Acabo dormindo naquela cama aconchegante, e acordo com uma ligação.

– Clove?

– Oi?

– Desça para nós conversarmos tá bem?

– Peraí, quem é?

– Espero aqui.

E desligou. Não sei bem quem é, mas acho que é Calina. Primeiro lavo meu rosto, só depois é que vou para o bendito encontro. Reparo nas fotografias que tem nos corredores. Tem um bem interessante, de um homem, sendo que sua sombra reflete uma mulher. Paro e fico analisando ela, até que Cato passa por mim.

– Ei, você não vai descer? Oliver me chamou, e acho que Calina deve ter te chamado também.

– Ah, eu tava olhando isso daqui.

– Oque? Uma mulher e um homem?

– Aham. Porque será que uma mulher é o reflexo dele?

– Sabe, atrás de um grande homem, existe uma grande mulher.

– Ah tá! É por isso que a sombra do homem é, na verdade, uma mulher.

– Vamos logo?

– Vamos.

Chegamos lá, e Calina parecia está furiosa.

– Não entendeu a minha ligação, mocinha? Já era pra você ter chegado.

– Desculpe.

– Bem, só queria que você fosse naquela sala ali, pra você se transformar, virar uma pessoa apresentável. Amanhã tem o desfile, e você precisa ficar bela. Anda menina.

– Tá bom.

Calina é tão ignorante que dá vontade de degolar ela. Claro que eu nunca faria isso, pois eu tenho medo até do olhar dela. Entro na sala, e um grupo de pessoas me espera. Eles me depilam, esfoliam, fazem minhas unhas, cortam um pouco do meu cabelo, fazem minha sobrancelha e me depilam mais uma vez. Já nem sei mais se ainda tenho um pouco de pele aqui, porque parece que eu tô só no coro. E o pessoal foi embora, depois de quase me esfolar viva. Depois de instantes, entra um homem chamado de Edwardo.

– Oi Clove, eu sou Edwardo, mas pode me chamar de Ed.

– Oi Ed.

Ele parece ser um pouco normal, e acho que vou gostar dele. Ele é diferente, sensível e calmo. Sinto-me segura com ele.

– Amanhã nós temos um desfile. O que você pensa sobre o seu vestido?

– Não entendo nada disso, então fique a vontade. Mas por favor, me deixe com algo descente. Nada de vestido muito curto.

– Não, fique tranquila. Penso em um vestido longo, estilo sereia. E meio que, camuflado, entende?

– Sim, vai ficar bom. Ah é... Soldado... Entendi agora. Sim, sim, vai ficar ótimo!

– Que bom. Você sabe andar de salto?

– Lógico que não. Nunca usei isso, não sei nem como é que coloca aquilo no pé.

– Tá, pega esse par aqui e começa a treinar. A propósito, o que você quer no cabelo?

– Oque? – Eu cambaleava naquele salto e nem entendi o que Ed quis dizer.

– Você prefere o cabelo solto, rabo de cavalo, coque...

– Acho que um coque combina mais né? Ai!

– Cuidado! Tem razão. Eu acho que eu tô te deixando escolher muito, hein?

– Não, tá bom assim! Você é um máximo!

– Tira esse sapato. Obrigado, mas eu vou ter que ir agora. Beijo Clove.

– Outro.

Cara, o Ed é fantástico! Quero ver só o meu vestido. Eu nem ligo pra essas coisas, mas do jeito assim que ele falou, deve ficar bom. Subo ao quarto quando eram sete horas. Tomo um banho e lavo meu cabelo. Acertei no shampoo, que bom! Meu cabelo tá tão cheiroso que eu poderia ficar com as pontas dele no nariz o tempo inteiro! Não, ia ficar meio estranho... Boto um short, uma camiseta e desço. Mais um banquete me espera. Quando vou colocando a comida no meu prato, Calina puxa o meu braço com muita força, que mais tarde, tinha um roxo no lugar.

– Ai!

– Não coma isso. Seu prato tá bem ali. Se você não quiser passar fome na arena, é melhor passar a comer pouco. Tá achando que lá eles vão te dar comida é? Você se enganou mocinha.

– Tá, que seja.

Cato chega bem na hora que eu tô pegando o meu prato. Eca, não tem um pingo de carboidrato nisso aqui, tirando a pequena coxa de coelho que acompanha o arroz e a grande parte verde composta por salada.

– Eu também vou ter que comer isso aí?

– Parece que sim né?

– Gostei do seu novo visual, tá bonita.

– Obrigada, você também tá legal.

– Não fizeram nada em mim, eu tô do mesmo jeito. A não ser pelo cabelo.

– Sério? Pra mim parece diferente. Deve ser o cabelo – fiquei um pouco sem jeito.

– Tô brincando. Eles me mudaram completamente! Gostei da minha estila, e você?

– Amei! Ele é tudo. Simpatia em pessoa. Nossa, que nojo. Essa salada tá péssima!

– Eu gostei dessa coisa verde. É alface?

– Não, deve ser acelga. Sei lá!

Calina e Oliver juntaram-se a nós, e deram alguns recados.

– Oliver e eu queríamos dizer a vocês, que depois de vocês comerem estão dispensados. E amanhã acordem cedo, porque depois do café, ensinaremos vocês a darem uma boa entrevista, para não deixar as coisas em cima da hora. Lembre-se que amanhã vocês terão o desfile e depois de uns três ou quatro dias, a entrevista.

– E cheguem cedo mesmo. Nada de conversas no corredor sobre pinturas ou qualquer coisa.

Eles se retiraram logo em seguida. Como é que eles sabiam que eu e Cato conversamos no corredor? Será que eles estavam espionando a gente? Não sei, só sei que quero cuspir tudo isso que tá na minha boca agora.

– Até depois, baixinha. Vê se coloca tudo pra dentro. – Cato já tinha terminado a comida.

– Baixinha... Eu não te digo nada...

Ele ri e sai gloriosamente pelo corredor. Ai ai Cato... Pena que só um irá sobreviver. Espero que eu não tenha que te matar, aliás, eu nem sei se conseguiria.