Zeitparadoxon escrita por SoraHalloween


Capítulo 2
Capítulo 2 --- Paradox I: Família


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, é nesse capítulo que Felícia apresenta a si mesma e a sua família. Desculpem se ficou corrido.



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Eu não me apresentei ainda, mas acho que não faz diferença mesmo.

Chamo-me Felícia Zaman, tenho 16 anos e moro com meus pais e meu irmão.

Minha mãe você já conhece, é a obsessiva, chamada Haydée. Ela deve ter uns 40 e poucos anos. Eu a amo muito, mas essa obsessão me preocupa. Seus cabelos, antes bastante escuros e cacheados, agora estão ficando cinzentos e mortos. Os olhos verdes não demonstram mais felicidade, e sim nervosismo. Eu gostava de abraçá-la, pois sua pele era muito macia, já agora, evito contato corporal, pois suas mãos me arranham.

Já meu pai, Hugh, é muito animado, ou pelo menos, era. Lembro que me fazia rir, com suas palhaçadas. Isso não acontece mais, só vejo preocupação em seu rosto. Não o culpo por isso, afinal, eu também ficaria assim, se fosse ele. Dizem que ele parece muito comigo, pois ambos temos os olhos castanhos claros. A cor do seu cabelo também parece com a minha, mas o preto do seu cabelo é mais claro que o meu. Ele fez 45 anos no mês passado, mas não fizemos comemoração, pois ele estava ocupado, trabalhando muito, como sempre.

Scott é o meu irmão, ele tem 11 anos, e puxou minha mãe na personalidade, pois ambos são bastante racionais e lógicos. Eu praticamente não o vejo, pois ele passa o dia todo na biblioteca de nossa casa. É, nós temos isso por aqui. Seus cabelos lisos eram bastante arrumados, e a cor era até mais escura que a dos meus.



“Desculpe por lhe acordar, querida.”

“Não tem problema, pai.” eu tinha ficado muito nervosa, mas assim que ouvi a voz da minha família, tudo melhorou, e eu não tinha pensado mais naquilo. “Pode me passar a manteiga?”

Estávamos almoçando, ou pelo menos, eu e meu pai. Minha mãe estava dormindo, e meu irmão na biblioteca, como sempre.

“O que você queria me falar?”, enquanto passava a manteiga no peixe com limão e azeitonas pretas, fingi não estar muito interessada, mas na verdade estava bastante curiosa.

“É sobre sua mãe.” e olhou para mim, com aqueles olhos castanhos que pareciam penetrar na minha alma. “Você não acha que ela está meio estranha, ultimamente?”

Tive vontade de contar tudo que sabia a ele, mas aquilo era segredo, não era? Então disfarcei:

“Deve ser o trabalho.”, e devolvi a manteiga, com um sorriso forçado. “Por que me pergunta?”

“Ela anda falando de coisas meio complexas para mim, como viagens no tempo e coisas assim.”

Tentei dizer alguma coisa, mas não consegui dizer nada de importante. Se eu falasse algo, ele ia desconfiar que eu já soubesse.

“Então é melhor você ir conversar com ela.” não olhei para os olhos dele nem por um momento, com medo que ele descobrisse a verdade. “Que tal perguntar a ela o que está acontecendo?”

Eu já tinha comido meu almoço, então decidi voltar para o meu quarto, já que era sábado e as férias estavam se aproximando. Comecei a digitar alguma coisa no meu computador, para o trabalho de matemática, mas não gostei. Apaguei e tentei reescrever, não consegui pensar em nada. Então me lembrei do relógio. Ele não tinha mais nada escrito em canto algum. Não tinha número de série, fabricante, modelo... Como eu ia descobrir de onde ele veio? E como eu ia utilizá-lo?

“Acho que é só apertar esse botão, que eu volto no tempo.” tentei apertar o pino do relógio, mas nada aconteceu. Tentei também mudar as horas, mas também não aconteceu nada demais.

Rapidamente, procurei sobre relógios que voltavam no tempo, na internet. Só achei histórias fictícias. Diabos, como vou descobrir o que aconteceu desse jeito?

