Sim. Vou fazer aqueles desgraçados pagarem.

– Agora sim, essa é a Mortis que eu conheço! – E olhando para o resto do pessoal, acrescentou: – Desculpe por cortar o clima. Podem continuar a festa!

Não foi preciso insistir muito. Logo, todos se apresentavam a Caíque e retomavam o mesmo ânimo de antes, ainda comentando sobre a luta.

– Tudo bem quando termina bem, né Ace? – Luke falou. Olhou para o amigo ao reparar em seu silêncio; o Dragon Slayer farejava nervosamente o ar enquanto olhava para todos os lados. – Ace?

– Esse cheiro... Eu tenho certeza...

E sem mais nem menos, correu para o lado oposto da multidão. Estranhando, o ruivo o seguiu.

–--

Havia meses que Ace não passava naquela parte de Magnolia: a ruazinha estreita logo ao lado do rio por onde alguns pescadores passavam de vez em quando. A última vez em que visitou aquele lugar foi no dia em que entrou na Fairy Tail. Ele invadira o antigo apartamento de sua avó – que mesmo estando desocupado havia anos ainda guardava um pouco do cheiro de Lucy – para deixar-lhe uma carta dizendo que enfim estava na Fairy Tail, como ela tanto desejara. Era impossível enviá-la, mas algo lhe dizia que ela já sabia.

Então, lá estava ele de novo, com Luke em seu encalço. Logo a frente, diante da porta do apartamento de Lucy, estava o sujeito de quem sentira o cheiro. O Dragon Slayer tremia; sabia que conhecia aquele cheiro.

– Ei, Ace – Luke o chamou. – Aquele...

Ace apenas assentiu lentamente.

. . .

A neve de duas cores parecia cair ainda mais agora. Percebendo isso, Sarah se levantou, olhou para cima e segurou o pingente em seu pescoço com força.

– Começou. Não é, Zeref? Finalmente chegou a hora...

. . .

– Issei, essa neve...

– Não sei o que é, mas estou com uma sensação estranha sobre isso.

Hana olhou para ele.

– Então...

– Sim. Vamos verificar.

. . .

– Talvez seja hora de voltar – disse Kazuo ao olhar pela janela. – Estou com um mau pressentimento.

Kouji apenas assentiu. Guardou o bilhete e a foto em sua mochila e saiu ao lado do irmão.

. . .

Luke já o vira em fotos antes. O Mestre ainda mantinha fotos dos antigos membros da Fairy Tail no porão da guilda. Ace também já o vira em muitas fotos, mas não só no porão; em sua casa também. Além disso, já estivera pessoalmente com ele, e não era tão difícil comparar aquele senhor de idade com o rapaz de dezessete anos a sua frente.

Porque ali, olhando fixamente para o apartamento de Lucy, estava o jovem Natsu Dragneel.