Crise Existencial escrita por Bia Salvatore


Capítulo 7
Capítulo 7 - Lembranças




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Observei o meu quarto e deparei-me com a mesma coisa com que me deparava há anos. Estagnou tal como eu. Parou no tempo como eu parei e aquilo, o meu quarto, era o único sitia onde eu sabia que encontrava a minha humanidade. Não só por todos os objectos que me pertenciam enquanto era humano mas também porque ali existiam todas as memórias, sem nunca desaparecerem com o tempo. O meu quarto é como uma caixa de lembranças que só apaga aquilo que se deita ao lixo e eu nunca deitei nada ao lixo…

A única coisa fora do meu quarto que me traz a réstia de humanidade que existe do meu ser não vivo é ela, a Elena. Ela consegue absorver todos os meus pedaços quebrados, todos os meus pedaços queimados e renova por pedaços não completamente sólidos e firmes mas por pedaços seguros e cheios de amor e carinho. Nada no mundo pode compensar ou superar essa sensação. Eu não sou bom, sou mau mas ela consegue tornar-me menos mau, faz-me agir de outra forma.

Aquela possibilidade de a ter perdido para sempre foi demasiado cruel. Vê-lo nos meus braços a morrer, o meu melhor amigo, e depois ela também, porque ele só poderia morrer se o mesmo lhe acontecesse a ela.

Quando me dirigia para o hospital, para a ver pela última vez, pensei no que iria fazer depois de ela desaparecer para sempre, como seria a minha vida sem ela e não encontrei nenhuma solução. O meu mundo e a minha vida deixa de fazer sentido sem ela, por isso, decidi que depois de me despedir dela iria para a ponte onde ela e os seus pais morreram, até amanhecer e morreria ali, perto da sua alma e eu sei que se o tivesse feito iria encontrar paz.

Passei tanto tempo a reviver os últimos dias, que me perdi no tempo. Já era de noite.

- Posso, Damon? - Perguntou Caroline, que acabara de bater na porta do meu quarto.

- Sim, podes. - Não me apercebi de todos os meus movimentos desde que chegara ao meu quarto mas agora reparei que estava deitado na minha cama. Ao ouvir aquilo que me pareceu uma frase automática produzida pela minha boca, levantei-me também automaticamente.

-Olha já acabamos. Já vi tudo o que precisava, por isso vou embora. Amanhã arranjo os últimos pormenores! – Caroline continuava a sorrir, como naquela manha, estridentemente e os olhos azuis irradiavam uma luz cristalina. – Bem, vou embora que o Tyler está farto disto.

-Ok vai lá. Ah… e obrigado por tratares de tudo e agradece também ao Tyler por mim. – A minha postura perante Caroline era tal e qual a de um zombie e todos os meus movimentos foram apenas instintivos novamente.

-Tu não estás bem. Alias, nestes últimos dias tens andado diferente. – Agora estava a aproximar-se de mim como se eu fosse o melhor amigo dela. Deve andar a confundir as coisas!

- Oh! Eu não sou o Stefan. Não sou amável nem carinhoso. É por isso que sou o irmão mau, o vilão! Ok! Estou óptimo! Vai para casa, já fizeste muito por hoje e eu vou morder alguém. – A ironia e o sarcasmo sempre fora o melhor de mim, tenho que admitir.

- Ok, ok! Parece que afinal és o mesmo Damon de sempre. Óptimo! -Ela saiu do meu quarto e da minha casa com Tyler que já a tinha chamado milhares de vezes. Até sei o que ia fazer a seguir. Sem comentários. Agora estava sozinho em casa.

-Bourbon! Vem a mim! – Chamei eu esperando uma resposta que não apareceu.

Assim, atravessei todas as divisões até chegar à preciosa garrafa de Bourbon e bebi, bebi, bebi até à última gota. Enquanto ingeria todo o líquido acastanhado que aquela garrafa continha, olhei para a lareira mas acho que não vi absolutamente nada. A lareira expulsava do seu interior raios de calor que para a minha pele eram calorosos mas simultaneamente ardentes como o sol e penetraram na minha pele como vidro cortante.

-Então maninho, se estás a beber por causa da idade, bem acho que não precisas. Sabes que não vais ficar com rugas. – Só me faltava esta. Mas como estou semi-bêbado, sou capaz de lhe fazer umas perguntas.

Virei-me de costas para a lareira e vi de imediato Stefan que se mantinha de pé com os braços cruzados sobre o peito e também as pernas cruzadas, uma sobre a outra, mantendo uma posição, mesmo assim, equilibrada. Envergava uma t-shirt branca que eu sempre achara que lhe ficara muito bem. Pensei no que poderia perguntar mas apenas por breves segundos, pois a minha cabeça já não controlava nenhum movimento do meu corpo.  

-Olha lá, só por curiosidade, tu e a Elena? Nada? Ela disse-me “Eu amo-o, Damon”, “Vai ser sempre o Stefan” – E tentei imitar a voz delicada da Elena.

Quando o olhei pareceu-me pensativo como se não esperasse que ela me dissesse tal coisa. Bem, eu esperava e sei que ela o vai escolher a ele, se já não o escolheu. Eu olhei para o meu irmão ansioso por uma resposta e ele percebeu isso.

-Eu dei-lhe espaço. Eu já disse que lhe dava espaço. Até porque ela não me disse que me escolhia. Disse-te a ti que escolhia indirectamente, mas foi uma decisão humana. Agora é vampira, tudo é amplificado, tenho de a deixar escolher.

-Hum...Stefan sempre o pensador e dono das emoções. – Acho que estava a dançar com a garrafa enquanto lhe dizia aquilo mas não tenho a certeza. Apenas sei que o olhei com algum desprezo.

-Sim, sim...Já sei disso tudo, Damon.- Falou-me num tom de desinteressado, mas depois mudou o seu tom de voz, algo que eu posso chamar lamechas. - Antes que me esqueça. Depois tens de ir a casa do Ric. Acho que queres ser tu a tratar disso… Quando quiseres… - Chegou-se a mim e bateu-me gentilmente nas costas. Eu olhei-o com um olhar suplicante como quem diz “não devias ter falado nisso”, e Stefan foi-se embora para o seu quarto.


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