Uma ideia me veio à mente. Se eu fosse a uma relojoaria? Quem sabe lá existisse algum relógio parecido com esse. Não é a melhor ideia, porém, quem sabe?

Com isso em mente, vesti minha roupa de sair - casaco e saia, ambos na cor marfim, sapatilha preta e, claro, o relógio, escondido dentro de um dos bolsos do casaco - e me preparei para ir até a melhor relojoaria da cidade, a Vreme's. Mas assim que coloquei o pé para fora de casa...

“Felícia?” era meu irmão, que estava voltando da biblioteca com uma pilha de livros debaixo do braço. “Você vai sair?”

“Sim, mas eu volto rapidinho.” e com medo de que ele me pedisse para fazer algo, comecei a abrir a porta. “Vou ali ver uma coisa, já volto.”

Não deu nem tempo de minha mão encostar-se à maçaneta e Scott veio para perto de mim.

“Eu vou também, preciso comprar o novo lançamento da minha série de livros favorita.” e colocou a pilha de livros em cima do sofá.

“Mas eu não vou à livraria, eu vou ver outra coisa...”

“Não se preocupe, eu sei onde é a livraria, quando eu estiver perto, eu vou diretamente para lá.” e já estava colocando seu casaco marrom por cima da blusa azul. “Deixa-me só pegar meus óculos.”

Acho que não vai fazer mal se ele for não é? Sem outra opção, ele me acompanhou até o caminho da relojoaria. Não era muito longe de casa, mas a cidade estava muito movimentada hoje. Pessoas corriam de um lado para o outro, fazendo compras, enquanto outras apenas olhavam as vitrines. Em pouco tempo, cheguei à loja que eu queria. Como a livraria era um pouco longe, Scott decidiu me ajudar a procurar o que eu queria.

“Veja se acha um relógio parecido com esse aqui.” e mostrei o objeto misterioso para ele, que ajustou seus óculos bastante redondos e observou-o muito bem.

“Pra que você quer outro relógio?” e reparou na inscrição atrás, De Yeva para Felícia. “Esse foi um presente? Mas se você já tem um, não precisa de outro.”

“Ah, sim, eu posso explicar.” e inventei uma mentira, rapidamente. “É que minha amiga gostou tanto do meu relógio que eu decidi comprar um para ela, também. Você sabe como combinar coisas é legal, então imagine ter relógios combinando? Seria muito legal. Então pare de me fazer perder tempo aqui e me ajude a procurar.”

A loja não era muito grande, mas quem entrasse não ia se importar com isso, pois os mais variados modelos de relógios brilhavam impecáveis, só esperando encontrar um comprador certo. Olhei cuidadosamente as prateleiras, vi relógios de ouro, de bronze, de vidro, de plástico, de prata... Mas não vi nenhum modelo parecido com o que eu queria.

Como uma loja tão boa poderia não ter o que eu queria? Não era um relógio tão diferente assim.

Tomei um susto quando alguém me chamou, perguntando se poderia ajudar. Era o vendedor, um homem bastante jovem, com um uniforme impecável, mas com um rosto bastante triste.

“Posso ajudá-la?” sorriu, mas seu sorriso não me convenceu que estava feliz.

“Hm... É que eu queria encontrar um relógio parecido com esse.” e o mostrei. O vendedor fez tantas inspeções nele que eu pensei que sua resposta seria positiva, porém...

“Acho que não tenho nenhum relógio assim, sinto muito.” e deu mais uma última olhada no objeto. “Esse seu relógio é muito especial, creio eu. O formato dele é bastante simétrico. Essas pedrinhas ao redor devem ser de um cristal muito caro. Não sei se existe outro modelo assim, mas creio que não.”

Fiquei decepcionada, mas já esperava por isso. Chamei meu irmão e decidimos ir embora, porém, começou a chover, e tivemos que esperar na loja. O vendedor foi muito simpático com nós, mas estava começando a ficar tarde. Meu relógio marcava 18h03min, então decidimos ir assim mesmo.

Scott estava bastante calado, então puxei assunto, no caminho.

“Não deu para você comprar seu livro hoje, não foi?”

“Não deu.” a lente de seus óculos estava meio molhada, por causa da chuva. “Mas acho que amanhã conseguirei.”

As poças d'água mostravam o reflexo das luzes dos outdoors das lojas. A chuva parecia não interferir nas pessoas. Elas continuavam indo e vindo, num fluxo sem fim.

“Estamos chegando.” eu disse.

A chuva parecia não parar, e só aumentava. Se continuasse assim, não conseguiríamos chegar em casa nem tão cedo. Comecei a andar o mais rápido que pude, com meu irmão atrás.

Chegamos até um lugar onde tivemos que parar, por causa do semáforo. Todos os carros que passavam estavam com os faróis ligados. Quando finalmente pudemos passar, ouvi um barulho estranho, parecia o de algo caindo na água. Não liguei muito e segui em frente, até chegar a uma calçada.

“Você avisou a papai que ia sair?” continuei andando, mas ele não respondia. “Scott?”

Olhei para trás, e ele não estava lá. E não estava próximo a mim, aparentemente. Achei estranho, e comecei a voltar, para ver se ele tinha parado em algum canto. A cada passo que eu dava, o desespero começava a tomar conta de mim. Em pouco tempo, já estava de volta, perto de onde tinha atravessado, para chegar ao outro lado. Ele também não estava lá. Engoli o seco, mas algo que eu não esperava aconteceu.

Uma pessoa caída no meio da rua chamou minha atenção, forcei a visão, para enxergar melhor naquela chuva.

“Scott!” era ele. Estava caído no meio da rua, e seus óculos foram parar longe. Ele tinha tropeçado? Na hora, não entendi muito bem.

Corri o mais rápido que pude, para ajudá-lo, mas o semáforo mudou a cor de vermelho para verde. Eu já estava no meio do caminho, quando o relógio escapou do meu bolso e caiu no chão. Abaixei-me e o peguei de volta. Os primeiros carros começaram a passar, e meu coração já estava a mil por hora. Quase fui atropelada, e meu irmão parecia ficar cada vez mais longe de mim.

“Levante, logo!” berrei, ainda tentando me aproximar.

Ele finalmente mexeu a cabeça. Seu rosto estava um pouco arranhado, e logo começou a procurar seus óculos. Gritei de novo para que se levantasse, mas foi tarde demais. Em pouco tempo, aquele maldito carro amarelo, com o farol aceso, iluminando todo meu rosto, passou. O barulho foi horrível, pensei que tivesse morrido, meus olhos se fecharam, mas eu não senti dor alguma, mas estava pisando em algo estranho. Abri os olhos e vi que era sangue, não o meu. A partir daí, senti tudo ficar em câmera lenta, e segui o rastro de sangue, com os olhos. Vi a coisa mais terrível que podia ver. Fiquei sem saber o que fazer, e caí de joelhos, aterrorizada.

“Por quê?” senti meu corpo congelar, e meus olhos estavam vidrados naquela cena grotesca.

Meu irmão foi atropelado. Foi a cena mais assustadora da minha vida, até o momento. Ele estava com o rosto virado para o chão, todo ensanguentado. Seu braço esquerdo tinha sido decepado, e estava longe. Seu pé direito tinha sido entortado, e estava praticamente pendurado. Seu intestino delgado estava para fora, enrolado na barriga.

Sem pensar muito, peguei o relógio, que mesmo com a queda, não tinha sofrido nenhum arranhão. Eu já estava chorando sem parar, mas essa foi a primeira coisa que pensei em fazer.

“Yeva, ou seja lá quem for... “, minha voz estava muito rouca, e eu não parava de soluçar. “... por favor, faça-me voltar no tempo, preciso salvá-lo!”

Fechei os olhos, segurei sua mão menos prejudicada e apertei o pino do relógio.


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Notas finais do capítulo

Eu não sei escrever cenas grotescas, foi o melhor que pude fazer. u_u
É a partir daqui que as coisas começam a ficar sérias para Felícia, então espero que acompanhem a fanfic, já tenho o final dela em minha mente, e acho que não vai ser tão longa assim.



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